31 de dez. de 2012

O Armazém de 1925

Naquele dia, eu e a Pri concordamos em conhecer mais um dos atrativos turísticos naturais da região de Ponta Grossa. Era um sábado, se não me falha a memória, e optamos pelas Furnas Gêmeas. O site da prefeitura não era muito claro quanto à localização, mas dizia que, para conhecer as tais formações rochosas, era necessário seguir pela rodovia que levava ao distrito de Itaiacoca.

Partimos. A rodovia é de boa qualidade, embora sem acostamento. Depois que passamos a área conhecida como Passo do Pupo, um vilarejo delimitado por uma igreja e algumas mercearias, seguimos adiante em busca de uma placa que nos orientasse. Como não encontramos, continuamos indo em frente.

Descobrimos estradas bastante sinuosas adiante. Lembrou um pouco a Estrada da Graciosa, que leva a Morretes. Muito bonito o trajeto, e não dá pra correr muito, porque são muitas curvas em uma rodovia estreita. Sem nenhuma placa, passamos por um local que nos pareceu oficina ou ferro velho. A Pri sugeriu que eu parasse para pedir informação.

Como estávamos com tempo, optei por ir um pouco mais longe antes de admitir que tínhamos nos perdido. Poucos quilômetros à frente, no entanto, parei numa entrada para estrada de terra, que levava a uma cachoeira ou algo assim. Mas não eram as Furnas Gêmeas. O site da prefeitura não dizia que devíamos ir tão longe.

Um automóvel passava por nós e fiz sinal para que parasse. O motorista reduziu e freou. Perguntei a ele sobre as Furnas Gêmeas. Ele disse nunca ter ouvido falar. Agradeci, e retornamos.

Um misterioso Armazém, datado de 1925,  estava no trajeto...
No trajeto de volta, decidi parar onde a Pri havia sugerido antes, para pedir informação. Para minha surpresa, não se tratava de um ferro velho, nem oficina. Era apenas um casarão, e em frente havia apenas uma caminhonete antiga. Talvez o motivo que nos fez associar o lugar a uma oficina. Deixei a Pri esperando no carro, e fui conversar com quem ali estivesse.

Sentado no assoalho, à porta de entrada, estava um homem magro, de cabelos curtos escuros, fumando um cigarro, e aparentando a calma típica de quem vive praticamente isola (as casas ali ficam muito distantes umas das outras). Quando estacionei e fui em sua direção, ele se levantou.

"Boa tarde!", falei
"Boa tarde", respondeu.
"Estou procurando as Furnas Gêmeas. Sabe onde fica?"

Mas ele não ouviu minha pergunta, pois um cachorro preso ao lado da casa latiu ferozmente. O homem berrou para que o cão ficasse quieto. E pediu para eu repetir a pergunta, enquanto se aproximava.

"Sabe onde ficam as Furnas Gêmeas?"
"Furnas Gêmeas?", repetiu ele, olhando para o chão, como se consultasse na mente uma lista de lugares que conhecia. "Olha... eu moro aqui há vários anos, e nunca ouvi falar. Mas quem te disse que tem esse lugar por aqui?"
"Eu vi no site da prefeitura de Ponta Grossa" - e por um instante, sem desdenhar a inteligência do cidadão, mas apenas considerando a aparência simples na qual vivia, achei que ele não sabia o que era um site.
"Mas fica perto de onde?", perguntou.
"Depois do Passo do Pupo".
"Ah, Passo do Pupo eu conheço... deve ser ali perto, então. Mas volte, e pergunte ali na igrejinha", sugeriu.
"Tá bom, obrigado."

Eu já voltava para o carro quando me detive um instante, reparando mais uma vez em algo que tinha percebido já quando chegara. No alto do casarão, em sua fachada, letras graúdas diziam "ARMAZÉM", e o número "1925" anunciava a data de construção, como acontece em muitas construções antigas.

"Aqui é residência ou é um armazém?", perguntei.
"Ah, é residência... foi armazém há muito tempo..."
"E o senhor era o dono?"
"Não..." - ele riu um pouco, talvez pela pergunta um pouco idiota, já que o homem não tinha idade para ter estado ali em 1925. Depois completou: "O dono tá ali..."
Dizendo isso, apontou com a cabeça para a caminhonete velha, e continuou sorrindo.
Sorri também, mesmo sem ter entendido. Ali não havia ninguém... Estaria ele vendo alguém que eu não via?

Quando a conversa com um estranho fica insólita demais, é hora de ir embora.

Entrei no carro, onde um cachorro parecia querer impedir a Pri de sair. Acabamos encontrando a estrada para as Furnas Gêmeas, bem perto do Passo do Pupo. Não chegamos até lá porque a estrada era muito ruim. Mas, fiquei pensando no Armazém de 1925, e me perguntando onde estaria o dono.

21 de nov. de 2012

O fascínio dos velhos livros


Depois que mudei meu endereço, percebi que muito das coisas materiais que me cercavam não tinham um grande valor para mim. Notei que, de muitas delas, não era difícil me desfazer. Mas também reparei, sem muita surpresa, que os livros não faziam parte dessa lista de coisas a serem deixadas de lado.

Colocando os livros velhos na nova prateleira, relembrei alguns títulos muito bons, os quais precisei reler. De quase todos, eu já havia esquecido o conteúdo, restando na memória apenas vultos do que continham aquelas obras que eu insistia em guardar. Motivos eu tinha, e sabia que eram razoáveis, mesmo estando eles esquecidos.

Dentre os títulos, retirei há algumas semanas o livro “Ninguém Nada Nunca”, do argentino Juan José Saer. Esse autor, cujo texto conheci por acaso em seu livro “La Pesquisa” adquirido durante uma feira de literatura realizada em minha cidade anos atrás, se revelou ser um de meus favoritos por dois motivos principais: a forma narrativa com muitas vírgulas e poucos pontos, que leva o leitor de forma quase hipnótica para dentro da história; e a maneira como descreve pessoas, coisas e ambientes.

“Ninguém Nada Nunca” traz três palavras, em seu título, que quase não revelam coisa alguma a respeito de seu conteúdo. Há uma trama que envolve misteriosos assassinatos de cavalos em um vilarejo dos Pampas. No entanto, enquanto em “La Pesquisa” existe uma história de homicídios que conduz quase que totalmente a narrativa, em “Ninguém Nada Nunca” esses assassinatos são apenas o pano de fundo para que Saer possa fazer o que faz de melhor: descrever.

A leitura pode parecer até cansativa para quem não está habituado ao seu método, mas é seguramente uma obra de arte o modo como ele aplica a repetição textual e faz, assim, como que gradativamente o leitor construa mentalmente o universo descrito. E o leitor faz isso de forma quase imperceptível, envolto pela tensão que anuncia: algo está para acontecer.

Ao mesmo tempo em que o leitor espera com ansiedade que surja das sombras o algoz que assassina com um tiro “à queima-roupa” os melhores cavalos da região, e ao mesmo tempo que conhece um lugarejo envolto pelo clima tenso da ditadura militar (e o autor encontra aí uma forma de apresentar o tema) vai sendo apresentado o cotidiano dos personagens, dentre eles Gato, Elisa, Tomatis, e o ambiente, do qual faz parte a praia, a ilha, o rio, as árvores, a areia e, mais que tudo, o calor quase insuportável.

Pacientemente, o leitor aguarda o tal acontecimento que se anuncia implicitamente durante a história, e enquanto isso se envolve com a vida de pessoas desconhecidas, de trajetórias que poderiam ser classificadas com corriqueiras, mas que se revelam interessantes, como seria, talvez, a vida de quem quer que fosse, desde que houvesse uma descrição como a de Juan José Saer.

Ao terminar a nova leitura de Ninguém Nada Nunca, senti algo fascinante: saudades. Saudades dos personagens que tinha acabado de conhecer, mas cujos gestos, palavras e comportamentos me pareceram tão próximos como se os tivesse conhecido face-a-face.

Não é algo novo para leitores tal sensação. Mas nessa intensidade, é algo novo para mim. E é fascinante perceber algo novo assim com um livro que já tinha lido. Indica que não sou mais o mesmo que o leu anteriormente. Porque o sujeito que leu aquele livro, anos atrás, não percebeu essa sensação ao concluir a leitura. É bom saber que ainda posso me fascinar com alguma coisa. Que bom que seja com um livro.

16 de out. de 2012

Meu passado vem ao meu encontro

- O que é um mezanino? - perguntou a Pri olhando por cima de meu ombro, em uma pequena placa.
De fato, eu próprio não sabia direito. Nunca tinha feito uso daquela palavra. Mas o desenho ao lado, um sanduíche e um copo de refrigerante, me fizeram ter a certeza de que o mezanino era apenas a parte superior da mesma praça de alimentação naquele shopping onde almoçávamos.
- Vamos até lá. Nunca vimos como é aquele lugar. - eu disse.
Deixamos sobre a mesa os pratos com o que restou de nosso almoço, e subimos as escadas. Ali, meia-dúzia de pessoas usavam seus notebooks e acessavam a internet wireless. O ambiente era pouco iluminado e não tinha qualquer loja ou lanchonete.
- Não tem muita coisa aqui, afinal - eu disse, enquanto a Pri concordava. - Vamos embora. - emendei

Eu já ia descer as escadas quando a Pri me segurou:
- Olha lá um Danilinho! É o seu clone - ela disse.
Ao olhar para a parte mais longínqua do espaço, de costas, estava um sujeito lendo alguns livros e papéis. E a semelhança era extraordinária. Se eu não fosse eu, provavelmente acharia que eu era ele.
O cabelo loiro, na mesma tonalidade e um pouco encaracolado, a escolha da mesa e os gestos enquanto pesquisava os papéis, e até a camisa...
Olhei para minha camisa, e notei que ele usava uma quase igual à minha. Apenas um pouco mais clara... igualzinha a uma que eu ainda tenho, mas que hoje já está desgastada pelo tempo.

- Vamos nos aproximar. - eu disse, na certeza que a farsa seria desfeita.
No entanto, à medida que chegávamos mais perto, eu o achava ainda mais parecido comigo. Tive um ataque de riso, ainda que discreto. Claro que não era eu, mas a semelhança assombrosa causou até uma certa emoção.
A Pri olhava para mim sorrindo, adivinhando a sensação estranha que eu experimentava. Quando minha distância do clone tinha sido reduzida à metade da inicial, parei. Fiquei junto ao parapeito que permitia olhar para o restante da praça de alimentação. Por um instante, evitei olhar para o sujeito.
- Não vou pra mais perto. - eu disse.

Dali eu ainda pude ver que ele não tinha barba, nem usava óculos. Era como se fosse eu em 2004, quando ainda não tinha diagnosticado minha miopia, quando fazia questão de fazer a barba toda, quando a camisa era nova e eu me concentrava nas pesquisas da universidade. Era como se o Danilo de oito anos atrás estivesse ali, diante de mim. A poucos passos.
A partir dali, deixamos o mezanino. Das duas, uma: ou ele seria muito parecido mesmo comigo, ou seria diferente. Em qualquer uma das duas situações, o encontro seria assustador.
Deixamos o shopping rindo da situação. Mas fiquei pensando... Meu passado, naquele dia, veio me encontrar. E fez isso sem que eu o procurasse.

9 de out. de 2012

Saudades da amiga Márcia


Enquanto uns faziam festa no domingo, dia 7, durante a contagem de votos para as eleições municipais, outros lamentavam a derrota. Mas coisa pior do que perder uma eleição ou ver seu candidato não ser eleito, é saber que uma pessoa conhecida já não está entre nós.

Faleceu ontem Márcia Sielski, que por muitos anos esteve à frente dos projetos culturais do SESC em Ponta Grossa e de outros movimentos culturais independentes. Incontáveis artistas e aspirantes a artistas receberam dela o incentivo para iniciar ou para prosseguir com seus trabalhos, e eu fui um dos que ela apoiou.

Quando eu ainda estava na universidade, e rabiscava de vez em quando, foi Márcia quem permitiu que se instalasse no SESC minha primeira exposição de charges e cartuns. Na época, meus traços não eram nem metade do que são hoje. Mas Márcia insistia em me chamar de artista, como fez sempre.

Anos depois, quando eu já estava trabalhando no Jornal da Manhã, entrei em contato com ela demonstrando a intenção de fazer uma nova exposição, apresentando a evolução de meu trabalho. Ela aceitou de imediato, e organizou muito daquilo que eu necessitava para a mostra, com direito a coquetel de abertura e convites para o evento.

Fora isso, ela sempre foi uma pessoa aparentemente tranquila e agradável no tratamento comigo e com a maioria daqueles com quem converso. Conheci Márcia Sielski muito pouco, mas o suficiente para criar a imagem de uma pessoa que deixa saudades, por saber que os encontros casuais com ela, seguidos de cumprimentos simpáticos nas ruas da cidade, não mais acontecerão. Ficam boas lembranças, e as amizades em comum que ela iniciou ou fortaleceu.

5 de out. de 2012

A quantidade leva à qualidade


- Deve ser difícil encontrar boas ideias para fazer suas tirinhas, diariamente. – comentou Emerson, em tom de pergunta.

Emerson é o proprietário de uma bela pousada em Piraí do Sul. Um casarão grande e bem equipado (com vários quartos, uma sala grande e uma cozinha com fogão à lenha) cercada por extensos campos encharcados pelas vertentes que formam rios e córregos.

Naquele momento, ele nos guiava (eu e minha esposa, Priscila), por aqueles campos sempre úmidos. Eu procurava me concentrar em pisar nas rochas, para não afundar o pé em algum buraco repleto de água. Mas deixei um pouco da concentração de lado, para responder ao comentário.

- Na verdade, não é tão difícil ter ideias. O difícil é encontrar tempo para transformá-las em desenho. Mas, realmente, nem sempre são tiras engraçadas. Às vezes eu acho graça, mas sou o único. Em outras ocasiões, eu não vejo graça alguma, e os outros gostam. Mas estou tentando fazer uma tirinha por dia porque acho que é tudo uma questão de prática. Quantidade não quer dizer qualidade, mas pode levar à qualidade – disse.

De fato, no início deste ano, enquanto elaborava a história em quadrinhos ‘Catraca: entrando numa roubada’, percebia que o traço melhorava a cada nova página que eu desenhava (em breve publicada através da Prefeitura de Ponta Grossa). Tanto que, chegando ao final da HQ, tive o desejo de refazer as primeiras páginas, algo impossível em face do prazo de entrega para o concurso.

De lá pra cá, lancei o novo site, e me esforcei para cumprir a proposta que fiz a mim mesmo, de criar uma tirinha por dia. O resultado tem sido interessante. Embora seja cansativo dormir menos para desenhar mais, também sinto uma satisfação muito grande.

Ampliei o rol de personagens. Mantive a produção da tirinha semanal do Catraca (às vezes até fiz mais que uma por semana), mas desenvolvi melhor o Zé Ruela, e fiz uso de situações reais ocorridas na redação do jornal para criar histórias da Redação, com foco no dia-a-dia de jornalistas e em conversas sobre atualidades.

Além disso, passei a fazer tiras sem rótulos, tratando de temas diversos e com personagens esporádicos. E estou ainda desenvolvendo uma série especial sobre o universo feminino, intitulado “A Vida Cor-de-rosa Como Ela É”.

É um ano produtivo para meus cartuns e está previsto para os próximos meses o lançamento do livro ‘Traços de PG’, feito em parceria com o chargista Sádico. Me inscrevi até em um salão de humor internacional (no Irã). Não sei se o desenho será selecionado, até porque há trabalhos muitos bons. Mas, enquanto isso, sigo procurando fazer uma tira por dia (de segunda a sexta-feira), ou apenas mantendo o site o mais atualizado possível. Acredito, realmente, que a quantidade leva à qualidade. E, principalmente, estou me divertindo cada vez mais com essa agradável obrigação.

15 de ago. de 2012

'Catraca' em livros, presentes e vadiagem


Dois livros com meus desenhos devem ser lançados ainda este ano. O primeiro deles é um projeto antigo... bem antigo. Tão antigo, que já virou até piada. Projeto nascido nos idos de 2008, trata-se da obra ‘Traços de PG’, que irá reunir algumas das principais tiras do personagem Catraca, e também charges do amigo James Robson França (Sádico). Nesta semana, o item que faltava para enviar o livro à gráfica chegou até meu e-mail. Agora é só tornar realidade, o projeto que já tem quatro anos de espera.

Também neste semestre deve ser lançada a coletânea com histórias em quadrinhos do Concurso Nacional de Histórias em Quadrinhos ‘Ireno José Guimarães’, no qual conquistei premiação em categoria local. A HQ ‘Catraca: entrando numa roubada’, também com o personagem Catraca, será distribuída a escolas e bibliotecas

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Dia desses fui surpreendido com um presente inusitado. A artista plástica Lenita Stark levou até o jornal um de seus quadros, e me ofereceu. Eu havia feito uma matéria com ela semanas antes, por ocasião de uma exposição que realizou no Shopping Palladium. Uma grande gentileza da parte dela. A obra “Pescador” mostra um homem que deixa as ondas do mar tocarem seus pés. Transmite uma sensação muito boa de calma e paz, fazendo com que eu e a Pri nos lembremos de nossos passeios pelo litoral. Ela também gostou muito da obra, e foi a motivação ideal para que furássemos a parede da sala, que ficou mais agradável com o quadro.

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Às vezes, em jornalismo, nós repórteres recebemos alguns presentes bem interessantes, como foi o caso do quadro. Em outras, é motivo de piada. Minha colega da editoria de Economia ainda recorda a vez em que, após reportagem sobre agricultura, recebeu um ou dois pacotes de feijão na redação.

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Há repórteres que tiram bastante proveito dessa situação e, dependendo da editoria e dos contatos, há várias vantagens, realmente. É possível entrar em festas e eventos gratuitamente, fazer uso de serviços e produtos de graça. Há repórteres que têm a cara de pau de fazer pedido durante a entrevista. Sempre achei isso antiético e procuro evitar, tirando algumas vezes em que amigos insistiram para obter ingressos para eventos culturais. Quando esses itens são oferecidos como cortesia, não recuso e, se não farei uso, dou um jeito de passar adiante. De certa forma, não deixa de ser também mais uma forma de divulgação.

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Minha mãe esteve dia desses no centro da cidade. Ficou surpresa e decepcionada. Além das obras da prefeitura, aliadas a obras de particulares, que tornaram as ruas intransitáveis para pedestres e automóveis, assusta o número de pedintes.

Eu tinha notado isso já há alguns meses. Mas acabei acostumando. Só que passei a observar mais atentamente e, é verdade... é algo perceptível. Quando deixei a redação ontem no final da tarde, encontrei o caricaturista Jotaga em frente ao bar Rei das Batidas. Ele fumava um cigarro e conversava com outro sujeito. Enquanto eu ainda me aproximava, um mendigo chegou até ele e pediu algo. Jotaga, prontamente, deu um cigarro ao pedinte, que foi embora em seguida.

Cumprimentei Jotaga, que me contou que em breve pretende dar aulas de desenho. Inclusive me convidou para ser seu aluno, opinando, de maneira cuidadosa, que meu traço ainda pode melhorar muito. Enquanto ele dizia isso, surgiu outro elemento miserável e pediu moedas para tomar uma pinga. E emendou: “Tô sendo honesto”.

Pensei com meus botões: “Eu também, podia estar roubando, matando, mentindo... ao invés disso sou jornalista”. Jotaga respondeu que era artista e não tinha dinheiro. Ofereceu o que podia: mais dois cigarros.
O fato é que a vadiagem está à solta na cidade. E vejo tudo isso com certa inveja. Os que vivem das esmolas são justamente aqueles que não sabem o que fazer com ela. Tenho para mim que, se esses mendigos guardassem parte das moedas que arrecadam (excluindo os cigarros), ao invés de torrar tudo em drogas e cachaça, viveriam mais confortavelmente do que muitos que trabalham para viver.

26 de jul. de 2012

Site de tirinhas está de cara nova


Tem novidade no site odanilo.com.br. A partir desta semana, o layout recebeu uma total repaginação. Agora o site reúne tiras de vários personagens, e funciona como um portfólio com alguns de meus principais trabalhos com cartuns.

O site anterior exibia somente tirinhas com o personagem Catraca, e sempre com o mesmo formato. Agora, os leitores podem conferir desenhos em outros formatos e com outras abordagens. Além disso, a primeira página não irá mostrar somente a tira mais recente. As últimas tirinhas são exibidas uma abaixo da outra, e é possível ver as anteriores baixando a barra de rolagem e clicando nas páginas.

Além de tiras e cartuns de modo geral, dispostos em ordem cronológica e divididos em categorias, o internauta encontra no site odanilo.com.br um link em destaque para o texto mais recente de meu blog, Universo e Afins.

Na seção ‘Quadrinhos’, também é possível encontrar algumas das HQs mais toscas que já desenhei, bem antes de me dedicar às tirinhas. Em breve, estará ainda no site a primeira HQ com o personagem Catraca.
O novo formato do site tem dois objetivos principais: o primeiro é dar o devido destaque a meu trabalho como cartunista. Embora seja um hobby, ele ganha grande importância no quesito realização pessoal. O segundo é oferecer a mim mesmo um incentivo para dar início a uma proposta antiga à qual quero me impor: fazer uma tira em quadrinhos por dia. O novo site inicia com a intenção de, ao menos, ampliar a produção de desenhos e o “menu” cartunístico.

Aos leitores, peço que se manifestem, para que eu saiba que ainda estão aí. Comentem, critiquem, elogiem, sugiram.
Valeu.

19 de jul. de 2012

Na Estação Saudade


Enfim chegou a quinta-feira, dia de renovar o empréstimo do livro “Paris é uma festa”, de Hemingway. Apanhei a obra no prédio da Biblioteca Pública Municipal na semana anterior, logo depois de refazer meu cadastro, inativo há pelo menos três anos. Não que eu não tenha lido nada nesse tempo, mas é que optei pelo sebo, livrarias e obras que recebi como cortesia na redação do jornal.


Mas, quando se tem a intenção de ler algo específico, como esse livro de Hemingway, é preciso desembolsar um pouco mais, ou recorrer ao empréstimo. Escolhi a segunda opção, lembrando que já tinha feito uso do livro da biblioteca anos antes.

O prédio da biblioteca está entre os mais antigos de Ponta Grossa. No passado, foi a estação ferroviária, onde milhares de pessoas entraram e saíram do trem, onde casais se reencontraram ou se despediram, onde negócios foram feitos e desfeitos. Ir até lá traz uma sensação estranha de nostalgia, estranha principalmente para alguém que, como eu, não vivia essa época áurea do local. Mas explica bem o título que deram ao prédio: “Estação Saudade”.

A plataforma de embarque e desembarque ainda está lá, e hoje tem funções diversas. Já serviu como palco de apresentações artísticas, exposições diversas (incluindo de automóveis antigos) e, mais recentemente, foi o alvo de vândalos que picharam e rabiscaram em quase toda a sua fachada, cuja pintura foi restaurada há poucos anos.

A restauração não foi das melhores, e prova disso é o uso inadequado do edifício para abrigar a biblioteca. Os livros não têm a proteção correta contra o tempo e nem o prédio tem o uso que merece. Mas o pior é o entorno.

Renovei o livro e fui até a plataforma. Estava bastante frio nesta manhã de quinta-feira. Aproveitei o sol que ainda estava presente no finalzinho do chão de pedra para ler o final de mais um capítulo de Hemingway. Antes, olhei em volta.

Plantaram grama atrás da Estação. Atrás, que hoje é em frente. A entrada do prédio para embarque e desembarque ficava onde hoje está um estacionamento de automóveis confuso e normalmente dominado por flanelinhas. A parte nobre do prédio acabou sendo o local onde, antes, o trem parava para receber novos passageiros.

A grama rala insiste em oferecer um pouco de verde, entre poças de água da chuva do dia anterior. Ali, alguém pouco razoável teve a ideia de fazer uma calçada estreita e ondulada como serpente que leva do terminal central de ônibus até o shopping popular, conhecido como “camelódromo” ou “paraguaizinho”. As pedras de petit-pavé se soltaram, em vários pontos da calçada, denotando total falta de cuidado com a manutenção, além de um trabalho mal feito e o uso errado do espaço (os carros da exposição mencionada anteriormente já passaram por cima dessas pedrinhas algumas vezes).

Mas o mais incompreensível é que tenham feito essa calçada ondulada. Se a fizessem em linha reta, além de oferecer um caminhar mais lógico ao pedestre, ainda poderia ter feito referência aos trilhos de trem que, no passado, estavam quase no mesmo local. Ao invés disso, colocaram ali alguns postes com lâmpadas, entre a estação e a calçada, e esqueceram completamente de colocar algum banco. Parecem faltar boas ideias para o aproveitamento de espaços públicos.

Terminei de ler um capítulo, e notei que o sol já deixava a plataforma. Lembrei que havia bancos do outro lado do gramado. Caminhei ainda seguindo o calor do sol, sobre a plataforma, indo em direção ao paraguaizinho. Na ponta da plataforma, um cachorro dormia e nem sequer mexeu a orelha quando passei ao seu lado, e desci os degraus até o Parque Ambiental.

Cheguei a um dos bancos. Sentei. Olhei em volta. Quem sentasse ali teria que ficar olhando o trânsito de ônibus, ou observar o shopping em forma de caixote. “Preferia estar olhando a grama”, pensei. Baixei os olhos para o livro. O sol fazia com que os olhos acreditassem que as letras impressas em tinta preta eram vermelhas. O texto era vivo e agradável. Levantei os olhos novamente. A cidade parecia mais bonita agora, enquanto eu terminava de ler outro capítulo.

12 de jun. de 2012

Onde está a graça?


Enfim, após vários dias de chuvas, confirmamos hoje que o sol ainda está lá em cima. As casas e edifícios em Ponta Grossa ficaram tão úmidos em seus pisos, paredes e janelas, que me obriguei a fazer uma tirinha sobre o tema.

Apesar do tempo pouco convidativo para sair, na semana passada acabei marcando um encontro que, descobri, eu desejava fazer há muito tempo. Por sugestão do editor-chefe do Jornal da Manhã, Mário Martins, escrevi reportagem sobre aqueles que trabalham com humor na cidade.

A ideia surgiu com a visita da cartunista curitibana Pryscila Vieira, que agora está morando em Ponta Grossa, desde que seu esposo assumiu o posto de delegado do Denarc local. Pryscila é a criadora da personagem Amely, um fenômeno dos cartuns. Uma mulher com aparência de boneca inflável (ou seria o contrário?) que critica a sociedade machista e a mulher vista como objeto.

Em conversa com Pryscila, ela apontou que seria mais pertinente fazer uma reportagem com outras personalidades além dela, e mencionou Benett (chargista ponta-grossense que agora trabalha para a Gazeta do Povo e Folha de S. Paulo) e *Fábio Silvestre (humorista de PG que agora está no programa A Praça É Nossa, do SBT).

De acordo, Mário Martins lembrou que James Robson França, vulgo Sádico, não poderia ficar de fora da matéria. Sádico é chargista do Jornal da Manhã, e tem feito excelentes trabalhos com ilustrações e tiras no jornal.

***

O bar, sempre o bar...
O primeiro passo da reportagem foi marcar uma conversa com Sádico. Ofereci duas possibilidades: o café da Panificadora Vila Velha ou o Bar do Seu Rui, ao lado do JM. “O bar. Sempre”, respondeu. Mas, na manhã de quarta-feira, estávamos no bar... tomando café. Precisávamos nos manter lúcidos. Era meio da semana. Mais um dia e teríamos um feriado, aí cada um faria o que bem entendesse.

Foi durante a conversa que Sádico lembrou: eu não podia deixar de mencionar Roque Sponholz, caricaturista e chargista ponta-grossense. Também poderia mencionar Diego Castro, humorista emergente quando se trata de comédia stand up na região.

A sugestão era boa, mas me pareceu improvável... Sádico propunha que eu reunisse a Pryscila, ele, Roque e Diego, e fizesse uma foto de todos juntos para compor a capa do caderno Urbe do JM, onde seria publicada a reportagem. Me despedi prometendo fazer a tentativa de marcar a foto para aquela mesma tarde, embora incrédulo.

***

Mais fácil do que parece
Para minha surpresa Roque Sponholz me atendeu no primeiro telefonema, e topou o encontro no Parque Ambiental. Local escolhido em face da identificação imediata com a cidade, já que o Cocozão, monumento polêmico e insubstituível, não mais existe.

Diego Castro também aceitou a ideia na hora, e combinou estar no Parque Ambiental também às 17 horas. Pryscila estaria chegando de uma viagem a Curitiba, mas disse que daria tempo de fazer a foto, com certeza.

À tarde, o tempo que estava apenas em garoa decidiu assumir sua condição chuvosa e as gotas de água se intensificaram, dobrando de tamanho e volume, e me obrigando a transferir o local da foto para alguns metros adiante. O novo local era a Estação Saudade, antiga estação de trem, hoje biblioteca municipal, também localizada no mesmo Parque.

Mas essa mudança precisou ser articulada após as 16h30, e Roque Sponholz já havia deixado sua casa, rumo ao local original do encontro. Fiel a uma tradição antiga, Roque não carregou celular [aparelho que, aliás, não possui]. Teria que encontrá-lo no local onde havíamos combinado por primeiro e levá-lo à Estação. Os demais foram todos avisados.

Às 17 horas em ponto, Roque exibia seu abrangente bigode [marca caricatural que carrega no semblante] perto das árvores de romã do Parque Ambiental. No carro do JM, eu, o fotógrafo Christopher Eudes, o motorista China e Roque Sponholz seguimos até a Estação Saudade, onde Sádico e Diego Castro já conversavam animadamente.

Só faltava Pryscila. Enviei SMS dizendo que a esperávamos, e ela respondeu que estava perdida. Uma breve conversa e a recém-chegada a Ponta Grossa, minutos depois, encontrava o bizarro estacionamento que fica junto à biblioteca e é dominado por flanelinha de aparência estranha e comportamento inescrupuloso (acho que acabo de descrever todos os flanelinhas do mundo).

***

Autopromoção? É o jeito...
Christopher fotografava os quatro junto ao prédio, usando o que restava da bateria de sua câmera. Ele tinha começado o expediente no jornal cedo, e teve que fazer o trabalho do outro fotógrafo, Clebert, que precisou viajar a trabalho para Curitiba. Com isso, estava nas últimas energias (ele e a câmera). Foi quando os entrevistados reivindicaram minha presença na foto.

De fato, meu trabalho como cartunista criador do Catraca não podia ser desprezado. Mas... escrever sobre mim mesmo na reportagem? Me incluir na fotografia? De início me pareceu inadequado. Mas, em seguida pensei... Por que não? Ao final, estar ali ao lado dos grandes nomes do humor local, alguns dos quais com destaque nacional e internacional, me serviu de incentivo e massagem positiva ao ego.

A reportagem não ficou ruim. Mas esse foi um daqueles casos em que o “fazer a reportagem” foi mais interessante do que vê-la publicada. E ter sido incluído na foto por eles teve, para mim, elevada importância. Talvez eu como cartunista não tenha o destaque que eles já conquistaram, mas rir ao lado deles foi como respirar mais profundamente. Aí está a graça.

*Obs.: Na mesma edição do caderno Urbe (10/06/2012) foi publicada entrevista com Fábio Silvestre. Ainda consegui para aquela edição uma entrevista com o chargista Benett. Mas, sem tempo e espaço adequados, posterguei a publicação para outra ocasião. É um material que merece o devido destaque, e em breve certamente terá. Por hora, eis os links para o caderno Urbe do último domingo - http://www.jmnews.com.br/noticias/urbe/23,21925,10,06,o-humor-em-ponta-grossa.shtml
http://www.vamoslerjornaldamanha.com.br/mail/jm/flip/Urbe/10-06-12/

30 de mai. de 2012

Dia do Desafio


Um radialista disse, no noticiário desta manhã, que hoje é o tal Dia do Desafio. Uma data que, na minha opinião, é ridícula. Ridícula porque sugere que as pessoas pratiquem atividades físicas e, dessa forma, estabelecem uma espécie de competição saudável entre cidades, para ver onde as pessoas mais aderem à prática. No entanto, a verificação disso se dá por meio dos telefonemas feitos pelas pessoas que [supostamente] participam, logo após o ato. Ao final, um cálculo básico sobre o número de pessoas que relatou a prática física irá determinar a cidade vencedora.

Além do fato disso estar condicionado quase sempre a um telefonema [que pode ser mentiroso, ou que pode não acontecer por falta de estrutura telefônica, falta de créditos no celular], Ponta Grossa, localidade onde resido, quase sempre ganha. E eu me pergunto se isso acontece porque gostamos do Dia do Desafio, ou se é porque o pessoal lá fora tem mais noção da realidade, e prefere praticar atividades físicas todos os dias pelo seu bem-estar, ao invés de fazer isso uma vez ao ano buscando vencer uma competição.

Enfim. Hoje a cidade deve bater um recorde de participações, já que os funcionários da Viação Campos Gerais, empresa que administra o transporte público na cidade, entraram em greve. Nenhum ônibus circula e o Terminal Central estava absolutamente estranho, sem ônibus e sem pessoas em seu interior. Só os guardas nas guaritas de entrada e a neblina pairando sobre a estrutura metálica.

Muitas pessoas se obrigaram a ir a pé para o trabalho, ou buscaram a carona com um amigo. Eu levei minha esposa ao trabalho e pude ver um número bem maior de automóveis circulando nas ruas.

“O desafio hoje será chegar ao trabalho”, complementou a outra radialista, fazendo trocadilho. E o meu será aguentar mais um Dia do Desafio, sendo coerente ao meu modo de ser, e mantendo o sedentarismo de sempre. Muito embora eu ainda pretenda mudar isso, em algum momento que não será no Dia do Desafio.

20 de abr. de 2012

De volta à estrada: um passeio a Witmarsum

Nós em frente à placa que explica a
existência das 'estrias glaciais'
Depois de um período sem fazer as viagens que eu e a Pri tanto apreciamos, no último domingo finalmente encontramos tempo e um pouco de dinheiro para deixar a cidade em busca de novos lugares, pessoas e histórias. Eu já me sentia um viajante “enferrujado” e, se não fosse a insistência dela, é provável que tivéssemos ficado em casa assistindo a um filme de ação que meu sogro emprestou. Mas, às vezes, é bom sermos protagonistas dessa ação. Além disso, todas as vezes que eu não queria viajar e a Pri me convenceu, acabei retornando com a impressão real de que percorrer alguns quilômetros faz um enorme bem ao cérebro.

Há uma localidade chamada Witmarsum na Alemanha. Há outra Witmarsum em Santa Catarina. Optamos pela terceira Witmarsum, em Palmeira (PR), na região dos Campos Gerais. A colônia de descendentes europeus (em especial alemães) foi fundada em 1951, e lembra um pouco o município de Carambeí, mais próximo de Ponta Grossa, também nos Campos Gerais.

Do ponto A (Ponta Grossa) ao ponto B (Witmarsum) devo ter dirigido um pouco mais de uma hora. Sem pressa, entramos primeiro em Palmeira, imaginando que a colônia ficasse colada à cidade. Era perto da hora do almoço e demos início à uma busca por restaurante. Estacionei nosso Palio (quase promovido a Adventure após a viagem a Guaraqueçaba) e percorremos a pé uma das principais ruas do centro da cidade. Todas fechadas. Caminhamos cinco ou seis quarteirões, notando que estavam abertas apenas uma banca de revista, um boteco e a igreja, em frente da qual um grande grupo de jovens visitantes entoava canções religiosas, ao som de dezenas de violões e alguns pandeiros.

Quando regressamos, pela mesma rua, somente o boteco estava aberto. Os funcionários do estabelecimento nos informou que, seguindo pela rodovia, em direção a Curitiba, deveríamos percorrer mais 20 quilômetros até chegar à Colônia de Witmarsum. E assim fizemos.
Gaivotas em um banheiro masculino

Antes, porém, uma parada na rodovia para almoçar em um lugar chamado Girassol. Restaurante e lanchonete bastante agradável. Há um restaurante com pratos mais caros e, um pouco antes, em recinto separado, a lanchonete, onde são servidos doces e salgados e (depois descobri) também almoço. E o banheiro masculino (só o masculino) é decorado com desenhos de gaivotas (!).

Foram exatos 20 quilômetros até que avistássemos a placa que indicava Witmarsum. Entrando à esquerda em um trevo, seguimos por uma estrada asfaltada e muito bonita. As árvores altas se abraçavam no topo, formando um túnel de folhagens que tornava a simples passagem por ali marcante. Era como um portal para outro mundo e, de fato, sentimos que até a temperatura caiu, imediatamente depois que entramos nessa estrada.

Paisagem bucólica das margens da
rodovia principal da Colônia
Um pouco distantes umas das outras, as residências exibiam a arquitetura característica trazida pelos alemães, que em muito lembrava a dos holandeses vista em Carambeí. Havia vacas em quase todos os terrenos, e vimos apenas da raça holandesa. Mas aqui e ali surgiam exemplos de ovelhas, gansos, e um bando de quero-queros fez questão de se mostrar, para a indignação da Pri. Ela odeia quero-queros... acredita que eles estão sempre pedindo chuva, o que não costuma ser muito bom em nossos passeios. Felizmente, nesse domingo a previsão do tempo errou feio, e o sol foi predominante.

A estrada de asfalto por onde seguíamos era, na verdade, a avenida principal da localidade. E talvez a única avenida, pois não vi nenhuma rua secundária significativa. Para acalmar os exploradores urbanoides, algumas placas indicavam que ali havia um ou dois cafés onde poderíamos fazer uma refeição.

Nosso Palio Economy, promovido a
'Adventure' após a viagem
a Guaraqueçaba
Percorridos alguns quilômetros, uma grande placa anunciava atrativo turístico. De fato, tratava-se de algo curioso que eu já tinha lido na internet, e fiquei surpreso de nunca ter ouvido falar sobre tal coisa até a presente data.  É que a rodovia passa ao lado de uma rocha mais ou menos plana, à altura do chão, com riscos apontando todos em uma mesma direção. São as tais “estrias glaciais”. Segundo os especialistas, formadas pelo movimento de grandes massas de gelo que existiram na região há 300 milhões de anos, numa época em que os continentes ainda eram unidos.

Feito o registro, seguimos novamente até a estrada, até quase chegarmos novamente à rodovia de acesso a BR. Regressei para entrar numa estrada de terra onde iríamos conhecer uma pousada que a Pri tinha visto na internet. No caminho, nada de agência bancária, correios ou farmácia, nada de supermercado, lan house ou casa lotérica. Pra compensar, há sinal de celular, e a torre de telefonia fica justo diante dessa estrada em que entramos à procura da pousada. Placas indicavam também um restaurante, seguindo por uma bifurcação. Mantendo nosso caminho, chegamos à tal pousada, onde fomos atendidos por uma moça com forte sotaque, que nos mostrou as instalações.
Estrias glaciais

Valores entre R$ 220 e R$ 260 a diária (de acordo com o tipo de quarto), com direito a café da manhã e fondue de queijo e chocolate à noite, mais cavalgada com passeio até uma cachoeira da região. Tem acesso à internet para quem quiser atualizar o blog ou a rede social.

Não era intenção ficar na pousada. Não tínhamos tempo nem dinheiro para isso, então regressamos para gastar o que havíamos previsto num café que vimos no trajeto de entrada. Distraído, passei pelo café e decidimos parar, alguns metros à frente, no Museu de Witmarsum, que fica ao lado da cooperativa de mesmo nome.

Entramos na casa de madeira, com o chão estalando sob nossos pés. Não havia viva alma à vista e foi se criando uma atmosfera de suspense, na qual sabíamos que, em algum momento, alguém surgiria em meio às antiquidades. Os objetos, em si, não me surpreenderam muito. Não era muito diferente de todo museu que já visitamos. Um destaque maior para as fotos, já que a localidade mesmo não é das mais antigas.

Igreja menonita local
Tínhamos caminhado por quase todos os cômodos quando um senhor passou pelo corredor principal e, ao nos ver, procurou demonstrar simpatia: “Ah, já estão se achando aí?”. E, em seguida, apareceu novamente para dizer que: “Se precisarem de alguma coisa, fiquem à vontade.”

Estávamos indo embora, só precisávamos pagar a taxa de entrada. Mas chegou um casal no mesmo momento, e o funcionário do museu começou a dar uma explanação a respeito dos imigrantes na colônia, sua história e formação. Heinz Egon Philippsen, como se chama o historiador que atende no Museu de Witmarsum, ele sim é a principal atração do museu. A Pri, que não é muito de ficar parada ouvindo aula de História, sentou-se para escutá-lo explicando de que forma e em que condições os imigrantes vieram para os Campos Gerais.

Diante de um mapa posto sobre a mesa, Philippsen falou sobre a miséria de seus antepassados, de alemães, holandeses e ucranianos, as razões que levaram todos a vir para outros países incluindo o Brasil. Ao mesmo tempo, narrou parte da própria história, falou de seus quatro filhos, de sua esposa e mencionou como hoje ele é historiador, e trabalha na mesma residência onde nasceu em 1955. A casa onde hoje funciona o museu, no passado foi a principal da fazenda que deu origem à colônia e cooperativa Witmarsum, mais tarde se tornou hospital (onde Philippsen vinha ao mundo) e hoje é o local onde ele trabalha.
Museu de Witmarsum

A narrativa de Philippsen é clara, cronológica, interessante e elucidativa. Vale a pena parar no museu por alguns instantes se for para ouvi-lo dando vida às coisas que ali são apenas objetos. Mas sem o casal que ali estava. O homem era daquele tipo chato que fica repetindo tudo o que o professor dizia, e a mulher era do tipo que se antecipava em duas ou três palavras o que ele ia dizer, só para mostrar que podia ser culta. Saber ouvir é uma virtude para poucos.

Dali, regressamos ao café, e comi uma torta de amora muito boa, enquanto a Pri comeu um bolo de Prestígio. Partimos em seguida, voltando a Ponta Grossa. Na saída de Witmarsum, nos preparamos para fazer uma foto bem legal do portal formado pelas altas copas das árvores. Estranhamente, passamos pelo lugar e não o vimos. Quase quis voltar imediatamente, mas decidi deixar para outra oportunidade. Porque o lugar pede outra oportunidade.

19 de fev. de 2012

Carnaval também é estresse...


Ontem à noite estávamos assistindo à TV, quando a Pri disse que queria pedir um lanche Delivery. Disse a ela que tudo bem, embora eu próprio não estivesse com fome naquele momento. Pediu algumas mini-pizzas (ou esfirras abertas) e informou nosso endereço. Só que disse que a casa ficava perto do Ponto Verde, supermercado que, na verdade, fica na Vila 31 de Março, a uns seis ou sete quarteirões. Às vezes acho que ela, assim como eu, ainda não está totalmente adaptada ao novo endereço. Até o ano passado ela morava na 31 de Março. [Eu, de meu lado, morava na Rua Padre Nóbrega, uma rua de calçamento que só foi asfaltada depois que eu fui embora...].

O motoboy não demorou muito, embora tenha chegado totalmente perdido. Precisei sair e acenar para que voltasse com a moto. Ao descer da moto, tirou o capacete com uma expressão estranha no rosto. Coçou a cabeça bem rápido, denotando nervosismo. Aí reclamou que quase não achou o endereço porque disseram a ele, na central, que a entrega era perto do Ponto Verde.

Pensei em despistar, dizendo que o pessoal da central era sacana. Afinal, motoboy tem fama de ser esquentado. Vai que eu digo que a Pri passou uma informação um pouco equivocada... O cara se revolta, joga as mini-pizzas no chão, pisa, e depois parte para cima de mim, injuriado. [Além do mais, a Pri estava ao meu lado, e não ia gostar nenhum pouco que eu a dedurasse...] Mas nem tive tempo de despistá-lo.

Ele continuou falando, e aí descobri que não estava nervoso por esse motivo. O trânsito no centro da cidade estava infernal por causa do desfile das escolas de carnaval, que acontecia naquele momento. Além disso, um senhor de idade estacionou o carro num local que quase o impediu de sair com a moto do lugar, e o único jeito de fazer isso foi danificando o carro do cidadão. E ainda, o motoboy tinha dupla jornada de trabalho, e era trocador de ônibus no primeiro período do dia. Estava exausto e, como morava também no Jardim Gianna, disse que a vontade era ficar em casa naquele momento.

Tudo isso ficamos sabendo só enquanto ele tirava as mini-pizzas da moto. Uns 30 segundos. Pense num cara indignado, e que precisava desabafar. Me entregou o troco com as mãos tremendo. Quase não acontece, mas dessa vez eu tive pena do motoboy. 

Sem desculpas para não acordar

Sou um sujeito profundamente influenciável. Principalmente pelos sonhos que tenho. Agora há pouco, sonhei que encontrava com meu amigo e colega Sebastião, com quem encontro quase todos os dias. Sebas é um sujeito culto e de opinião forte, que trabalha ao meu lado na redação do Jornal da Manhã. E ontem, manhã de sábado, ele parecia mais motivado que nos outros dias. Fez piadas, trouxe comentários interessantes sobre livros, relembrou histórias e me deu sugestão de pauta para um próximo caderno de agronegócios, que terei que fazer daqui a quinze dias.

É muito bom ver quando alguém está se sentindo bem. Parece que aquela sensação se irradia, e que eu posso captar isso, e até me apropriar um pouco dessa sensação. Talvez por isso tenha sonhado, há pouco, que encontrava o Sebas, e tínhamos um diálogo bem curto, mas fundamental.

- E o seu blog, Danilo? – Sebas perguntou.
- Puxa, está lá. Estou cheio de vontade de escrever, mas...
- Então... escreva. – ele respondeu, antes que eu encontrasse uma desculpa.

Acordei na mesma hora, e não sosseguei, enquanto não vim para o computador.

17 de jan. de 2012

O dia em que nos achar foi Missão Impossível


Talking Heads

Estive no supermercado há pouco e comprei um DVD do Talking Heads. Estava bem baratinho, algo como R$4,35, e fiquei curioso para conhecer as músicas do disco. Quem é Talking Heads? Engraçado você perguntar, pois comprei o DVD justamente para ter uma ideia um pouco mais clara sobre isso.

Há alguns anos eu estava no sebo sem procurar nada muito específico, e com tempo sobrando. E vi um disco de vinil com capa psicodélica desse grupo que eu nunca tinha ouvido falar. Ouvi no toca-discos da loja e achei legal. Consegui, logo depois, uma cópia do álbum em CD. Gostei muito do som do grupo, embora não compreenda suas letras. Não apenas porque estão em inglês e sempre tive dificuldades com o idioma, mas porque me parecem um tanto quanto obscuras em seu significado.

Bem, estou aqui ouvindo o DVD, pois as imagens são péssimas, feitas em 18 de dezembro de 1980, supostamente em Roma. Não dá pra ter certeza, pois a iluminação foi tão ruim que só é possível ver os primeiros componentes da plateia. Isso faz parecer um evento menor que o “Sexta às Seis”, não desmerecendo o programa cultural, apenas procurando uma comparação puramente quantitativa. Mas o som do disco é bacana.

Lembro que, logo que fiz a descoberta sobre o grupo, perguntei a meu amigo Ismael se ele conhecia o grupo.

- Já ouviu falar em Talking Heads?

E ele caiu na gargalhada. Pelo jeito, eu é que devia ter ouvido falar há bem mais tempo. O fato é que as pessoas têm a falsa imagem de que sou um poço de cultura repleto de citações que guardo apenas para mim. Mais tarde ele iria comentar com o nosso amigo Hélcio o fiasco de eu não saber quem era Talking Heads. Hélcio apenas fez silêncio, até hoje não sei se em respeito à minha ignorância, ou se porque ele também não lembrava quem era Talking Heads.

***

Missão Impossível

Fui com a Pri assistir ao filme Missão Impossível 4, ontem, no Shopping Total. Além de nós, apenas mais um sujeito na sala de cinema. Apesar disso, fizemos questão de desligar os celulares, um saudável hábito que temos sempre antes de iniciar o filme. O filme foi divertido, mas o susto veio quando saímos da escuridão do cinema. Meu celular marcava 16 chamadas não atendidas. Ligações do pai, da mãe, da avó da Priscila e um número desconhecido. Com certeza, pensei, algo de muito ruim tinha acontecido enquanto víamos o filme, para todos estarem tentando contato conosco. Pensei nas piores possibilidades, e liguei imediatamente para o pai da Pri, Clementino, antes que mais possibilidades viessem a minha mente.

Para minha surpresa, a mãe da Pri, Inês, só ficou assustada porque ligou em nossos celulares e não conseguiu nos encontrar nesse período. Quase acionaram toda a família na busca, julgando que algum acidente pudesse ter acontecido conosco. E eu que pensava que minha família tinha luxo comigo, agora vejo que a Pri também é o tesouro de sua família. O mais engraçado é que, durante o namoro, isso nunca aconteceu. Agora que moramos juntos, algo parece ter mudado.

16 de jan. de 2012

Que tipo de bêbado você é?


Ontem vi uma reportagem (longa demais até) no Fantástico, falando sobre os riscos do álcool na hora de pilotar motos. De fato, é um risco. Mas, o que ninguém fala nessas matérias, nem em campanhas ou onde quer que seja, é que as pessoas têm organismos diferentes umas das outras. Conheço pessoas que tomam dez latas de cerveja e não ficam sequer alteradas. Outras tomam uma apenas e já estão trançando as pernas. Acho errado dizer que todos ficam embriagados ao beber uma quantidade X de cerveja. Deveria haver uma pesquisa aprofundada verificando essa teoria. Talvez assim, a carteira de motorista de cada pessoa poderia trazer um diferente índice de dosagem alcoólica permitida, de acordo com o organismo. Imagino que tal medição seria possível. Deveria, então, haver uma campanha para que as pessoas soubessem seus próprios limites. Quem sabe fosse mais coerente que a tolerância zero, e mais eficaz que tentar proibir totalmente, o que certamente será frustrante em termos de aplicação e de resultados.Quando eu era mais jovem achava estranho o fato de os mais velhos se cumprimentarem com um “bom dia”, enquanto os de minha idade vinham com “opa”, “bão”, “e aí”, “olá”. E me perguntava se, depois de ficar mais velho, eu mudaria meus hábitos, ou se manteria os meus próprios e eles se tornariam, com o tempo, hábitos velhos. Mas hoje notei que me acostumei ao “bom dia”, e passei a cumprimentar as pessoas assim. Talvez porque aumentei meu relacionamento com pessoas mais velhas que eu. Talvez apenas porque tenha notado mais sentido em deseja ao outro que tenha um “bom dia”.

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Eu e a Pri estivemos no Guaragi no sábado, na pequena chácara de dois lotes de meu pai. Ali ele sempre planta coisas que não tem em sua casa no centro de Ponta Grossa, menos ainda na minha, que só tem espaço para um minicactus (sou tipo o Pequeno Príncipe no planeta B-612). Aliás... hora de dar um pouco de água pra ele.
Enfim, ganhamos algumas espigas de milho, e ontem quis cozinhar. Como a Pri estava ainda cuidando da lavanderia, onde tinha lavado uma porção de roupas, fui tratar do milho. Era a primeira vez que eu fazia isso sozinho, e fiquei impressionado com a perfeição das “embalagens”. Várias camadas de folhas bem verdes envolvem a espiga, onde estão os grãos perfeitos e intactos. A natureza é incrível.

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Tenho assistido ao seriado CSI na Record (TV Aberta), que voltou a exibir a primeira temporada. Estou positivamente surpreso com a qualidade dos episódios, em termos de roteiro, principalmente. Me fizeram recordar o quanto aprecio histórias de investigação criminal. Só que agora não me acho mais um detetive, apenas admiro a perspicácia dos personagens, sem me achar o mínimo disso. Eu me achava demais.


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Hoje cheguei à segunda metade de minhas férias. O tempo passa voando. Estou certo de que chegarei ao dia 1º, voltando ao trabalho e percebendo que não fiz metade do que tinha planejado. Ao menos terei escrito este pouco no blog.

2 de jan. de 2012

Um novo lar... com as notas contadas


Há alguns dias o pianista Newton Schner Junior esteve no jornal para uma visita de cortesia. Veio apenas me desejar um feliz ano novo, pois ficaria alguns dias fora, em trabalhos braçais na chácara da família, em Itaiacoca, segundo entendi. Fiquei surpreso, pois não imaginava o Newton carpindo um lote. Certamente é um sujeito mais versátil do que eu pensava. Das teclas do piano e do computador para a enxada... às vezes é uma longa distância.

- E você, vai viajar? – perguntou ele, se referindo ao Réveillon
- Não... na verdade já tive gastos suficientes neste ano, por conta da compra da casa nova e da mudança.
- Ah, sim. Você se muda agora em janeiro?
- Isso aí.
- Vai poder escrever “notas de um novo lar”... – brincou, numa referência ao título de uma de suas obras literárias mais recentes.
- Acho que será um novo lar, só que sem as notas. – respondi rindo, enquanto fazia um gesto com as mãos que significava dinheiro.

E agora aqui estou, no novo lar, procurando entender que mudanças isso implica também em minha vida. A mesa de computador e o próprio computador são os mesmos, como se me tivesse sido possível ser apenas transportado com eles para outro ambiente. Mas a sensação é completamente outra. Outro espaço, outros móveis, outra companhia.

Quando comecei a namorar a Pri, há pouco mais de dois anos e meio, tinha planejado isso tudo para 2013. Não sei por que, achei que quatro anos era um bom número. Mas eu sempre tive mais paciência, enquanto ela sempre foi mais ansiosa. Dois anos e meio foi o ponto de equilíbrio, e o momento em que conseguimos encontrar e organizar uma casa para onde nos mudarmos.

Não foi fácil encontrar esta aqui. Percorremos a cidade toda, de casas a apartamentos, de condomínios centrais a bairros distantes. Não imaginava me mudar para o Jardim Gianna, localidade nova que até pouco tempo eu sequer sabia que existia. Além do mais, na primeira vez em que percorri estas ruas, para conhecer outra casa à venda, o aspecto visual não me agradou muito, por ser do outro lado da mesma vila. Aí o colega Alan me veio falar de uma casa quase totalmente mobiliada, à venda no Gianna, e fui sem acreditar no que ele dizia.

De fato, foi amor à primeira vista. Também... a casa parecia um showroom. Com os móveis planejados expondo a funcionalidade do lugar, ficou impossível não gostar da casa. Hoje já conhecemos boa parte dos pequenos (embora vários) defeitos do lugar. Mas isso acontece em qualquer endereço. Não há casa perfeita. O que sei é que o negócio acabou sendo feito. E agora o ambiente está adaptado à nossa permanência.

Há um sofá confortável na sala, do jeito que a Priscila queria, e meu computador ao lado, como eu necessitava. Até ontem à noite, a Pri ainda organizava algumas das sacolas de roupas que ela transferiu para cá. Ficou horas fazendo isso. E eu estou aqui pensando quantas revistas e livros deixei na casa de meus pais. Boa parte deles eu jamais vou usar mesmo, mas outros são de estimação.

Isso é algo interessante. Esta casa é bem menor que aquela de meus pais. Enquanto lá eu me acostumei a acumular coisas e não jogar nada fora, aqui eu precisarei aprender outros hábitos. Não há espaço para tranqueira. É preciso ser prático e direto. Nada de guardar todo tipo de papel, panfleto ou lixo.

Iniciei essa limpeza já alguns dias, mentalmente. Depois comecei a limpar gavetas, ainda na outra casa. Na noite do último dia de 2011 eu estava deletando mensagens antigas de meu celular. E ontem resolvi limpar um pouco este computador. Quando percebi, por um erro de cálculo estava deletando coisas que deveriam permanecer aqui. Cancelei o processo, mas uma parte dos arquivos foi excluída. Terei que recorrer a um backup feito meses atrás, para recuperar algumas HQs e textos importantes.

Este será um ano repleto de mudanças, erros e acertos, como foram os primeiros dias. Mas tudo fluirá. Hoje pela manhã levei a Pri ao trabalho. Quando voltava, vi um homem fazendo caminhada. Se deslocava a passos rápidos de calção, camiseta, óculos escuros e bengala. Bengala? Ele carregava a bengala, como se tivesse ido até a fonte da juventude e estivesse regressando após um rápido mergulho. Acho que será um ano de milagres também.