30 de nov. de 2010

Conspiração ‘Tropa de Elite’

“Eu não sei o que é... mas alguma coisa está errada”. As palavras são de um cidadão acostumado a ver as ruas da área do Morro do Alemão, antes atulhadas de gente, agora vazias. Os olhos dele não demonstravam tranquilidade, paz ou satisfação com a repentina proteção da polícia e do exército. Era um ar de incredulidade e indignação.

O sujeito foi apenas um dos muitos entrevistados pelas inúmeras reportagens exibidas na televisão desde que um exército tomou conta daquele que agora é apontado como o maior abrigo da criminalidade no Rio de Janeiro. Antes, era apenas um lugar sobre o qual se evitava falar.

Me identifiquei com o sujeito entrevistado. Se é verdade que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”, terei de ser canonizado um dia, tal é o nível de meu desconfiômetro neste momento.

Tenho nojo quando vejo qualquer reportagem sobre o tema na televisão ou onde quer que seja. Enviaram os repórteres para onde as balas estão sendo disparadas, para testar até que ponto eles demonstram sua competência ou pavor. Enquanto isso, continuam perguntas que irão demorar muito tempo para serem respondidas, pois as respostas não estão na linha do front.

“Por que só agora levar o policiamento a um lugar que, aparentemente, todos sabiam ser um covil de ‘marginais’”?

“Como, com tantas equipes cercando o Morro, os maiores traficantes são justamente os que fogem?”

E, uma boa observação feita por Eugênio Bucci no site Observatório da Imprensa: “Como os traficantes têm tantas granadas, e nenhuma camisa?”

Tem algo de muito errado em tudo isso. E aqui eu aponto mais uma teoria da conspiração, porque estou inclinado a não acreditar em coincidências. As hipóteses explicativas envolvem futebol, cinema e política.


1º ponto: O futebol, como todos sabem, é uma máfia tão grande quando a fórmula 1. Esta foi desmascarada por Rubinho Barrichello, há vários anos. Os imbecis de plantão continuam acompanhando as corridas, como se fosse possível para um piloto chegar ao topo do pódio graças apenas à performance na pista.

Assim como os vencedores de cada campeonato de corrida são conhecidos antes mesmo de começar a competição, no futebol não é diferente. Sendo assim, vamos admitir como verdade que FIFA e governo já sabiam que o Brasil seria escolhido como país sede da Copa do Mundo de 2014. E que o governo precisaria tomar medidas para garantir o sucesso na realização do evento.


2º ponto: Todos sabem que o Rio de Janeiro jamais ofereceu a segurança para a realização de um evento dessa magnitude. Mas era preciso mostrar ao mundo que não há o que temer vindo ao Brasil. Assim, foi iniciada a maior campanha publicitária antecipada da história. ‘Nunca antes nesse País’ se viu melhor produção cinematográfica do que Tropa de Elite. O primeiro filme apresentou ao mundo aquilo que muitos acreditavam [alguns ainda acreditam] não existir: policiais honestos e incorruptíveis.

A sequência do filme, lançada há poucos meses, se estendeu para a política, revelando a forma como candidatos se elegem para importantes cargos tendo o apoio de traficantes do Rio de Janeiro. Neste segundo filme, um maior policiamento consegue acabar com os traficantes, mostrando que, sim, a segurança existe. O problema agora é a corrupção na política. Ao fazer isso, os filmes procuram mostrar que é possível confiar na polícia brasileira, e que o Rio de Janeiro pode ser um lugar seguro, embora governado por ladrões.


3º ponto: O policial Rodrigo Pimentel, cuja história deu origem ao personagem Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite, é largamente entrevistado, atestando como verdadeiras muitas das coisas que são mostradas pela ficção. Ao mesmo tempo, defende o governo do Rio, assegurando que o governador Sérgio Cabral tem feito o possível para melhorar a segurança, mas que ainda há muito para fazer.

Poucas semanas depois, é dada a ordem para invasão do Morro do Alemão. Mesmo com toda a megaoperação montada, justamente os maiores traficantes escapam, a pé, ainda que filmados e perseguidos até mesmo com helicópteros. A mídia colabora, apontando a possibilidade de terem escapado pelo esgoto, e trazendo textos poéticos que inspiram paz e harmonia, mas que não esclarecem nada. Apenas uma grande publicidade sobre o sucesso da operação.


HIPÓTESE: Tudo isso faz parte apenas de um grande teatro montado para exibir ao mundo o que está sendo feito para que o Rio de Janeiro esteja seguro para a realização da Copa de 2014. Certamente foi feito um acordo com os traficantes, que saíram muito antes de começar qualquer operação. Quantos policiais morreram? Quantos traficantes morreram? Quantos foram presos? Segundo o site IG de notícias, apenas 20 pessoas foram detidas no domingo. Vinte, dos 600 ligados ao tráfico que se esperava encontrar. O que demonstra que houve um acordo para que os "peixes grandes" pudessem escapar.

Enquanto a população assiste um reality show tão falso quanto qualquer outro reality show, os traficantes escaparam [sozinhos?], se espalhando por aí. E agora, é só aguardar Tropa de Elite 3.

18 de nov. de 2010

A insuperável RED original










Nesta semana pude ir ver no cinema o filme “RED”, traduzido para o português como “Aposentados e Perigosos”. Mais uma adaptação dos quadrinhos para a sétima arte. Considerando alguns trabalhos interessantes feitos recentemente, a exemplo de Batman (‘Begins’ e ‘Dark Knight’) e Watchmen, fui com a cara e a coragem ver a produção. Não sem antes procurar pela HQ que deu origem ao filme.

Embora tenha ficado sabendo que a história (de 2003) foi relançada, a um preço simbólico, por ocasião do filme, não encontrei livraria ou banca de revista que comercializasse a obra. Terminei encontrando o material para download nessa inacreditável fonte de conhecimento e total desrespeito aos direitos autorais que é a internet.

Se por um lado a internet é vilã, ao oferecer de graça algo que mereceria ser pago, por outro ela auxilia pessoas como eu, que não têm acesso ao produto por questões puramente logísticas.

A HQ “RED” é dividida em três capítulos, curtos, para serem lidos de uma vez só. Mas com uma impressionante riqueza nos diálogos, nos traços e no uso das cores, aplicadas sem excessos,
combinando assim com a narrativa sem piadas e que apresenta algumas horas na vida do ex-agente da CIA, Paul Moses. Aposentado, ele vive sozinho tentando esquecer atitudes suas das quais não se orgulha, mas que foram necessárias ao seu país (EUA) em épocas passadas. A nova direção da CIA passa a considerá-lo uma ameaça, devido às informações que possui, e aí se inicia uma caçada ao “herói”.

Seus perseguidores não têm nenhuma chance. Mais ou menos ao estilo “Rambo” (de forma, talvez, mais convincente), ele se livra de todos, um por um, contando com pouquíssima ajuda. Tudo o que ele queria era tranquilidade em sua aposentadoria. A partir da sua caça, ele só quer alcançar aqueles que ordenaram sua perseguição.

Sem poupar sangue entre os quadrinhos, a narrativa é extremamente movimentada, mas boa parte da história é mostrada com silêncios, e grandes sacadas. Entre elas, um flashback no qual Moses recorda de algumas das suas missões, incluindo a participação no dia do assassinato do então presidente John F. Kennedy.

A história termina sem uma conclusão fechada, embora o final implícito seja praticamente evidente ao leitor. Mas, bem poderia ter uma continuação. Além disso, em meio à roteirização, vários fatos são apresentados, sendo compreendidos, mas não totalmente explicados. Por essa razão, criei uma expectativa em torno do filme homônimo, que poderia preencher as lacunas deixadas pela HQ.

Mas o que aconteceu no cinema foi uma decepção. Em Watchem, a adaptação para o cinema fez com que todo o aspecto visual e vários trechos de diálogos fossem reaproveitados. Com isso, pode não ser a perfeita adaptação da HQ para o cinema, mas... quem quer isso? O que se espera é o mínimo.

Os dois últimos filmes de Batman, por exemplo, souberam explorar o que torna o personagem mais realista: como o uso da tecnologia, de sua condição de milionário, e sua habilidade na luta corporal.

Enquanto isso, “RED” nada tem da história em quadrinhos tão bem elaborada por Warren Ellis no roteiro e Cully Hammer nos desenhos. A começar pelo título. Nos quadrinhos, “RED” se refere ao código vermelho originado com as reações de Moses em sua perseguição. No filme, não passa de uma sigla boba para “Retired Extremely Dangerous” (Aposentados Extremamente Perigosos). O nome Moses é trocado, e de Paul ele passa a ser Frank. Sua amiga Sally, que tem participação reduzida na HQ, no filme passa a se chamar Sarah, e protagonizar em excesso a história.

O roteiro e desenho da HQ trazem o drama vivido por Moses, que não consegue esquecer seu passado, e ainda precisa lidar com o fato de ser perseguido. No filme, ele encontra com antigos colegas de trabalho, um dos quais participa da trama quase que exclusivamente para fazer piadas. O próprio Moses, que é um sujeito durão, que fala entre dentes e quase não sorri nos quadrinhos, no filme é interpretado por um Bruce Willis que lembra em muito o policial de “Duro de Matar”, e apaixonado por uma funcionária do “INSS”. Isso anula por completo a personalidade criada no roteiro original.

Pra finalizar, as cenas de ação perdem em muito para as apresentadas pela história original. Há pouquíssimas semelhanças entre os dois trabalhos e, se não fosse o mesmo nome dado ao filme, dificilmente haveria um processo por plágio ou algo assim. Algumas ideias são utilizadas mas, quem não conheceu a HQ, indiscutivelmente irá aproveitar melhor a sessão no cinema. Do contrário, é provável que fique uma sensação de vazio, a esperança inútil de uma guinada em meio à exibição da película, e a certeza de que “RED” é, de fato, uma obra-prima das HQs.

Download RED - capítulo 1

Donwload RED - capítulo 2

Download RED - capítulo 3

31 de out. de 2010

Viagem a Rio Azul – parte 3

"O Michelângelo de Rio Azul"

Gostaria de ter escrito sobre a conclusão de nossa viagem a Rio Azul no mesmo dia em que eu e minha namorada retornamos para Ponta Grossa. No entanto, vários dias se passaram, voltamos ao trabalho logo após o feriado prolongado do Dia da Padroeira do Brasil. E tivemos uma semana de apenas três dias para fazer, no jornal, o que fazemos em cinco. Chegamos a um novo final de semana exaustos e a uma nova semana repleta de tarefas. Agora, enfim, posso narrar o que houve no último dia de nossa estada no pequeno município de Rio Azul.

“Vocês atravessam a rodovia na saída da cidade, reto, em direção a uma estrada de cascalho. Dirija por cerca de nove quilômetros, e você irá chegar a um vilarejo. Ali você vai ver um boteco e uma rua mais estreita que leva à igreja. Se as portas da igreja estiverem fechadas, voltem para falar com o dono do boteco, que ele entrega a vocês as chaves. Digam que foi a Regina, minha esposa, quem sugeriu que vocês fossem conhecer o lugar”.

Minutos depois, iniciávamos o percurso rumo ao tal vilarejo, cujo nome esqueci de perguntar. A estrada não era tão ruim, mas descobri que havia várias pequenas aglomerações de casas, o que me levava a questionar se já não teríamos deixado para trás o tal vilarejo. Decidi perguntar.

Vi um galpão nos fundos de um terreno, e estacionei ao notar dois sujeitos no local. Saí do carro e cumprimentei os dois de longe, perguntando se eles sabiam onde ficava a tal igreja. Estranhamente, os dois vieram em minha direção, fazendo com que a Pri, ainda no carro, julgasse que eu seria imobilizado. Especialmente considerando que um deles veio enrolando uma blusa nas mãos. Mas, se limitaram a dar a informação. Ainda devíamos seguir em frente por mais alguns quilômetros. O nome do lugar para o qual nos dirigíamos era “Cachoeira dos Paulistas”.

Dirigindo um pouco mais, chegamos até um boteco que parecia ser aquele descrito por Marcos, o dono da pousada. Virando à direita, a rua estreita levou não apenas até uma, mas a duas igrejas. Uma antiga, de madeira, e outra nova, feita de tijolos, e ainda em cimento cru.

Não víamos quase ninguém nas ruas. Fomos até a frente da igreja, e descobrimos que as portas estavam fechadas. Então, de fato, voltamos para falar com o dono do boteco, que atendia a alguns clientes em uma janela, já que o estabelecimento estava fechado naquele feriado de 12 de outubro.

O cidadão pareceu indiferente, mas nos entregou um molho de chaves, dizendo “esta aqui abre a porta lateral”. Enfim, voltamos até a igreja e giramos a chave para encontrar algo bem diferente do que eu imaginava.

A igreja era inteira erguida em madeira. E as paredes e o teto tinham sido todos pintados de forma ricamente detalhista, e em cores fortes. Nas paredes laterais, uma pintura feita a pincel dava a ilusão de que a tinta havia escorrido. Nas paredes de trás. O pincel tinha sido tocado repetidas vezes com tinta azul, criando vários pontos, em meio a ilustrações de flores, algo que me fez lembrar de Van Gogh. As colunas que sustentavam a igreja receberam vários desenhos que, feitos em sucessão, lembravam azulejos. E nas partes superiores, mais perto do teto, ilustrações ricas em detalhes mostravam cenas descritas pela Bíblia. Entre elas, a Santa Ceia. No teto, desenhos simétricos impressionavam por sua precisão.

Tudo isso maravilhou a Pri e eu, que não parávamos de tirar fotos. Eu com meu celular, ela com a câmera. Havia vários papéis picados no chão, talvez por conta de algum evento recente. Ali ficamos por cerca de dez minutos. Jamais pensei que pinturas como aquelas seriam encontradas em paredes de madeira.

Depois, trancamos novamente as portas, e retornamos até o boteco. O proprietário estava em frente à casa dele, quando paramos para entregar as chaves. “Uma parte da população quer derrubar a igreja, para dar lugar à nova. Espero que isso não aconteça”, nos disse. “E, onde está o homem que fez essas pinturas?”, perguntei. “Mora aí em Rio Azul, mas não tem família. E acho que está vivendo no asilo, já está bem velho”. “E onde fica o asilo?”, perguntei. “Perto da pousada”, ele disse.

- O que acha, Pri... Vamos procurar o velhinho?

- Vamos. – ela disse.

Assim, seguimos de volta até a pousada. Ali perto encontramos o tal asilo. Um interfone coberto por teias de aranha parecia dizer para não entrarmos, enquanto dezenas de velhinhos tomavam sol diante do asilo, que ficava no alto de uma espécie de colina. “Podem subir, o interfone não funciona!!”, alguém gritou.

Subimos uma escadaria. No topo, duas mulheres junto da janela pareciam as cozinheiras do lugar. Ou talvez eu tenha pensado isso por estar perto da hora do almoço. Os fogos de artifício tinham acabado de ser lançados, como acontece tradicionalmente ao meio-dia, no Dia da Padroeira do Brasil.

Não sabia o nome do pintor. Mas, quando citei a igreja decorada, uma das funcionárias logo disse “Ah, eles
estão falando do Petreski!”. Nos levaram até um senhor em uma cadeira de rodas. Os lábios não se moviam direito enquanto ele falava bem baixinho conosco. Antonio Petreski tem cerca de 90 anos. Está no asilo há alguns meses. Sua memória está fraca, mas quando perguntamos se foi ele quem fez a pintura da igreja, não teve dúvidas. “Mas, é claro!”.

Surpreso eu fiquei quando a funcionária nos perguntou: “Qual das igrejas vocês conheceram?” Só então soubemos que Petreski não decorou apenas uma igreja, mas várias da região. Ela nos mostrou o topo de uma outra igreja, vista dali no centro da cidade. Apenas mais uma das que ele havia pintado.

Em meio a um discurso confuso, Petreski deu a entender que ainda queria concluir a obra iniciada em outra igreja, e que precisava corrigir uma pintura que fez e que não ficou perfeita como ele esperava. Mas então voltava a divagar, e dizia coisas difíceis de serem entendidas.

“Ele costumava pintar as igrejas à noite. Quando terminava a obra, deixava tinta e pincéis, tudo no local”, contou a funcionária. Foi triste saber que ele estava lá, ignorado em um asilo. O “Michelangelo de Rio Azul” corre o risco de ser esquecido. A esposa de Marcos, segundo ele nos explicou, tenta através de um videodocumentário mostrar a importância do trabalho de Petreski. Para que, ao menos a igreja que conhecemos, não seja derrubada.

Fomos embora sabendo que tivemos uma experiência única. O saldo da viagem: um simpático agricultor dedicado às amoras. Um parque com cachoeira que vale a pena conhecer. E uma obra de arte escondida em um vilarejo desconhecido... perto de onde vive seu autor... num asilo, em uma cadeira de rodas. Fica no blog Universo e Afins a homenagem e registro a Antonio Petreski. Certamente um dos maiores artistas que existem e, como costuma acontecer, vive sem o sucesso e reconhecimento merecidos. Quem for a Rio Azul, visite os locais e pessoas aqui mencionadas. Descobrirá que viagens interessantes não se resumem à praia ou a grandes pontos turísticos. Às vezes as descobertas mais interessantes estão onde a maioria não procura. Em pequenos lugares como Rio Azul ou... ‘Cachoeira dos Paulistas’.

11 de out. de 2010

Viagem a Rio Azul - parte 2

Conhecendo a produção de amoras

Para fazer uso da internet wireless aqui da pousada, precisei de ajuda. Inicialmente, acreditei que poderia fazer isso sozinho, peguei o telefone e liguei para o Marcos. “É bem simples...”, ele disse. Mas a rede não foi detectada, e precisei levar o netbook até o sujeito para que ele configurasse. Enquanto caminhava pela trilha de pedrinhas que conduzia à casa do cidadão, notei que a rede tinha, enfim, sido detectada. Mas aí o Marcos já estava vindo ao encontro, então aproveitei para pedir a ele um “T” emprestado.


Foi assim que pude recarregar a bateria do computador...

Bom, isso foi ontem. Hoje, o plano era irmos até a tal fábrica de framboesas que existe na cidade. Ao pedir informação ao Marcos sobre como chegar lá, o início da resposta foi “É bem simples”. Aí vi que podia ser um pouco mais complicado. Mas, segundo ele explicou, não ficava longe. Bastava seguir o asfalto até o trevo na saída do município, e então seguir por outros seis quilômetros por uma estrada de cascalho.

Íamos entrar no carro, quando notei que um passarinho saía voando rapidamente, da frente do espelho lateral do Palio. No dia anterior, havíamos percebido que o pardal gostava de ficar se olhando no espelho, e parecia acreditar estar vendo outro animal da mesma espécie. Ontem dissemos “que bonitinho...” Hoje dissemos “que cagada!” O bichinho riscou o espelho, parte da lataria e ainda cagou em toda a parte superior do retrovisor!

Deixando o pardal para lá, seguimos rumo ao caminho indicado por Marcos. Chegamos ao trevo e pegamos a primeira estrada de cascalho que encontramos pela frente. A Pri ficou com medo depois que vimos que a estrada levava apenas a um pequeno barracão, com uma fornalha acesa.

Voltamos, e somente então encontramos outra estrada de cascalho. Um casal que empurrava carrinho com bebê nos informou... era realmente aquele o caminho para a indústria Framora. Cerca de seis quilômetros depois, em uma estrada com alguns buracos, chegamos a um local onde uma placa, à direita, anunciava: “FRAMORA”.

Entrando com o carro, vimos que um senhor estava na varanda da casa, e imaginamos que deveria ser o proprietário. Guilherme Gurski é descendente de poloneses, e natural de Rio Azul. A sua fazenda, no lugar onde está hoje, ele possui há cerca de 30 anos. Há cerca de 15, depois de levar um prejuízo de cerca de R$ 200 mil com a plantação de batatas, decidiu investir em outra coisa. Optou pelas frutas vermelhas: framboesas, amoras e morangos.

O início, ele conta, foi difícil. Mas depois de cerca de dois anos pegou o jeito do novo trabalho, mesmo com muita gente dizendo que não daria certo. “Aqui em Rio Azul a grande maioria das pessoas planta fumo. Mas eu já disse que é um erro, porque vai chegar um momento em que vai ser proibido. E aí os agricultores precisam estar preparados, tendo uma cultura diferente para o sustento”, comenta.

De fato, Guilherme é um homem à frente de sua época. Enquanto todos diziam que as amoras não dariam retorno, ele arriscou e obteve êxito. Em cerca de um hectare, ele produz aproximadamente 12 toneladas de amoras por ano. Ainda tenta formar uma cooperativa. Com 200 toneladas seria possível exportar a produção. Por ora, serve para gerar renda para a família, e para pagar cerca de quatro funcionários contratados por ele na época da colheita.

Parte das amoras é vendida in natura. Mas muito do que é colhido, Guilherme industrializa em sua propriedade. No lugar onde ele chama de “fabriqueta”, ele nos mostra os equipamentos que adquiriu através de financiamento. São máquinas de fazer sucos e câmaras frias. Numa delas, boa parte da produção de 2009 continua armazenada, entre itens industrializados e amoras em caixas.

“Comecei guardando todas as amoras em freezers. Eram oito freezers e ainda faltava lugar”, explica Guilherme, que não viu saída senão trabalhar com os derivados das frutas. Numa sala ele guarda, em prateleiras, geleias, vinhos e licores das frutas que produz. Tudo cuidadosamente envasado, etiquetado, e já com os preços à mostra, para os visitantes que vêm conhecer sua propriedade e o trabalho com amoras.

No entanto, ele reclama da falta de apoio para o trabalho. A burocracia para manter a propriedade e a produção é muito grande. A venda das amoras se complica para alguns mercados, porque, apesar de ser produto totalmente orgânico, a obtenção do selo que atesta isso também exige burocracia. Ele já buscou apoio também em Curitiba. Verba para isso existe, já que o governo incentiva ao produtor a procura por culturas alternativas ao fumo. Mas, por razões puramente políticas, segundo ele, esse incentivo financeiro não chega.

Quando ele diz isso, não se refere apenas à produção e venda de amoras, mas também ao turismo rural. Depois que seu trabalho ganhou destaque em algumas reportagens na televisão, até mesmo pessoas de outros estados, como do Rio de Janeiro, estiveram em sua fabriqueta. Mas as estradas para chegar ali são ruins, não há sinalização nem propaganda, salvo a parceria com a Pousada Villa Vitória, que nos indicou a visita ao local.

Enquanto isso, a produção de fumo continua em alta na região. Até o momento que, de uma hora para a outra, o plantio de fumo não for mais permitido. “Aí todos vão correndo ter que aprender a plantar outra coisa. Esse é o momento de buscar uma alternativa”, ensina Guilherme Gurski que, além de dar o pontapé inicial no plantio de algo diferente na região (apenas mais um agricultor trabalha com amoras nos arredores), também tem consciência ambiental.

Toda a área onde, no passado, ele desmatou para o plantio de feijão, batata e milho, hoje ele está reflorestando. “Estou quase saldando minha dívida com a natureza”, ele diz, mostrando uma nova mata que se ergue atrás de sua casa, onde antes só havia campo.

Deixando de lado o aspecto mais mercadológico da produção de amoras, Guilherme Gurski vive bem em sua terra. A casa é confortável, e a hospitalidade dos donos (ele e sua esposa, Maria, nos receberam muito bem com um delicioso suco de frutas vermelhas com laranja) é inquestionável. Eles têm vocação para se relacionar com as pessoas.

Mas já passava de 11 horas, e o assunto estava rareando, de modo que compramos dois litros de licor e um pote de geleia, e partimos de volta para a pousada, onde almoçaríamos em seguida.

***


Almoçamos na pousada. Macarrão ao molho branco. Apenas mais um casal no restaurante. Nada do Dedé... talvez ele não tenha vindo para cá. Fomos, enfim, até a tal pedreira. Não fica muito longe também. A entrada não é cobrada. É um lugar até bem cuidado. Talvez porque não tenha tanto público, ou porque estivemos no local em plena tarde de segunda-feira. Caminhamos por uma trilha. Nenhum bicho à vista, a não ser os malditos mosquitinhos “porva”, que insistem em me atacar. Mas não é possível chegar junto da cachoeira. Não há grandes espaços com areia, apenas pedras. A água não é tão cristalina. Fica mais num tom verde, embora não pareça poluída.

A lanchonete do local estava fechada. Ficamos ali por algum tempo, até os ataques de insetos se intensificarem contra a minha pessoa. Depois demos olhada em uma gruta na qual havia uma imagem de Nossa Senhora e algumas velas acesas.

Retornamos à civilização, onde compramos gêneros alimentícios antes de retornar à pousada. Não pude formar uma opinião sobre as pessoas daqui. Marcos e Guilherme são pessoas voltadas para o turismo. Em algumas lojas onde estivemos, as funcionárias me pareceram atenciosas com a clientela. Um bêbado andava pela rua ameaçando assaltar duas mulheres, que faziam piada dele. A principal rua do centro não é muito movimentada. Vi agências do Sicredi, Banco do Brasil e Itaú. Um bom supermercado. Uma carroça. Alguns ciclistas. Parece ser lugar tranquilo. Bom para passar alguns dias, mas não consigo me imaginar vivendo assim. Preciso de barulho, poluição, agito... correria. E cinema... “Tropa de Elite 2” está em cartaz.

Amanhã devemos voltar a Ponta Grossa, e talvez tenhamos tempo de ver o filme. Mas, primeiro, veremos se conseguimos permissão para visitar a tal Igreja do Michelangelo de Rio Azul. Veremos...

10 de out. de 2010

Viagem a Rio Azul - parte 1

Conhecendo a região

Vai ser bom quando
todas as tomadas do Brasil forem padronizadas. Quem sabe aí poderei ligar o netbook normalmente, sem me preocupar com o "T" que esqueci de trazer. Sorte que me emprestaram um. Estou em Rio Azul... cidade pequena, mas com banco, posto de gasolina, lanchonetes. Há civilização, enfim. Eu e minha namorada, Pri, decidimos aproveitar o final de semana prolongado viajando a algum lugar próximo de Ponta Grossa. Escolhemos Rio Azul depois que vimos na internet informações sobre uma pousada, que descrevia algumas das atrações locais, entre elas uma pedreira com cachoeira e uma fábrica que trabalha com amoras.

A viagem até aqui foi tranquila. A única surpresa foi quando, já bem perto de nosso destino, três sujeitos montados em cavalos cercavam um automóvel estacionado à beira da rodovia. Eu me concentrei em desviar dos cavalos, e não pude dar atenção ao fato em si. Mas a Pri disse ter visto o momento em que o motorista do carro era obrigado a entregar a carteira. Seria um assalto à diligência, no estilo faroeste? Seria Rio Azul uma terra sem lei??

Algo para descobrir mais tarde. É curioso pensar que a viagem que fazemos hoje, de certo modo, começou a ser planejada há dez anos...

Eram meados do ano 2000, e não era uma “odisseia no espaço”. Eu ainda estava concluindo o ensino médio, e tinha decidido fazer vestibular para o curso de jornalismo. Era a primeira vez que eu fazia uma prova de vestibular, e ainda não sabia que os candidatos eram reunidos nas salas seguindo a ordem alfabética de seus nomes.

Quando me dei conta, eu estava numa fileira de carteiras que reunia quatro Danilos. Bem perto estava um outro Danilo, sujeito que parecia despreocupado. Faria prova para Direito, mas estava bastante calmo. Numa rápida conversa antes de iniciar as provas, ele disse que não era de Ponta Grossa. Era de uma pequena cidade chamada “Rio Azul”. Ninguém que estava ali tinha ouvido falar antes na localidade. “É... ninguém conhece mesmo...”, ele disse.

Eu não consegui uma vaga na universidade naquela edição do vestibular. Então, precisei fazer nova prova, dessa vez no campus central da universidade. Na entrada, quem eu encontro é o mesmo Danilo, que também não tinha conseguido passar no primeiro vestibular. Novamente, estávamos na mesma sala.

Antes de fazer as provas, cada um dos candidatos precisava se apresentar à frente e assinar um documento. Quando meu colega Danilo foi chamado, aconteceu algo impressionante. Sua mão tremia tanto, que ele não conseguia assinar o próprio nome. “Fique calmo”, disse a monitora. “É que dessa vez eu estudei”, ele respondeu. Uma narrativa para ilustrar o quanto um vestibular pode atacar os nervos até mesmo do mais tranquilo candidato, desde que ele realmente esteja se dedicando para ser aprovado.

Sempre associei essa história ao nome da cidade de Rio Azul. Por isso achei que seria interessante conhecer o lugar, quando olhava o mapa do Paraná, nesta semana, em busca de um destino para este domingo...

Depois de cerca de duas horas de viagem, chegamos facilmente ao local. Ambiente agradável. Pousada Villa Vitória. O Diogo, que trabalha conosco no jornal, estava saindo com sua namorada da pousada, para um passeio, naquela hora. Ele soube que vínhamos para cá, e decidiu vir também...

O dono da pousada, Marcos, é um sujeito simpático, como deve ser o proprietário de qualquer pousada. Nos mostrou os chalés, e ficamos no de número sete. Segundo ele, estamos com uma celebridade como nosso vizinho. Dedé, o humorista que fez parte dos saudosos Trapalhões, está hospedado aqui, porque seu circo está na região.

Ele também nos contou que aqui existe uma igreja cujos desenhos da pintura interna foram todos feitos à mão por um único artista. Um homem de cerca de 90 anos, que ocupou pelo menos 20 para concluir sua obra. É o Michelangelo de Rio Azul. Se o encontrássemos poderia ser algo interessante. Ou talvez pudéssemos apenas visitar a igreja, embora tenham nos dito que o acesso é restrito.

Neste momento a Pri está tirando um cochilo. Cansou da viagem. Curioso, pois eu que dirigi não cansei desta vez. Acho que o simples fato de me afastar um pouco do trabalho já fez com que me sentisse mais descansado. O plano para amanhã é visitarmos a tal pedreira e, talvez, a fábrica de produtos de amoras e framboesas.

Já estamos planejando almoçar por lá. O Marcos nos disse que a proprietária do lugar é descendente de italianos, e excelente cozinheira...

5 de out. de 2010

A megalópole princesina no 'Observatório'

Às vezes eu gostaria de ter mais tempo para refletir sobre a profissão dos jornalistas. Mas, como sou um deles, não tenho tal tempo.

A maioria dessas reflexões são breves, normalmente relacionadas a fatos curtos ou, às vezes, apenas imagens. E um item que sempre acho interessante no jornal, e especificamente no Jornal da Manhã, onde trabalho como repórter (de cultura, agronegócios, comportamento, saúde, além de editar colunas sociais e textos sobre automóveis) é uma seção chamada "Observatório".

Assim como os blogs foram se simplificando até se transformarem no que é hoje o Twitter, o Observatório é a inevitável evolução [?] de algo que tínhamos entre 2007 e 2008 chamado "Ensaio".

O Ensaio era um espaço dedicado exclusivamente aos fotógrafos do JM, onde um tema era escolhido e as imagens buscavam ilustrar esse assunto. Várias imagens interessantes chegaram a ser publicadas, sempre aos domingos.

Depois que o Ensaio deixou de fazer parte dessas edições, chegou um momento em que surgiu o "Observatório". Ao invés de várias imagens publicadas em uma página de domingo, o Observatório publica uma única imagem a cada edição diária.

A beleza disso reside no fato de essa imagem ser extremamente atual e reveladora, ao sintetizar muitas vezes um contexto histórico, cultural, social ou econômico. Muitas vezes, seu real significado passa até mesmo despercebido.

Dia desses, o fotógrafo Rodrigo Czekalski fez o registro de um morador de rua, dormindo na escadaria da igreja. Ao seu lado, apenas um cachorro. Moradores de rua sempre têm ao menos um cachorro.

O clique era a perfeita junção de uma série de elementos, que poderiam ser elencados da seguinte forma: religiosidade, miséria, abandono, cansaço ou fidelidade (no caso do cão). Mas foi mais que isso.

Um ou dois dias depois, Rodrigo recebeu um telefonema no jornal. Uma mulher queria saber mais detalhes acerca da foto. O morador de rua era seu parente, pelo qual há tempos ela procurava.

Rodrigo não pode ajudar muito no sentido de encontrar o cidadão. Apenas disse a ela que, como morador de rua, ele deveria estar na rua. E que seria preciso circular pela cidade para encontrá-lo.

Foi quando ele desligou o telefone que percebeu o alcance daquela imagem. O que era para ser apenas um exemplo, uma curiosidade, acabou se tornando uma pista. E, quem sabe, uma forma de auxiliar a família a encontrar um ente querido.

Essa percepção demorou um pouco demais. Quando nosso editor-chefe [Mário Martins] perguntou ao Rodrigo o nome e telefone da mulher, ele não sabia. Por conta disso, não pudemos realizar o reencontro dos familiares, tal qual um programa do Gugu, talvez menos sensacionalista. Mas, tudo bem... Basta saber que a imagem, em toda a sua síntese e aparente inocência, teve um poder maior do que aquele que supunha até mesmo seu autor.

Uma imagem, às vezes, parece ter um grande significado e não passa de um registro factual. E, em outras ocasiões, quando parece ser apenas um registro, pode estar carregada de intensa importância.

Hoje, uma dentadura foi encontrada ao lado da sede do Jornal da Manhã, bem no centro da megalópole princesina, Ponta Grossa. Rodrigo não perdeu tempo. Apanhou a câmera para fazer o registro. Uma dentadura em plena avenida.

Houve quem tirasse uma onda com o fato. Que importância poderia ter uma dentadura jogada ao chão? Talvez nenhuma. Por outro lado, por que a dentadura não está com o dono? Disseram que ele atirou o objeto, extensão do próprio corpo, de um carro em movimento.

Em Ponta Grossa, cidade onde o possível esquece de acontecer, isso pode ser nada. Ou pode ser alguma coisa.

Vai saber...

4 de jul. de 2010

Os dilemas que envolvem pastéis

Não é fácil encontrar tempo para algo que não seja o trabalho, no meio da semana. Outro dia um amigo perguntou a que horas eu saía do trabalho. “Entre 18h30 e 22h30”, eu respondi. “Um horário bem... flexível”, ele respondeu.

Mas a semana que passou foi atípica, graças a Deus. E em plena quinta-feira eu tive a oportunidade de sair perto de oito horas o que, acredite, é uma conquista. Aproveitei para ir com a Pri fazer um lanche em algum desses lugares nos quais a gente normalmente não vai.

A “Água Doce Cachaçaria” é um ambiente interessante. Não estava lotado como o Botequim da Rua XV, nem estava totalmente vazio como a Confraria do Chopp. O som ambiente era eclético, mas tocava Skank, num volume não muito alto, quando chegamos. Eu já tinha estado naquele lugar uma ou duas vezes antes. E nunca fui para beber cachaça, embora seja essa a sugestão da decoração, repleta de garrafas nas prateleiras que circundam o espaço.

Um cardápio trazia diversos coquetéis, sucos, aperitivos e bebidas. Depois de uma breve verificação, optamos por uns pasteizinhos de carne de sol, apesar de nossa dúvida quanto ao significado disso. A Pri quis um suco e eu resolvi pedir um daqueles coquetéis. Escolhi um que me chamou a atenção pelo título: “Suor de virgem”.

O garçom se aproximou.
- A gente vai querer esses pasteizinhos de carne de sol. – disse a Pri. E, enquanto o garçom anotava o pedido, fez a pergunta – Mas... do que é feito o recheio?

Incrédulo, o garçom respondeu:
- De carne.

- Sim, mas carne de quê? – insistiu a Pri

- De sol. – ele respondeu.

Raciocinando assim como eu, a Pri ficou indignada ao pensar que não é possível arrancar um pedaço do sol para rechear pastéis, e insistiu, de novo.

- Sim, mas é carne de quê? De gado?

Só que a essa altura ela já estava ficando brava com o garçom, e a letra “d” soou com uma letra “t”, de modo que o que o garçom entendeu que ela sugeria que eles vendiam carne de gato no estabelecimento.

- Não. – disse o garçom – É de boi.

Para beber, ela pediu um suco de morango e laranja, mas o garçom não se satisfez com a precisão na resposta, e exigiu o número correspondente ao pedido no cardápio. Depois de pequena verificação, a Pri disse o número. E foi minha vez de fazer o pedido, dessa vez eu já estava treinado:

- Vou querer o 936.

- Pode ler para mim?

[fiadamãe, pensei...]

***

O pastelzinho estava bom. Mas ainda acho que ficam melhores os feitos em casa. Num outro dia, determinados a fritar alguns pastéis, fomos até o açougue comprar a carne moída. Tínhamos comprado massa para vinte pastéis, mas não tínhamos ideia de quanto de carne seria preciso para fazer o recheio. O açougueiro veio:

- Pois não?

Decidi jogar para o açougueiro o questionamento:

- Quanto de carne moída você acha que é preciso para rechear vinte pastéis?
Ele pensou um pouco, e respondeu:

- Um quilo.

- Então me dá metade.

Esses açougueiros espertinhos vivem tentando ludibriar a gente... Meio quilo foi mais que suficiente.

29 de mai. de 2010

Uma comédia antiga e um Steve Oede... quê?

Steve Oedekerk é o nome. Você talvez nunca tenha ouvido falar. Ou, simplesmente, nunca pôde memorizar, a menos que seja um cinéfilo dedicado. Mas Oedekerk é um desses caras multifuncionais no cinema. Seu trabalho chegou a ser indicado ao Oscar em 2001, como roteirista da animação “Jimmy Neutron: o menino gênio”. Antes disso, se especializou em comédias, escrevendo para vários filmes, entre eles “Todo-Poderoso”, “A volta do Todo-Poderoso”, “O professor aloprado”, “O professor aloprado 2” e Ace Ventura 2: um maluco na África”.

Mas, bem antes, em 1991, Steve Oedekerk bancou o ator, ao protagonizar o filme “High Strung”, escrito por ele mesmo, e que aqui no Brasil foi traduzido como “Minha vida é um inferno”, sendo obra quase desconhecida. No roteiro, o personagem de Oedekerk, Thane Furrows, é um sujeito que reclama de tudo na vida, sempre repetindo que “queria estar morto”. Exagerado, paranoico, estressado, ele vai detalhando tudo o que para ele é ridículo nesse mundo.

O interessante é o formato da narrativa. Furrows dialoga com o espectador, como se tentasse convencê-lo com seus argumentos. Lembra um pouco as atuais comédias stand up, divididas em esquetes. Alguns desses argumentos fazem sentido, outros são exagerados e ridículos.

A comédia pode ser cansativa para quem espera mais um filme hollywoodiano. Mas vale a pena ver a produção de forma despretensiosa até o fim. Uma grande curiosidade sobre esse filme, é que Jim Carrey (que só ficaria realmente conhecido em 1994, com “Ace Ventura, um detetive diferente”) faz uma pontinha, já mostrando sua habilidade em fazer caretas.

Na história, Furrows, entre uma reclamação e outra, começa a receber estranhos telefonemas e bilhetes, que avisam que algo vai acontecer às oito horas da noite. Quando fecha os olhos, Furrows começa a ter estranhas visões, e passa a acreditar que está ficando louco. Na verdade, Furrows reclama tanto da vida, que a Morte (Jim Carrey) vem buscá-lo em sua própria casa.

À medida que Furrows vai se indignando com a vida, reclamando desde a quantidade de leite no cereal até o hábito que as pessoas têm de gostar de animais, ele parece se aproximar de um ponto em que vai “explodir”. E um desses momentos chega quando ele surta e ofende a esposa do chefe, para em seguida dizer a si mesmo. “O que eu fiz? Meu emprego! Como eu vou comer?”

“Minha vida é um inferno” é um filme que não existe em DVD, talvez em VHS. Como curiosidade adicional, apesar de Jim Carrey dizer as últimas palavras do filme, seu nome sequer chega a ser citado nos créditos. E sua participação é, como sempre, hilária.
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*Agradecimentos ao amigo Robison Queiroz, que encontrou o filme na internet, e selecionou algumas imagens para ilustrar este texto.

18 de mai. de 2010

O estacionamento de Rochhhhhh

Desde que o Jornal da Manhã mudou de endereço, vindo para a região mais central da cidade de Ponta Grossa, a nova sede deixou de ter estacionamento próprio. Como resultado, clientes passaram a se preocupar com os talões de Estar, e funcionários tiveram que optar entre vir de ônibus ou buscar um estacionamento particular para deixar seus carros.

Eu, como deixei de usar o VCGcard há alguns meses, procurei por um estacionamento mais barato, e encontrei um a poucos metros do Jornal. Na Avenida Balduíno Taques, ao lado do Banco Bradesco. Quem caminha todos os dias pelas ruas mais centrais de Ponta Grossa não imagina que existem quintais como aquele. Porque é isso que o estacionamento é, nada mais do que um quintal.

O proprietário, um sujeito que não tira a touca para nada nesse mundo, e que por alguma razão me lembra o falecido deputado Luiz Carlos Alborghetti, se autointitula "Rochhhhhhh". Não sei o que isso quer dizer. Pode ser um apelido ou um sobrenome.

Deixei o carro ali por quase um mês, sob os protestos de minha namorada, porque o homem tem em meia-dúzia de cachorros que vivem do modo mais bizarro possível, dentro da casa do sujeito. Ontem mesmo vi, através da janela da cozinha, um dos cães em cima de uma mesa.

Além disso, o espaço é cheio de entulho. Parece mais um ferro-velho. Rochhhhh trabalha com eletrônicos. Tem uma pequena loja ao lado da entrada do estacionamento. Aos fundos, os restos de equipamentos ficam espalhados, junto de restos de outras coisas. Há velhos cartazes, uma antiga placa da Praça Barão de Guaraúna, um tanque de lavar roupas abandonado, um toco de árvore e outros galhos jogados a um canto.

O lugar não é nenhum pouco bonito. Mas é mais barato do que qualquer outro estacionamento em volta.

A aparência não me incomodava, mas hoje aconteceu algo que me deixou indignado.

Como estava chovendo, e lá dentro se forma um pequeno lamaçal porque há apenas algumas pedrinhas espalhadas pelo quintal do Rochhhhh, deixei o carro mais perto da entrada, e não ao fundo onde costumava deixar por orientação do proprietário.

Quando voltei, na hora do almoço, Rochhhhh reclamou porque eu tinha deixado o carro no lugar destinado aos horistas. E, sendo eu mensalista, não tinha direito de deixar o carro naquele local. Pra tornar tudo mais ridículo, meu colega Eduardo tinha estacionado o automóvel dele ao lado do meu. "Tá vendo? Foi só você estacionar ali, e o outro também estacionou no mesmo lugar. Assim eu tô perdendo dinheiro!", disse Rochhhhh, me acusando de iniciar uma espécie de rebelião.

Se não posso nem escolher onde estacionar o carro, adianta pagar mais barato? Estou pensando seriamente em concluir o mês que já paguei, e partir para outro estacionamento. Pago mais caro, mas não vejo mais fiasco como esse.

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Uma colunista do JM me escreveu e-mail hoje reclamando que não coloquei os créditos com o nome dela nas fotos publicadas em sua última coluna e também na edição de domingo, numa foto de criança na seção Clubinho. Ameaçou denunciar o Jornal para o Sindicato e tudo mais. O dia em que ela souber escrever uma legenda, vai poder me ensinar o que é um crédito.

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A Revista Urbe desta semana vai ter ainda mais páginas do que nas anteriores. Como já estava trabalhando no meu limite nas semanas passadas, acho que vou precisar de muita sorte até a sexta-feira.

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Dei entrevista hoje para um programa da TVM, que vai ao ar na próxima segunda-feira, dia 24, às 16 horas. O tema: as tirinhas do Catraca. Estou curioso para ver como me saí.

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O twitter é uma coisa muito engraçada. O Sádico, também conhecido como J. Robson, ou vice-versa, chargista do JM, soltou uma hoje que vale a pena reproduzir:

"...confesso que essa chuva é minha culpa, lavei a louça hoje. Um dos pratos apresentava uma nova espécie de vida, tive que incinerar esse."

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O Shopping Palladium tem uma loja que tenta ser um genérico da Cacau Show, só que com umas mesinhas na frente. Parece que o nome é "Brasil Cacau". Atendimento péssimo e uma caneca de nescau com uma maria-mole dentro ao inacreditável custo de R$ 5,50. Sugiro que passarem reto.

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Algo que me disseram esses dias: "Você pode ter as duas coisas. Não ao mesmo tempo, mas quem sabe... na mesma vida"

Uhn... tem uma outra boa: "Nescafé... por que não agora?"

7 de abr. de 2010

O ‘Casal Falcatrua' na Ponte da Amizade

Ir até Foz do Iguaçu significa conhecer, no mínimo, os dois principais pontos turísticos da cidade: as Cataratas e o Paraguai. O fato de Ciudad del Este ficar em outro país não passa de um pequeno detalhe. Porque a cidade de Foz, que o turista irá conhecer, tem mais em comum com as lojas de mercadorias estrangeiras do que com a beleza natural e bem cuidada presente no Parque Nacional de Foz do Iguaçu.

Chegamos à cidade, eu e minha namorada, por volta das 8 horas da manhã do dia 18, após cerca de nove longas horas de viagem num ônibus da Viação Princesa dos Campos. Tendo o endereço do hotel nas mãos, eu sabia que ficava na esquina da Avenida Juscelino Kubitchek [uma das que levam à Ponte da Amizade] com a Rua José Maria de Brito. Mas para encontrar uma delas já levou mais tempo do que imaginávamos.

Um rapaz me cumprimentou com um “good morning” no balcão de informações de uma rodoviária escura e pouco atraente, na qual há apenas uma lanchonete também pouco convidativa. O bom dia em outro idioma me fez pensar que a informação sobre a direção para o hotel viria logo. Engano meu. O sujeito apanhou um pequeno mapa, no qual ele mal conseguiu identificar o local da rodoviária onde estávamos. Enfim, identificada a rua, com um pedido de desculpas do informante por sua confusão, seguimos até a Rua José Maria de Brito. Seguindo reto, eu sabia, chegaríamos ao hotel. Só não tínhamos noção da distância.

Caminhamos a pé, em nome da economia e da aventura de descobrir novos roteiros [e também porque gostamos de sofrer carregando grandes malas pesadas em lugares onde não há calçadas para fazer uso das rodinhas da bagagem], sujando nossos sapatos no terreno pouco cuidado do trajeto entre a rodoviária e o hotel. Em linha reta, devemos ter caminhado uns bons 30 minutos.

Enquanto andávamos, tive a percepção de que Foz do Iguaçu não é tão turística quanto dizem. A rodoviária pequena e visualmente feia, o centro de informações com poucas informações, e a ausência de calçadas, ou calçadas quebradas no trajeto até o hotel, mostrou que a cidade não investe tanto assim no turismo de pequeno porte. Talvez a maior parte desses investimentos esteja restrita a grandes eventos, que trazem grupos de diversos pontos do país e do mundo, mas que não passam pela rodoviária, nem chegam a pé com suas malas. São pessoas que chegam em caravanas até os hotéis e aos chamados centros de convenções.

O que eu e a Pri encontramos, em lugar disso, foram muitos terrenos baldios e o mato crescendo alto. Finalmente chegamos à esquina com a Avenida JK, onde estava o “Hotel Sun”. Para cruzar a avenida tivemos alguma dificuldade. O movimento de carros em Foz, ao menos na área central, é extremamente confuso. A cada esquina, os automóveis vêm de todos os lugares. As faixas para pedestres são quase invisíveis, o que deixa evidente a falta de comprometimento da administração pública local com a segurança no trânsito. Mais tarde notaríamos que isso é reflexo do trânsito em Ciudad del Este.

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Um corpo no hall de entrada

Quase demos meia-volta logo na porta do hotel, de onde saíram dois policiais militares, dando a desagradável sensação de que encontraríamos a marca de um corpo feita a giz no saguão de entrada. Mas a diária estava paga, e entramos. O lugar não era ruim. Nosso quarto ainda não tinha recebido a visita das arrumadeiras e, por isso, o funcionário disse que teríamos que esperar uns trinta minutos.

“Vocês não querem tomar um café enquanto esperam?”, perguntou. Eu pensava em dizer que sim, quando a Pri disse em um suspiro “com certeza!”, já se encaminhando para o restaurante. Um bom café da manhã e um banho nos deu forças para a primeira tarefa do dia: cruzar a Ponte da Amizade em busca de uma câmera fotográfica que pudesse registrar o objetivo número 2: a visita às Cataratas do Iguaçu.

Mas não conseguimos manter sigilo junto aos parentes a respeito de nossa ida ao Paraguai, de modo que eu carregava na carteira uma lista de artigos de pescaria que meu pai queria que comprássemos. O pai da Pri, por sua vez, soube de uma antena que permite acessar, gratuitamente, mais de duzentos canais de TV paga. A Pri ficou incumbida de adquirir a tal antena.

Como ainda não estávamos suficientemente cansados, decidimos cruzar a Ponte da Amizade a pé. Fazia um calor infernal, mas com a devida quantidade de protetor solar tudo correria bem. A Ponte da Amizade parecia tão perto, mas ia ficando mais distante conforme caminhávamos pelas calçadas pouco cuidadas e pelo mato em torno dos passeios. Por um instante achamos que tínhamos perdido o caminho, mas bastou seguir o engarrafamento e um ônibus com os dizeres "Ciudad del Este" para que tivéssemos a garantia de que o caminho era aquele mesmo.

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O caos na travessia da Ponte

Nossa velocidade era quase maior que a dos veículos a poucos metros da Ponte. O serviço de fiscalização da aduana brasileira não era lá muito eficiente, mas causava congestionamento. A lentidão do trânsito entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este só não é maior do que sua falta de lógica. Mototaxistas passam rapidamente entre os demais veículos. Sacoleiros percorrem o mesmo trajeto carregados de muamba. E cones e placas só servem para tornar tudo ainda mais confuso. Na aduana pediram o meu RG e o da Pri. Mais nada, e assim cruzamos a Ponte. O vento soprava mais forte ali, de onde víamos os grandes buracos abertos nas grades de proteção, através dos quais muitos sacoleiros ainda jogam fardos de cigarros contrabandeados do Paraguai.
A partir da segunda metade da travessia, deixamos de prestar atenção ao rio e começamos a notar os prédios comerciais do outro lado. Grandes outdoors exibem os nomes de algumas das principais lojas de eletrônicos no Paraguai. E uma placa de "bienvenidos" é o único sinal de boas-vindas. Mal tínhamos deixado a Ponte, um sujeito com um colete azul e a inscrição "guia comercial" nos entregou um panfleto com a indicação de uma loja na qual, ele dizia, poderíamos fazer nossas compras. Quando percebi, já tínhamos aceitado a ajuda do "guia", que terminou com minhas esperanças de fazer comparação de preços.

Se por um lado isso foi ruim, por outro, não tínhamos muito tempo para ficar pesquisando em várias lojas. Seguimos o sujeito que falava conosco em "espanhês", através das ruas sujas de Ciudad del Este, e em meio aos corredores abafados formados por barracas e mais barracas de produtos estrangeiros.

Por toda a parte, vendedores nos abordavam e tentavam nos fazer adquirir produtos nos quais não tínhamos o mínimo interesse. Continuamos seguindo o guia, que tentava extrair informações de nós. Eu procurava evitar passar qualquer detalhe, mas ele começou a insistir, e acabou descobrindo que éramos de Ponta Grossa, e que eu já tinha estado no Paraguai uma vez. Depois disso comecei a tentar extrair informações dele, apesar do pouco interesse. Soube apenas que parte da bagunça na principal rua da cidade se deve à construção da aduana paraguaia, que deve seguir os mesmos moldes da brasileira, mas que está há tempos em obras, sem que exista qualquer indicativo de data para sua conclusão.

Depois de caminhar alguns quarteirões, entre ambulantes desesperados para vender e automóveis cujo trajeto é sempre uma incógnita, enfim chegamos à tal loja que, segundo o guia, pertencia a um brasileiro. "Vocês pueden comprar un notebook, e se passar da cota a gente manda para o otro lado da Ponte después...", comentou o guia.

A cota era de US$ 300 por pessoa, e eu tinha tomado o cuidado de colocar nos bolsos o suficiente para não passar desse valor. Comprar um netbook estava nos meus pensamentos, mas a fama de esperteza dos comerciantes paraguaios é conhecida, e eu não tinha a intenção de pagar primeiro para receber a mercadoria depois, sob o risco de receber uma caixa cheia de pedras do outro lado.

Na loja, um dos vendedores se adiantou e eu primeiro perguntei a respeito de uma mesa digitalizadora, equipamento que dizem ser interessante para o trabalho de cartunista, e que ainda não tenho. Fui informado de que tal produto não poderia ser encontrado em nenhuma loja do Paraguai, por ser algo muito específico. Parti para algo mais simples: um pendrive. Mas descobri que o aparelhinho estava mais caro que eu pensava. Um pendrive mais barato pareceu interessante, mas o vendedor veio com uma informação curiosa: "Só que não funciona... só serve como chaveiro", disse.

Terminei comprando um de apenas quatro gigabytes, um pouco mais caro mas que, segundo o vendedor, funcionava de verdade. Em seguida parti para o que realmente me interessava: a câmera fotográfica. Depois de nos conquistar com uma câmera vermelhinha, o comerciante nos mostrou outra, mais moderna, de 12 megapixels. Pagaríamos apenas um pouco mais para levar aquela maravilha da tecnologia. "Esa cámara vai ser boa para su trabajo de deseño", disse o vendedor, que já tinha entendido meu interesse pela mesa digitalizadora. “Como assim?”, perguntei. "Vai poder fotografar o Pernalonga", finalizou em uma explicação pouco convincente.

De qualquer forma, aceitamos a câmera e não largamos mais dela. De minha parte estava tudo certo. A Pri falou então da antena, e dois ou três vendedores se mobilizaram para trazer uma sacola de peças metálicas, uma caixa de papelão com mais um equipamento eletrônico, outra peça do tamanho de uma pequena lâmpada e, o item final: a parabólica, que a Pri apelidou de "bacia".

Já estávamos nos preocupando em como fazer para transportar tudo aquilo na viagem, quando saímos da loja. Mas era cedo para pensar nisso. Eu ainda precisava achar os itens da lista de meu pai: duas varas 100% carbono, com pontas sobressalentes, e linhas específicas para pescaria.

***

Um insistente vendedor de meias

O guia nos ajudou a carregar as sacolas, e nos levou até um comerciante de materiais de pesca. As varas custaram o dobro do preço que eu imaginava, não havia pontas sobressalentes e as linhas não eram exatamente as solicitadas. Mas, é como sempre digo, a gente faz o que pode.

Foi então que ele surgiu, não sei de onde... O fato é que, quando percebi, estava ao meu lado um menino de cerca de sete anos com um punhado de meias brancas nas mãos. Eu tentava ainda fazer um bom negócio na loja de pescaria, e o guri insistia em me vender as tais meias. "Não, obrigado", eu disse. E o menino, ao invés de dar meia-volta [sem trocadilhos com a expressão] em busca de outro cliente, resolveu insistir. Insistir, mesmo...

Três por um real, cinco por um real, sete pares por um real. Já estávamos saindo da "zona de comércio" e o guri me seguia oferecendo mais e mais meias. Notei que meu "não" já era insuficiente. Injuriado, encarei o garoto: "Piá, eu não vou comprar meias! Eu tenho cara de quem vai comprar meias? Minha avó me dá meias, eu não preciso comprar!", disse. Mas aí veio nova oferta. Eu já estava quase perguntando se a Pri tinha alguma sugestão para me livrar do garoto, mas aí notei que ela tentava se livrar de uma vendedora de bolsas.

Em minha última tentativa de dispensar o menino, olhei para ele de cima a baixo e disse: "Você está usando havaianas! Nem você usa seu produto! Vista um par de meias e vá embora". Depois disso, caminhei mais um pouco e vi que o piá, finalmente, tinha sumido. Na mesma hora apareceu outro, idêntico, vendendo pendrives, e dessa vez agi sabiamente: o ignorei por completo.

Agora era necessário voltar com toda a aquela mercadoria para o hotel em Foz. Já que eu estava dentro da cota máxima de compras, me determinei a declarar a compra na aduana brasileira. “Você vai declarar?", perguntou o guia, espantado. "Sim", confirmei. Mas, cansados de caminhar debaixo do sol escaldante que se fazia presente por volta das 14h30, decidimos voltar de ônibus. O guia sugeriu que pegássemos uma van. "O motorista leva onde vocês quiserem ir", argumentou.

Na hora me pareceu interessante. Então ele nos levou até o motorista de uma van que, como diversas outras, estava suja, enferrujada e bastante surrada. "Eles querem cruzar a Ponte", explicou o guia. "Para onde?", perguntou o motorista. "Para a aduana... eles querem declarar", disse o guia.

O motorista, espantado, virou para mim: "Por que declarar? Podemos levar até onde quiser. Até o hotel...", disse. Acabei aceitando. "Fazemos así... llevamos ustedes até hotel. Si formos parados, puede declarar las mercadorías", argumentou o motorista.

***

Atravessando a Ponte clandestinamente

Dei uma gorjeta ao guia e entramos na van. A bacia foi atrás do banco. Um guri de uns dez anos surgiu, sabe Deus de onde, sentou ao lado da Pri, e ficou junto da janela tapando a visão de quem estava do lado de fora. Uma das artimanhas para ludibriar os fiscais, provavelmente. Foi quando notei que os vidros eram fumê. Enquanto a van se deslocava, mais um sujeito entrou com uma peça longa guardada em um pacote de papelão, e sentou ao lado do motorista. "Está tudo bem, ele está comigo", disse o motorista, sem que perguntássemos nada.

Eu já começava a me questionar se não estávamos sendo sequestrados com mercadoria e tudo, mas era tarde, e a saída era esperar e confiar no sistema. Em meio a uma e outra van que era parada pela fiscalização, e um silêncio tenso que se estabeleceu dentro de nosso carro, passamos pela Ponte da Amizade sem declarar mercadoria nenhuma. Poucos segundos depois, o motorista olhou para mim: "Para qual hotel estamos indo mesmo?" "Hotel Sun", respondi. O motorista paraguaio não entendeu, e o sujeito com a embalagem de papelão soletrou para ele. Não era um sequestro, enfim.

Minutos depois estávamos no saguão do hotel, com quatro sacolas pretas e a parabólica, sob o olhar sério dos funcionários atrás do balcão. "Nós não estamos vindo do Paraguai", brinquei, sem conseguir arrancar sorriso algum dos atendentes, que já devem estar cansados de ver seus hóspedes carregando sacolas pretas.

***

Uma decepção tecnológica

No quarto do hotel, colocamos as sacolas de muamba num canto. Eu apanhei a câmera fotográfica e comecei a fuçar as suas possibilidades. Bati duas fotos e apareceu a mensagem “Memória cheia”. Como assim? Estranhei, mas felizmente eu tinha comprado também um cartão de memória de dois gigabytes. Tirei do pacote e fui inserir o cartão na câmera. Não encaixava. Tal qual uma bonequinha russa, o cartão se separava em três partes, uma menor que a outra, mas nenhuma se adequava ao compartimento da câmera. A Pri quis tentar também, mas parecia impossível. Teriam os paraguaios vendido para nós o cartão de memória errado?

Tirei o cartão e liguei outra vez a câmera. Como num passe ruim de mágica, todos os menus tinham se apagado. Não aparecia mais nada escrito na tela da câmera. As fotos eram feitas, mas não era possível acessá-las. Nada mais funcionava direito. Depois de analisarmos friamente, concluímos que a câmera tinha dado problema depois que forçamos a inserção do cartão de memória.

Aquilo me deixou indignado. Não sabia se culpava os vendedores do Paraguai por venderem o cartão incorreto, ou se culpava a mim mesmo por minha estupidez.

Devo ter ficado por alguns minutos reclamando de meu azar. A câmera não tinha sido tão barata assim. Aí veio a declaração de amor de minha namorada: “Com você eu volto ao inferno”. Levei alguns segundos para compreender que ela se referia ao Paraguai.

Estava decidido... no dia seguinte, voltaríamos ao Paraguai, para tentar o que, aparentemente, nenhum homem brasileiro jamais havia conseguido naquele país: trocar uma mercadoria com defeito.

***

Ao encontro dos quatis

O retorno ao Paraguai era preocupação para mais tarde. Naquele momento, em específico, começamos a nos preocupar com o curto período de tempo que tínhamos para ver as Cataratas. De acordo com o atendente no hotel, o Parque fechava às 17 horas. Para chegar até lá, teríamos que pegar um ônibus até o terminal, para irmos de lá até o Parque, que ficava relativamente distante do centro da cidade. Entre almoçar e ir ver as Cataratas, optamos por comer um pacote de batata Ruffles no terminal e ir até as Cataratas.

Reforcei a camada de protetor solar, e enfrentamos o calor escaldante para chegar ao Parque Nacional do Iguaçu. Chegando lá, os ônibus que levavam ao passeio por dentro do Parque já estavam parados, e pudemos nos sentar no primeiro banco do segundo andar do veículo. Dali vimos alguns cará-carás, mas não havia muito mais para ver no trajeto, até que chegamos ao ponto de parada das Cataratas.

Trilhas e escadarias bem cuidadas e sinalizadas, repletas de lagartos, levam a diversos mirantes, um dos quais tem ao lado uma barraquinha onde todos os funcionários chupavam picolés, nos obrigando a ter a mesma ideia. Devorando meu picolé de limão, seguimos através das escadarias, à medida que o som da água aumentava. Começamos a sentir pequenas gotas de água caindo. Eram as partículas suspensas a partir das quedas. Surgiu o primeiro mirante, e já ficamos surpresos com a quantidade de água.

Caminhando em frente, chegamos a um outro mirante ao lado das Cataratas, e outro que leva até a metade do rio, deixando os turistas andar sobre as águas revoltas. Naquela tarde quente, saímos de lá totalmente molhados.

Saquei minha câmera reserva do bolso [uma que eu já tinha trazido de Ponta Grossa] e fiz algumas fotos. Compramos duas camisetas do Parque e um quati de pelúcia. Depois voltamos para o ônibus. A Pri estava chateada por não ter visto quatis de verdade. Foi quando surgiu um bando deles. Fiz algumas fotos, enquanto ela se atrevia a pegar no rabo do bicho, que olhava para ela com cara de reprovação como quem pergunta “te conheço?”

Depois partimos do Parque e voltamos ao hotel, em um ônibus que se deslocava em alta velocidade, porque um motorista muito louco tentava atravessar rapidamente o engarrafamento que se estabelece em Foz na hora do rush.

***

Missão Impossível sem Tom Cruise

Na manhã do dia seguinte, logo saímos em direção ao Paraguai. Dessa vez não perdemos tempo e fomos imediatamente ao ponto de ônibus, rumo à travessia da Ponte da Amizade. A Pri levou apenas a câmera com defeito dentro de sua respectiva bolsinha e eu levei a sacola com os acessórios do aparelho.

Trocar a câmera era algo que me parecia impossível. Estava vendo que o vendedor iria negar que me conhecia, diria que não troca mercadorias, e ameaçaria chamar a polícia. Meu receio só foi transmitido para a Pri no momento em que revelei a ela a terrível verdade: “Esqueci de trazer a nota fiscal!” “O quê? Mas eu vi você separando o documento!”, ela disse. “Eu deixei em cima da mesa do quarto do hotel”, falei.

Então era isso. Na mais nova versão do filme “Missão Impossível”, nosso objetivo era cruzar a Ponte da Amizade, trocar a câmera estragada por uma nova e funcionando, e fazer tudo isso sem nenhuma prova de que estivéramos antes na loja.

Os vendedores vieram em nossa direção com suas bolsas, meias e pendrives. Todos nos convidavam a comprar, mas eu dei a dica à Pri: “Não olhe nos olhos deles. Olhe para um horizonte imaginário, que eles desistem”. E, de fato, essa é a dica.

Em meio a todo aquele comércio, eu jamais encontraria o lugar. Mas, incrível, minha namorada memorizou a localização. Fomos direto ao balcão e explicamos a situação para um dos vendedores que tinha nos atendido no dia anterior.

“Você trouxe a nota?”, perguntou.
“Claro que sim”, respondi, enquanto fuçava na sacola como se pudesse realmente encontrar a nota ali. Eu fazia isso com tanto esforço e fé, que realmente poderia encontrá-la, ou tirar de lá uma pomba.
Enquanto desempenhava meu papel teatral, minha namorada iniciou sua representação também. Dizendo frases como “Eu não sei o que aconteceu... estava funcionando bem ontem...”

Nesse meio tempo, o vendedor ligou e religou a câmera. Deve ter lembrado do comentário sobre o Pernalonga e disse: “Ah... vocês vieram aqui ontem, né?” Deu mais uma olhada nas baterias e lançou o diagnóstico. “Parece mesmo problema na memória. Vou ter que trocar por outra”.

Pensei: “ouvi direito? Ele admitiu o defeito? Ele vai trocar?”
Pois e trocou.

O rapaz esqueceu de vez da nota fiscal. Apanhou uma câmera novinha, idêntica, e funcionando e nos entregou. Não sem antes colocar a memória de 2 Gb, com o adaptador laranja, que tinha esquecido de nos entregar antes. Em seguida, demos no pé com o aparelho, antes que ele mudasse de ideia.

Faceiros e entusiasmados, naquele momento nos autodenominamos “o Casal Falcatrua”, e entramos em outro ônibus para voltar ao hotel. Nesse caminho, tiramos algumas fotos dentro do busão. Flagramos o momento de desespero de alguns muambeiros no momento em que os fiscais entravam para verificar as mercadorias. E atravessamos novamente a Ponte. No muro ao lado direito, quando termina a travessia, uma ilustração resume bem tudo aquilo: “Uma ponte só é pouco”.

***

Um telefonema muda tudo

Chegamos ao hotel, arrumamos nossas malas, pagamos a estada, e já íamos nos deslocar para o terminal e pegar um ônibus até a rodoviária, quando a Pri lembrou do detalhe: “Eu não vi meu celular. Arrumei as malas e não vi meu celular”.

Em frente ao hotel que acabáramos de deixar, segurando mala e sacolas pretas, peguei meu telefone e liguei para o número da Pri. Do outro lado atendeu uma moça, que disse ter encontrado o celular no dia anterior, no ônibus. Mas que poderia devolver o telefone se fôssemos até o endereço onde ela residia. E onde era? “Perto da Ponte da Amizade”, disse, antes que a ligação caísse porque eu não tinha mais créditos.

Por um instante cogitei deixar o celular lá mesmo. Mas a Pri disse que tinha muitas fotos na memória do aparelho, e fez cara de choro. Então comprei créditos para meu celular, liguei de novo para a moça. Peguei o endereço certinho e lá fomos de novo, em direção à Ponte da Amizade.

Dessa vez pegamos um táxi. Colocamos a muamba no porta-malas do carro. Quando o taxista viu a bacia, lançou o comentário: “Opa! É bem dessa antena que eu quero comprar uma!” “Sério? Quanto você paga?”, perguntei, diante da reprovação de minha namorada: “Tá tentando vender a antena de meu pai?” Mas o taxista não quis levar. Disse que estava muito barata, e que era preciso tomar cuidado, porque “muita gente rouba antena e depois sai por aí vendendo...” Acho que eu estava com a barba por fazer, para ser confundido com um dos Irmãos Metralha.

Chegamos ao endereço, e a moça, uma universitária, nos entregou o celular que tínhamos perdido. Aparentemente, em algum momento, o aparelho que estava em meu bolso tinha escorregado, ficando no banco do ônibus que leva ao Paraguai. Foi sorte ele ser encontrado por uma pessoa honesta, e do lado de Foz. Porque seria bem mais complicado se a pessoa que encontrasse o celular fosse moradora do Paraguai. Aí teríamos que cruzar a Ponte... de novo.

Saldo de nossa viagem:

Chegando em casa, descobri que o pendrive não funcionou. Virou chaveiro.
As varas de carbono eram falsificadas. Mas meu pai bancou o esperto e as revendeu.
A antena do sogro tá funcionando bem até agora.
E a câmera nova... bem... também pifou nesta semana. A tela ficou preta, o que significa o mesmo que fechar os olhos e tirar a foto. Voltei a usar minha câmera antiga. Fica a dica... evite comprar no Paraguai, que é fria.

Apesar disso, eu e a Pri nos divertimos muito sempre que contamos a alguém a forma como trocamos a câmera em Ciudad del Este. Nosso interlocutor sempre ergue as sobrancelhas, arregala os olhos e, incrédulo, pergunta: “Trocaram mesmo??”

6 de mar. de 2010

Um bom lugar para almoçar em Ponta Grossa


Ultimamente tenho tido pouco tempo.
Pra tudo.

Mas, de vez em quando, surge um instante de ócio, e recordo com saudades de alguns tempos não muito distantes. Há uns cinco anos, por exemplo, eu estava escrevendo para o jornal cultural Grimpa, aqui da cidade de Ponta Grossa. Uma iniciativa de alguns de meus amigos mais malucos [num bom sentido] e entusiasmados. Um trabalho que praticamente não gerava lucros financeiros, mas pagava com algo que poucos trabalhos podem oferecer: satisfação pessoal.

No Grimpa, ninguém realmente buscava encher o bolso de dinheiro. Mas a gente tinha total liberdade para escrever. Fazia descobertas ao experimentar diferentes formas de jornalismo e de estilo. Nossa criatividade não era esmagada como se vê em muitas redações de jornais. Até porque [e talvez aí estivesse o segredo], o Grimpa não tinha uma sala de redação.

Sem uma sede própria, as reuniões eram realizadas em lugares distintos, praticamente uma vez a cada edição. Nessas reuniões ia quem podia. A maioria tinha mais de uma atividade, porque o Grimpa, se não era um hobby, era uma forma de manter a lucidez e a humanidade que deve ser mantida em cada jornalista, escritor, cartunista, chargista ou colaborador.

Acho que foi em um desses encontros que conheci o “Seu Anakreto”. O nome curioso era de um estabelecimento que eu não saberia definir direito. Misto de bar, restaurante e casa noturna, Seu Anakreto ficava a poucos quarteirões do campus central da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Ali o Ben-Hur [o cabeludo da foto], um dos fundadores e figura principal do Grimpa em termos de organização, uniu novamente parte dos colaboradores do jornal numa noite qualquer. Curioso que não lembro do que tratou a reunião. Se bem que reuniões normalmente existem por elas mesmas. Difícil surgir uma decisão tomada em reunião. Enfim...

Mas me marcou muito a ida até o Seu Anakreto. A decoração das paredes de madeira. Os quadros nessas mesmas paredes. O espaço... a localização. Não sei direito o que me agradou tanto. Depois daquela ocasião voltei ao local mais uma vez rapidamente, não lembro por que razão. E então, diria o corvo, nunca mais.

Depois passei por frente. Vi que a placa com o anúncio “Seu Anakreto” e o desenho caricato de um velho já não estavam mais lá. Então era isso. O estabelecimento havia fechado, como muitos outros da cidade acabam fazendo. Uma pena, pensei... Era o tipo do lugar ao qual a gente tem vontade de levar alguém. Mas, convenhamos, “Seu Anakreto” não era um bom nome.

***

Minha namorada, dia desses, veio me dizer que esteve em um restaurante muito agradável, chamado “Manjericão”. À minha cabeça veio a imagem de uma planta, e fiquei pensando que seria um desses restaurantes vegetarianos. Nunca vi nenhum, mas sei que existem.

Aí ela descreveu o endereço, e percebi que se tratava do “Seu Anakreto”. Ontem, na hora do almoço, fomos até lá, e alguma coisa me aconteceu.

O restaurante Manjericão me fez lembrar da primeira impressão que tive do lugar, em 2005, já que boa parte da decoração do Seu Anakreto foi mantida. Existe uma sala muito agradável que fica à entrada do ambiente, e que dá ao restaurante cara de hotel. Nas paredes há maquetes de barcos, assim como há maquetes sobre os balcões. A decoração dessa sala é toda baseada no convés de um navio. Há cordas grossas penduradas num mastro. Uma gaivota perto do teto [repare na primeira foto deste post]. Um relógio dentro de um escafandro.

Para onde quer que olhe nessa sala você vê detalhes. Eu poderia ficar um dia inteiro observando e ainda me surpreenderia. Ao lado da porta de entrada, um bilhete escrito num papelão foi emoldurado. É a carta do filho do dono do restaurante, que envia para o pai mais um item para decorar o restaurante, diretamente da Espanha.

A refeição do lugar também é boa, mas às vezes exige um pouco do paladar do visitante. Diariamente o cardápio é modificado, e uma plaqueta colocada diante do estabelecimento anuncia o que está no buffet por quilo.

A comida se mantém quente graças à tampa em cada panela. Os talheres com os quais a gente se serve são retirados para uso e devolvidos, em seguida, em pequenas tigelas. O preço não é dos mais baratos. Não sou de comer muito e paguei pouco mais de dez reais no meu prato. Mas os banheiros são bem limpos. O lugar é arejado. A música suava toca ao fundo. O caixa aceita cartão. E, ao sair, você passa novamente pela sala perfeitamente decorada e toma uma xícara de café, com uma mistura muito louca de gemada com canela [segundo minha namorada].

Segurando a xícara, você senta em uma das confortáveis poltronas da sala [há lugar para pelo menos 13 pessoas] e pode ler um jornal ou uma revista. Pode esquecer um pouco do dia ou semana ruim. Pode olhar para os quadros, as maquetes ou se perder em pensamentos e lembranças. Saudades do jornal Grimpa e do espírito revolucionário que permeava o grupo que se reuniu ali naquela noite. Não para mudar o mundo, mas para fazer alguma diferença.
Eis um lugar bom para voltar...

Mas... “Manjericão” é um péssimo nome.

P.S.: O restaurante fica na Rua Senador Pinheiro Machado, 458. Atende apenas de segunda a sábado na hora do almoço e está em funcionamento há quase um ano (faz aniversário no final do mês). Se você puder chegar antes de meio-dia é melhor. Porque depois desse horário tem uns pais que aparecem lá com os filhos que acabaram de sair da aula. E, com tantas maquetes e detalhes, a criançada fica meio eufórica. Ainda mais quando descobrem o sino ao lado do balcão de atendimento...