16 de out. de 2012

Meu passado vem ao meu encontro

- O que é um mezanino? - perguntou a Pri olhando por cima de meu ombro, em uma pequena placa.
De fato, eu próprio não sabia direito. Nunca tinha feito uso daquela palavra. Mas o desenho ao lado, um sanduíche e um copo de refrigerante, me fizeram ter a certeza de que o mezanino era apenas a parte superior da mesma praça de alimentação naquele shopping onde almoçávamos.
- Vamos até lá. Nunca vimos como é aquele lugar. - eu disse.
Deixamos sobre a mesa os pratos com o que restou de nosso almoço, e subimos as escadas. Ali, meia-dúzia de pessoas usavam seus notebooks e acessavam a internet wireless. O ambiente era pouco iluminado e não tinha qualquer loja ou lanchonete.
- Não tem muita coisa aqui, afinal - eu disse, enquanto a Pri concordava. - Vamos embora. - emendei

Eu já ia descer as escadas quando a Pri me segurou:
- Olha lá um Danilinho! É o seu clone - ela disse.
Ao olhar para a parte mais longínqua do espaço, de costas, estava um sujeito lendo alguns livros e papéis. E a semelhança era extraordinária. Se eu não fosse eu, provavelmente acharia que eu era ele.
O cabelo loiro, na mesma tonalidade e um pouco encaracolado, a escolha da mesa e os gestos enquanto pesquisava os papéis, e até a camisa...
Olhei para minha camisa, e notei que ele usava uma quase igual à minha. Apenas um pouco mais clara... igualzinha a uma que eu ainda tenho, mas que hoje já está desgastada pelo tempo.

- Vamos nos aproximar. - eu disse, na certeza que a farsa seria desfeita.
No entanto, à medida que chegávamos mais perto, eu o achava ainda mais parecido comigo. Tive um ataque de riso, ainda que discreto. Claro que não era eu, mas a semelhança assombrosa causou até uma certa emoção.
A Pri olhava para mim sorrindo, adivinhando a sensação estranha que eu experimentava. Quando minha distância do clone tinha sido reduzida à metade da inicial, parei. Fiquei junto ao parapeito que permitia olhar para o restante da praça de alimentação. Por um instante, evitei olhar para o sujeito.
- Não vou pra mais perto. - eu disse.

Dali eu ainda pude ver que ele não tinha barba, nem usava óculos. Era como se fosse eu em 2004, quando ainda não tinha diagnosticado minha miopia, quando fazia questão de fazer a barba toda, quando a camisa era nova e eu me concentrava nas pesquisas da universidade. Era como se o Danilo de oito anos atrás estivesse ali, diante de mim. A poucos passos.
A partir dali, deixamos o mezanino. Das duas, uma: ou ele seria muito parecido mesmo comigo, ou seria diferente. Em qualquer uma das duas situações, o encontro seria assustador.
Deixamos o shopping rindo da situação. Mas fiquei pensando... Meu passado, naquele dia, veio me encontrar. E fez isso sem que eu o procurasse.

3 comentários:

claudia disse...

Eu já encontrei Ponta Grossa inteira em Grenoble! Eu te juro... Mas até agora nunca encontrei “eu mesma” rsrs. Seu texto me fez pensar no filme “A dupla vida de Veronique”. Abraço, Cláudia.

Anônimo disse...

hahahha, não acredito q vcs não conseguiram ver o rosto dele !!!
quer dizer, vc não quis !!!

pois aqui "na Pitanga" tem uma moça q trabalha nos COrreios e inúmeras pessoas perguntam - isso q estou na cidade há mais d 2 anos: vc é irmã dela, ela é tua parente !

e pior: várias pessoas acham q eu sou ela !!! me perguntam assim: "ah, vc trabalhava nos Correios, né?"...

kkkkkk

qnd digo q não, e desfaço a confusão, me olham com assombro !!

boa sorte no próximo 'encontro'! Tônia

Anônimo disse...

a gente se conhece, eu já a atendi e ela tb, cada uma no seu trabalho, kkk

e se não conhecesse, eu ia lá p/ ver, q como comentei, a minha curiosidade ainda vai me render uma úlcera !!