6 de mar. de 2010

Um bom lugar para almoçar em Ponta Grossa


Ultimamente tenho tido pouco tempo.
Pra tudo.

Mas, de vez em quando, surge um instante de ócio, e recordo com saudades de alguns tempos não muito distantes. Há uns cinco anos, por exemplo, eu estava escrevendo para o jornal cultural Grimpa, aqui da cidade de Ponta Grossa. Uma iniciativa de alguns de meus amigos mais malucos [num bom sentido] e entusiasmados. Um trabalho que praticamente não gerava lucros financeiros, mas pagava com algo que poucos trabalhos podem oferecer: satisfação pessoal.

No Grimpa, ninguém realmente buscava encher o bolso de dinheiro. Mas a gente tinha total liberdade para escrever. Fazia descobertas ao experimentar diferentes formas de jornalismo e de estilo. Nossa criatividade não era esmagada como se vê em muitas redações de jornais. Até porque [e talvez aí estivesse o segredo], o Grimpa não tinha uma sala de redação.

Sem uma sede própria, as reuniões eram realizadas em lugares distintos, praticamente uma vez a cada edição. Nessas reuniões ia quem podia. A maioria tinha mais de uma atividade, porque o Grimpa, se não era um hobby, era uma forma de manter a lucidez e a humanidade que deve ser mantida em cada jornalista, escritor, cartunista, chargista ou colaborador.

Acho que foi em um desses encontros que conheci o “Seu Anakreto”. O nome curioso era de um estabelecimento que eu não saberia definir direito. Misto de bar, restaurante e casa noturna, Seu Anakreto ficava a poucos quarteirões do campus central da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Ali o Ben-Hur [o cabeludo da foto], um dos fundadores e figura principal do Grimpa em termos de organização, uniu novamente parte dos colaboradores do jornal numa noite qualquer. Curioso que não lembro do que tratou a reunião. Se bem que reuniões normalmente existem por elas mesmas. Difícil surgir uma decisão tomada em reunião. Enfim...

Mas me marcou muito a ida até o Seu Anakreto. A decoração das paredes de madeira. Os quadros nessas mesmas paredes. O espaço... a localização. Não sei direito o que me agradou tanto. Depois daquela ocasião voltei ao local mais uma vez rapidamente, não lembro por que razão. E então, diria o corvo, nunca mais.

Depois passei por frente. Vi que a placa com o anúncio “Seu Anakreto” e o desenho caricato de um velho já não estavam mais lá. Então era isso. O estabelecimento havia fechado, como muitos outros da cidade acabam fazendo. Uma pena, pensei... Era o tipo do lugar ao qual a gente tem vontade de levar alguém. Mas, convenhamos, “Seu Anakreto” não era um bom nome.

***

Minha namorada, dia desses, veio me dizer que esteve em um restaurante muito agradável, chamado “Manjericão”. À minha cabeça veio a imagem de uma planta, e fiquei pensando que seria um desses restaurantes vegetarianos. Nunca vi nenhum, mas sei que existem.

Aí ela descreveu o endereço, e percebi que se tratava do “Seu Anakreto”. Ontem, na hora do almoço, fomos até lá, e alguma coisa me aconteceu.

O restaurante Manjericão me fez lembrar da primeira impressão que tive do lugar, em 2005, já que boa parte da decoração do Seu Anakreto foi mantida. Existe uma sala muito agradável que fica à entrada do ambiente, e que dá ao restaurante cara de hotel. Nas paredes há maquetes de barcos, assim como há maquetes sobre os balcões. A decoração dessa sala é toda baseada no convés de um navio. Há cordas grossas penduradas num mastro. Uma gaivota perto do teto [repare na primeira foto deste post]. Um relógio dentro de um escafandro.

Para onde quer que olhe nessa sala você vê detalhes. Eu poderia ficar um dia inteiro observando e ainda me surpreenderia. Ao lado da porta de entrada, um bilhete escrito num papelão foi emoldurado. É a carta do filho do dono do restaurante, que envia para o pai mais um item para decorar o restaurante, diretamente da Espanha.

A refeição do lugar também é boa, mas às vezes exige um pouco do paladar do visitante. Diariamente o cardápio é modificado, e uma plaqueta colocada diante do estabelecimento anuncia o que está no buffet por quilo.

A comida se mantém quente graças à tampa em cada panela. Os talheres com os quais a gente se serve são retirados para uso e devolvidos, em seguida, em pequenas tigelas. O preço não é dos mais baratos. Não sou de comer muito e paguei pouco mais de dez reais no meu prato. Mas os banheiros são bem limpos. O lugar é arejado. A música suava toca ao fundo. O caixa aceita cartão. E, ao sair, você passa novamente pela sala perfeitamente decorada e toma uma xícara de café, com uma mistura muito louca de gemada com canela [segundo minha namorada].

Segurando a xícara, você senta em uma das confortáveis poltronas da sala [há lugar para pelo menos 13 pessoas] e pode ler um jornal ou uma revista. Pode esquecer um pouco do dia ou semana ruim. Pode olhar para os quadros, as maquetes ou se perder em pensamentos e lembranças. Saudades do jornal Grimpa e do espírito revolucionário que permeava o grupo que se reuniu ali naquela noite. Não para mudar o mundo, mas para fazer alguma diferença.
Eis um lugar bom para voltar...

Mas... “Manjericão” é um péssimo nome.

P.S.: O restaurante fica na Rua Senador Pinheiro Machado, 458. Atende apenas de segunda a sábado na hora do almoço e está em funcionamento há quase um ano (faz aniversário no final do mês). Se você puder chegar antes de meio-dia é melhor. Porque depois desse horário tem uns pais que aparecem lá com os filhos que acabaram de sair da aula. E, com tantas maquetes e detalhes, a criançada fica meio eufórica. Ainda mais quando descobrem o sino ao lado do balcão de atendimento...