2 de jan. de 2012

Um novo lar... com as notas contadas


Há alguns dias o pianista Newton Schner Junior esteve no jornal para uma visita de cortesia. Veio apenas me desejar um feliz ano novo, pois ficaria alguns dias fora, em trabalhos braçais na chácara da família, em Itaiacoca, segundo entendi. Fiquei surpreso, pois não imaginava o Newton carpindo um lote. Certamente é um sujeito mais versátil do que eu pensava. Das teclas do piano e do computador para a enxada... às vezes é uma longa distância.

- E você, vai viajar? – perguntou ele, se referindo ao Réveillon
- Não... na verdade já tive gastos suficientes neste ano, por conta da compra da casa nova e da mudança.
- Ah, sim. Você se muda agora em janeiro?
- Isso aí.
- Vai poder escrever “notas de um novo lar”... – brincou, numa referência ao título de uma de suas obras literárias mais recentes.
- Acho que será um novo lar, só que sem as notas. – respondi rindo, enquanto fazia um gesto com as mãos que significava dinheiro.

E agora aqui estou, no novo lar, procurando entender que mudanças isso implica também em minha vida. A mesa de computador e o próprio computador são os mesmos, como se me tivesse sido possível ser apenas transportado com eles para outro ambiente. Mas a sensação é completamente outra. Outro espaço, outros móveis, outra companhia.

Quando comecei a namorar a Pri, há pouco mais de dois anos e meio, tinha planejado isso tudo para 2013. Não sei por que, achei que quatro anos era um bom número. Mas eu sempre tive mais paciência, enquanto ela sempre foi mais ansiosa. Dois anos e meio foi o ponto de equilíbrio, e o momento em que conseguimos encontrar e organizar uma casa para onde nos mudarmos.

Não foi fácil encontrar esta aqui. Percorremos a cidade toda, de casas a apartamentos, de condomínios centrais a bairros distantes. Não imaginava me mudar para o Jardim Gianna, localidade nova que até pouco tempo eu sequer sabia que existia. Além do mais, na primeira vez em que percorri estas ruas, para conhecer outra casa à venda, o aspecto visual não me agradou muito, por ser do outro lado da mesma vila. Aí o colega Alan me veio falar de uma casa quase totalmente mobiliada, à venda no Gianna, e fui sem acreditar no que ele dizia.

De fato, foi amor à primeira vista. Também... a casa parecia um showroom. Com os móveis planejados expondo a funcionalidade do lugar, ficou impossível não gostar da casa. Hoje já conhecemos boa parte dos pequenos (embora vários) defeitos do lugar. Mas isso acontece em qualquer endereço. Não há casa perfeita. O que sei é que o negócio acabou sendo feito. E agora o ambiente está adaptado à nossa permanência.

Há um sofá confortável na sala, do jeito que a Priscila queria, e meu computador ao lado, como eu necessitava. Até ontem à noite, a Pri ainda organizava algumas das sacolas de roupas que ela transferiu para cá. Ficou horas fazendo isso. E eu estou aqui pensando quantas revistas e livros deixei na casa de meus pais. Boa parte deles eu jamais vou usar mesmo, mas outros são de estimação.

Isso é algo interessante. Esta casa é bem menor que aquela de meus pais. Enquanto lá eu me acostumei a acumular coisas e não jogar nada fora, aqui eu precisarei aprender outros hábitos. Não há espaço para tranqueira. É preciso ser prático e direto. Nada de guardar todo tipo de papel, panfleto ou lixo.

Iniciei essa limpeza já alguns dias, mentalmente. Depois comecei a limpar gavetas, ainda na outra casa. Na noite do último dia de 2011 eu estava deletando mensagens antigas de meu celular. E ontem resolvi limpar um pouco este computador. Quando percebi, por um erro de cálculo estava deletando coisas que deveriam permanecer aqui. Cancelei o processo, mas uma parte dos arquivos foi excluída. Terei que recorrer a um backup feito meses atrás, para recuperar algumas HQs e textos importantes.

Este será um ano repleto de mudanças, erros e acertos, como foram os primeiros dias. Mas tudo fluirá. Hoje pela manhã levei a Pri ao trabalho. Quando voltava, vi um homem fazendo caminhada. Se deslocava a passos rápidos de calção, camiseta, óculos escuros e bengala. Bengala? Ele carregava a bengala, como se tivesse ido até a fonte da juventude e estivesse regressando após um rápido mergulho. Acho que será um ano de milagres também.

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