18 de mar. de 2020

Relato de um ataque invisível

Alertados desde o último dia de 2019, já aguardávamos a chegada de uma doença que se mostrou real na China, evoluía rápido, se espalhava mais rápido ainda, e matou milhares em poucas semanas.

Descrentes, os brasileiros viram as notícias a respeito do chamado novo coronavírus (Covid-19) como quem assiste a algo irreal como uma telenovela. Até que ele chegou.

Após menos de uma semana desde que o Covid-19 se tornou o principal assunto em pauta, ontem foi confirmada a primeira morte pela doença no país. Mas as consequência da simples menção ao contágio já alterou por completo as rotinas, e talvez o mundo nunca mais seja o mesmo.

Para você, que deve estar chegando de Júpiter ou outro planeta distante, talvez pareça exagero. No entanto, a verdade é que um elemento microscópico, que nem bem podemos chamar de vivo, já modificou drasticamente muito da rotina humana. Há quem diga, ainda que em tom de brincadeira, que o planeta Terra, percebendo que os humanos o destruíam, decidiu lançar uma defesa natural, e fez uso desse novo coronavírus. Também há quem diga que essa é uma arma criada em laboratório para dizimar parte da população, tendo em vista que a própria humanidade tende a se destruir a medida que cresce em número.

Mas, vamos analisar o cenário. Em menos de três meses, 3.200 mortos na China. Na Itália, 2.150. Isso para citar o país onde tudo parece ter começado e outro no qual a evolução foi mais rápida. Homens idosos e com doenças preexistentes compõem a maior parte das vítimas. Eles sofrem com insuficiência respiratória. Há pessoas que se infectam, mas apresentam um simples quadro gripal, mas todas são vetores para transmissão do coronavírus, que é altamente contagioso.

Essa perspectiva fez com que, desde a última semana, o Brasil busque formas de impedir o avanço da doença, já presente em todos os estados.

Aqui em Ponta Grossa, cidade do interior do Paraná, uma das maiores em população no estado, o município parece com um computador que acabou de ter a função "desligar" acionada, e que vai fechando programas paulatinamente, até apagar por completo.

Os eventos culturais foram os primeiros suspenso, assim como inaugurações. As aulas municipais não seriam suspensas na sexta-feira, na segunda-feira se tornaram facultativas e, na terça-feira, foram suspensas. As universidades, já no início da semana, anunciaram a interrupção de atividades. Hoje haveria um manifesto dos professores da UEPG, que parariam por melhorias no ensino e para a categoria. O Covid-19 obrigou tudo a parar e obrigou ao cancelamento do ato público.

Governos federal, estadual e municipal recomendam evitar aglomerações. Decreto estadual proíbe reunião de mais de 50 pessoas. Isso incluiu missas, casamentos e batizados. Os cinemas adiaram a estreias. As novelas dispensaram atores com mais de 60 anos das gravações, e estão mudando todos os roteiros por causa disso.

A Polícia Militar foi orientada pelo comando no Paraná a higienizar bancos das viaturas após transporte de suspeitos e, se o meliante apresentar sintomas de gripe, deve acionar o Samu antes de o conduzir à delegacia.

Em meio a tudo isso, o álcool gel, apontado como uma das principais formas de evitar contágio, atingiu preços absurdos e sumiu das prateleira. O ibuprofeno, medicamento largamente utilizado, ontem foi descrito como inadequado no tratamento para o coronavírus, porque pode piorar infecções. Os bebedouros de coluna, aqueles que você via nas escolas e supermercados, estão com os dias contados. Os cumprimentos com a mão, ao encontrar conhecidos, estão sendo substituídos por toque de cotovelos ou chutinhos com os pés. Não é brincadeira, não. Estamos vivendo isso agora.

Os espirros precisam ser contidos com os braços. Cada um tenta evitar a própria tosse. Sem informação, pessoas usam máscaras na tentativa de evitar um mal invisível.

De outro lado, vemos a dificuldade em garantir a proteção de nós mesmos. Minha filha de quatro anos está dispensada das aulas. Eu e minha esposa não estamos dispensados do trabalho. Ela vai ter que ficar com os avós à tarde, apesar da recomendação de evitar contato de crianças com idosos.

Sinto que estamos para viver uma corrida aos supermercados, onde as pessoas já começam a comprar em larga escala, pretendendo estocar alimento como ocorreu na greve dos caminhoneiros, só que de forma mais intensa.

A economia no Brasil, como sobreviverá? O coronavírus só é o assunto do momento há menos de uma semana. Já há várias lojas e serviços interrompidos. Empresas antecipando férias. Aeroportos fechados. Fronteiras fechadas.

As consequência de tudo isso a gente ainda não sabe. Mas o mundo nunca mais será o mesmo.