12 de dez. de 2011

Mais que uma casa nova

Janeiro promete ser uma data divisora de águas para este pisciano que raramente lê seu signo... No próximo mês entro em férias, mudo de endereço e, praticamente, de estado civil. Digo praticamente pois, nós, pessoas com orçamento limitado, devemos optar entre ter uma casa ou ter um casamento. A alternativa A pareceu mais prática e, por essa razão, eu e a Pri passaremos a viver sob o mesmo teto, o que promete não ser muito difícil, considerando que já passamos juntos a maior parte de nosso tempo livre.

Ainda assim, creio que a mudança será uma experiência e tanto. Uma viagem de autoconhecimento maior do que todas que já experimentei. E estou incluindo aí Morretes e Guaraqueçaba. Tenho mais curiosidades do que receios nesta mudança. No período em que estamos namorando, descobri muito a meu próprio respeito, e passei a perceber e aceitar meus defeitos e erros que antes ignorava. Minha insegurança, meu perfeccionismo, minhas preocupações e desatenção. Ao mesmo tempo, vi com mais clareza algumas qualidades, que guardo para mim. Vai que alguém diz que não são qualidades...

Mas, o encontro seguido da despedida cria um vínculo menor entre o casal. Agora, vivendo na mesma casa, espero descobrir mais a meu respeito e a respeito dela. Compreender melhor que atitudes são esperadas de mim e quais devem ser tomadas. Encontrar o equilíbrio entre o que se quer, o que se pode e o que se deve fazer. E ficar sabendo quem sou eu, vivendo em uma casa que não é de meus pais, na qual até hoje sempre tive tudo o que precisei, do carinho aos bens materiais.

Enquanto muitos deixam a casa de seus pais num ato de rebeldia, porque não concordam com as atitudes deles e não os suportam, eu deixo a casa de meus pais apenas porque sei que é tempo de sair. Pois, na verdade, foi nos últimos dois anos e meio que percebi de forma ainda mais evidente o quanto eles são importantes em minha vida. Notei de forma mais clara o quanto torcem por mim. Percebi o apoio que sempre que precisei. Com eles e com meu irmão, meu maior amigo, e que sempre entende minhas piadas, até as sem graça, sempre tive um refúgio.

Nos próximos dias sairei da casa de meus pais e de meu irmão com a tranquilidade de saber que eles também estão sempre de braços abertos. E que eles saibam que meus braços também estão abertos para eles, que agora terão mais alguém para visitar aos domingos. Se virem!

10 de out. de 2011

O que mantém o mundo um bom lugar

Um dos poucos privilégios que tenho como jornalista da seção cultural / entretenimento / social do jornal é que de vez em quando surge a possibilidade de acompanhar eventos que, normalmente, eu não poderia.

Foi assim que nesse domingo pude assistir, no Cine-Teatro Ópera de Ponta Grossa, à bela apresentação da Orquestra Sinfônica Philips, que iniciou aqui sua breve turnê pelo Brasil (segue depois para Curitiba e São Paulo). O grupo de dezenas de músicos veio da Holanda, numa parceria com a Associação Parque Histórico de Carambeí, e tive acesso a dois convites que me permitiram ver o show ao lado de minha namorada Priscila.

Sempre fico com receio quando a levo para algum evento cultural. Nem sempre a atração agrada, e às vezes nem eu me sinto satisfeito com algumas coisas. Estou me recusando temporariamente a ir ao cinema devido ao grande número de decepções, por exemplo.

Mas, dessa vez, posso dizer que o espetáculo valeu o tempo investido. Enquanto via e ouvia tudo, me vieram pensamentos filosóficos. É que eu observava com atenção a beleza da melodia e a elegância dos músicos. E, ao mesmo tempo, recordava a grande quantidade de desgraças que ouço todos os dias, trabalhando no jornal. São mortes, assassinatos, estupros, assaltos. Tudo provocado por pessoas não muito diferentes daquelas que ouviam a música, ou a apresentavam naquele instante.

Poderia um assassinato ser orquestrado por um daqueles que estava no palco, apresentado o que há de mais belo no ser humano: a criação artística? E teria eu o direito de apreciar aquela beleza toda, sabendo que tanta coisa ruim acontece no restante do mundo, ou mesmo do lado de fora do teatro?

Mas a minha mão estava sobre a mão da Pri. E a música insistia em tocar. Então a melodia e o momento bom prevaleceram, e esqueci do resto. É preciso esquecer o que há de ruim, de vez em quando, para perceber o que ainda há de bom. Espero poder sempre me concentrar no que há de bom, para não cair no erro de me tornar tão ruim quanto tudo que mais detesto. E a música segue.

14 de set. de 2011

Catraca em GIF

Opa... chegou a primeira tirinha animada do Catraca. Ou seja, formato GIF. Trata-se de algo um tanto quanto tosco para uma primeira tirinha com este recurso, mas estou mais animado que o próprio Catraca. Meu amigo Robison Queiroz foi quem me passou um programinha bastante simples para dar início à brincadeira.

E o roteiro para a tirinha foi de minha namorada, Priscila. Observe aqui o Story Board que ela preparou... É assim que começa. E abaixo está o primeiro teste.


O resultado final você
conhece no site

13 de set. de 2011

Nada substitui um profissional

Eu me preocupo demais. Demais.
No domingo fui limpar a lente de meus óculos e, ao esfregar um papel, quebrei a peça que equilibra o óculos sobre o nariz. Deve haver um nome para essa peça... tem nome pra tudo...
Enfim, minha primeira reação foi apanhar a cola Super Bonder e me preparar para uma operação delicada de recuperação da peça. Mas aí pensei melhor: isso seria arriscado pois poderia pingar a cola na lente, ou cometer um erro fatal na colagem e aí, "adeus, Tia Chica!".

Lembrei que da última vez em que estive comprando meus óculos a funcionária disse que aquela peça poderia ser substituída gratuitamente quando fosse necessário. Esperei, portanto, a manhã de segunda-feira, e deixei meus óculos na loja, para que ela procurasse a peça de reposição e fizesse o conserto. À tarde eu estaria de volta com meus óculos.

Caminhei por alguns minutos vendo um mundo embaçado com olhos lacrimejantes, até chegar ao carro onde, prudentemente, guardei meus óculos antigos no porta-luvas. Eles foram bastante úteis para quebrar um galho até o final da tarde, quando enfim pude retornar à ótica.
A funcionária me estendeu os óculos. Tudo em ordem. Mas poderia ter me poupado dos detalhes:

-Não encontrei a peça no estoque. Também não encontrei com o fabricante, e os parafusos são importados. Então achei uma peça parecida, e colei com Super Bonder, com muito cuidado, para não pingar na lente.

27 de jul. de 2011

Meus cartuns estão por aí...

Catraca no Gibicon nº0

Fico feliz ao perceber que tenho conseguido pequenas conquistas, mas de grande importância, através dos desenhos com o personagem Catraca. No domingo retrasado, dia 17, eu e minha namorada fomos até Curitiba, especialmente para marcar presença no Gibicon nº0, evento preliminar no Congresso Internacional de Quadrinhos, que ocupou diversos espaços no centro da capital paranaense.

Ali, munido de pequeno dossiê sobre figuras importantes, feito a partir de informações e fotos da internet, vi alguns dos quadrinistas e roteiristas de destaque no cenário nacional. Era o final do evento e também não tínhamos os planos de passar a noite em Curitiba. Então, assistimos a uma conferência na qual participaram os italianos Tommaso D’Alessandro (agenciador de quadrinhos) e Luca Raffaelli (jornalista cultural). No diálogo, eles esboçaram algumas de suas opiniões e traçaram um parâmetro do mercado europeu para os quadrinhos na atualidade. Ao final, Tommaso iria analisar portfólios e opinar sobre o trabalho dos desenhistas que ali estivessem.

A maioria levava diversas folhas de desenhos enormes e bem trabalhados. E ele tinha bastante a dizer, para o bem ou para o mal. Furei uma fila que começava a se organizar e joguei, diante de Tommaso, três páginas de tiras do Catraca. Mas não levou 15 segundos para que ele dissesse, em italiano, que não havia mercado para isso na Europa. Algo que ele já tinha dito durante a conferência... e eu só queria ouvir de novo.

Não foi surpresa e nem eu pensava em lançar as tiras no mercado europeu, ao menos por enquanto. É claro que ele completou dizendo que não entendia o que diziam as historietas, já que ele compreendia o italiano, mas não o português.

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Catraca em Curitiba

De volta pra casa, enviei uma mensagem através de site para a ZnorT, empresa especializada em ilustrações de diversos tipos, e sediada em Curitiba. Não mencionei detalhes de meu trabalho, apenas meu nome e minha atividade de cartunistas. Aí sim, veio a surpresa. Paulo da Rocha Loures Pacheco Jr, um dos responsáveis na empresa, me respondeu de forma bastante atenciosa e quase imediata, revelando que já conhecia as tiras do Catraca, e dizendo que eu poderia enviar meu portfólio para eles. É nessas horas que conseguir uma colocação no mercado se mostra, para mim, menos importante do que já ser conhecido no mercado. Catraca se populariza em Ponta Grossa, mas é reconhecido em Curitiba.

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Catraca é leitura

Ainda na semana passada, um telefonema recebido na redação do jornal me deixou ainda mais entusiasmado. Uma professora ligou pedindo autorização para reproduzir as tiras do Catraca em sua pesquisa, na qual aponta meus desenhos como motivadores da leitura junto a pessoas que estão aprendendo a ler. “Tem minha total autorização”, falei. Infelizmente não tenho o nome dela, que disse que me enviará solicitação formal via e-mail.

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Fã clube do Catraca

O Facebook e o Twitter certamente têm sido importantes ferramentas para a divulgação de meus desenhos. A Talita Moretto, que trabalha comigo no Jornal da Manhã, e coordena o projeto Vamos Ler de incentivo à leitura do jornal nas escolas, frequentemente publica as tiras do Catraca em sua página no Facebook. Nesta semana, ela publicou a mais recente, e dentre os comentários surgiu até um “fã club do Catraca”! São os membros do Projeto Saci, que trabalha com conscientização ambiental em São Paulo.

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Catraca no Youtube

Chegou ao Youtube, há poucos dias também, o vídeo de entrevista feita por Manu Rodrigues, da TVM, canal local a cabo, em seu programa Estação Urbana. O entrevistado foi este cartunista, no começo do ano, se me lembro bem. De lá pra cá, o endereço do site de tiras mudou para www.odanilo.com.br, mas a entrevista está bacana.


13 de jul. de 2011

Liechtenstein é logo ali... em Piraí

De vez em quando, é inevitável, situações inexplicáveis acontecem. Há poucos minutos, minha mãe tirou a fatura da conta telefônica da gaveta, e veio até mim, dizendo: “Danilo, dê uma olhada aqui nessa conta telefônica. Acho que veio errado. Aqui diz que fizemos uma ligação internacional...”

Fui verificar, e me deparei com a seguinte informação na fatura: uma ligação foi feita no dia 22 de junho, às 8h49. Teve duração de 25 segundos e, pasme... foi uma ligação para Liechtenstein!!

Liechtenstein! Eu nem sei se escrevi direto o nome aqui, nem tampouco tinha ideia de onde, exatamente, ficava esse lugar. O Google me veio com a seguinte informação:

Liechtenstein, oficialmente Principado de Liechtenstein, é um minúsculo principado, um microestado, localizado no centro da Europa, encravado nos Alpes, entre a Áustria, a leste, e a Suíça a oeste. Pouco mais de 34 mil habitantes moram no principado de apenas 160 km².

Fiquei de cara com o erro da companhia telefônica. Foram apenas R$ 1,91 a mais na conta, mas eu já estava pensando de que forma iria proceder com a reclamação. Foi quando notei que o número discado não era tão estranho assim. Na verdade, ele tinha sido discado novamente dois dias depois, em 24 de junho. Era o número (42) 3237-3402, que se referia a uma pousada em Piraí do Sul, aqui mesmo, nos Campos Gerais, interior no Paraná, e não nos Alpes suíços.

Acontece que no mês passado eu havia ligado para esse número para reservar uma hospedagem onde eu e a Pri pudéssemos passar o final de semana. Puxando pela memória, recordei de como tudo aconteceu.

***

Era manhã do dia 22 de junho. Alguns dias antes, eu e minha namorada tínhamos decidido viajar até Piraí do Sul, e passar um dia lá, aonde já tínhamos ido passear no ano anterior. A Pousada Serra de Pirahy é um excelente lugar estabelecido em meio a campos, riachos, cachoeiras, belas formações rochosas e um paredão de pedra que faz eco igual nos desenhos animados. Para completar, a pousada tem comida caseira, excelentes instalações e uma família muito simpática e acolhedora que administra tudo. Emerson, por exemplo, é um sujeito muito atencioso, inteligente, conversador, e realiza passeios guiados pelos campos, até as pinturas rupestres indígenas e às misteriosas marcas circulares gravadas em rochas há centenas ou, talvez, milhares de anos.

Ocorre que, na manhã do dia 22, precisamente às 8h49, eu tinha visto na internet o número de contato com a pousada, e apanhei o telefone para agendar nossa presença lá no fim de semana. O telefone chamou algumas vezes até que um senhor com uma voz estranha atendesse do outro lado, e me dissesse algo parecido com um “alô”.

“Alô”, eu disse. “Gostaria de falar com o Emerson. Ele está?”

Em seguida, o cidadão falou uma frase que, para mim, foi totalmente indecifrável. Notei apenas que ele falava com um sotaque que me lembrava o alemão.

“Me desculpe, acho que foi engano”, eu disse. E desliguei o telefone, em uma conversa que deve ter durado 25 segundos.

Olhei novamente para o papel onde tinha anotado o telefone (42) 3237-3402. Será que eu tinha discado errado? Podia ser. Ou, talvez, o Emerson estivesse com turistas em casa, e um deles atendeu o telefone ao ver que ninguém mais o faria. Na dúvida, liguei de novo em seguida, mas o número dava como ocupado. Naquela manhã, desisti.

Então, esqueci completamente o episódio. Somente dois dias depois é que encontrei tempo para tentar novamente o mesmo número. Liguei e, do outro lado, quem me atendeu foi a irmã do Emerson. Agendei nossa presença lá para o dia seguinte, à tarde. E assim fizemos. Foi um ótimo fim de semana, que só não foi melhor devido à chuva, que nos impediu de caminhar pelos campos.

Agora, quase um mês depois, eu olho para essa conta telefônica e relembro a história. Recordo a voz do sujeito com sotaque estranho, e reconheço: não sei como, mas, de fato... Eu fiz uma ligação para Liechtenstein... Através de um simples DDD.

4 de jul. de 2011

Catraca passa de 200 tiras e site ganha novo layout

Uma aventura que começou em preto e branco completa quatro anos e mais de 200 tiras em grande estilo. Catraca, personagem de quadrinhos que desde 2007 ilustra cada edição dominical do Jornal da Manhã, acaba de ganhar novo site. A página de Tiras do Danilo (que sou eu) está no ar no endereço www.odanilo.com.br.

Não é apenas o endereço que ficou mais fácil de lembrar. A navegabilidade para o internauta e a interação foram ampliadas. Em consonância com a evolução da internet, as Tiras do Danilo agora estão linkadas com o Facebook e o Twitter, por exemplo.

Quem acessa o site pode ‘twittar’ a tirinha que mais gostou, ou curtir a piada e compartilhar com os amigos do Facebook imediatamente. Além disso, outra novidade é o ‘Risômetro’: é possível dar uma nota (de uma a cinco estrelas) para a tirinha. O sistema calcula uma média e informa o resultado atual abaixo da tira.

No arquivo é possível acessar todas as tiras feitas desde 2007, numeradas e datadas. A partir do site, o internauta também pode seguir o autor no Twitter ou ler postagens em seu blog Universo e Afins. As tiras seguem sendo publicadas na Revista Urbe do Jornal da Manhã.

Catraca é um garçom que vive situações bizarras relacionadas ao cotidiano. Suas histórias, não raro, envolvem lugares, acontecimentos ou personagens baseadas na realidade de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais. Algumas delas registram fatos que foram notícia nos jornais, como as obras da rodoviária, a revitalização da Avenida Vicente Machado, o pânico com a Gripe A. É como se colocássemos um marcador em alguns desses fatos, para relembrá-los sob o ponto de vista do bom humor, mesmo em situações ruins.

3 de jun. de 2011

Uma troca de "bujão"

Levar meu automóvel à oficina é sempre algo tenso. Inevitavelmente acho que os mecânicos estão me enganando. Nesta manhã de sexta-feira, precisei levar o carro para efetuar a troca de óleo.

Por mais que os mecânicos pareçam sérios, não consigo parar de pensar que estão me passando a perna de alguma forma. É complicado ser leigo. O sujeito que retirou o óleo verificou que havia uma peça que, segundo a nomenclatura especializada, era um bujão [para mim era apenas um parafuso], e que estava "espanada".

Ele mostrou para um colega, que varria o chão da oficina, que era um pouco vesgo e aparentava ter o raciocínio um pouco lento:
"Olhe aqui... tá espanado. Acho que vai ter que trocar."
"Não..." - disse o outro, segurando a vassoura - "Isso aí é porque foi apertado demais. Acontece."

Indiferente à opinião do colega, o mecânico foi e trocou o tal bujão.
"Olhe como ficou melhor."
"Pra mim tá igual.", o outro disse.
"Que igual, que nada!"

Um terceiro mecânico se envolveu na conversa:
"Por que você ainda pergunta as coisas pra ele? Faz 15 anos que ele trabalha aqui e não sabe nada..."
"Ah, mas eu fico nervoso..." - disse.

Ficou nervoso porque eu estava ao lado escutando a opinião do outro que dizia não haver necessidade de troca da peça?

Foram só quatro reais a mais na conta da troca de óleo.
Mas fiquei acreditando mais no sujeito vesgo.
Eu sempre acho que os mecânicos estão me enganando...

25 de mai. de 2011

Trinta minutos que viraram apenas três

No final da tarde de terça-feira, quando enfim encontrei tempo para tomar um café, meu chefe Mário veio dizer que havia no telefone uma mulher que queria falar comigo, e que parecia ser ligação de muito longe.

Atendi quase me sentindo importante. Mas a sensação desapareceu assim que a mulher do outro lado começou a falar com a voz robótica característica de uma atendente de telemarketing. De forma mecânica e sem pausas, ela explicou que fazia parte de uma empresa que estava fazendo pesquisa sobre os produtores culturais e a aplicação da Lei de Incentivo à Cultura no País.

Enquanto ela dizia isso, tentei anotar alguma informação a seu respeito, mas nem seu nome ou da empresa consegui escrever, tal era a rapidez de suas palavras. Concluída a explicação que não pude compreender, ela disse que precisaria fazer uma entrevista comigo para obter dados para a pesquisa. "Tudo bem", eu disse. "Vai levar cerca de 30 minutos", ela falou. Trinta minutos é uma vida para quem está numa redação de jornal diário. Concedi a ela 10 minutos, com a proposta levantada por ela de prosseguir com as perguntas na manhã do dia seguinte.

Primeira questão: "Há quanto tempo você é um produtor cultural?"

- Produtor cultural? Eu... Eu não me consideraria um produtor cultural.
- Me disseram que você era a pessoa que coordena os projetos culturais da empresa.
- Mas você ligou para um jornal. Eu sou repórter da editoria de cultura. Faço a divulgação de produtos culturais, mas não diria que produzo cultura.
- Eu gostaria de falar com o responsável pela produção cultural da empresa.
- Bom... nós temos uma responsável pelos projetos do jornal. Nesses projetos temos um que é voltado para a cultura. O Cinearte tem atividades de cinema e músi...
- Então vocês não têm um produtor cultural na empresa, somente responsável por projetos?
- Isso mesmo.
- Certo. Boa tarde.
- Boa tarde.

E assim 30 minutos se transformaram em três minutos. O que já foi muito.

16 de mai. de 2011

Anseios solitários

Boas notícias... meu novo site de tirinhas está quase pronto. Daqui a alguns dias, calculo, já poderei anunciar o novo endereço.

Preparei o layout há alguns meses, passei para que meu amigo Rodolfo colocasse no ar. Rodolfo é amigo de longa data, embora quase não conversemos mais. Ele é o sujeito que possibilitou o surgimento virtual do site Super OW!, quando eu me divertia trabalhando em um jornalismo rápido, ágil, útil, bem feito, mas pouco rentável.

Rodolfo Bandeira era o programador, e sempre que surgia um problema resolvia com relativa rapidez. Morava perto de minha casa até pouco tempo, a poucos metros da chamada "Curva do Diabo", não muito longe também do Estádio de Futebol Germano Krüger. Por último, foi para Curitiba... acho que é onde está agora. Trabalhando para a RPC, se não me engano.

O site ficou com ele, que esteve envolvido com um trabalho de conclusão de curso, e sabemos o que isso significa. Tensão e dedicação quase exclusiva ao projeto acadêmico. Concluiu essa etapa na semana passada, e neste sábado retomou a formatação do sistema do site.

Dei uma olhada hoje e notei que ainda faltavam algumas coisas. Envie um e-mail dizendo o que ainda faltava. Na resposta, ele me lembrou que ainda não havia terminado. Uhnf... eu devia esperar ele me dizer para ir lá olhar. Mancada... Mas, quem acha que sou apenas paciente, não se engane. Sou ansioso como todas as pessoas são.

Pelo menos eu acho que todas são ansiosas. Só que cada pessoa tem ansiedade em relação a coisas diferentes. Varia de acordo com o interesse de cada um. Como podemos criticar uma pessoa por ela ser ansiosa? Como podemos criticar alguém porque ela quer dividir esse ansiedade com os outros? Quem consegue admirar ou desejar algo, sem sentir necessidade de compartilhar descobertas ou esperanças? A ansiedade, a pressa, a precipitação não é um defeito. Só é difícil de ser compartilhada na mesma proporção por diferentes pessoas.

Certa vez conversei com uma bibliotecária, em minha escola, que todos julgavam ser chata. Inclusive eu. Nessa conversa descobri que ela, assim como eu, era fã de romances policiais. Ela recordou o nome de um detetive, Mike Shayne, cujas histórias ela costumava ler na juventudeem livros de bolso.

Aquele nome eu escrevi no verso de uma agenda ou caderno. E, universitário, quando adquiri o saudável hábito de frequentar sebos, decidi procurar por aquele personagem. Encontrei um livro surrado que trazia uma das aventuras do personagem. Li, e achei fantástica a narrativa.

Meu coração batia acelerado no dia em que entrei em meu antigo colégio, com o livro na mala. Iria entregar nas mãos da bibliotecária. Chamei por ela na recepção. Quando veio, entreguei a ela o livro de páginas amarelas que quase se soltavam. "Trouxe isso para você", disse, esperando ver olhos brilharem, enquanto as lembranças da leitura na juventude vinham à sua memória. Ao invés disso, o que ela viu foi um livro pouco cuidado, mas agradeceu pela doação à biblioteca. "Não, eu trouxe para você... é Mike Shayne", expliquei.

Sua surpresa foi mais por eu mencionar o nome, do que por ter o livro em mãos. Não havia emoção em sua voz. Não havia olhos brilhando. Sua mente parecia se deter na catalogação do acervo da biblioteca. A ansiedade que pensei compartilhar com alguém, na verdade era apenas minha.

Fui embora decepcionado. Nunca encontrei outra pessoa que tivesse lido histórias do personagem, enquanto eu busquei e li pelo menos outras duas. Os desejos, os prazeres, os anseios pertencem exclusivamente a cada pessoa. Mas, tolos, continuaremos a buscar quem compartilhe o que sentimos e precisamos na mesma intensidade. Dizem que a felicidade é estar bem consigo mesmo. Mas como é estar bem consigo, sem se importar com o que o outro pensa?

Que as divagações e perguntas lançadas no ar nos tragam, se não respostas, conforto.

23 de abr. de 2011

O boteco de Seu Rui

Após o feriado de Sexta-feira Santa, a redação do Jornal da Manhã voltou a ser povoada por essas criaturas estranhas denominada repórteres e diagramadores.

Na verdade, talvez essa raça devotada ao trabalho em jornais não seja, realmente, composta por filhos de Deus. Afinal, neste sábado, mesmo a Igreja do Rosário amanheceu com suas portas fechadas.

Cheguei ao jornal o mais cedo possível, na tentativa de adiantar o trabalho e sair também mais cedo. Tinha concluído a parte escrita às 9h45, então desci para tomar um café.

Ao lado do jornal tem uma lanchonete sem nome, que está sempre aberta. Encontrei lá um senhor um pouco barrigudo, que prestava atenção à TV. O noticiário mostrava as imagens de jovens deitando no asfalto, no meio da noite, por pura diversão/loucura.

"Bom dia. Tem café?", perguntei, enquanto ele apenas balançava a cabeça para dizer que sim.

Achei que ele não estava de bom humor, e que não tinha a mínima intenção de conversar. Mas, que nada. Seu Rui já estava era impaciente de ficar dois dias parado, sem fazer nada. Houve tempo em que ele gostava de um feriado, quando era funcionário contratado. Agora, aos 53 anos, dono do próprio negócio, prefere ir trabalhar em sábados pouco movimentados, juntando alguns trocados a mais, do que ficar em casa. "As contas não param", diz.

O boteco de Seu Rui é simples, mas o café e a coxinha não são ruins. As parede indicam parte de sua inclinação política e religiosa. Algumas orações, uma ou duas estátuas de santos, um antigo calendário com a foto do Jocelito e um quadro fazendo referência ao time do coração: Palmeiras.

"Já fui de tudo nessa vida, menos ladrão", disse Rui, que depois lembrou que também não foi engraxate, pois a barriga o impedia de colocar o caixote diante de si.

Ao dizer que não foi ladrão, contou o fato que o fez deixar para trás a ideia de roubar. Aos 19 anos, furtou um wafer de um mercado que ficava na Avenida Vicente Machado, nas proximidades de onde hoje é a loja Maxitango. Na hora de pagar as compras, o gerente disse a ele que faltava pagar o que estava em seu bolso. Pior do que ser descoberto, foi passar vergonha em um mercado lotado. Mas foi importante, e uma lição para que nunca mais pegasse algo que não fosse seu, disse.

Enquanto conversávamos, três ou quatro pessoas que passaram na rua o cumprimentaram. O importante é que hoje ele não é lembrado como o ladrão de 34 anos atrás. Hoje todos o conhecem pelo nome, tanto que seu estabelecimento nem nome precisa ter.

22 de abr. de 2011

Ignorando a competência

Um grande conflito se instala em minha mente: a batalha entre o que eu faço, o que compete a mim fazer, e o que eu devo realmente fazer.

Talvez seja um dos maiores problemas da sociedade contemporânea. Muito se fala que as pessoas deixaram de se preocupar umas com as outras, e isso é um indicativo de que é verdade. Só não sei o que é causa e o que é consequência nessa história.

Sempre me revoltei com as pessoas que fazem apenas aquilo que é de sua obrigação. Acredito que essa é a razão pela qual muitas coisas boas deixam de acontecer. E, nessa semana, tive a prova real.

Na verdade, tudo começou há cerca de um mês. O colega chargista J. Robson,

codinome “Sádico”, esteve no jornal e veio conversar comigo:

- Daí, velho... e o livro cara? Sai ou não sai?

Ele se referia ao livro “Traços de PG”. Há cerca de dois anos, o Jornal da Manhã havia inscrito um projeto, aprovado pela Lei Rouanet de incentivo à cultura. O livro, intitulado “Traços de PG” iria reunir meus cartuns e as charges do Sádico. Mas a captação de recursos, até onde eu sabia, tinha estagnado em algo em torno dos 50%, de modo que a publicação do livro ainda era apenas uma boa intenção.

- Eu tava pensando... – ele continuou – acho que tá na hora de a gente se mexer. Porque, se depender dos outros, então não vai sair esse nosso livro. Vamos aplicar terrorismo, tática de guerrilha...

A ideia não me pareceu de todo ruim. Por outro lado, eu estava pouco inclinado a fazer algo a respeito. Embora a publicação do livro fosse de meu interesse, fazer qualquer esforço adicional para isso me parecia incorreto. Nosso trabalho deveria ser apenas de separar tiras e charges para compor a obra. A diagramação e impressão, se bem me lembro, estava a cargo da Toda Palavra Editora. O projeto era do Jornal da Manhã, a coordenação de projetos era da Talita, e a busca de recursos para publicação era da ABC Projetos. Cada qual tinha sua responsabilidade.

Apesar disso, iniciamos na semana seguinte uma série de comentários no Twitter, com objetivo de relembrar o livro, já esquecido, e manifestar nossa indignação com o projeto que parecia ainda distante. Houve algumas manifestações de apoio de amigos e colegas.

Os comentários no Twitter culminaram em uma curta tirinha que fiz e publiquei no Twitter e no Facebook, a partir de uma ideia que foi até sugestão do Sádico em nossa primeira conversa.


Logo em seguida, o Sádico fez uma tira excelente, também levando em consideração a demora na execução do projeto.

Mais tarde conversei outra vez com Sádico, e informei a ele que, na verdade, nem mesmo os 50% dos recursos para o livro tinham sido arrecadados. E que, tínhamos somente até dezembro para captar o restante, ou para reiniciar todo o projeto de novo, do zero. Ele indicou que sairia em busca de patrocinadores.

Mas eu não me imaginava buscando patrocínio para o livro, até porque esse era o trabalho da empresa contratada para esse fim. No entanto, dias depois uma informação nova surgiria.

Eu estava preparando a entrevista que faria para a revista Urbe com o secretário de Estado de Cultura, Paulino Viapiana. Pesquisava projetos em execução pela Secretaria, quando li mais detalhadamente o projeto ‘Conta Cultura”, que existiu entre 2001 e 2003 e, no mês passado, foi reativado. Basicamente, através dessa iniciativa, o Governo do Estado se encarregava de buscar patrocinadores para projetos culturais já aprovados pela Lei Rouanet. Pensei: espera aí... será que o livro “Traços de PG” não se enquadra nisso? Talvez. Mas o detalhe era o seguinte: o prazo para inscrição de projeto expirava em dois dias.

A diretoria do jornal estava em reunião. Falei com a Talita, coordenadora de projetos, que verificou rapidamente e confirmou que o livro poderia ser inscrito no “Conta Cultura”. Em seguida liguei para a ABC Projetos, onde fui informado pela funcionária que, de fato, nosso livro não tinha sido inscrito no projeto. “Me mande um e-mail explicando bem certo o que é o projeto”, disse a funcionária, que sequer sabia do que se tratava.

Depois de enviar o e-mail com o link e um texto explicativa, recebi sua resposta: “Vou dar uma lida com calma, e qualquer coisa te respondo.” Considerando que tínhamos dois dias, enviei novo e-mail com a seguinte mensagem: “Te ligo à tarde”.

O resultado veio logo após o almoço. A funcionária da ABC Projetos me ligou para dizer que, sim, o livro poderia ser inscrito no projeto. Ela estava preparando os documentos para enviar ainda naquela tarde, e só bastaria uma assinatura do diretor de redação do Jornal, para que tudo fosse enviado via sedex no mesmo dia. Na verdade, não só o “Traços de PG”, como também o projeto “Fragmentos”, do JM, pode ser inscrito no programa.

Assim, poucas horas depois, já colhida a assinatura necessária, entreguei dois envelopes, sendo um de nosso livro, para a Taina, na recepção do Jornal. E pedi que enviasse no mesmo dia pelos correios.

O fim de tarde me trouxe uma sensação muito boa, de ter feito o máximo possível para que o livro fosse publicado. Duvido que pudesse ter ajudado mais que isso. Também ainda depende da aprovação da comissão nomeada pelo Estado para escolher os projetos, mas acredito que temos chance.

No entanto, e se eu não me mexesse? E se deixasse apenas para os responsáveis pela captação de recursos, que sequer sabiam do que se tratava o “Conta Cultura”? Daí vem a pergunta... devemos fazer apenas o que é de nossa responsabilidade, ou tudo aquilo que for necessário, independente de nossa competência?

Tudo o que sei, é que quero ver o livro publicado. E que a guerrilha que começou no Twitter ainda não acabou...

***

No dia seguinte, a Taina me diz que os Correios ligaram pro jornal, e que dois envelopes enviados no dia anterior tinham sido extraviados. Os dois inscritos no projeto “Conta Cultura”. Foram trinta minutos de meu desespero, até que os Correios localizassem os pacotes, que já estavam em seu destino.

22 de mar. de 2011

Visita frustrada à Gruta do Monge

As semanas são sempre extremamente cansativas. Quando chega o final de semana, só dá vontade de dormir e relaxar vendo um filme ou fazendo absolutamente nada. O problema é que eu e a Pri gostamos de fazer nossas viagens, que sempre consistem em pequenas aventuras por lugares a respeito dos quais sabemos muito pouco. E decidimos ir nesse domingo até o tal Parque Estadual do Monge, na cidade histórica da Lapa (PR).

Pelo que consta, em 1847 um monge chamado São João Maria esteve naquele local, habitando uma gruta. Realizou curas milagrosas, fez orações e profecias, e tomou rumo ignorado. Há quem diga que se trata do mesmo monge que passou por Ponta Grossa certa vez. Aqui, dizem, foi atingido por pedras lançadas por garotos malcriados, e lançou a maldição: “Nesta cidade nada vai pra frente, muito menos o time do Operário”. Enquanto o time se esforça por bons resultados [e alcança algumas conquistas], também há quem diga que não se tratou do mesmo monge.

Quem sabe, assim como em ‘O Senhor dos Anéis’, existiu o monge bom e o monge mau. Enfim... voltando ao assunto...

Saímos de Ponta Grossa pela manhã e iniciamos o trajeto de cerca de 100 quilômetros que leva à Lapa, lugar conhecido por ter sido cenário de batalha entre maragatos e forças republicanas. Optamos pela rodovia que passaria por Palmeira e Porto Amazonas antes de atingir nosso destino.

Ainda na saída de Ponta Grossa, um Sandero vermelho nos ultrapassou, mas não pode desenvolver grande distância de nós, pois eram muitos caminhões e, sendo a pista simples, a ultrapassagem era arriscada. De modo que fomos quase ao mesmo tempo passando por Palmeira, perto de onde passamos por local onde uma carreta havia tombado, derrubando a carga de maçãs. No trevo que dá acesso a Porto Amazonas, o Sandero vermelho entrou, enquanto seguimos reto, rumo à Lapa, 32 quilômetros à frente.

Logo de cara me surpreendi com a quantidade de pessoas e movimento de automóveis da principal avenida da cidadezinha.

“Que estranho...”, comentei com a Pri. “Achei que essa era uma cidadezinha pacata, com pouco movimento e sem barulho... e tá o maior fervo...”

Poucos metros adiante, a placa explicativa: “2º Encontro de Carros Antigos Lapa-PR – 19 e 20/03/11”. Eis que a muvuca se fazia por conta de um evento que reunia pessoas de diversas outras cidades. E eu que, há alguns meses, fiz reportagem sobre carros antigos e noticiei o evento, mas nem lembrava mais disso.

Seguindo as indicações, e um pequeno roteiro que imprimi um dia antes da viagem, chegamos a uma rua de péssimo asfalto que levaria até o Parque do Monge, e a famosa Gruta do Monge. Mas, um cartaz no início da rua pareceu dizer que o Parque estava fechado. Duvidei, afinal, era gruta, lanchonete, formações rochosas, cancha esportiva, churrasqueiras, vasta fauna e flora. Se estivesse fechado, pelo menos alguns itens estariam abertos.

Chegamos ao ‘Mirante do Cristo’, onde supostamente poderíamos ver a cidade. Mas a visibilidade maior era para com a falta de cuidado do local. Muito lixo espalhado em volta. Uma garrafa de vinho deixada na escadaria que levava ao topo do mirante.

Minha velha câmera parou de funcionar, talvez com problemas na bateria. A Pri estava com minha outra câmera, uma que o visor queimou, e você faz a foto mas só vê depois, em casa, quando transfere para o computador. Então, passei a usar o celular, que sempre me salva nessas horas.

Seguimos mais alguns metros até a entrada do Parque e encontramos dois carros parados, uma turma de umas dez pessoas sendo paradas por um guarda do IAP, que explicou que o Parque estava completamente fechado para obras de revitalização. Culeiformes fecais foram apenas parte do problema identificado na água que escorre na gruta, e que era considerada santa. A reformulação vai incluir estruturas de vidro e metal, uma série de restrições aos visitantes e, em resumo, vai tornar tudo bem mais chato.

O Parque Estadual de Vila Velha passou por tudo isso. Foram retiradas árvores exóticas, chegaram ao cúmulo de exterminar javalis, criaram calçadas nos espaços onde se faz trilha, proibiram a visita à pedra suspensa, não se pode encostar em nenhuma rocha, nem alimentar quatis ou fazer churrasco.

Sei que é o certo. Mas, quem conheceu o Parque de Vila Velha de antes sabe o quanto era melhor sentir a liberdade de escolher os próprios trajetos entre as rochas.

O problema agora, do Parque do Monge, é que as obras já deviam ter iniciado. A moratória do governador Beto Richa suspendeu o início, e não há nova previsão para os trabalhos, que irão durar cerca de seis meses para a conclusão, a partir da liberação do Governo. Some a isso o fato de que o site da Prefeitura da Lapa não dá nenhuma indicação de que o Parque está fechado, e o resultado é que inúmeros turistas desavisados recebem a mesma desculpa sem graça do mesmo representante do IAP.

Nada a se fazer, voltamos ao centro da cidade, onde almoçamos num restaurante caro demais, vimos a exposição de carros antigos e conhecemos os quatro museus (acho que não tem mais) disponíveis. Um grupo que preserva a tradição dos tropeiros nos ofereceu o “café tropeiro”, feito sem coar o pó, que assenta no fundo do recipiente. Delícia de uma tarde fria, em que começava a cair uma garoa fina.

Depois de um domingo em que terminamos cansando mais que descansando, voltamos para casa para, chegando perto de Ponta Grossa, sermos alcançados, novamente, pelo mesmo Sandero Vermelho.

16 de mar. de 2011

Enfim, conheci Benett!

Existe tanta informação no mundo, que não é vergonha nenhuma se especializar apenas em algumas poucas coisas. Infelizmente, na maioria das vezes, isso não funciona para os jornalistas. Até que se consiga conquistar um espaço bem definido, seja na editoria de Política, Polícia, Economia ou Esporte, pode levar muito tempo.

Somente na segunda metade do ano passado e início deste ano é que consegui me estabelecer onde eu realmente queria estar: fazendo as reportagens de Cultura e Comportamento do Jornal da Manhã, onde trabalho desde 2007.

Entretanto, isso não significa que deixei de fazer outras coisas que me atraem bem menos, como editar as colunas sociais, fazer matérias sobre agronegócios e corrigir textos de colaboradores que nem mesmo sabem que não existe o idioma “brasileiro”.

Com tudo isso, inevitavelmente me deparo todos os dias com pouco tempo para eu mesmo. Gostaria de me dedicar, por exemplo, à atividade de cartunista, algo que venho desenvolvendo há muito tempo, mas que começou mesmo a ganhar traços definidos [com o perdão do trocadilho] quando ainda estava na universidade, me preparando para um jornalismo um tanto quanto diferente daquele que encontraria no mercado.

Desenho desde que me lembro. Muito antes de saber ler ou escrever. Levei meus rabiscos para as aulas de Educação Artística no primário, aos intervalos no Ensino Médio e para dentro da sala de aula da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde uma caricatura do professor de Realidade Socioeconômica Brasileira escrevendo hieróglifos na lousa me projetou entre os amigos como alguém que sabia desenhar.

Minha colega Lídia, na época, disse que eu deveria mostrar os desenhos, e [fã de quadrinhos] me comparou a outro cartunista – Bennet. Eu pouco sabia a seu respeito. Ele era o chargista do jornal Diário dos Campos. Naquela época houve, acredito, algumas exposições com seus desenhos. E o lançamento de um livro do desenhista. A Lídia tentou me levar para conhecê-lo, mas eu era bem mais tímido e introspectivo do que sou hoje, gostava de ficar em casa, e por isso o encontro jamais aconteceu. Foram necessários quase dez anos para que acontecesse... no mês passado.

Alberto Bennet estaria em Ponta Grossa na sexta-feira, às 19 horas, para o lançamento de sua nova exposição – “Bennet: quantas pílulas de sarcasmo você tomou hoje?” Uma pena que a rotina no jornal me impedia de deixar a redação antes das 21 horas. Fascinante que, justo naquele dia, consegui terminar o trabalho às 19 horas.

A Galeria do Centro Europeu, onde ocorreria a exposição, ainda estava praticamente vazia. Dei uma olhada nos desenhos já colocados nas paredes. Impressionante como o traço dele evoluiu nos últimos anos. E parece ser possível identificar quando Bennet teve mais ou menos tempo para fazer um desenho.

Enquanto olhava os cartuns e charges, em ideias que provocavam risos discretos, ficava imaginando qual seria a impressão quando o encontrasse. Sempre tive a sensação de que Bennet era um cara arrogante, que não perderia uma oportunidade de humilhar quem quer que fosse. Talvez por causa de raciocínios que pareciam implícitos em suas tiras. Temia fazer um comentário simpático e receber uma piada injusta em troca.

Bennet tinha conseguido viver do desenho, trabalhando para grandes jornais como a Gazeta do Povo e a Folha de S. Paulo. Isso não despertava em mim exatamente inveja. Era, na verdade, uma espécie de orgulho e esperança por saber que alguém tinha conseguido. Talvez por isso, essa conquista, o imaginava como um sujeito metido, que não se importa com as pessoas ao redor. É engraçado pensar que minhas impressões mudariam completamente a partir do momento em que o visse entrar na Galeria.

Bennet estava de boné, como sempre o vi nas fotos e desenhos. Conversou rapidamente com algumas pessoas e começou a ser entrevistado por algumas repórteres que estavam ali. Fiquei nas sombras, tentando decifrar qual era a dele. Mas ele não pareceu engraçado como imaginei que poderia ser. Foi sério em todas as respostas às perguntas das repórteres, que em seguida se retiraram, dando oportunidade para que eu me apresentasse:

- Bennet, eu sou Danilo. – disse, enquanto apertava sua mão.
- Danilo... o Danilo, do Jornal da Manhã? – perguntou, para minha surpresa – Eu conheço o teu trabalho... Desde a época da Lídia.

Bem, parece que minha amiga tinha criado um link entre os dois desenhistas antes mesmo do boom do twitter. Conversando com Benett, soube que ele desenha tudo no papel, para depois levar ao scanner e colorir no computador, da mesma forma que eu fazia até pouco tempo, antes de comprar uma mesa digitalizadora.

“E como funciona isso?”, ele perguntou. “E como vai o JM?” E então falei um pouco a meu respeito. Ele ouviu com interesse ou, antes, respeito tudo o que disse. Depois se retirou educadamente para conversar com outras pessoas.

Bennet é humano, afinal. No bom sentido da palavra. Em nenhum momento me pareceu arrogante, metido a engraçadinho. Quem sabe por causa do boné, imaginei que ele seria tipo o Sérgio Malandro, dando risadinhas e gesticulando feito maluco o tempo todo. Se revelou um cara comportado e educado. Talvez eu esteja manchando sua fama, com essa minha impressão.

Depois de alguns minutos, fui me despedir, e ele revelou mais uma vez sua cortesia. “É cedo ainda, fique... Olha, tem pão de queijo!”, disse, apontando para a mesa no hall de entrada, onde havia alguns salgadinhos. Peguei um.
“Ei! Isso é biscoito de polvilho!”, eu disse.
“Ora, então me enganei...”, falou Benett.
“Já que não tem pão de queijo, vou embora.”, falei. E fui, agora reconhecendo em Benett um desenhista bom e humilde. Só no dia seguinte me daria conta... esqueci de tirar uma foto com o artista. Fica para a próxima.

13 de jan. de 2011

Uma peça de museu no supermercado

Existem algumas coisas que poderíamos chamar de arcaicas, num mundo em que vários megabytes de informação são carregados em um equipamento do tamanho de uma unha. Por exemplo, há alguns meses comprei um CD para limpar drive de disco.

Sabe como é... o aparelho de som estava meio esquisito, não aceitava qualquer CD. Já estava rejeitando até os originais (e não estou falando dos Originais do Samba que, nada contra, mas não estão em meu acervo.

Coisa de louco o tal CD para limpeza. Você pinga duas gotas de um líquido especial, em um CD que vem no kit. Aí coloca no drive do disco, e fica ouvindo uma música clássica, enquanto o CD faz todo o resto, verificando o som e limpando o leitor ótico.

É estranho pensar nisso porque lembro que há 20 anos (sim, estou ficando velho), já existia algo muito parecido. Eram fitas cassete para limpar o “cabeçote” do toca-fitas do automóvel, por exemplo. Pingava-se a gota do líquido e deixava a fita rodar lá dentro.

Mais esquisito ainda foi me deparar com outro item, à venda no Supermercado Tozetto do Jardim Carvalho. Algo que eu sequer sabia que existia: um limpador de drive de disquete! Caracas... as livrarias praticamente nem vendem disquete mais, e se venderem não compensa a compra, já que os CDs são mais baratos e com maior capacidade.

Por isso foi bizarro encontrar nas prateleiras, com a mesma naturalidade com que se encontra um pendrive, o tal limpador de drive de disquete. Por apenas R$ 4,11, se você correr, ainda pode encontrar o objeto à sua disposição. E deve ficar ainda um bom tempo por lá. Alguém aí ainda usa disquete??

O que me lembra outra curiosidade: outro dia estive no Sebo Espaço Cultural, lá na Rua XV de Novembro. Estava dando uma olhada em filmes antigos em fita VHS [e me odiando por não ter um vídeo-cassete], quando encontrei duas fitas ainda emplastificadas. Fitas para gravação... as chamadas fitas VHS virgens!! Cerca de 95% dos filmes à venda ali custam apenas R$ 2. Mas essas duas fitas custam R$ 10 cada. Raridade é raridade...

12 de jan. de 2011

Será o fim dos Nokia 5000?

Depois de voltar de uma inesquecível viagem que inclui Guaraqueçaba, Morretes, Caiobá e Paranaguá, durante um dos períodos de chuva mais forte do ano, voltei ao dia-a-dia de Ponta Grossa. Uma das coisas mais comuns do mundo é ir ao supermercado, e acho que foi durante as compras que, sem perceber, perdi meu celular. Talvez tenha derrubado enquanto apanhava algo nas gôndolas. Talvez tenha caído do bolso quando entrei no carro no estacionamento.

O fato é que me dei conta de que não estava com o aparelho, duas horas depois. Liguei para o número, e percebi que estava desligado. A pessoa que estava de posse de meu telefone havia desligado o equipamento, o que denotava profunda má fé.

Fiquei realmente chateado. Não fazia nem dois anos que eu tinha adquirido o aparelho, e eu tinha feito uma verdadeira peregrinação para encontrar o modelo que mais se adequava às minhas necessidades. Na ocasião, terminei encontrando o simpático Nokia 5000. Disponível nas cores verde e roxo, optei pelo verde. Câmera razoável para registrar bons momentos, gravador de voz para registrar as entrevistas que faço para o jornal, e o menor peso e tamanho possíveis, de modo a não fazer volume no bolso. Ah, sim, e o preço mais em conta.

Era um aparelho perfeito para mim. Mas eu o havia perdido. No dia seguinte, após bloquear o chip e criar um novo com o mesmo número, entrei no site da Nokia, pois pensava seriamente em comprar outro idêntico. Mas não havia nenhum disponível para venda. Sumiram completamente de estoque.

Mais tarde, andei pelas ruas da cidade à procura do Nokia 5000, e não encontrei nenhum à venda. Tive que comprar outro modelo. Não é ruim o Nokia 2730. Tem uma câmera de vídeo um pouco pior, mas apresenta quase os mesmos recursos de seu antecessor, e custou dez reais a menos que o outro.

Mas, lamento ter perdido o celular antes de descarregar as fotos feitas entre Guaraqueçaba e Paranaguá. Viagem digna de maiores registros. No jornal onde trabalho, uma colega, a Juliana, tinha um aparelho igual ao meu, só que na cor roxa. O jeito era me conformar em voltar de férias vendo, eventualmente, o celular dela e sentindo saudades do meu.

Eis que volto de férias e encontro a Juliana com outro modelo de celular. “Ué? Que houve com seu outro celular”, perguntei. “Perdi... no Centro de Eventos”.

Aí comecei a pensar... será que perdemos, ou fomos realmente furtados? Não será tudo isso parte de uma conspiração para extinguir um celular perfeito? Alguém aí ainda tem o Nokia 5000 no bolso? Então, cuide bem dele.

6 de jan. de 2011

Sim, chegamos a Guaraqueçaba!

De volta das minhas férias, meu colega Alan, que trabalha na diagramação do Jornal, perguntou como eu tinha aproveitados as férias. Respondi que fui para Guaraqueçaba, achando que ele não compreenderia o alcance de minhas palavras, já que a maioria das pessoas não sabe onde fica isso, e apenas pensa que se trata de algum lugar em São Paulo. Em lugar disso, ele arregalou os olhos e perguntou: “Você conseguiu chegar?”

Sim, ele sabia do que eu estava falando...

***

Este ano tive, excepcionalmente, dois meses de férias. Um no início do ano, quando me concederam o descanso com cinco meses de atraso; o segundo em novembro. Isso porque solicitei que minhas férias viessem antes. Estava tão cansado, estressado, tal é o nível de concentração que o trabalho exige, que imaginei que não suportaria esperar até março novamente.

Foi bom... dediquei quase todas as férias a um período maior de meditação. Quase não viajei nem fiz grandes coisas. Eu e minha namorada fizemos apenas uma viagem um pouco maior até o município de Morretes (PR), onde já tínhamos ido no ano passado. Depois voltamos para Ponta Grossa, sem que eu tivesse matado minha vontade do prato típico da região, o barreado.

Mas a Pri exigia ao menos mais uma viagem nos últimos dias de descanso. Meu amigo Ben-Hur tinha enviado sugestão, via twitter, de uma pousada em um lugar chamado Guaraqueçaba (PR), perto do litoral, em plena Mata Atlântica. O site da pousada a fez parecer confortável e interessante. Via MSN, conversei com a proprietária, Carmen, e agendei dois dias de estada.

Para garantir que tudo correria bem, também agendei a revisão de meu Fiat Palio na concessionária Fiat CVL de Ponta Grossa. Havia atingido os 15 mil quilômetros rodados, e o manual especificava que era momento de um check up.

Dias depois, a revisão foi feita. Paguei pela troca de óleo e outros detalhes. Não foi barato, mas saí da oficina feliz por ser um sujeito precavido tal qual o bode Japeth do filme “Deu a Louca na Chapeuzinho”. Mas, no mesmo dia, notei que um ruído estranho tinha ficado sob o carro. Tive que levar novamente o veiculo à concessionária no dia seguinte. Uma peça havia sido deixada frouxa. Estranho foi que, a peça frouxa não fazia parte dos itens verificados na revisão.

Minhas teorias conspiratórias começaram a surgir. E nada tirava de minha cabeça que os mecânicos tinham colocado uma espécie de bomba relógio em meu carro, preparando uma armadilha para que eu precisasse futuramente de seus serviços.

No entanto, fiquei tranquilo depois que corrigiram o som estranho. Até que, cerca de uma semana depois, o carro começou a virar o volante, sozinho, para a esquerda. O alinhamento de rodas, de algum modo, não tinha cumprido seu objetivo. Outra vez levei à concessionária, e o problema foi corrigido.

Já sem muita confiança, dirigi por mais um ou dois dias, quando começou um ruído estranho no motor. Temendo que fosse algo grave, levei à CVL. O sujeito que veio me atender foi o mesmo das outras vezes. Seu nome: Édio. Apenas uma letra o diferenciava do “ódio” que eu começava a sentir daquele lugar. Diagnóstico: problema na bomba de água. Custo: quase R$ 900!!! E a revisão? Segundo ele, esse item não estava entre os verificados. Sei...

De posse do diagnóstico, levei o carro a outra oficina, que faria o mesmo serviço por bem menos. Mas a agenda do mecânico oferecia a manutenção apenas para a próxima semana. E nossa viagem estava marcada para dentro de dois dias.

Por um instante hesitei. E se a bomba de água desse problema justo durante a viagem? Iria fundir o motor e ficaríamos na estrada... Teimoso e, já tendo pago metade do custo da hospedagem, agendei o conserto para a semana seguinte, refiz o seguro do automóvel, fiz algumas fortes orações, e decidimos partir, em mais uma viagem rumo ao desconhecido.

***

Não saia de casa apenas com o mapa mental

Saímos na manhã de domingo. Um dia de mormaço. Seguíamos o mapa retirado da internet. O Google Maps informava que chegaríamos ao destino em cerca de quatro horas. A cada quilômetro eu observava no painel do carro a temperatura do motor, e torcia para não precisar ligar para a seguradora.

Tudo correu bem até que chegamos perto de Curitiba. Seguindo as indicações do mapa, virei à direita e percorri cerca de 20 quilômetros até que a Pri me convenceu de que podíamos estar no caminho errado, dado a raridade de placas indicativas.

- Assim vamos chegar no Rio Grande do Sul! – ela dizia, me mostrando que eu estava indo na direção dos pampas.

Parei num posto de gasolina e abordei o caminhoneiro que não estava bebendo cerveja, e que me disse que, de fato, se eu queria ir para Guaraqueçaba, deveria voltar por onde tinha vindo, e seguir no caminho da Paranaguá.

Desacorçoado, retornei o trajeto já feito, e passei a seguir as placas. Teria o Google Maps me traído pela primeira vez? Ainda pensava nisto quanto encontramos um mega engarrafamento. Durante cerca de uma hora ficamos presos sob o sol forte do meio-dia. A fome começava a nos atacar. Tiramos nosso kit de sobrevivência de dentro do porta-luvas: uma garrafa com água e um pacote de salgadinho Pingo d’Ouro.

O motivo do engarrafamento tinha sido a colisão entre dois caminhões, um deles carregado de salsichas. Em seguida pudemos continuar o caminho. Pagamos alguns pedágios. Então, olhei para o hodômetro, e reparei que já tínhamos rodado cerca de vinte quilômetros além de onde deveria haver uma estrada para Guaraqueçaba. Paramos numa lanchonete de um lugar chamado Campina Grande do Sul (outrora conhecida como “lar do Chupacabras”) para pedir informação. Teríamos feito um lanche, mas estávamos mais preocupados em encontrar o caminho.

A atendente, muito solícita, ofereceu o computador para que usássemos a internet novamente. Mas o Google Maps insistia em me dar o caminho que quase levava a Santa Catarina. A funcionária abriu um mapa que estava à venda no estabelecimento. Consultando os dados cartográficos, anunciou:

- Vocês estão quase chegando em São Paulo! Terão que voltar 20 quilômetros, passar novamente pelo pedágio. Ai vão encontrar o caminho, que já deixaram para trás.

Tomamos uns refrigerantes ali, e a Pri ligou para a dona da Pousada, e explicou que estávamos perdidos. Somando as orientações da lanchonete e da pousada, tivemos que retornar 20 quilômetros e passar outra vez o pedágio, onde nos informaram que o caminho mais curto, naquele momento, para Guaraqueçaba, era pela Estrada da Graciosa.

***

Um lindo caminho que eu preferia evitar

A Estrada da Graciosa é conhecida por ser apenas subida, ou apenas descida. Depende de quem vai ou de quem vem. O que todos concordam é que é um trajeto que “judia” do carro, do motor, dos freios. Nosso Palio estava pedindo sossego, depois de tantas incursões à oficina. Por essa razão, eu havia planejado viajar através de outros caminhos, e evitar a Estrada da Graciosa. Mas terminamos chegando até ali e, como já estávamos muito atrasados, decidi arriscar uma vez mais. Descemos a Estrada da Graciosa.

Pelos caminhos estreitos de paralelepípedos, entre arvoredos de hortênsias, percorremos a Estrada com tranquilidade, apenas um pouco tensos com a aparente chuva que se aproximava, depois de uma manhã de intenso calor. Chuva naquela estrada não é bom, porque as pedras ficam ainda mais lisas. Mas, alguns minutos depois, havíamos concluído mais essa etapa, encontrando uma placa que indicava as direções de Morretes, Antonina e, finalmente, Guaraqueçaba. Era a primeira vez que líamos aquele nome numa placa, desde que saímos de casa.

Seguimos por mais uns vinte quilômetros, até que encontramos uma entrada à direita, que indicava o caminho para Guaraqueçaba. Agora estamos perto, pensei. Tínhamos que estar. Afinal, fazia seis horas que estávamos na rodovia. Eu nunca tinha dirigido tanto. Dez metros depois, acabou o asfalto, e teve início uma tenebrosa estrada de terra, buracos, e muita, muita pedra. Não confundir com cascalho... cascalho é uma coisa legal perto daquilo.

Vinte quilômetros depois, encontramos algo que parecia ser um boteco. Apenas uma menina de uns dez anos estava em frente. “Guaraqueçaba é por aqui mesmo. São 70 quilômetros”, ela informou, e reafirmou diante de minha incredulidade. Mais 70 quilômetros numa estrada em que a velocidade oscilava entre 20 e 40 quilômetros por hora. Nunca mais que isso.

Mais dez quilômetros de muitas pedras, e começou a cair a chuva. Pense numa “CHUVA”...

***

Vá de celta pra Guaraqueçaba!

Ao nosso encontro vinham jipes, trollers, tanques de guerra... O carro mais comum que veio em nossa direção devia ser um corsa ou um celta... e estava sendo trazido por um caminhão-guincho. A essa altura do campeonato eu até já esquecia da temperatura do motor. Até porque, se houvesse qualquer problema, nem teria como acionar o seguro que eu tinha feito. Celular não tinha sinal ali. Estávamos vários quilômetros isolados da civilização. Comecei a me preocupar com o combustível. A previsão era de que chegaríamos ao destino com a gasolina quase na reserva.

Surgiu uma caminhonete. Fiz sinal para que parasse. Um sujeito simpático abriu o vidro, em meio a toda aquela chuva.

- Falta muito para Guaraqueçaba? – perguntei

- Mais uns 60 quilômetros. – ele disse

- Lá tem posto de combustível?

- Em Guaraqueçaba tem.

- Será que o Palio aguenta esse trajeto?

- Acho que sim... só vai devagar e cuidado com as pedras.

De posse do conselho, persistimos no caminho. E água que vinha do céu! Muita água! Paramos um instante, quando nem o limpador de pára-brisas vencia o volume pluviométrico. A Pri estava num nível de tensão bem pior que o meu. Uma mão agarrada ao assento do banco, a outra agarrada firmemente à porta. Olhos fixos na estrada, sempre me alertando para as pedras e buracos maiores.

Tanto alerta me cansou, e passei o carro para que ela dirigisse um pouco, algo que achei que a tranqulizaria. E assim fomos, com a Pri desviando um pouco dos buracos e rochas gigantes, até que chegamos a uma encruzilhada. Novo boteco. Os caras que bebiam cerveja (onde quer que você vá, sempre tem caras bebendo cerveja...) informaram que o caminho era o da esquerda, por mais 40 quilômetros. Só então vi uma placa, já encoberta pela vegetação da Mata Atlântica, que dizia: “Guaraqueçaba”. E apontava, de fato, para o caminho da esquerda.

Retomei a direção, e seguimos pacientemente o trajeto indicado. Já tinha me acostumado a desviar das rochas, mas ainda me surpreendia com algumas pessoas que, de vez em quando, víamos passando a pé, no meio do nada. Já devíamos estar quase concluindo os 40 quilômetros indicados, quando um grupo de três ou quatro pessoas passou, e um ou dois sujeitos gritaram alguma coisa. Me distraí olhando para o retrovisor, e passei rapidamente por uma das pedras que deveria ter desviado.

Paramos o carro para dar uma olhada. Mas tudo parecia normal. O pobre Palio realmente não era fraco. Todas aquelas pedrinhas espirrando para todo o lado e as pedras maiores a ameaçá-lo. A Pri dizia que nosso Palio era uma Troller disfarçada.

***

É aqui que é aqui?

Enfim, depois de três horas de estrada de pedras e buracos, e outras seis horas de rodovias, chegamos a um pequeno povoado, onde várias casas de madeiras tinham placa de vende-se.

Paramos diante de uma delas, que tinha uma inscrição que fiz questão de fotografar:

“VENDE-SE. DUVIDO QUE VENDA. SE VENDER, NÃO ACREDITO”.

Eu ainda tirava a foto com meu celular quando uma menina de cerca de sete anos se aproximou, e a Pri aproveitou para pedir informação.

- Estamos muito longe de Guaraqueçaba?

- Vocês já estão em Guaraqueçaba. – a menina respondeu, enquanto eu ria da resposta.

A menina foi precisa ao indicar o caminho da pousada. Apenas mais umas três quadras. Começava a escurecer quando chegamos diante de uma pequena placa que dizia “Pousada Flor da Serra”.

A casa parecia uma mansão. Ao menos a viagem tinha valido a pena! Subi a rampa de acesso e dei duas buzinadas diante da construção de dois andares. “Já que demoramos tanto, os donos da pousada devem estar nos esperando”, pensei.

Um casal surgiu na sacada. Foi aí que, depois de comentários da Pri, me dei conta de meu erro. Ali era terreno particular. O casal me orientou a dar ré e continuar mais alguns metros. Foi então que vi que a placa que eu havia lido estava parcialmente encoberta pela vegetação (aparentemente, algo comum na região). Havia uma seta indicando que a pousada era mais adiante.

***

Uma decisão quase imediata

Paramos diante da tal pousada. Um sujeito estranho apareceu quando descarregávamos a mala. “Até que enfim chegaram”, ele disse. Seu nome era Odyr, e já começou fazendo uma revelação que não me agradou. Embora eu achasse que tinha conversado ao MSN com sua esposa, Carmen, era ele quem falava comigo pela internet. Perdi a confiança nele naquele momento.

Ele nos mostrou o caminho até nosso quarto e, no caminho, vi a piscina que não aproveitaríamos. Simplesmente chovia demais. Há tempos eu não via tanta chuva.

Estávamos suados, cansados, grudentos e famintos. O Pingo d’Ouro tinha sido a refeição do dia. Mas, quando perguntamos por comida, veio a informação ruim: a pousada só oferecia o café da manhã.

“Mas tem restaurantes para vocês fazerem uma refeição. Servem pizza”, disse Odyr. A informação nos tranqüilizou. Mas ele, em seguida, eliminou nossos planos de apenas tomarmos banho e irmos à procura de alimentação. “Tomem um banho, acomodem suas coisas, depois voltem aqui [na recepção]. Vocês ficarão mais dois dias, então precisamos traçar um roteiro para que vocês possam fazer o melhor aproveitamento do período que ficarão aqui”.

O quarto era pequeno. Tinha velhas persianas na janela. Uma cama, um criado-mudo e um ventilador. Ao entrar, quase caímos, tal era o desnível do assoalho, que tinha quase o formato côncavo. Logo de cara, notei teias de aranha nos cantos do teto, e antipatizei com todo o resto.

Deixei que a Pri fosse tomar um banho, enquanto eu ia ligar para nossos pais, apenas para avisar que havíamos chegado bem. Sim, embora o celular não funcionasse ali, havia telefone fixo. Depois voltei e também tomei um banho. O box tinha uma cortina de plástico que ficava grudando na pessoa que estivesse tomando banho. O chão estava empoeirado, e sujei o pé assim que saí do banheiro.

De posse de profunda reflexão e intensa aversão ao lugar, anunciei uma tomada de decisão para minha namorada:

- Olha, Pri. O lugar é péssimo. Veja essas paredes como estão sujas! O chão é desnivelado e não tem TV, nem frigobar! Além do mais, com tanta chuva, como vamos aproveitar o passeio? Eu proponho que a gente saia, faça uma refeição num restaurante, passamos a noite aqui, e amanhã de manhã vamos embora. Pegamos toda essa estrada ruim de volta e vamos para a praia de Caiobá ou Guaratuba, e ficamos em outra pousada por lá.

A Pri concordou imediatamente. Havia bastante lucidez nos meus argumentos. Voltaríamos no dia seguinte.

***

Fooooooome!

Mas, embora estivéssemos decididos a ir embora no dia seguinte. Ainda estávamos com fome. Não tínhamos almoçado, e era mais do que hora de comer alguma coisa. Fomos buscar informações sobre onde jantar.

Antes de nos dar a informação, Odyr quis mostrar o que poderíamos fazer no dia seguinte. Sugeriu um passeio até a Ilha do Superagüi e sua praia deserta, onde poderíamos ver o mico-leão dourado. Ou uma incursão a uma cachoeira não muito longe dali. As duas sugestões nos pareceram pouco convidativas. A Ilha exigiria o pagamento de R$ 160 numa travessia de barco, e visitar uma cachoeira não é o melhor programa para um dia de chuva, como parecia prometer o tempo naquela noite.

“O passeio de barco pode sair mais barato se vocês dividirem o valor com o outro casal que está hospedado conosco”, comentou, acrescentando “...apesar de que existe um limite de peso e o barco pode virar com muita gente”. O sujeito tinha a mania de destruir as próprias sugestões que fazia.

Insistimos no roteiro para o lanche, já que a Pri estava ficando verde de fome. Finalmente, Odyr rabiscou em um pedaço de papel um breve roteiro. Segundo ele, havia uma rua principal à beira-mar, onde três restaurantes ou lanchonetes nos esperavam. E um outro local no caminho para lá, onde poderíamos comer pizza. Ao ouvir a palavra pizza, vi os olhinhos de minha namorada brilhando.

Foi mais ou menos neste momento que surgiu diante de nós um sujeito de poucas palavras chamado Álvaro. Ele era o outro hóspede da pousada.

- Como está a esposa? Mais calma? – perguntou Odyr, ao que Álvaro deu a entender que a digníssima mulher, por algum motivo, não estava boa da cara.

Nisso, algo bizarro aconteceu. Querendo tornar mais agradável a estada do casal, Odyr ofereceu carona aos dois, até a rua principal, onde eles poderiam fazer um lanche. Nada de mais, só que ele ofereceu carona no nosso carro!

- Eles estão indo de carro fazer uma refeição... você e sua mulher podem ir junto... – disse, na maior cara de pau.

Eu e a Pri não tínhamos intenção de oferecer carona a ninguém. No entanto, como a oferta tinha sido feita diante de Álvaro, não ficava de bom tom recusar. E assim, aguardamos a esposa do hóspede, Cléa, que afinal se revelou pessoa agradável, e juntos seguimos pelas ruas cobertas de poças d’água, rumo a algum restaurante.

***

As alternativas vão se esgotando...

Seguimos o mapa esboçado por Odyr, e no caminho descartamos duas opções de restaurantes, incluindo o que oferecia pizza. Ambos estavam fechados. Seguimos até a tal rua que ficava à beira-mar. Era uma grande praça, com uma mureta diante da baía. Do lado esquerdo estava o único posto de combustível, nossa oportunidade de ir embora, e que naquele momento estava fechado. Do lado direito, dois restaurantes e uma lanchonete, dos quais apenas a lanchonete estava aberta.

Naquele momento a chuva voltou com intensidade. Terminamos optando pela única alternativa possível: a lanchonete. Álvaro e Cléa nos acompanharam, e foi durante esse tempo que soubemos um pouco mais sobre o casal. Ambos vinham de Manaus, e estavam acostumados a fazer viagens, mas ficaram surpresos com Guaraqueçaba, assim como nós.

Antes de chegarem àquele fim de mundo, onde só era possível chegar após 40 minutos de voadeira (uma espécie de barca), três horas (sofridas) de automóvel, ou sabe Deus quanto tempo em um sacolejante ônibus, os dois estiveram em Paranaguá. Lá encontraram, ao menos, lugar para fazer uma refeição, e puderam ver o fandango, dança típica local.

Mas, Guaraqueçaba sequer abria suas portas aos domingos. Encontramos uma cidadezinha fantasma, onde a salvação de nossos estômagos foram os salgados daquela simples lanchonete, que também poderia ser chamada de boteco, única aberta da lista contida no mapa feito pelo dono da pousada.

Enquanto conversávamos, trocávamos impressões a respeito da pousada Flor da Serra. Sem saber, Odyr havia unido dois casais insatisfeitos. Em lugar de nos convencer a irmos juntos para um passeio até a Ilha do Superagui, ele fez com que ampliássemos nosso desejo de ir embora.

Cléa nos contou que estava mais indignada porque, ao chegar, Odyr a advertiu sobre as cobras que poderiam estar dentro do quarto. E que ela deveria dar uma boa olhada antes de entrar. Aliás, foi algo que ele não nos alertou.

- Em Manaus existem cobras... mas são todas domesticadas! – brincou Cléa.

De fato, as portas dos quartos estavam todas abertas quando chegamos de viagem. Nem sequer olhamos embaixo das camas. Haveria soro antiofídico naquele lugar onde muitos tentavam, sem sucesso, vender suas casas?

A Pri devorou rapidamente uma coxinha, enquanto eu comia outro salgado. Segundo ela, era a melhor coxinha do mundo. Com certeza a opinião era reflexo da fome. Ela resolveu pedir mais uma, e descobriu que aquela tinha sido a última coxinha da casa. Confesso que tive pena dela. Mas, estávamos no mesmo barco. Felizmente, em terra firme. Ainda esperamos para ver se algum dos restaurantes abriria. Como a resposta foi negativa, compramos mais um refrigerante, um salgadinho, um pedaço de torta de limão, e retornamos os quatro para a pousada.

Eu e a Pri voltamos com certeza ainda maior de que íamos embora pela manhã. Cléa e Álvaro estavam avaliando se ficariam mais um dia apenas.

Ao chegar à pousada, Odyr perguntou se íamos fazer o passeio no dia seguinte.

- Acho que não, hein... – disse a Pri

- A previsão para amanhã é de tempo limpo – ele comentou, enquanto procurávamos ir para o quarto, e fugir da chuva que não parava de cair.

“Acho que não, hein...”, pensei.

Ao longe, o barulho de coiotes se fazia ouvir. A Pri me disse que, na verdade, eram motosserras. Uma boa olhada sob a cama confirmou que não havia serpentes ali. Os pernilongos não nos atacaram. O ventilador deve ter espantado boa parte deles. Um ruído se fez ouvir no teto. Acendi a luz. Não vi nada, a não ser o vulto de uma lagartixa, mais tarde. Numa noite abafada, após um dia cansativo, dormimos com o barulho da chuva que não parava, esperando um novo dia para ir embora.

***

Carpimos o trecho!

Acordamos e deixamos a mala semipronta para irmos embora. Atravessamos rapidamente sob a chuva que caía e fomos tomar o café. Isso, ao menos, era servido na pousada. Logo depois de nós, Álvaro e Cléa também chegaram. Em relativo silêncio, ainda com sono, comemos um pãozinho com queijo e um pedaço de bolo.

Odyr nos cumprimentou com um bom dia, e emendou: “Dia de chuva é complicado, porque não dá pra fazer nada”. Lá vinha ele trazendo mais argumentos para irmos embora. Terminado o café, fui até ele e revelei que estávamos de partida.

Nada falei sobre o fato de não ter gostado muito da pousada. Mas mencionei outra grande verdade: “gosto de natureza, mas nem tanto a ponto de viver sem um pouco da agitação urbana, uma TV e um frigobar”.

Ele aceitou muito bem, até eu dizer que queria de volta o dinheiro referente à diária da qual não iríamos usufruir. Me disse que teria que ligar para a esposa para ver se ela iria deixar. Fiz questão de lembrar que eu tinha feito negócio com ele por MSN, revelação essa (surpreendente) que ele mesmo me fez quando chegamos. Depois de um princípio de discussão, consegui arrancar metade do valor de volta. “Assim dividimos o prejuízo”, argumentou, dizendo que teria que pagar pela limpeza dos quartos, que já estava contratada. Espero que tenha sido verdade, porque tinha muita poeira lá dentro.

Nos despedimos de Álvaro e Cléa, e voltamos ao Palio, antes que a chuva, então mais calma, nos molhasse em demasia. Segundo Odyr, havia apenas um trecho que da estrada que podia estar alagado. Mas, conhecendo o caminho tortuoso, foi mais fácil guiar. E também mais tranquilo. Eu e a Pri estávamos menos tensos e, pra falar a verdade, à medida que nos distanciávamos de Guaraqueçaba eu me sentia melhor. Mal esperava para ver novamente meu celular com sinal de torre.

Como disse minha namorada... alguma coisa muito ruim deve estar aprisionada em Guaraqueçaba, para que tenham tornado tão difícil chegar até lá. As três horas de viagem pareceram apenas uma. Num instante chegamos até Morretes, a tempo de eu comer o barreado que desejava, e a Pri comer o peixe que queria.

Enquanto almoçávamos, no restaurante à beira do Rio Nhundiaquara, que corta a cidade, nos surpreendíamos com a altura das águas, que deviam ter subido pelo menos três metros. Um coqueiro inteiro passou flutuando, carregado pela correnteza. Tudo isso fotografei com meu celular, sem saber que mais tarde eu o perderia. Mas aí é outra narrativa. Na verdade é a mesma. Mas é melhor parar por aqui, senão essa história não termina nunca.

Basta dizer que tenho pouquíssimas fotos da viagem, pois meu celular é que estava com a maior parte dos registros da viagem até Guaraqueçaba. Depois de Morretes, fomos a Caiobá e Paranaguá. E, se não há fotos para provar, ainda assim há muito para lembrar.

De volta das minhas férias, meu colega Alan, que trabalha na diagramação do Jornal, perguntou como eu tinha aproveitados as férias. Respondi que fui para Guaraqueçaba, achando que ele não compreenderia o alcance de minhas palavras, já que a maioria das pessoas não sabe onde fica isso, e apenas pensa que se trata de algum lugar em São Paulo. Em lugar disso, ele arregalou os olhos e perguntou: “Você conseguiu chegar?”

Sim, ele sabia do que eu estava falando...