11 de out. de 2010

Viagem a Rio Azul - parte 2

Conhecendo a produção de amoras

Para fazer uso da internet wireless aqui da pousada, precisei de ajuda. Inicialmente, acreditei que poderia fazer isso sozinho, peguei o telefone e liguei para o Marcos. “É bem simples...”, ele disse. Mas a rede não foi detectada, e precisei levar o netbook até o sujeito para que ele configurasse. Enquanto caminhava pela trilha de pedrinhas que conduzia à casa do cidadão, notei que a rede tinha, enfim, sido detectada. Mas aí o Marcos já estava vindo ao encontro, então aproveitei para pedir a ele um “T” emprestado.


Foi assim que pude recarregar a bateria do computador...

Bom, isso foi ontem. Hoje, o plano era irmos até a tal fábrica de framboesas que existe na cidade. Ao pedir informação ao Marcos sobre como chegar lá, o início da resposta foi “É bem simples”. Aí vi que podia ser um pouco mais complicado. Mas, segundo ele explicou, não ficava longe. Bastava seguir o asfalto até o trevo na saída do município, e então seguir por outros seis quilômetros por uma estrada de cascalho.

Íamos entrar no carro, quando notei que um passarinho saía voando rapidamente, da frente do espelho lateral do Palio. No dia anterior, havíamos percebido que o pardal gostava de ficar se olhando no espelho, e parecia acreditar estar vendo outro animal da mesma espécie. Ontem dissemos “que bonitinho...” Hoje dissemos “que cagada!” O bichinho riscou o espelho, parte da lataria e ainda cagou em toda a parte superior do retrovisor!

Deixando o pardal para lá, seguimos rumo ao caminho indicado por Marcos. Chegamos ao trevo e pegamos a primeira estrada de cascalho que encontramos pela frente. A Pri ficou com medo depois que vimos que a estrada levava apenas a um pequeno barracão, com uma fornalha acesa.

Voltamos, e somente então encontramos outra estrada de cascalho. Um casal que empurrava carrinho com bebê nos informou... era realmente aquele o caminho para a indústria Framora. Cerca de seis quilômetros depois, em uma estrada com alguns buracos, chegamos a um local onde uma placa, à direita, anunciava: “FRAMORA”.

Entrando com o carro, vimos que um senhor estava na varanda da casa, e imaginamos que deveria ser o proprietário. Guilherme Gurski é descendente de poloneses, e natural de Rio Azul. A sua fazenda, no lugar onde está hoje, ele possui há cerca de 30 anos. Há cerca de 15, depois de levar um prejuízo de cerca de R$ 200 mil com a plantação de batatas, decidiu investir em outra coisa. Optou pelas frutas vermelhas: framboesas, amoras e morangos.

O início, ele conta, foi difícil. Mas depois de cerca de dois anos pegou o jeito do novo trabalho, mesmo com muita gente dizendo que não daria certo. “Aqui em Rio Azul a grande maioria das pessoas planta fumo. Mas eu já disse que é um erro, porque vai chegar um momento em que vai ser proibido. E aí os agricultores precisam estar preparados, tendo uma cultura diferente para o sustento”, comenta.

De fato, Guilherme é um homem à frente de sua época. Enquanto todos diziam que as amoras não dariam retorno, ele arriscou e obteve êxito. Em cerca de um hectare, ele produz aproximadamente 12 toneladas de amoras por ano. Ainda tenta formar uma cooperativa. Com 200 toneladas seria possível exportar a produção. Por ora, serve para gerar renda para a família, e para pagar cerca de quatro funcionários contratados por ele na época da colheita.

Parte das amoras é vendida in natura. Mas muito do que é colhido, Guilherme industrializa em sua propriedade. No lugar onde ele chama de “fabriqueta”, ele nos mostra os equipamentos que adquiriu através de financiamento. São máquinas de fazer sucos e câmaras frias. Numa delas, boa parte da produção de 2009 continua armazenada, entre itens industrializados e amoras em caixas.

“Comecei guardando todas as amoras em freezers. Eram oito freezers e ainda faltava lugar”, explica Guilherme, que não viu saída senão trabalhar com os derivados das frutas. Numa sala ele guarda, em prateleiras, geleias, vinhos e licores das frutas que produz. Tudo cuidadosamente envasado, etiquetado, e já com os preços à mostra, para os visitantes que vêm conhecer sua propriedade e o trabalho com amoras.

No entanto, ele reclama da falta de apoio para o trabalho. A burocracia para manter a propriedade e a produção é muito grande. A venda das amoras se complica para alguns mercados, porque, apesar de ser produto totalmente orgânico, a obtenção do selo que atesta isso também exige burocracia. Ele já buscou apoio também em Curitiba. Verba para isso existe, já que o governo incentiva ao produtor a procura por culturas alternativas ao fumo. Mas, por razões puramente políticas, segundo ele, esse incentivo financeiro não chega.

Quando ele diz isso, não se refere apenas à produção e venda de amoras, mas também ao turismo rural. Depois que seu trabalho ganhou destaque em algumas reportagens na televisão, até mesmo pessoas de outros estados, como do Rio de Janeiro, estiveram em sua fabriqueta. Mas as estradas para chegar ali são ruins, não há sinalização nem propaganda, salvo a parceria com a Pousada Villa Vitória, que nos indicou a visita ao local.

Enquanto isso, a produção de fumo continua em alta na região. Até o momento que, de uma hora para a outra, o plantio de fumo não for mais permitido. “Aí todos vão correndo ter que aprender a plantar outra coisa. Esse é o momento de buscar uma alternativa”, ensina Guilherme Gurski que, além de dar o pontapé inicial no plantio de algo diferente na região (apenas mais um agricultor trabalha com amoras nos arredores), também tem consciência ambiental.

Toda a área onde, no passado, ele desmatou para o plantio de feijão, batata e milho, hoje ele está reflorestando. “Estou quase saldando minha dívida com a natureza”, ele diz, mostrando uma nova mata que se ergue atrás de sua casa, onde antes só havia campo.

Deixando de lado o aspecto mais mercadológico da produção de amoras, Guilherme Gurski vive bem em sua terra. A casa é confortável, e a hospitalidade dos donos (ele e sua esposa, Maria, nos receberam muito bem com um delicioso suco de frutas vermelhas com laranja) é inquestionável. Eles têm vocação para se relacionar com as pessoas.

Mas já passava de 11 horas, e o assunto estava rareando, de modo que compramos dois litros de licor e um pote de geleia, e partimos de volta para a pousada, onde almoçaríamos em seguida.

***


Almoçamos na pousada. Macarrão ao molho branco. Apenas mais um casal no restaurante. Nada do Dedé... talvez ele não tenha vindo para cá. Fomos, enfim, até a tal pedreira. Não fica muito longe também. A entrada não é cobrada. É um lugar até bem cuidado. Talvez porque não tenha tanto público, ou porque estivemos no local em plena tarde de segunda-feira. Caminhamos por uma trilha. Nenhum bicho à vista, a não ser os malditos mosquitinhos “porva”, que insistem em me atacar. Mas não é possível chegar junto da cachoeira. Não há grandes espaços com areia, apenas pedras. A água não é tão cristalina. Fica mais num tom verde, embora não pareça poluída.

A lanchonete do local estava fechada. Ficamos ali por algum tempo, até os ataques de insetos se intensificarem contra a minha pessoa. Depois demos olhada em uma gruta na qual havia uma imagem de Nossa Senhora e algumas velas acesas.

Retornamos à civilização, onde compramos gêneros alimentícios antes de retornar à pousada. Não pude formar uma opinião sobre as pessoas daqui. Marcos e Guilherme são pessoas voltadas para o turismo. Em algumas lojas onde estivemos, as funcionárias me pareceram atenciosas com a clientela. Um bêbado andava pela rua ameaçando assaltar duas mulheres, que faziam piada dele. A principal rua do centro não é muito movimentada. Vi agências do Sicredi, Banco do Brasil e Itaú. Um bom supermercado. Uma carroça. Alguns ciclistas. Parece ser lugar tranquilo. Bom para passar alguns dias, mas não consigo me imaginar vivendo assim. Preciso de barulho, poluição, agito... correria. E cinema... “Tropa de Elite 2” está em cartaz.

Amanhã devemos voltar a Ponta Grossa, e talvez tenhamos tempo de ver o filme. Mas, primeiro, veremos se conseguimos permissão para visitar a tal Igreja do Michelangelo de Rio Azul. Veremos...

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