6 de nov. de 2013

O Especialista

Semana passada acordei e, ao sentar na cama, percebi uma sensação incômoda no ouvido direito. Reparei que o sintoma surgia cada vez que eu me levantava ou abaixava. Comecei a recuperar meu histórico de enfermidades que, felizmente, [ainda] é reduzido, e julguei que poderia ser indicativo de que minha sinusite alérgica estava de volta.

É que, há quase dois meses, peguei um resfriado nos primeiros dias de minhas férias. Tratei com xaropes e ignorância, e acabei julgando estar curado. Mas, agora, observando sintomas, notei outros problemas. A começar pelo número exagerado de vezes que passei a assoar o nariz, crises de espirro diárias e sensação de congestão nasal.

Somado a isso, meus óculos pareciam comprimir os seios (ui!) da face na região do nariz, justo o local normalmente afetado pela sinusite. E imaginei que estava um pouco inchado, indicando inflamação.

Sem alternativa, e tendo adiado isso por quase 60 dias, precisei ir ao médico nessa terça-feira. Mas, diante de um dos melhores especialistas em pneumologia da cidade (o mesmo que diagnosticou minha sinusite dois anos antes) me senti ainda mais ignorante. Na verdade, a consulta foi humilhante, aviltante, degradante.

O médico perguntou quais sintomas eu tinha, e narrei basicamente o que está descrito aqui nos primeiros parágrafos. Foi quando ele iniciou os exames. O primeiro deles, no ouvido. Primeiro o esquerdo, depois o direito. "Aqui você não tem nada. Só um pouco mais de cerume no ouvido direito", disse, sendo educado para não falar que meu ouvido estava quase entupido de cera.

Depois, sobre os óculos estarem apertando a região do meu nariz, ele disse: "Me empresta seus óculos". Pegou e, entortando a peça que apoia o óculos sobre o nariz [chamada "ponte"], abriu um pouco, deixando mais folgada. "Melhorou?"

Claro que depois, ele receitou um hemograma e um raio-x dos seios da face. E é muito provável que depois disso venha a apresentar um diagnóstico bastante preciso, como ocorreu dois anos atrás. 

Mas saí do consultório me sentindo bastante tolo, e duzentos reais mais pobre.

Às vezes eu queria ser mais especialista e menos ignorante no que tange à medicina.

1 de nov. de 2013

A música que nos toca

"Quem canta seus males espanta", diz um ditado antigo, que já deve ter virado canção algum dia. Talvez por isso eu cantarole música velhas ou antigas, jingles ou músicas religiosas, trilha sonora de desenho animado ou videogame, logo pela manhã, logo depois de levantar da cama.

O filósofo Clóvis de Barros Filho, em uma brilhante entrevista que concedeu ao apresentador Jô Soares, demonstrava que a felicidade consiste em momentos, e que cada um capta essa felicidade de formas diferentes. Em tom de brincadeira, disse que pessoas que acordam cantando "são pessoas do mal" e que é preciso ter cuidado com elas. Afinal, ele próprio levanta da cama com preguiça e dificuldade, diante de um dia inteiro que ainda está por acontecer.

Mas é a música que no move, às vezes, mesmo que não notemos. Tenho por costume dirigir em meio ao trânsito de minha cidade ouvindo um dos CDs lançados por meu amigo pianista Newton Schner Jr.. Sinto-me transportado à calma que não possuo e à tranquilidade que não faz parte do tráfego intenso dos horários de pico. É minha trilha sonora entre a casa e o trabalho em 80% dos meus "dias úteis".

Só que tem vezes em é preciso ouvir algo diferente. Hoje, por exemplo, contrariando minha própria crença de que ouvir música em volume alto no carro é para imbecis, troquei o CD para um da banda Pedra Letícia, e coloquei o som no 23, tomando o cuidado de fechar os vidros nos semáforos, para não irritar os demais motoristas, que certamente dirigem com uma arma de fogo no porta-luvas.

Tem dias em que a irritação ou descontentamento não pode ser suprimida pela música de piano. Em lugar disso, temos que aliar a música à sensação que já está presa à nossa mente. Colocar uma batida mais violenta, como aquela que aflige o coração. Tem dias em que não dá pra vencer... é preciso juntar-se a esses sentimentos. Daí vem o som alto, que outros preferem manter nesse volume alto sempre. Talvez porque já cansaram, ou nunca tiveram coragem de tentar lutar.

18 de set. de 2013

Colesterol ruim

Uma reportagem exibida ontem pelo Jornal Nacional informava a respeito da redução do limite de LDL (colesterol ruim) no sangue. Até agora o nível tolerável era de 100, mas uma nova diretriz da Sociedade Brasileira da Cardiologia coloca como 70 o máximo recomendado pela medicina.

Com isso, muitas pessoas até então consideradas nos níveis normais de LDL, passam a fazer parte do grupo que necessita de medicamentos e cuidados na alimentação para garantirem saúde ideal. A notícia foi dada um dia antes de minha esposa, Priscila, buscar o resultado de um exame de sangue completo. No resultado, ela está dentro dos níveis toleráveis antigos, e passou raspando pela nova diretriz... Está com 69.9 de LDL no sangue.

Conversamos com um especialista que nos revelou existir uma linha da medicina que contesta essa redução nos limites toleráveis de LDL. Diz uma teoria da conspiração que a redução tem como objetivo aumentar a venda de medicamentos específicos para o problema. Há mesmo pesquisas que apontam a importância da manutenção dos níveis de LDL para colaborar com a produção ideal de hormônios, especialmente em mulheres.

Enfim, é o tipo de coisa que dificilmente será publicado na mídia mais conservadora. Até porque, difícil é encontrar um especialista que fale abertamente, ao grande público, que o resto do mundo está errado. Mas, vale a pena questionar até que ponto o colesterol ruim é ruim, ou até que ponto ele é bom... para a economia mundial.

17 de set. de 2013

Gato? Onde?!

Sempre preferi cães em lugar de gatos. Mas os tempos são outros... Antigamente, eu não me via morando em uma casa sem quintal, por exemplo. Mas, agora, vivo com minha esposa em uma dessas residências contemporâneas desenvolvidas para serem úteis para todo mundo, mas com pouquíssimo espaço ocioso. Ter um cão se tornou impossível. Mas um gato...

Bom, a ideia de ter um gato não me agradava. Mas minha esposa, Priscila insistiu tanto nessa ideia,que acabou conseguindo me convencer. E aqui estou eu, com um filhote de gato persa cochilando ao meu lado. Por algum motivo, ele percorreu os cômodos da casa pela primeira vez, e foi gostar justamente dos cantos mais escuros da casa. Ou mais quentes...

Ele estava passando um pouco de frio na loja quando o vi pela primeira vez. Acho que mesmo aqui em casa ele sentiu um pouco de frio. Por isso, preferiu três lugares na casa. O primeiro, foi a parte de trás do sofá, meio enrolado nas cortinas. O segundo foi a parte de trás da geladeira [de onde voltou com um pouco de poeira]. O terceiro foi ao meu lado, no sofá.

Fico tentando imaginar o que ele pensa quando me observa caminhar pela casa. Ele olha os cantos e objetos com curiosidade. Pode ser que seja uma boa fonte de ideias para minhas tiras em quadrinhos. Mas também há o risco de me aproximar de trabalhos como de Jim Davis, ou Simon Tofield... Ou não.

Veremos...

30 de ago. de 2013

Dia histórico em PG - o destino de Ana Maria

Hoje é um dia histórico... e redundante. Qual dia não é histórico?

O fato é que hoje devemos saber qual será o destino da vereadora de Ponta Grossa Ana Maria de Holleben (hoje sem partido, antes PT), cujos relatórios apontam ter forjado o próprio sequestro no primeiro dia do ano, quando começou a novela que completa, depois de amanhã, oito meses.

Depois que a Comissão Parlamentar Processante (CPP), instalada para analisar o caso, concluiu que houve quebra de decoro, a votação - não secreta - dos vereadores municipais irá definir se Ana Maria tem, ou não, seu mandato cassado.

No meio político, é um debate incômodo. No popular, é motivo de indignação. No jornalístico, é cansativo. Oito meses acompanhando, direta ou indiretamente, relatórios, conversas e acusações que pareciam não levar a lugar algum. Em meio a problemas de saúde apontados pela vereadora como justificativa para seu súbito desaparecimento em um dia em que seu voto ajudaria a definir o nome do presidente da Câmara, os repórteres das editorias de Política e Polícia se viram em dúvida sobre quem iria cobrir a pauta, naqueles primeiros dias de 2012.

E até o repórter de Cotidiano [yo] se viu entrevistando o investigador de polícia em plena Câmara dos Vereadores. Sim... a história era complexa.

A votação de hoje, na Câmara Municipal de Ponta Grossa, promete ser um final digno dessa história confusa, que ganhou repercussão nacional e deu o pontapé inicial para a sequência de fatos bizarros, cômicos, incomuns ou apenas inéditos deste ano.

A saber, por aqui: um banheiro transparente, um ganhador da mega-sena (e cadê ele?), uma visita da presidente Dilma, uma manhã com neve, o lançamento de meu primeiro livro [sendo preparado desde 2008].

A saber, no mundo: um papa renunciando, um meteorito caindo na Rússia, um novo papa argentino [!], a visita do próprio papa ao Brasil, em meio a ventos solares e protestos com multidões pipocando em inúmeros cantos (e até em PG) do planeta.

16 de jul. de 2013

Dilma visita Ponta Grossa

A cidade de Ponta Grossa amanheceu com neblina e, até onde pude ver, sem a geada que o serviço meteorológico ameaçava existir nos telhados. Mas nem a geada, nem a neblina, são o assunto do momento na cidade. Nesta terça-feira não se fala de outra coisa, senão da vinda da presidente da República, Dilma Rousseff, que deve chegar de helicóptero ao município, nas próximas horas.

A presidente vem até aqui, juntamente com uma porção de ministros, para realizar a entrega oficial de 1.438 casas populares inscritas no projeto Minha Casa Minha Vida e, também, para entregar 42 máquinas retroescavadeiras aos municípios do Paraná. Garantia de habitação e de deslocamento pelas estradas vicinais do Estado.

Essa solenidade causa grande alvoroço em Ponta Grossa. Especialmente no meio político, empresarial e das comunicações. Ontem pela manhã, saí de casa para levar a Pri ao trabalho e já alertei minha esposa de que o expediente de segunda-feira na redação, muito provavelmente, iria até mais tarde, em razão da vinda da Dilma. Ela não entendeu... Por que eu ficaria no trabalho até mais tarde, se a Dilma só viria à cidade no dia seguinte? Bom, eu também não sabia direito. Mas, intuitivamente, eu sabia.

E, na tarde de ontem, o Jornal decidiu fazer duas páginas só sobre a vinda da presidente. O que ela vinha fazer? Qual trajeto ela faria? A que horas chegava? Até que horas ficava? Quantas casas seriam entregues? Que ministros estariam junto com ela? O que as entidades representativas da cidade achavam de tudo isso? Quem foram os presidentes que já vieram à cidade? Temos fotos de quando eles vieram?

Juntamente com os amigos Daniel Petroski e Fernando Rogala, passei a tarde tentando responder a essas e outras perguntas, o que me fez ficar, pelo menos, três horas a mais na redação. Mas, o que eu realmente queria responder, eu não podia.

Desde ontem me pergunto, afinal, o que importa para a Dilma Rousseff vir a Ponta Grossa? E o que ela sabe a respeito da cidade? De certa maneira... esse foi o mote da tirinha que esbocei, ontem, em um pedaço de papel.

O que eu quero dizer é... o que se passa na mente da autoridade máxima de um país com o tamanho do Brasil? Imagino que tornar-se presidente deve ser algo fantástico, e deve haver quem até goste disso. Mas Dilma tem dado mostras de que não parece ser uma dessas pessoas. E ainda tem agido de forma estranha, ao menos para quem a observa somente a partir de noticiários. Recentemente demonstrou tolerância, e até compaixão, com manifestantes que quebraram patrimônio público no País todo. Manifestantes misturados a baderneiros [ou vice-e-versa]. Disse que aquilo era democracia, determinou redução de mais impostos. Governos estaduais e municipais recuaram em reajustes de tarifas e até reduziram preço dos transportes públicos, em favor do que as massas pediam.

Poucos dias depois, caminhoneiros se manifestavam em rodovias de todos o País. Não quebraram nada, só pediam mais segurança e preços mais baixos nas tarifas de pedágio. E a presidente só faltou xingar os profissionais. Pouco depois, ocorreu a Marcha dos Prefeitos. Governantes de vários municípios foram a Brasília pedir mais verba e Dilma foi vaiada por muitos deles, quando disse que não havia mágica para governar.

Então, baderna acabou sendo elogiada como democracia. Enquanto que melhores condições de trabalho e a reivindicação formal de mais recursos pelos prefeitos foram criticadas pela presidente.

Dilma chega a Ponta Grossa logo após esses acontecimentos. Com a popularidade mais baixa do que nunca. E com uma porção de críticas ao modo de governar o País. É bom que se diga que os protestos não levaram em consideração avanços conquistados nos últimos anos, primeiro com o Plano Real, depois com o Governo Lula, que deu estabilidade internacional ao Brasil. Enquanto crises pipocaram em diversos países, o Brasil se manteve firme. E, mesmo agora, os problema são bastante pontuais: a saúde pública está em colapso e a corrupção em todas as esferas políticas estão extremamente visíveis.

O Minha Casa Minha Vida é a menina dos olhos do Governo Federal. Nem o tal Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) conseguiu avançar da forma que se esperava. Por isso, a vinda da presidente tem um motivo claro... enaltecer o único programa federal cujos resultados são visíveis, especialmente em Ponta Grossa, onde, proporcionalmente, o número de casa entregues foi um dos recordes nacionais.

No entanto, numa análise fora da política, mesmo essa entrega recorde de casas está longe de cumprir tudo o que se espera. De acordo com a Companhia Nacional de Habitação (Prolar) de Ponta Grossa, 17 mil famílias ainda aguardam uma casa própria na cidade. Significaria distribuir senhas para 100 pessoas por dia, até outubro, nas palavras do presidente da Entidade, Dino Schrutt. O Governo Federal pretender entregar 3 milhões de residências, e já passou das 2 milhões. Se chegarem à meta no final do ano que vem, conforme o previsto, ainda assim estará longe de acabar com o déficit de moradias.

O que quero dizer é que, ao que parece, o antecessor da presidente Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu iniciar programas, e seu desenvolvimento. Mas cabe à Dilma sua finalização, e as dificuldades dessa empreitada estão visíveis em seu rosto habilmente remodelado nas últimas eleições. Dilma demonstra preocupação, irritabilidade, e não parece motivada. Em suas aparições na TV, o que se vê é uma presidente que cumpre obrigação. E, em qualquer função, é preciso que exista mais que isso. É preciso vontade, entusiasmo, e até prazer.

Em parte, acredito que isso ocorra devido à sucessão dos acontecimentos inesperados... os protestos pelo País. Eles desequilibraram o Governo Federal, que até então só precisava se preocupar em dar respostas evasivas para os problemas e enaltecer conquistas. Agora, mesmo tendo a Copa do Mundo no Brasil, não é possível comemorar. É como fazer aniversário no mesmo dia em que um parente próximo fica muito doente.

Por outro lado, creio que até a extensão territorial do País prejudica. Dilma está chegando em Ponta Grossa. O que isso significa para ela, além de uma chance de destacar um Programa Federal? Do que ela sabe? Sabe de um aeroporto que não tem sequer rádio para comunicação? Viu um monumento em forma de quibe [para ser politicamente correto] na internet? Assistiu no noticiário a um banheiro transparente ou a uma [ex]colega de partido sequestrar-se a si mesma? Viu um vídeo no Youtube onde aparecia Vila Velha? Leu as tirinhas do Catraca alguma vez? Conhece o passado da cidade ligado às ferrovias, a velha Estação Saudade e a locomotiva do Parque Ambiental que estão sendo deterioradas pelo tempo e pelos vândalos? Caminhou pelas calçadas irregulares e tropicou em uma pedra solta de petit-pavé no centro da cidade?

Enfim, são só reflexões lançadas aqui... No final das contas, o que quero dizer é... a presidente está aqui hoje, após 22 anos sem que um presidente pisasse nessas terras. Qual importância isso tem, além da política? Acredito que nenhuma. Prova disso é que tive que passar metade da tarde de ontem procurando informações sobre a vinda de Getúlio Vargas, Ernesto Geisel e Fernando Collor de Mello à cidade, em épocas remotas.

Amanhã, tudo isso será passado e, se demorar 22 anos para que outro presidente venha à cidade, é provável que seja igualmente difícil saber como foi esse dia. Com um pouco de sorte, o Google [se ainda existir no futuro] levará a este texto. E o pesquisador descobrirá que nesta terça-feira, dia 16 de julho de 2013, Ponta Grossa amanheceu com neblina.

1 de jul. de 2013

Um gato. Será?

Minha amada Priscila está pensando em ter um gato... há quatro anos. É o tempo que ela levou para me convencer da ideia. Afinal de contas, minha família nunca foi muito fã de gatos. A preferência é por cães. A única vez em que lembro de ter criado gatos foi quando uma ninhada surgiu dentro da churrasqueira, e a "responsável" pela prole desapareceu. Os que sobreviveram aos nossos cuidados (leite de vaca oferecido em conta-gotas) foram levados para uma indústria onde meu pai trabalhava, e e colocados para caçar ratos.

Enfim, pela primeira vez estou pensando em permitir um gato nessa casa. Mas teria que ser um desses gatos felpudos que não colocariam as patas na rua. Aqui é condomínio, e a vizinha de parede tem uma calopsita. Ainda não falamos com ela e os demais vizinhos, para saber o que acham da ideia de um felino. Eu disse para a Pri que, por mim, tudo bem. Desde que o bicho não fique no telhado miando às três da madrugada.

Talvez eu tenha sido influenciado pelos vídeos do gato Maru, que não parece atrapalhar a vida de ninguém. Ou, quem sabe, a obra de animação de Simon Tofield, "Simon's Cat" tenha feito com que os gatos aparentem, aos meus olhos, menos aborrecimento. E, talvez, também sirva de inspiração para minhas tiras. Vamos ver se os condôminos concordam com essa perspectiva. A calopsita não vota.

9 de jun. de 2013

Atrasado para o café

O dia a dia corrido do trabalho como repórter do Jornal da Manhã, às vezes, me impede de dar 10 passos além de onde costumo ir. Quase colado ao prédio do JM está o Boteco do Seu Rui. Há meses eu não ia até ali tomar um café, o que é uma pena. Afinal, por várias vezes despertou meu riso ouvir Seu Rui gritando "Dae, Catraca!", ao me encontrar, casualmente, nas imediações do jornal.

De fato, o conhecimento dele acerca de meu principal personagem de tiras em quadrinhos, o Catraca, era sempre uma surpresa. A gente sempre acha que ninguém vê nosso trabalho e, na maioria das vezes, acredita que os poucos que veem são os que nos conhecem. Mas Rui, com quem só conversei, realmente, uma vez, não apenas demonstrava conhecer meu trabalho, como também mencionava a tira mais recente, a cada encontro casual.

Certa vez fui com o colega de traços, o chargista J. Robson (Sádico) até o boteco. Era para uma entrevista com ele, em uma reportagem sobre o humor na cidade. Sentamos a uma mesa no canto. O próprio Rui nos serviu, nos deixou à vontade, mas depois perguntou o que cada um de nós fazia. Creio que foi naquele momento que ele soube que eu era autor das tirinhas dominicais. Imediatamente, elogiou meu trabalho, e as charges do Sádico, também observadas a cada publicação no jornal.

"As pessoas ditas intelectuais não valorizam nosso trabalho. Aí vem o tiozinho do bar, e mostra que acompanha as publicações, e comenta... Isso é que faz a diferença!", comentamos eu e o Sádico, pouco antes de nos despedirmos, naquela manhã.

Ontem, passei no Boteco do Seu Rui. Pedi um café com leite, e perguntei por ele. Queria entregar um exemplar do livro "Traços de PG", com coletânea de minhas tiras e das charges do Sádico. A esposa, atrás do balcão, contou que Rui havia falecido. Tinha problemas no coração. Não perguntei quando aconteceu. Podia calcular que fazia muito tempo desde que o havia visto pela última vez. 

Os últimos goles do café tiveram menos sabor. O livro demorou a ser publicado. Eu demorei mais ainda para voltar a tomar um café naquele balcão.

Leia também o post "O boteco de Seu Rui"

11 de mai. de 2013

Saga épica para compra de ingressos


Deve haver uma conspiração cujo objetivo é fazer com que o show do Capital Inicial, que acontece no próximo dia 18 de maio, em Ponta Grossa, seja um fiasco. Não sei qual é o motivo, mas como é difícil adquirir um mísero ingresso!!

Minha amada esposa, Priscila, decidiu que iria a esse show de qualquer forma. Portanto, ficou a meu cargo ir até um ponto de venda, adquirir o par de ingressos, e viver feliz para sempre. Claro que não poderia ser tão fácil...

Primeiramente, mantive a tranqüilidade ao notar, em um anúncio publicado no jornal para o qual trabalho, que o próprio jornal estava listado entre os pontos de venda. Sendo assim, bastaria descer um ou, no máximo, dois lances de escada para adquirir os tais ingressos. Aguardei mais alguns dias, até ter certeza de que a Pri desejava, realmente ir ao show. Seu nível de insistência me fez crer que sim. Portanto, no final do expediente em um dos dias desta semana, perguntei a uma colega do jornal que trabalha na recepção a respeito dos ingressos. Para minha surpresa, ela disse não saber nada a respeito. Inclusive, ficou ainda mais surpresa ao saber que o jornal era apontado como ponto de venda oficial. Em suma, o anúncio estava equivocado.

É claro que a Pri não gostou nada de saber disso. A cobrança aumentou e fomos até outro ponto listado no anúncio. Afinal, não podiam ser todas as informações falsas. Seguimos até o Shopping Antartica. Não havia quiosque para comércio dos ingressos, que eram vendidos em uma loja de trajes sensuais (ulalá!). Tudo bem, só que os ingressos eram vendidos a mais de R$ 50! E queríamos adquirir as entradas que custavam R$ 30, pois não queríamos prejudicar nosso orçamento tanto assim.

Saímos de lá e fomos a outro ponto de venda citado, a lanchonete Au-Au, no interior do Shopping Palladium. Chegamos lá e aguardamos que a atendente resolvesse largar o telefone. Após alguns minutos sendo completamente ignorados, ela foi nos dizer que, sim, eles vendiam ingressos, e custavam R$ 32 (os dois reais são de taxas, sabe Deus para pagar o quê). Mas que, não, o sistema não estava funcionando, e não poderiam vender naquele momento.

Na saída, só por farra, ainda passamos nas Lojas MM para perguntar a respeito da venda de ingressos para outro show, o do Skank, marcado para o final do mês. Para nossa surpresa, o funcionário não tinha nem ideia do que estávamos falando. Disse que só tinham convites, provavelmente se referindo a panfletos. E o lugar era apontado como ponto de venda oficial para este outro show...

Em seguida, ainda sugeri que fôssemos até a Play, casa de shows apontada como principal ponto de vendas de ingressos para o Capital Inicial na cidade. Mas a Pri já estava indignada de ter que peregrinar tanto. Não insisti mais.

Mas a Pri insistiu, no dia seguinte. Voltamos ao shopping para comprar o tal ingresso no Au-Au e, pasmem, depois que atendente desligou o telefone (ela deveria trabalhar em um call center), revelou que o sistema ainda não funcionava. E ainda aplicou um terrorismo, sugerindo que isso ocorria porque o preço ia subir.

No dia seguinte, quando achei que ela já acreditava que o destino não nos queria neste show, a Pri mais uma vez lembrou dos ingressos. Seguimos até o Posto BV, onde, segundo prometia o famigerado anúncio, estava outro ponto de venda. Lá, uma funcionária com cara de deboche nos disse que, sim, eles vendiam ingressos. Mas, não naquele momento. Só após as 14 horas.

Eram 13 horas e, como estávamos saindo para uma breve viagem ao Distrito de Guaragi, não havia possibilidade de esperarmos. Eu via a indignação impressa em 3D na face de minha esposa, quando lembrei que a Play ficava, justamente, no trajeto para a saída da cidade, por onde obrigatoriamente passaríamos.

Chegamos à Play. A atendente disse que, sim, vendiam ingressos. Sim, custavam R$ 32. Eu já ia pagar, quando ela informou que não aceitavam cartão. Precisamos nos deslocar até o supermercado para tirar dinheiro vivo em um caixa eletrônico e, só depois, conseguimos os tais ingressos.

Ao fim, após toda essa saga épica em busca dos ingressos do Capital Inicial, fico me perguntando: se para comprar ingressos já foi essa desorganização... imagina no dia do show. Senhor, livrai-me do pessimismo...

13 de mar. de 2013

Ataque de animal


O ano 2013 tem sido o ano do ineditismo e da singularidade. Desde o dia 1º de janeiro, parece não passar sequer um dia, sem que algo extremamente novo, bizarro ou improvável aconteça. Isso ocorre em todos os níveis: do local ao universal, do coletivo ao pessoal.

Ponta Grossa viu, e compartilhou com outros países, inclusive, o surgimento do banheiro transparente no recém-inaugurado Centro da Música. Antes disso, o País ficou bobo, e a cidade parece não ter se recuperado até hoje, da história da vereadora que sequestrou a si mesma, criando o verbo ainda inexistente “autossequestrar”.

No mundo, um meteorito caiu na Rússia e feriu mais de mil pessoas, justamente à época em que um asteroide passava, mais perto do que nunca, da Terra. Pouco depois, o Papa Bento XVI surpreendeu a todos, renunciando ao cargo máximo da Igreja Católica, e quebrando uma tradição que se insistiu para que não fosse anulada na época do anterior Papa João Paulo II.

No Brasil, crimes que, há anos, aguardavam julgamento, vieram em enxurrada aos tribunais. Gil Rugai, acusado de matar os pais; o goleiro Bruno, acusado de matar a ex-amante; Mizael Bispo, acusado de matar a ex-namorada. Este último, marca história sendo o primeiro julgamento brasileiro transmitido ao vivo pela televisão e pela internet.

Outros fatos menores, alguns deles de importância apenas pessoal, não são registrados. Mas, veja, ontem estive na Vila Madureira para fazer reportagem sobre uma cratera que está engolindo uma rua inteira. No carro do jornal estávamos eu, o motorista China, o fotógrafo Clebert e o repórter Michael. Antes de irmos ao local da cratera, fomos em outro endereço, não muito longe daquele, para verificar um “ataque de animal”. Esse é o termo genérico que os bombeiros dão, normalmente, a um ataque de cachorro contra uma pessoa.

Não havia ninguém no tal endereço e, então, seguimos até o endereço de minha pauta. A cratera era enorme, e já tomava metade da rua. A prefeitura havia feito barreiras de concreto para evitar a passagem de veículos pelo local, postergando, assim, o aumento da erosão.

Enquanto Clebert fazia as fotos do local, eu procurava algum morador local que pudesse falar comigo sobre o problema. O chamado “personagem” não apareceu. Em todas as casas, as portas, vidros, cortinas e cadeados estavam fechados. Bati palmas, sem ser atendido. Quando fui fazer a tentativa diante de uma funilaria, onde havia apenas um rapaz trabalhando, um cachorro branco rosnou para mim.

Não liguei para o fato porque, em toda minha vida, sempre acreditei (e sempre funcionou) que se ignorasse o animal, ele não atacaria. Pelo menos, no meio da rua, como era o caso. Mas, e não é que o cão me ataca e morde a minha perna? Pois e mordeu, mesmo!

Devo ter dito algo como “não acredito que esse cachorro me mordeu!”. Enquanto o Clebert ria, de longe, o cachorro parecia meio encabulado. Porque eu estava com minha calça jeans mais grossa, e os dentes não conseguiram chegar até minha perna. Apenas deixaram uma marca bem definida do jeans. Enquanto eu me recuperava do sentimento de incredulidade com o acontecimento, o rapaz saiu da funilaria e, ainda por cima, não quis dar entrevista.

Voltei para o carro ouvindo piadas de que, eu só tinha sido mordido por um cão, porque o Michael veio junto justamente para fazer a tal reportagem do “ataque de animal”. Para mim, foi apenas a primeira vez que fui mordido por um cachorro desconhecido, no meio da rua. Mas, já aviso... daqui pra frente estarei mais esperto, e o próximo vai levar bicuda!

27 de jan. de 2013

Passeio por São Luiz do Purunã

Mais uma aventura em local desconhecido
A manhã deste domingo iniciou com o céu nublado mas, aos poucos, o tempo foi abrindo. No final da manhã, eu e a Pri ficamos animados para mais uma pequena viagem. Optamos por São Luiz do Purunã, distrito de Balsa Nova, região metropolitana de Curitiba.

Ir de Ponta Grossa até São Luiz do Purunã é uma experiência que, logo de cara, traz um incrível sentimento de paz interior, antes mesmo de passar pelo portal de entrada do Distrito. Isso porque, indo pela rodovia, rumo a Curitiba, o viajante passa por apenas um dos três pedágios que levam à capital. E como o pedágio da concessionária do referido trecho de rodovia é uma verdadeira forca, não existe sensação melhor do que ver o segundo pedágio a poucos metros, e fazer o retorno. É como encontrar dinheiro no bolso da calça esquecido no guarda-roupa.



A Pri no portal de entrada. Pose para a foto...
















Passado esse momento de euforia, seguimos a placa e estacionamos no portal de entrada de São Luiz. Algumas placas fazem alusão ao local como antiga passagem de tropeiros. Vimos um mirante. Mas, o mapa pareceu um pouco confuso, além de parcialmente desbotado pela ação do tempo. Do mirante, a visão é de muito verde, mas poucas edificações. Isso porque São Luiz do Purunã é lugar formado por diversas localidades, ligadas por estradas entre si, mas com largos espaços vazios, como costumava ser em antigas freguesias.

Vista do mirante na entrada de São Luiz do Purunã
















Do mirante, o que mais me surpreendeu foi o cheiro de mel. Seguimos a estrada inicial de calçamento e chegamos ao vilarejo. Uma lanchonete, alguns pontos de comércio, a maior parte relacionada com a atividade agropecuária. Seguimos por uma das estradas, vendo moradores locais e admirando as residências, algumas de muito bela arquitetura, contrastando com a simplicidade do ambiente.

Belas araucárias marcam o caminho

A estrada foi piorando, o calçamento deu lugar à terra, a terra deu lugar à poeira, e a poeira deu lugar às pedras e buracos. Depois de chegarmos ao tope de uma subida, sem notarmos nenhum destino especial, retornamos pelo mesmo caminho, de volta à entrada do vilarejo, e optamos por seguir outra estrada. Chegamos a uma placa com diversas indicações de pousadas, restaurante, café colonial, chocolate artesanal. Mas, boa parte dessas atrações era indicada como se estivesse para trás, do ponto de onde tínhamos acabado de vir. Não tínhamos visto, anteriormente, qualquer indicativo desses atrativos, ou teríamos parado.

Estranhando esse fato, decidimos seguir a indicação de uma das pousadas e, surpreendentemente, a placa nos levou de volta à rodovia, nos obrigando a sair da paisagem campestre que tanto nos havia fascinado. Indignados, voltamos da rodovia para a tal placa, e seguimos por outra estrada, que a placa indicava como se tivesse restaurante. Já era perto da hora do almoço.


A estrada foi, também, piorando a qualidade, e foram surgindo buracos e valetas, momento em que agradeci a Deus pelo tempo seco deste domingo. Passamos por outra pousada, onde não se via viva alma, e todas as portas e janelas estavam fechadas. Em frente, uma grande faixa dizia: "Estamos atendendo". Passamos por ela, e continuamos procurando o tal restaurante, até que, sem nenhuma placa indicativa de distância ou direção, e tendo a impressão de que todos os estabelecimentos comerciais ali estavam fechados, optamos por  ir embora.
Chalé e animais pastando: paisagem bucólica
















Decidimos voltar rumo a Palmeira, e almoçar no Restaurante e Lanchonete Girassol, lugar famoso à beira da rodovia. Mas apreciamos muito a paisagem de São Luiz do Purunã, lamentando apenas a falta de mais placas que orientem os visitantes, uma vez que os atrativos estão bem espalhados pelo lugarejo. Na memória ficaram as belas casas, as velhas araucárias, os bois pastando no alto de morros, e o cheiro de mel logo à entrada.