De fato, o conhecimento dele acerca de meu principal personagem de tiras em quadrinhos, o Catraca, era sempre uma surpresa. A gente sempre acha que ninguém vê nosso trabalho e, na maioria das vezes, acredita que os poucos que veem são os que nos conhecem. Mas Rui, com quem só conversei, realmente, uma vez, não apenas demonstrava conhecer meu trabalho, como também mencionava a tira mais recente, a cada encontro casual.
Certa vez fui com o colega de traços, o chargista J. Robson (Sádico) até o boteco. Era para uma entrevista com ele, em uma reportagem sobre o humor na cidade. Sentamos a uma mesa no canto. O próprio Rui nos serviu, nos deixou à vontade, mas depois perguntou o que cada um de nós fazia. Creio que foi naquele momento que ele soube que eu era autor das tirinhas dominicais. Imediatamente, elogiou meu trabalho, e as charges do Sádico, também observadas a cada publicação no jornal.
"As pessoas ditas intelectuais não valorizam nosso trabalho. Aí vem o tiozinho do bar, e mostra que acompanha as publicações, e comenta... Isso é que faz a diferença!", comentamos eu e o Sádico, pouco antes de nos despedirmos, naquela manhã.
Ontem, passei no Boteco do Seu Rui. Pedi um café com leite, e perguntei por ele. Queria entregar um exemplar do livro "Traços de PG", com coletânea de minhas tiras e das charges do Sádico. A esposa, atrás do balcão, contou que Rui havia falecido. Tinha problemas no coração. Não perguntei quando aconteceu. Podia calcular que fazia muito tempo desde que o havia visto pela última vez.
Os últimos goles do café tiveram menos sabor. O livro demorou a ser publicado. Eu demorei mais ainda para voltar a tomar um café naquele balcão.
Leia também o post "O boteco de Seu Rui"
2 comentários:
puxa Danilo, às vezes o tempo não é nosso aliado......... mas acho que o Rui continua a acompanhar o sucesso do Catraca
abraço, Tônia
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