30 de jan. de 2010

Um pouco de filosofia neste sábado...

Meu avô disse, certa vez, em toda sua simplicidade e sabedoria: "Dessa vida não se leva nada, a não ser aquilo que se come. Então, quando tiver vontade de comer alguma coisa, você deve comer". Passou pouco mais de um mês desde que ele se foi e, coincidência ou não, tenho seguido esse conselho ultimamente.

Estive com minha namorada na panificadora Deguste, no Centro de Ponta Grossa, ontem na hora do almoço. Não ia lá há bastante tempo. As mesas e cadeiras, que antes ficavam nos fundos [se não me engano], agora vieram para a parte da frente do estabelecimento. De aspecto rústico, não me senti incomodado com o visual do lugar. Só me incomodou um pouco o fato de eles "esconderem" os talheres em uma gaveta. Mas estou certo de que não vou me atrapalhar mais na próxima vez em que for até lá.

Ia pedir um copo de suco de laranja quando vi, na máquina, uma substância com cor de água suja.
"O que é isso?" - perguntei para a funcionária
"Cappuccino gelado - disse, e perguntou, com a expressão de quem já sabia a resposta - "quer experimentar?"

E descobri mais uma coisa boa de se provar. Embora faça a gente se sentir meio estranho, como quando provei um bolinho doce feito com feijão, iguaria interessante que minha vizinha japonesa tinha feito a gente experimentar lá em casa.

Nos últimos meses investi na experimentação de itens como sorvete coberto de chocolate quente, café quente coberto com chantilly gelado, torta holandesa, cappuccino com amarula, refrigerante de goiaba e sanduíche de banana com linguiça. E, se nem tudo é tão bom quanto o esperado, ao menos a experiência é interessante. E é nisso que consiste viver: em experimentar, aprender, conhecer, para poder dizer que a gente sabe do que está falando. E para poder lembrar do que é bom ou ruim, e do que queremos repetir ou evitar.

De fato, é possível estender ainda mais o ensinamento de meu avô. Provar uma comida ou bebida não é nada mais do que estimular nosso paladar, que também está relacionado ao olfato, à visão e ao tato. E, pensando bem, até a audição está presente nesses casos. Afinal de contas, alguém já comeu uma batata Ruffles sem crocância? Faz falta o barulhinho.

Por falar em Ruffles, no outro dia comprei na lanchonete Subway um pacote desse salgadinho, ao custo de R$ 1,50. Ao abrir, dei de cara [e fiquei de cara] com dez míseras fatias de batata. Ao custo de R$ 0,15 cada fatia de batatinha, isso faz a gente pensar. Só comemos aquilo que está ao nosso alcance. Só experimentamos aquilo que podemos. E só repetimos as coisas boas enquanto temos tempo para isso.

"Carpe diem" [aproveite o momento] parece a frase boba de alguém que tinha muito tempo sobrando. E talvez tenha sido. Mas o desafio é torná-la mais que uma frase, e trazê-la para o cotidiano. Muito do que é dito são apenas palavras. Muito do que fazemos é mais que isso. O sábado e o domingo são ótimos dias para descansar, sair com a namorada, ver filme no cinema, dormir até mais tarde. Mas não são dias melhores que os outros. O desafio é fazer a segunda-feira e os outros dias igualmente especiais.

Eis um desafio para a semana que está para começar.
E... chega de filosofia por hoje.

27 de jan. de 2010

Transitions

Enfim, troquei de óculos. Depois de cerca de dois anos usando o tradicional modelo de aros pretos em acetato, que adquiri por influência de Clark Kent e [quem diria] José Wilker, aceitei o conselho do oftalmologista que, com expressão de reprovação, segurou meus óculos antigos e disse “você tem que escolher um modelo mais moderninho”. Além de sugerir uma armação menos “pesada”, ele também lembrou que óculos escuros e lente antirreflexo protegem melhor os olhos.

Sendo assim, e também seguindo o conselho da Pri, minha namorada, comprei o tal transitions. A lente que escurece quando entra em contato com raios ultravioleta. Tentei arrancar da vendedora a informação de como funcionam as lentes mágicas. Ela me enrolou por duas vezes. Na terceira, desisti de exigir a explicação. Mister M, revele-nos o seu segredo, ó mágico dos mágicos...

Quem explica é o Mister Google: “Na verdade, as lentes transitions contêm corantes fotossensíveis patenteados que fazem com que a lente seja ativada - ou escurecida - quando exposta aos raios ultravioleta da luz solar”. Entendeu? Nem eu... como uma lente pode ser fotossensível? Eis a questão que ainda não compreendo.

Bem, levou pouco mais de uma semana e meus óculos ficaram prontos. Assim que os coloquei, senti uma enorme diferença. Quase caí do degrau da loja onde os comprei. Mas estava enxergando com nitidez. E foi só ir no sol que os óculos ficaram escuros e eu fiquei de cara.

Eu deveria ter ido primeiro ao oftalmologista para que ele conferisse se estava tudo certo com o equipamento. Mas decidi usar a partir daquele momento, e protelei um pouco o encontro com o especialista.

No segundo dia, tudo beleza. Eu ainda estava meio tonto com as novas lentes, mas seria algo passageiro. Seria. No terceiro dia, percebi que o olho esquerdo estava enxergando melhor que o direito. No quarto dia, a situação se agravou e, além dessa diferença, me sentia meio vesgo. Uma semana depois eu estava enxergando mal do olho direito e com dor de cabeça. Isso foi num domingo. Foi quando decidi que, no dia seguinte, finalmente iria ver o oftalmologista e descarregar minhas reclamações.

Mas na segunda-feira eu estava enxergando perfeitamente bem. E, com horário marcado, fui mesmo assim até o oftalmologista, junto com a Pri.

- Qual é o problema, Sr. Danilo? – perguntou o oculista, como se lembrasse do momento em que, cerca de duas semanas antes, eu procurava desesperadamente pela receita de meus óculos antigos

- Então... é que meu olho esquerdo blá blá blá... e meu olho direito blá blá blá... vesgo... blá blá blá etc e tals... E hoje estou enxergando bem.

- Mas é claro! Você está com um grau mais elevado na lente do olho direito. Quanto tempo faz que trocou de óculos? - ele perguntou

- Uns dez dias – disse a Pri

- Dez dias é pouco tempo. Você vai levar uns vinte dias para se acostumar com as novas lentes. – ele disse, quase perdendo a paciência e batendo na mesa outra vez

Desde então estou enxergando bem.
Começo a achar que o sujeito acertou na receita, afinal.
Mas aposto que ele também não saberia me explicar como funcionam as lentes fotossensíveis.

13 de jan. de 2010

Reflexões de um repórter de Cotidiano...

Hoje pela manhã eu precisava conversar com o gerente de uma das centrais de distribuição domiciliar dos Correios. Para isso, tive que telefonar para a Agência Central dos Correios. A atendente transferiu para a substituta do gerente, que pediu para eu ligar em outro número, onde atendeu outra funcionária, que pediu que eu ligasse para outro número também. Liguei para o outro número, e atendeu um funcionário, que finalmente me transferiu para o gerente com quem eu precisava conversar.

O que me intrigou não foi esse toma-lá-dá-cá. O que me intrigou é que, das cinco pessoas com as quais conversei ao telefone, três me atenderam com um "boa tarde". E eram 10h30 da manhã... Estranha coincidência. Às vezes busco razões onde não há nenhuma. Tanto que acabo as encontrando. Mas não vou me concentrar demais nessa questão. Ultimamente ando com o raciocínio meio fraco.

É como disse um colega que trabalha comigo no jornal... Ele contou que nunca se concentrou em letras de música. Um dia resolveu memorizar a canção Faroeste Caboclo, de Renato Russo, ou Legião Urbana [que no caso pode dar no mesmo]. Conseguiu memorizar toda a letra, mas não pôde guardar mais nenhuma música na memória. Ele acha que atingiu o limite de Gigabytes que seu cérebro podia receber.

Estou em situação parecida, devido ao excesso de trabalho. Nessas horas eu preferia gostar de pescaria. Dizem ser um santo remédio. Enquanto continuo fugindo de pernilongos e longos períodos de exposição ao sol, minha mente não descansa.

Semana passada aluguei um vídeo em uma locadora, e devolvi em outra. Nem percebi o engano, e talvez jamais percebesse, não fosse a funcionária da loja me ligando no celular e avisando que eu tinha entregue o DVD no lugar errado.

***

Falta de memória à parte, resolvi fazer algo diferente no outro dia: comprar uma camisa que normalmente eu não compraria.

Quem me conhece um pouco sabe que costumo usar camisetas gola-polo, ou camisas sem nenhuma inscrição ou estampa. Me revolta o fato de a maioria das camisetas fazerem referência a skate ou surf, por exemplo. E não gosto de carregar no peito dizeres com os quais não concordo ou nada sei.

Mas, pra mudar um pouco, comprei uma camisa estilosa, listrada e de cor verde bem viva. Fiquei tipo o "ligador" do comercial da operadora de celular. E fui faceiro trabalhar. Estava eu num daqueles dias mais azarados desde que voltei a trabalhar na redação do jornal. [Os telefones davam ocupado, as pessoas não atendiam, ou atendiam e não respondiam, ou respondiam mal... pautas caíam dentro da redação e a chuva caía lá fora].

Ainda assim, eu seguia corajosamente dando seguimento ao meu trabalho e tentando manter a calma, quando o Eduardo faz o comentário: "Ô, Danilo... não sabia que você tava fazendo campanha pro Wosgrau!", disse, se referindo ao prefeito. "Tá com o número 45 no peito..."

Foi quando notei que tinha um baita número 45 na frente da camisa. E o Eduardo, como bom repórter de Política, não podia deixar de lembrar do número usado pelo prefeito na época de sua candidatura.

Tem alguns momentos, apenas alguns, em que eu preferia que os outros também tivessem problemas de memória...

12 de jan. de 2010

A receita que só fez falta para mim

Na segunda-feira acordei psicologicamente preparado para ir ao oftalmologista. Pelo menos era o que eu achava. Achei o cartão que me garantiria um desconto na consulta. Mas ainda precisava encontrar a receita de meus óculos atuais. Normalmente guardo as coisas em algum lugar de fácil acesso e arquivamento lógico. Portanto, fui direto ao estojo de meus óculos, abri, e só encontrei um lencinho.

‘Incomum’, pensei. Abri a gaveta da mesa do computador onde costumo guardar documentos e papéis que poderiam ser jogados no lixo, mas penso que podem servir para algo e, assim, permanecem guardados.

Encontrei muita coisa, mas não o que procurava. Procurei no estojo de meus óculos antigos. Em minha mala. Na gaveta do balcão da cozinha. Foi minha mãe quem matou a charada (não sei como).

“Você não guardou naquela caixa junto com as notas de imposto de renda?”, perguntou.
“Nãããão...”, respondi de imediato.

Mas fui até a caixa de sapato onde guardei os tais documentos. E ali estava, bem fácil, a tal receita de meus óculos.

Satisfeito, fui com minha namorada ao oftalmologista. Ela também estava precisando consultar. O oftalmologista examinou seus olhos primeiro, enquanto eu observava a parafernália que ele tinha naquele consultório.

Quando chegou minha vez, peguei a carteira para mostrar a receita de meus óculos. Mas não a encontrava. Lembrava de ter dobrado o papel e colocado ali. Revirei a carteira. Derrubei documentos.

“Não faz mal, me dá aqui seus óculos que dá na mesma”, disse o médico.

Entreguei meus óculos e, enquanto ele examinava as lentes, continuei procurando. Devo ter suado, porque fiquei alguns minutos buscando o tal papel. Então ouvi uma voz que perguntou:

“O que você está procurando”?

Era o oftalmologista. Ele já tinha examinado as lentes de meus óculos, e anotado o grau das lentes.

“Ele continua procurando a receita”, disse a Pri, sem entender.
“Esquece a receita!”, disse o oftalmologista quase perdendo o controle e batendo com a mão fechada na mesa.

Depois, durante o lanche que nos serviu de almoço, comentei com a Pri que não me conformava de não encontrar a tal receita em minha carteira.

“Eu procurei tanto esse papel”, eu disse.
“Eu e o médico percebemos”, ela respondeu, irônica.
“Não... estou dizendo que procurei muito lá em casa. Deveria estar aqui...”

Abri a carteira, e encontrei a receita na mesma hora.
Talvez eu esteja trabalhando mesmo demais.
Talvez apenas precise de óculos.