16 de mar. de 2011

Enfim, conheci Benett!

Existe tanta informação no mundo, que não é vergonha nenhuma se especializar apenas em algumas poucas coisas. Infelizmente, na maioria das vezes, isso não funciona para os jornalistas. Até que se consiga conquistar um espaço bem definido, seja na editoria de Política, Polícia, Economia ou Esporte, pode levar muito tempo.

Somente na segunda metade do ano passado e início deste ano é que consegui me estabelecer onde eu realmente queria estar: fazendo as reportagens de Cultura e Comportamento do Jornal da Manhã, onde trabalho desde 2007.

Entretanto, isso não significa que deixei de fazer outras coisas que me atraem bem menos, como editar as colunas sociais, fazer matérias sobre agronegócios e corrigir textos de colaboradores que nem mesmo sabem que não existe o idioma “brasileiro”.

Com tudo isso, inevitavelmente me deparo todos os dias com pouco tempo para eu mesmo. Gostaria de me dedicar, por exemplo, à atividade de cartunista, algo que venho desenvolvendo há muito tempo, mas que começou mesmo a ganhar traços definidos [com o perdão do trocadilho] quando ainda estava na universidade, me preparando para um jornalismo um tanto quanto diferente daquele que encontraria no mercado.

Desenho desde que me lembro. Muito antes de saber ler ou escrever. Levei meus rabiscos para as aulas de Educação Artística no primário, aos intervalos no Ensino Médio e para dentro da sala de aula da Universidade Estadual de Ponta Grossa, onde uma caricatura do professor de Realidade Socioeconômica Brasileira escrevendo hieróglifos na lousa me projetou entre os amigos como alguém que sabia desenhar.

Minha colega Lídia, na época, disse que eu deveria mostrar os desenhos, e [fã de quadrinhos] me comparou a outro cartunista – Bennet. Eu pouco sabia a seu respeito. Ele era o chargista do jornal Diário dos Campos. Naquela época houve, acredito, algumas exposições com seus desenhos. E o lançamento de um livro do desenhista. A Lídia tentou me levar para conhecê-lo, mas eu era bem mais tímido e introspectivo do que sou hoje, gostava de ficar em casa, e por isso o encontro jamais aconteceu. Foram necessários quase dez anos para que acontecesse... no mês passado.

Alberto Bennet estaria em Ponta Grossa na sexta-feira, às 19 horas, para o lançamento de sua nova exposição – “Bennet: quantas pílulas de sarcasmo você tomou hoje?” Uma pena que a rotina no jornal me impedia de deixar a redação antes das 21 horas. Fascinante que, justo naquele dia, consegui terminar o trabalho às 19 horas.

A Galeria do Centro Europeu, onde ocorreria a exposição, ainda estava praticamente vazia. Dei uma olhada nos desenhos já colocados nas paredes. Impressionante como o traço dele evoluiu nos últimos anos. E parece ser possível identificar quando Bennet teve mais ou menos tempo para fazer um desenho.

Enquanto olhava os cartuns e charges, em ideias que provocavam risos discretos, ficava imaginando qual seria a impressão quando o encontrasse. Sempre tive a sensação de que Bennet era um cara arrogante, que não perderia uma oportunidade de humilhar quem quer que fosse. Talvez por causa de raciocínios que pareciam implícitos em suas tiras. Temia fazer um comentário simpático e receber uma piada injusta em troca.

Bennet tinha conseguido viver do desenho, trabalhando para grandes jornais como a Gazeta do Povo e a Folha de S. Paulo. Isso não despertava em mim exatamente inveja. Era, na verdade, uma espécie de orgulho e esperança por saber que alguém tinha conseguido. Talvez por isso, essa conquista, o imaginava como um sujeito metido, que não se importa com as pessoas ao redor. É engraçado pensar que minhas impressões mudariam completamente a partir do momento em que o visse entrar na Galeria.

Bennet estava de boné, como sempre o vi nas fotos e desenhos. Conversou rapidamente com algumas pessoas e começou a ser entrevistado por algumas repórteres que estavam ali. Fiquei nas sombras, tentando decifrar qual era a dele. Mas ele não pareceu engraçado como imaginei que poderia ser. Foi sério em todas as respostas às perguntas das repórteres, que em seguida se retiraram, dando oportunidade para que eu me apresentasse:

- Bennet, eu sou Danilo. – disse, enquanto apertava sua mão.
- Danilo... o Danilo, do Jornal da Manhã? – perguntou, para minha surpresa – Eu conheço o teu trabalho... Desde a época da Lídia.

Bem, parece que minha amiga tinha criado um link entre os dois desenhistas antes mesmo do boom do twitter. Conversando com Benett, soube que ele desenha tudo no papel, para depois levar ao scanner e colorir no computador, da mesma forma que eu fazia até pouco tempo, antes de comprar uma mesa digitalizadora.

“E como funciona isso?”, ele perguntou. “E como vai o JM?” E então falei um pouco a meu respeito. Ele ouviu com interesse ou, antes, respeito tudo o que disse. Depois se retirou educadamente para conversar com outras pessoas.

Bennet é humano, afinal. No bom sentido da palavra. Em nenhum momento me pareceu arrogante, metido a engraçadinho. Quem sabe por causa do boné, imaginei que ele seria tipo o Sérgio Malandro, dando risadinhas e gesticulando feito maluco o tempo todo. Se revelou um cara comportado e educado. Talvez eu esteja manchando sua fama, com essa minha impressão.

Depois de alguns minutos, fui me despedir, e ele revelou mais uma vez sua cortesia. “É cedo ainda, fique... Olha, tem pão de queijo!”, disse, apontando para a mesa no hall de entrada, onde havia alguns salgadinhos. Peguei um.
“Ei! Isso é biscoito de polvilho!”, eu disse.
“Ora, então me enganei...”, falou Benett.
“Já que não tem pão de queijo, vou embora.”, falei. E fui, agora reconhecendo em Benett um desenhista bom e humilde. Só no dia seguinte me daria conta... esqueci de tirar uma foto com o artista. Fica para a próxima.

Um comentário:

Lídia Basoli disse...

danilo, meu querido amigo. que saudade tenho de vc. fiquei muito feliz que vc conheceu o bennet. um cara pra lá de bacana, interessante e inteligente. assim que nem vc. me lembro que desde a época da facul a gente conversava disso né? rs.
sinto que seu talento tb está cada vez melhor, amadurecendo as ideias e as críticas. eu sempre fui e sempre serei sua fã.
desde a época do bennet. qdo a gente pensava que ele era um cara do outro mundo.
talvez ele seja.
e vc e eu tb.
o que pra mim é ótimo!
beijos meu querido amigo
vc está no meu coração