18 de nov. de 2010

A insuperável RED original










Nesta semana pude ir ver no cinema o filme “RED”, traduzido para o português como “Aposentados e Perigosos”. Mais uma adaptação dos quadrinhos para a sétima arte. Considerando alguns trabalhos interessantes feitos recentemente, a exemplo de Batman (‘Begins’ e ‘Dark Knight’) e Watchmen, fui com a cara e a coragem ver a produção. Não sem antes procurar pela HQ que deu origem ao filme.

Embora tenha ficado sabendo que a história (de 2003) foi relançada, a um preço simbólico, por ocasião do filme, não encontrei livraria ou banca de revista que comercializasse a obra. Terminei encontrando o material para download nessa inacreditável fonte de conhecimento e total desrespeito aos direitos autorais que é a internet.

Se por um lado a internet é vilã, ao oferecer de graça algo que mereceria ser pago, por outro ela auxilia pessoas como eu, que não têm acesso ao produto por questões puramente logísticas.

A HQ “RED” é dividida em três capítulos, curtos, para serem lidos de uma vez só. Mas com uma impressionante riqueza nos diálogos, nos traços e no uso das cores, aplicadas sem excessos,
combinando assim com a narrativa sem piadas e que apresenta algumas horas na vida do ex-agente da CIA, Paul Moses. Aposentado, ele vive sozinho tentando esquecer atitudes suas das quais não se orgulha, mas que foram necessárias ao seu país (EUA) em épocas passadas. A nova direção da CIA passa a considerá-lo uma ameaça, devido às informações que possui, e aí se inicia uma caçada ao “herói”.

Seus perseguidores não têm nenhuma chance. Mais ou menos ao estilo “Rambo” (de forma, talvez, mais convincente), ele se livra de todos, um por um, contando com pouquíssima ajuda. Tudo o que ele queria era tranquilidade em sua aposentadoria. A partir da sua caça, ele só quer alcançar aqueles que ordenaram sua perseguição.

Sem poupar sangue entre os quadrinhos, a narrativa é extremamente movimentada, mas boa parte da história é mostrada com silêncios, e grandes sacadas. Entre elas, um flashback no qual Moses recorda de algumas das suas missões, incluindo a participação no dia do assassinato do então presidente John F. Kennedy.

A história termina sem uma conclusão fechada, embora o final implícito seja praticamente evidente ao leitor. Mas, bem poderia ter uma continuação. Além disso, em meio à roteirização, vários fatos são apresentados, sendo compreendidos, mas não totalmente explicados. Por essa razão, criei uma expectativa em torno do filme homônimo, que poderia preencher as lacunas deixadas pela HQ.

Mas o que aconteceu no cinema foi uma decepção. Em Watchem, a adaptação para o cinema fez com que todo o aspecto visual e vários trechos de diálogos fossem reaproveitados. Com isso, pode não ser a perfeita adaptação da HQ para o cinema, mas... quem quer isso? O que se espera é o mínimo.

Os dois últimos filmes de Batman, por exemplo, souberam explorar o que torna o personagem mais realista: como o uso da tecnologia, de sua condição de milionário, e sua habilidade na luta corporal.

Enquanto isso, “RED” nada tem da história em quadrinhos tão bem elaborada por Warren Ellis no roteiro e Cully Hammer nos desenhos. A começar pelo título. Nos quadrinhos, “RED” se refere ao código vermelho originado com as reações de Moses em sua perseguição. No filme, não passa de uma sigla boba para “Retired Extremely Dangerous” (Aposentados Extremamente Perigosos). O nome Moses é trocado, e de Paul ele passa a ser Frank. Sua amiga Sally, que tem participação reduzida na HQ, no filme passa a se chamar Sarah, e protagonizar em excesso a história.

O roteiro e desenho da HQ trazem o drama vivido por Moses, que não consegue esquecer seu passado, e ainda precisa lidar com o fato de ser perseguido. No filme, ele encontra com antigos colegas de trabalho, um dos quais participa da trama quase que exclusivamente para fazer piadas. O próprio Moses, que é um sujeito durão, que fala entre dentes e quase não sorri nos quadrinhos, no filme é interpretado por um Bruce Willis que lembra em muito o policial de “Duro de Matar”, e apaixonado por uma funcionária do “INSS”. Isso anula por completo a personalidade criada no roteiro original.

Pra finalizar, as cenas de ação perdem em muito para as apresentadas pela história original. Há pouquíssimas semelhanças entre os dois trabalhos e, se não fosse o mesmo nome dado ao filme, dificilmente haveria um processo por plágio ou algo assim. Algumas ideias são utilizadas mas, quem não conheceu a HQ, indiscutivelmente irá aproveitar melhor a sessão no cinema. Do contrário, é provável que fique uma sensação de vazio, a esperança inútil de uma guinada em meio à exibição da película, e a certeza de que “RED” é, de fato, uma obra-prima das HQs.

Download RED - capítulo 1

Donwload RED - capítulo 2

Download RED - capítulo 3

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