“Eu não sei o que é... mas alguma coisa está errada”. As palavras são de um cidadão acostumado a ver as ruas da área do Morro do Alemão, antes atulhadas de gente, agora vazias. Os olhos dele não demonstravam tranquilidade, paz ou satisfação com a repentina proteção da polícia e do exército. Era um ar de incredulidade e indignação.
O sujeito foi apenas um dos muitos entrevistados pelas inúmeras reportagens exibidas na televisão desde que um exército tomou conta daquele que agora é apontado como o maior abrigo da criminalidade no Rio de Janeiro. Antes, era apenas um lugar sobre o qual se evitava falar.
Me identifiquei com o sujeito entrevistado. Se é verdade que “quando a esmola é demais, o santo desconfia”, terei de ser canonizado um dia, tal é o nível de meu desconfiômetro neste momento.
Tenho nojo quando vejo qualquer reportagem sobre o tema na televisão ou onde quer que seja. Enviaram os repórteres para onde as balas estão sendo disparadas, para testar até que ponto eles demonstram sua competência ou pavor. Enquanto isso, continuam perguntas que irão demorar muito tempo para serem respondidas, pois as respostas não estão na linha do front.
“Por que só agora levar o policiamento a um lugar que, aparentemente, todos sabiam ser um covil de ‘marginais’”?
“Como, com tantas equipes cercando o Morro, os maiores traficantes são justamente os que fogem?”
E, uma boa observação feita por Eugênio Bucci no site Observatório da Imprensa: “Como os traficantes têm tantas granadas, e nenhuma camisa?”
Tem algo de muito errado em tudo isso. E aqui eu aponto mais uma teoria da conspiração, porque estou inclinado a não acreditar em coincidências. As hipóteses explicativas envolvem futebol, cinema e política.
1º ponto: O futebol, como todos sabem, é uma máfia tão grande quando a fórmula 1. Esta foi desmascarada por Rubinho Barrichello, há vários anos. Os imbecis de plantão continuam acompanhando as corridas, como se fosse possível para um piloto chegar ao topo do pódio graças apenas à performance na pista.
Assim como os vencedores de cada campeonato de corrida são conhecidos antes mesmo de começar a competição, no futebol não é diferente. Sendo assim, vamos admitir como verdade que FIFA e governo já sabiam que o Brasil seria escolhido como país sede da Copa do Mundo de 2014. E que o governo precisaria tomar medidas para garantir o sucesso na realização do evento.
2º ponto: Todos sabem que o Rio de Janeiro jamais ofereceu a segurança para a realização de um evento dessa magnitude. Mas era preciso mostrar ao mundo que não há o que temer vindo ao Brasil. Assim, foi iniciada a maior campanha publicitária antecipada da história. ‘Nunca antes nesse País’ se viu melhor produção cinematográfica do que Tropa de Elite. O primeiro filme apresentou ao mundo aquilo que muitos acreditavam [alguns ainda acreditam] não existir: policiais honestos e incorruptíveis.
A sequência do filme, lançada há poucos meses, se estendeu para a política, revelando a forma como candidatos se elegem para importantes cargos tendo o apoio de traficantes do Rio de Janeiro. Neste segundo filme, um maior policiamento consegue acabar com os traficantes, mostrando que, sim, a segurança existe. O problema agora é a corrupção na política. Ao fazer isso, os filmes procuram mostrar que é possível confiar na polícia brasileira, e que o Rio de Janeiro pode ser um lugar seguro, embora governado por ladrões.
3º ponto: O policial Rodrigo Pimentel, cuja história deu origem ao personagem Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite, é largamente entrevistado, atestando como verdadeiras muitas das coisas que são mostradas pela ficção. Ao mesmo tempo, defende o governo do Rio, assegurando que o governador Sérgio Cabral tem feito o possível para melhorar a segurança, mas que ainda há muito para fazer.
Poucas semanas depois, é dada a ordem para invasão do Morro do Alemão. Mesmo com toda a megaoperação montada, justamente os maiores traficantes escapam, a pé, ainda que filmados e perseguidos até mesmo com helicópteros. A mídia colabora, apontando a possibilidade de terem escapado pelo esgoto, e trazendo textos poéticos que inspiram paz e harmonia, mas que não esclarecem nada. Apenas uma grande publicidade sobre o sucesso da operação.
HIPÓTESE: Tudo isso faz parte apenas de um grande teatro montado para exibir ao mundo o que está sendo feito para que o Rio de Janeiro esteja seguro para a realização da Copa de 2014. Certamente foi feito um acordo com os traficantes, que saíram muito antes de começar qualquer operação. Quantos policiais morreram? Quantos traficantes morreram? Quantos foram presos? Segundo o site IG de notícias, apenas 20 pessoas foram detidas no domingo. Vinte, dos 600 ligados ao tráfico que se esperava encontrar. O que demonstra que houve um acordo para que os "peixes grandes" pudessem escapar.
Enquanto a população assiste um reality show tão falso quanto qualquer outro reality show, os traficantes escaparam [sozinhos?], se espalhando por aí. E agora, é só aguardar Tropa de Elite 3.
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