Tarde de um dia qualquer no meio da semana. Caminho pelo centro da cidade rumo ao jornal. Ainda tenho alguns minutos antes de começar meu expediente. Decido entrar na panificadora e lanchonete que abriu há algumas semanas perto do trabalho. Milla é o nome do estabelecimento. Mas o pessoal do jornal costuma chamar o lugar de “padoca”. Imagino que a proprietária ficaria decepcionada, se soubesse.
O ambiente não me parece muito grande. Mas atrás do balcão há um movimento exagerado de funcionárias, que faz o lugar parecer maior. Sento diante do balcão, e uma das meninas vem atender. Peço um salgado recheado com salsicha que está na vitrine. Ela diz o nome do salgado. “Super-dogão”, ou algo assim... “Que seja”, penso. Adiciono ao pedido uma xícara de café. O salgado vem logo. O café demora um pouco.
“Tem molho?”, pergunto.
“Tem”, responde a garçonete. E estende um pratinho maior que um pires e menor que uma xícara. Dentro, dois míseros sachês: um de catchup, o outro de maionese.
Se tem algo que me deixa mais indignado em uma lanchonete é a economia ao trazer molho para os clientes. Em primeiro lugar, o cliente não tem que pedir molho. O funcionário é quem deve oferecer, ou simplesmente colocar diante do cliente.
Em segundo lugar, as tais “bisnagas” são infinitamente melhores e mais práticas que os sachês. E não venha dizer que o sachê é mais higiênico, porque a maioria das pessoas sofre para abrir o maldito pacotinho, e leva à boca para rasgar com os dentes.
Em terceiro lugar, se vai oferecer sachê, traga um pote com pelo menos três sachês de cada tipo de molho, incluindo a mostarda. Boa parte das lanchonetes notou que a mostarda é menos consumida que os outros molhos, e então nem oferece, ignorando uma parcela dos consumidores que gosta do tempero.
Finalmente chegou meu café. Estava eu, já meio indignado, a consumir meus dois sachês, quando entra uma moça, visivelmente apressada. A gente reconhece a pressa da pessoa conforme a velocidade com que ela entra no recinto.
Parou diante do balcão, e veio uma garçonete – uma das muitas que se movimentam atrás do balcão.
- Vou querer um folhado de frango. – disse a cliente, apontando para o salgado coberto de gergelim que estava quase ao alcance de suas mãos. Fiquei surpreso ao notar que a cliente sabia o nome do salgado e conhecia o recheio. Mas julguei isso como apenas mais um indicativo de sua pressa.
A garçonete, inicialmente, não conseguiu interpretar qual salgado o dedo da cliente apontava. E nem ouviu ela dizer as palavras “folhado de frango”.
- Este? – perguntou, apontando para o salgado ao lado.
- Não. O de frango – respondeu a cliente.
- Este?
- Isso.
- Este é de frango. – Explicou, educativamente, como se a cliente não tivesse especificado o suficiente. Talvez ela esperasse que a moça ainda começasse a narrar, com minúcias, como o lanche era preparado.
- É pra comer aqui, ou pra levar?- Pra levar.
A garçonete usou um pegador... (a ferramenta deve ter um nome peculiar como “apanhador de folhado de frango”, mas não sou tão específico quanto a pobre cliente que, você deve lembrar, estava com pressa) A garçonete usou um pegador para colocar o folhado de frango em um pacote.
Quando o salgado estava já pela metade dentro do pacote, apareceu outra funcionária [elas são muitas] e esclareceu para a primeira:
- O folhado de frango é esse com gergelim em cima. O outro é de carne moída.
A garçonete retirou lentamente o folhado de frango, que já estava quase dentro do pacote, e disse para a cliente.
- Este folhado é de frango. É esse mesmo que você quer?
Enquanto a cliente balançava a cabeça dizendo que sim, eu quase saí de meu estado de mera observação, para perguntar à garçonete:
- Pelo amor de Deus! Você quer ou não quer vender esse folhado de frango??!!!
Eu devia ter feito isso. Mas julguei que a garçonete não entenderia nada do que eu estava falando. Ela já havia dado mostras de ser “meio” devagar.
Enquanto eu extinguia o conteúdo do segundo sachê e tomava mais um gole de café, ainda pude ver a cliente pegar, enfim, o pacote com o tão aguardado folhado de frango.
Dessa vez, ela saiu sem nenhuma pressa.
10 de ago. de 2009
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2 comentários:
e eu achando (pretensiosamente) que era a única que corrigia mentalmente o atendimento nas cafeterias e afins...hahaha
adorei!!
Vai ver que, se ela aparentasse pressa, iriam querer somar a conta usando um ábaco.
Aí seria o fim.
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