22 de jan. de 2009

Mistérios da reforma ortográfica

Por que razão um grupo de pessoas se reúne para mudar o nosso modo de escrever, sendo que isso não terá nenhuma utilidade prática? Até agora os argumentos em favor da mudança ortográfica da língua portuguesa, que já acontece, não me convenceram.

O mais próximo de uma explicação diz que a mudança facilitará o intercâmbio cultural, pois livros escritos em Portugal terão maior aceitação no Brasil, por exemplo, e vice-e-versa. Mas, tomando por base um dos exemplos mais citados em cursinho pré-vestibular, uma “fila” continuará sendo uma “bicha” em Portugal. O que significa dizer que o intercâmbio continuará dependendo de uma adequação de editores.

Os critérios para as alterações são misteriosos. Afinal, o trema tinha um objetivo claro: demonstrar em que momentos a letra “U” deveria ser pronunciada. Da mesma forma, o acento diferencial tinha um objetivo: diferenciar a pronúncia de duas palavras grafadas quase de forma idêntica. Agora, as dificuldades começam a aparecer...

Tive que ler por três vezes uma frase escrita pela ombudsman do Jornal da Manhã, nesse domingo, até captar seu sentido. “Compreendo o leitor e o apoio.” O apoio de quem? Eu me perguntava. É que não é apoio. É apóio. É conjugação verbal, não substantivo. Só que a ombudsman já começou a usar a nova ortografia, que determina a retirada da acentuação que diferenciava uma palavra da outra.

A história nos mostra que, ao longo do tempo, a evolução da língua não partiu tanto das normas dos livros, e sim de seu uso prático no cotidiano. Sendo assim, estou aqui me perguntando qual é a conseqüência (ops, consequência) da reforma ortográfica.

Seria muito bonito se a própria população rejeitasse essas mudanças. Se o trema continuasse aí indefinidamente, assim como o acento diferencial. E o hífen permanecesse inalterado. Entretanto, como lembrou um professor numa reportagem que vi outro dia: a maior parte da população já escreve errado, então não vai haver grande mudança nesse sentido. As pessoas, então, nem saberiam protestar, porque para isso deveriam conhecer a escrita correta.

Acredito que por trás dessa mudança bizarra deve ter uma motivação que escapa a nossa visão limitada. Do ponto de vista da conspiração, alguma razão política, talvez. Por outro lado, pode ter sido apenas o resultado de uma aposta sem sentido feita entre governantes numa noite de muita bebedeira...

De qualquer forma, levando em conta que é o cotidiano que determina a evolução real da língua portuguesa, arrisco fazer aqui uma previsão... Em vinte ou trinta anos haverá pessoas dizendo “linguiça", assim, como a partir de agora se escreve. E não vão dizer mais “Eu apóio essa idéia”. Vão dizer “Eu apoio essa ideia.”

Ou seja, a escrita correta fará com que passemos a falar errado. E isso se tornará tão comum, que o Aurélio trará como corretas ambas as pronúncias. Exagero meu? Pode ser que sim. Pode ser que não.

*perdoem eventuais erros de ortografia nesse texto... ainda estou aprendendo.

3 comentários:

Tônia disse...

oi Danilo

diante da reforma ortográfica e dos prováveis acontecimentos que hão de vir com a prática, só posso escrever q "concordo com vc e lhe apoio"

bju

BANDO DA LEITURA disse...

sem palavras...

Melu :) disse...

Os internautas é que estão gostando desse lance... Eu mesma nunca usei trema conversando com alguém pelo MSN hehehe