24 de nov. de 2008

Afinal, o que é original?

Quando ainda estudava na universidade, naquele tempo em que a gente começa a ler de tudo um pouco, especialmente planejando um futuro projeto de Trabalho de Conclusão de Curso, percebi, indignado, o quão difícil é ter uma idéia original.

A humanidade adquiriu tanto conhecimento ao longo dos últimos anos, que tudo parece já ter sido inventado ou pensado. E agora atingimos uma fase em que, mesmo quando temos uma idéia nova, descobrimos que já foi inventada. As pessoas pensam de forma semelhante (está aí a disputa entre Santos Dumont e Irmãos Wright para confirmar o que digo), e agora existe outro fator que contribui para isso: a internet.

No sábado, estava aqui lembrando do Chocolate Surpresa, que fez sucesso na década de 1980, vindo a desaparecer somente no final dos anos 1990, se não me engano. O chocolate, provavelmente você lembre, fazia sucesso porque trazia figurinhas colecionáveis, sobre temas diversos. E aí residia grande parte de sua aceitação no mercado. O brinde fazia com que as crianças, e até mesmo alguns adultos, buscassem o chocolate. O sabor era muito bom, mas deve ter sido a barra de chocolate mais fina da história, sendo que boa parte do preço se justificava apenas pelo brinde.

Conversando dia desses, comentei: por que será que o Chocolate Surpresa deixou de ser fabricado? Era tão divertido juntas as figuras, e o chocolate ao leite era saboroso, como do chocolate Kinder Ovo.

Foi aí que tive um estalo: óbvio... o Kinder Ovo surgiu, e logo depois o Chocolate Surpresa desapareceu. Entre um chocolate que oferecia uma figurinha, e outro que oferecia um brinquedo, qual seria o preferido? O Kinder Ovo condenou o Chocolate Surpresa à extinção. Na época o Kinder Ovo ainda custava um real. Era uma concorrência desleal.

Parecia uma grande revelação. Mas a internet está aí pra me desmentir. A wikipedia já relaciona o Chocolate Surpresa ao Kinder Ovo. Não diz que um condenou o outro ao desaparecimento, mas me parece evidente, tanto que outros blogs fazem a mesma relação.

O google torna ainda mais fácil derrubar idéias pretensamente originais. Um colega, no outro dia, sugeriu fazer ilustração de uma folha de maconha em sua camiseta, e incluir o texto “ERVALIFE”, numa paródia aos produtos Erbalife.

Estava todo animado, planejando como desenhar a folha de maconha, até eu dizer a ele que, muito provavelmente, alguém já havia pensando nisso antes. Sugeri uma visita ao Google e, tadããã! Sua idéia já estava lá, e até mesmo as camisetas com a tal inscrição e desenho, em diversos modelos, e prontas para comercialização. Não perguntei a meu colega, mas acho que desistiu da idéia de fazer a tal camiseta... me sinto até um pouco culpado.

No fim de semana, reparei que meu irmão colocou em seu perfil do Orkut a seguinte frase:

Não sou nada / Nunca serei nada / Não posso querer ser nada / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo

Perguntei a ele porque tinha colocado aquela frase em seu perfil, e ele disse que era um trecho do poema “Tabacaria”, de Fernando Pessoa. Acontece que existem milhões de poemas no mundo, e outros zilhões de trechos de poemas. E já vi o mesmo trecho em dezenas de perfis no Orkut. Por que isso acontece, pra mim continua sendo um mistério. A não ser pelo seguinte: as pessoas têm pensamentos em comum. E está aí a disputa entre Santos Dumont e Irmãos Wright para confirmar o que digo.

4 comentários:

Lina disse...

Sem querer ofender, ou qualquer coisa do gênero... é só pra complementar mesmo....
(leve para o lado irônico da coisa, ok?)
mas a sua idéia de escrever sobre como as pessoas pensam de maneira igual também não é novidade... Thomas Kuhn já tentou até explicar o porquê disso acontecer...!

Alberto Mayer disse...

Se eu posso acrescentar um comentário, lembro dos casos de Newton e Leibnitz com o cálculo infinitesimal; Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, tão famoso o tal Walace que tive que pesquisar seu nome na Wiki; e outros que agora não me ocorrem.

Danilo Kossoski disse...

Sim... E não esquecer do caso do Padre Landel de Moura e Guglielmo Marconi, com a invenção do rádio.

caroline p. disse...

Saudade do chocolate Surpresa... hehehe