Felipe é um cara legal. Mas quase nada sei do Felipe. O pouco que sei demonstra que é um cara legal... Ele trabalha em um quiosque de venda de acessórios para celulares, no saguão de entrada de um dos supermercados da cidade. Passa o dia vendo pessoas irem e virem com sacolas de compras. A maioria não para, e nem percebe sua presença.
Essa rotina já se mantém há alguns meses, tempo suficiente para que Felipe tenha decidido que quer algo mais para sua vida, que esse é um serviço temporário, que provavelmente está fadado à extinção já que tudo que ele comercializa ali pode ser encontrado na internet, muitas vezes por preços menores.
Há duas semanas fui até seu quiosque procurando capa para meu novo smartphone. Como sempre, tonha comprado o aparelho mais barato que encontrei, que apenas oferecesse todas as funcionalidades principais exigidas pelo mundo ocidental contemporâneo. A consequência disso é que os acessórios são sempre difíceis de encontrar. O quiosque de Felipe era apenas mais uma tentativa, sem grandes expectativas.
- Boa tarde... Você tem capa para este aparelho? - perguntei
Felipe pegou o celular, fez uma rápida inspeção, e deu início a uma busca nas prateleiras nas quais acreditou que pudesse encontrar algo. Depois de cerca de um minuto, voltou de um compartimentos que parecia ser do estoque de coisas que, pensou, nunca venderia.
- Olha... pra não dizer que não tenho nada... tenho essa aqui. - estendeu uma capa preta brilhante, e já foi vestindo em meu aparelho, me entregando em seguida.
- Quanto custa?
- Vinte reais, mas eu faço por dez.
Diante de meu silêncio, pareceu decepcionado:
- O que foi? Não gostou do modelo?
- Ah, não é isso. Claro que se tivesse mais opções seria ideal, mas, é que não é pra mim. É pra minha esposa. Comprei um celular igual para ela. E não tenho certeza se ela vai gostar do modelo... Mas, eu vou fazer o seguinte, vou tirar uma foto dessa capa, envio para ela, e ela já me responde se gostou ou não.
Felipe fez cara de quem estava terminando de ter uma ideia. Fechou um pouco mais as pálpebras, enquanto me olhava, como se tentasse adivinhar minha reação diante das palavras que viriam a seguir. Então, com a decisão tomada, veio com essa:
- Faz o seguinte: leva pra ela de presente.
- Como assim?
- Pode levar. A vida é assim, um ciclo: a gente se encontra de novo, e um dia posso precisar de uma ajuda sua. Leva pra ela de graça.
- O-obrigado. - falei, ainda sem acreditar
Foi quando quis saber o nome do rapaz, cuja voz tinha uma entonação que parecia dizer sempre "não se preocupe, tudo vai dar certo", independente do que ele estivesse falando. Isso foi na primeira semana do ano, e me fez acreditar que as coisas tendem a melhorar. Que 2016, por mais difícil que tenha sido, pode estar fazendo as pessoas repensarem muitas coisas, talvez deixando questões materiais de lado. Que, a partir de 2017, uma nova era se inicia, com mais bondade nos corações, pessoas querendo fazer amizades e reconhecendo que vivemos na mesma bolha perdida no espaço. Me fez voltar a ter fé na humanidade, pôs um sorriso em meu coração.
Ou... Felipe é apenas um cara legal.
16 de jan. de 2017
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