21 de out. de 2014

Resenha: 'O Fim da Infância'

Muitas pessoas tentam me convencer a ver filmes ou ler livros que dizem ser muito bons. No entanto, sou pouco influenciável nesse sentido. Evito ao máximo seguir os conselhos de meus amigos, e acabo fazendo pesquisas por conta própria, antes de me decidir por acatar o conselho de quem quer que seja. Quase sempre.

Isso faz com que eu seja um dos poucos caras em meu círculo social que não conhece, pessoalmente, obras populares entre os minimamente nerds, como é o caso de "2001: Uma Odisseia no Espaço". Até hoje não assisti ao filme, mas acho que agora terei que vê-lo. Meu amigo Ben-Hur Demeneck emprestou outro livro do mesmo autor, Arthur Clarke, e me convenceu de que o sujeito, que morreu há poucos anos, era um gênio.

A obra "O Fim da Infância", cuja leitura encerrei há poucos dias, é única. Depois dela, muitas outras surgiram, certamente tendo se baseado, ao menos em parte, em seu conteúdo. Impossível iniciar a leitura da descrição da chegada de gigantes naves alienígenas à Terra, sem relacionar a história ao filme "Independence Day". Não há como acompanhar a interferência, aparentemente, benéfica dos invasores sem lembrar do seriado "V", que há pouco era exibido na televisão.

Essas referências diminuiriam o impacto da obra de Clarke, se não considerássemos que ele escreveu seu livro no início da década de 1950. Nem sequer o primeiro satélite artificial estava em órbita ainda. O homem só pisaria sobre solo lunar na década seguinte. Por isso, ler "O Fim da Infância" é como ter a oportunidade de encontrar com uma das primeiras obras de real influência em toda a safra de obras de ficção científica relacionada a ETs que veio nos anos seguintes.

Muito mais que isso, o livro faz uma brilhante abordagem filosófica a respeito do homem, daquilo que o faz sentir-se importante e único no Universo. A narrativa mostra uma raça de seres - "Senhores Supremos" - que vem à Terra oferecendo prosperidade, avanços tecnológicos e de conhecimento. Aparentemente, nunca fazem o mal, mas despertam a curiosidade de muitos. Isso porque jamais mostram sua aparência física, nem revelam os reais motivos que os trouxeram ao planeta azul.

Cinqüenta anos após estarem no convívio do homem, conforme prometido, eles mostram seus rostos. Geram dúvidas devido à sua aparência bizarra (se bem que familiar), mas todos os homens já estão bastante habituados com sua presença, e acostumados à interferência benéfica que exerceram nos últimos anos.

Em paralelo, um homem consegue viajar clandestinamente na nave alienígena, até o planeta de origem dos visitantes, para tentar saber mais a respeito deles. Ao voltar, viajando na velocidade da luz, encontra uma Terra 80 anos mais velha, e totalmente mudada.

Seria um grande erro revelar aqui os detalhes minuciosos que tornam o livro tão espetacular. Mas basta saber que ele é convincente. Que tudo que parece acaso, ao final, se revela repleto de sentido. Que a viagem pelo espaço descrita na obra obedece ao que se sabe a respeito da física astronômica, e se mantém atual, mais de 60 anos após sua publicação.

E que, em determinado momento, nos surpreende saber que a cozinha descrita como do futuro teria um item bastante popular chamado "forno de radar". O que significa que Clarke previu até mesmo a popularização dos fornos microondas, que só se tornaram realmente utilizáveis após década de 1970. Ler "O Fim da Infância" faz pensar sobre tecnologia, humanidade e até paranormalidade. E nos mostra que muita coisa evoluiu em nosso mundinho, mas a boa ficção científica atual engatinha, quando a comparamos com a obra de Arthur C. Clarke.

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