2 de set. de 2009

Lagoa? Dourada?

A tarde de domingo era quente e perfeita para um passeio ao ar livre. Céu limpo e muito sol. Com direito a protetor solar e garrafa d’água, eu e a Pri fomos rever a Lagoa Dourada, conforme planejamento feito no meio da semana. Eu não estava a par das mudanças na visitação. Achava que ainda era possível ir até a Lagoa, jogar miolo de pão para os peixes, e fazer piquenique debaixo de alguma árvore.

Agora os passeios têm bastantes restrições, como acontece no trajeto dos arenitos de Vila Velha. A presença do guia é exigência. O pagamento na bilheteria também. Deixamos o carro no estacionamento do Parque, e tivemos que seguir uma trilha [a primeira] até a bilheteria. Mas, primeiro, um dos funcionários veio ao nosso encontro para dizer que era obrigatório assistir a um vídeo, e preencher um breve cadastro.

A sala já exibia o filme para cerca de dez pessoas quando entramos. As imagens falavam das condições do passeio: caminhar sempre na trilha de pedras [ou seriam lajotas?] e não sair do caminho nem mesmo para tirar fotos; não alimentar animais; não arrancar flores etc.

Duas coisas faltaram no filme: legendas em inglês, para visitantes estrangeiros [haveria outra sala, com projeção específica para eles?], e a informação de que os visitantes deveriam usar repelente de mosquito.

O vídeo logo terminou, e os visitantes saíram da sala com ar de “finalmente...”. Os que iriam ver os arenitos logo partiram em um microônibus. Nós íamos apenas visitar as furnas e a Lagoa Dourada. Só tinha condução até lá às 15h30. E ainda não eram duas horas.

Ficamos em um banco de madeira, à sombra das árvores, tomando água e abusando do protetor solar, já que o sol estava quase arrancando reclamações, comuns ao ser humano, no calor, frio, vento ou chuva.

A água da garrafa já estava quente, e eu pensei em jogar o conteúdo, e encher de novo com a água dos bebedouros, que estava geladinha.

- Ah, vai jogar a água aqui, então? – perguntou a Pri
- Por que não? Vai dizer que também é proibido “alimentar” as plantas, porque elas só devem receber a água das chuvas... – brinquei, fazendo referência ao vídeo, que proibia aos visitantes dar comida aos animais.

Acho que foi quando fiz essa primeira piada sem graça que veio um mosquitinho “porva” [no original, pólvora] e atacou minha perna direita, fazendo surgir um calombo. Aí minha namorada percebeu que eu não estava mentindo quando disse que sou alérgico a picadas de insetos. Não sou como o Macaulay Culkin no filme “Meu primeiro amor”, mas sou alérgico.

Passei mais protetor solar, tentando criar um efeito psicológico que me fizesse acreditar que também funcionaria como repelente de mosquitos. Por alguns minutos achei que tinha funcionado, mas quando entramos no ônibus descobri que tinha mais um mosquitinho porva, dessa vez na minha perna esquerda. Novo calombo.

Ainda bem que tínhamos desistido de fazer piquenique na Lagoa Dourada. Em primeiro lugar, não seria permitido pelo guia turístico; em segundo, os mosquitos não me deixariam em paz. O diacho do fato que eu omiti até agora, é que justo nesse domingo eu resolvi sair de bermuda.

No trajeto de cerca de dez minutos até as furnas, o guia falou pouca coisa, mas traduziu tudo para um grupo de orientais que estava à frente. Eu nunca sei dizer, assim de cara, se um oriental é japonês, chinês ou coreano. Engraçado é que eles detestam serem confundidos. Bom, o fato relevante é que eles não entendiam quase nada de português.

Chegando nas Furnas, o guia apontou um quadro que explicava como era, geologicamente, a constituição das furnas:

- Bom, aqui onde vocês veem o desenho de água, na verdade é rocha... É que fizeram errado esse quadro. Aqui tem um elevador, mas ele não funciona desde 2001. E aqui onde diz Lagoa Dourada, na verdade não é uma lagoa. Lagoa é só o nome, porque é mais uma furna, só que coberta de água.

Explicou mais ou menos isso, e fiquei esperando ele dizer por que é proibido visitar a Lagoa Dourada depois das 17h, considerando que, segundo os anúncios turísticos, é justo o momento em que as águas ficam douradas. Mas o guia não explicou, e a Lagoa Dourada continuou não sendo lagoa, e não sendo dourada.

Então, seguimos a trilha até as duas furnas abertas para visitação. As furnas são grandes crateras, bonitas de serem vistas. Mas o elevador faz muita falta. A vontade que a gente tem é de descer para ouvir, lá de baixo, o som das gotas que escorrem pelos paredões e caem na água represada. Lembro de uma vez em que foi notícia nos jornais a descoberta de que nas furnas vive uma espécie de lambari única no mundo, porque se criou e desenvolveu de maneira totalmente isolada. O guia não falou nada a respeito. Será que os lambaris ainda estão lá? Eu devia ter perguntado, mas acabei esquecendo dessa.

De volta ao ônibus, ainda íamos para a Lagoa Dourada, que não é lagoa, e tampouco dourada. Um dos orientais entrou no veículo visivelmente cansado, transpirando excessivamente. Falou em voz alta com o motorista:

- “Amigo” [a primeira palavra em português que deve ter aprendido] “...finish?” – perguntou

E fez um gesto com as mãos, para que o motorista entendesse que ele queria saber se havia acabado o passeio. O motorista não entendeu nada, e pareceu fingir que não era com ele a conversa.

Ao nosso lado, outro dos turistas derrubou algo no chão do ônibus. Pareceu uma garrafa de água. A garrafa rolou para debaixo da poltrona, e ele não estava conseguindo pegar de volta. No momento em que ele se abaixou, levantei rapidamente, fiz uma expressão de pavor, e gritei com toda a força:

- Uma bomba! Ele tem uma bomba!

Todos olharam assustados. O motorista freiou bruscamente. O guia se desequilibrou e bateu contra o parabrisas. Metade dos passageiros se levantou e tentou abrir, em vão, a porta para sair. Dois ou três repetiam que havia uma bomba dentro do ônibus. O sujeito finalmente conseguiu levantar e mostrar que só tinha uma garrafa de água nas mãos. E olhou para mim com cara ameaçadora.

Disfarçadamente, olhei para a frente e reparei que os orientais não estavam entendendo nada do que acontecia. Foi então que fiz nova expressão de terror, e gritei com maior força ainda:

_It’s a bomb! It’s a bomb!

E o pânico se instalou também entre os estrangeiros.

(...)

Bom, eu acho que a cena teria sido engraçada. Mas, como só eu iria achar graça, resolvi ficar quieto enquanto o sujeito procurava a garrafa, e não gritei “Ele tem uma bomba!”. Portanto, nada disso aconteceu, e o pânico não se instalou dentro do ônibus. O trajeto até a Lagoa Dourada foi tranquilo.

Chamou a atenção o fato de que, na entrada das Furnas, e na entrada da Lagoa Dourada, havia recipientes de álcool em gel. O pessoal insiste em dizer que isso afasta o vírus da gripe suína. Eu não vejo como pode ser útil num passeio ao ar livre. Gostaria que fosse um recipiente de repelente de mosquito. Porque a Lagoa Dourada é um verdadeiro berçário dos insetos. Se eu fosse um cara muito chato, diria que deveriam drenar a Lagoa Dourada, para evitar a proliferação de dengue no verão. Mas eu não sou assim... não mesmo...

Paramos a fim de tirar algumas fotos, e os bichinhos vieram, sedentos de sangue, e preferindo atacar orientais e descendentes de poloneses. Mas, enquanto os mosquitos me devoravam, ainda tive tempo de observar que havia pouquíssimos peixes perto da margem, onde os visitantes ficam. Senti saudades da época em que jogávamos miolo de pão na lagoa e parecia haver mais cardumes que água.

Seguindo a trilha, logo estávamos de volta à frente do ônibus. Mas uma das visitantes orientais estava com mais pressa. Parecia estar sendo atacada por um enxame de abelhas, mas eram os mesmo mosquitos. Fiquei me perguntando se não havia mosquitos no Japão.

Eu tinha mais de uma dezena de picadas, e cada vez que eu macetava um mosquito [o vídeo não disse que eu não podia fazer isso], já surgiam outros dois sugando meu sangue de novo. O curioso é que a Pri permanecia tranquila. Com certeza os mosquitos escolhem suas vítimas por algum critério que ainda não foi descoberto pela ciência.

Fiquei novamente descansado dos ataques de hematófagos, depois que me sentei na poltrona do ônibus. Será que exagerei no problema com os mosquitos? Eu achava que sim... mas aí um dos orientais entrou no ônibus e disse: “Mosquito!” Provavelmente a segunda palavra em português que ele aprendia. Outro passageiro, ao meu lado, comentou. “Pelo menos hoje eu já doei sangue o suficiente”.

Então, de fato, acho que o item “mosquitos” deveria fazer parte dos temas apresentados no vídeo antes do passeio. E repelente devia ser distribuído na entrada do Parque. Fica a sugestão...
Mas eu selecionei aqui os pontos que julguei engraçados ou curiosos. Ao leitor pode parecer que não gostei do passeio, mas é justo o contrário. Respirar o ar puro, sentir o sol no rosto, o vento. São coisas que não se pode fazer todos os dias, e muito menos com a calma que um domingo oferece. Caminhar ao ar livre, ver pessoas desconhecidas e observar suas reações em situações incomuns. Rir de situações cômicas ou insólitas. E rever as Furnas e a Lagoa Dourada. Tudo isso é ótimo, e melhor ainda em boa companhia. Muitas vezes, é a companhia, e não o por do sol, que torna a lagoa dourada.

Confira abaixo o vídeo da banda Mandau, sobre a Lagoa Dourada.

http://www.youtube.com/watch?v=tT95YgN505w

2 comentários:

Aline Pigatto disse...

Muito bom, Danilo. Mesmo com toda a "porvarada" deu vontade de ir até lá... Pq como "boa" ponta-grossense típica, conheço mto pouco de nossos pontos turísticos.
Mto legal esse teu romantismo tbm, é restaurante pra agradar a moça, é amor que deixa tudo mais bonito que o pôr do sol... Parabéns, que sejam mto felizes!
:)

Ah, e muitíssimo bom tbm esse clipe da Mandau. Bateu um orgulhinho (há tempos não sentido) por serem da terrinha...

Até mais, Danilo!

Tônia disse...

oi !!

fui uma vez à lagoa dourada, na época q se andava por tudo e havia vândalos q colocavam lata de coca-cola nos arenitos.........

chorei de rir pensando q vc tinha falado, de verdade, da bomba..hahahaha

se bem q vc nunca foi dado a esse tipo de coisa, é comedido, diferente d mim, hehe

e q tipo ! quadro errado p/ turistas !!
bjuu