13 de fev. de 2007

Do alambique ou do Ribeirão?

Parem as prensas!
Não sei se algum jornalista já gritou isso de verdade, ou se é apenas coisa de Hollywood. Afinal, Sherlock Holmes também nunca disse “elementar, meu caro Watson”. A expressão só existe em filmes e desenhos animados.

No meu caso, ordenar que parem as prensas está ainda mais complicado. Trabalhando num site de notícias, no início do século XXI, nem há prensa. Na verdade, até mesmo os furos de reportagem de antigamente estão difíceis de serem descobertos, ficando difícil achar um pretexto para o grito.

Mas uma coisa continua igual... “Parem as prensas” continua sendo uma frase genuinamente jornalística, mesmo que os filmes tenham sido os responsáveis por isso. E sendo assim, me sinto no direito de berrar essa exclamação quando coisas absolutamente anormais acontecem diante dos meus olhos ou, no caso, de meu olfato e paladar.

Sim, porque ontem algo estranho aconteceu. Não renderia furo de reportagem, a menos que fosse no antigo Programa do Ratinho (não no novo “Jornal da Massa”, apresentado no SBT por um tal de Carlos Massa). Se fosse num desses programas sensacionalistas, o Padre Quevedo seria chamado para dizer que “Esto nô ecxiste!”

Na ausência do desmistificador do paranormal, a coisa toda permanece obscura. O fato é que ontem, ao chegar na redação, depois de alguns minutos de conversa com o Rodolfo, programador do site, ele veio com o comentário:
_Nossa... e esses dias, que eu fui tomar um gole d’água ali e senti gosto de cachaça!

Ralph estava na sala também. Nós dois olhamos para o filtro de água, com sua aparência azul-inocente, e soltamos uma boa gargalhada.

O filtro de água é novidade para mim. Na semana passada eu não conseguia tirar água dali. Comecei a pensar que era exigido algum tipo de técnica especial, como para ordenhar vacas. Na ocasião, Seu Flávio deu risada: “Mas vocês jornalistas, tá louco viu... Só sabem escrever, mesmo! Tem que dar uma sacudida no filtro. A água foi trocada há pouco tempo, deve ter entrado ar, ou algo assim”.

E, realmente, bastou uma sacudida e a água voltou a escorrer para o copo de plástico. Aos poucos comecei a perceber que o filtro de água, assim como um computador, um carro ou um grampeador, possui suas esquisitices e particularidades. Mas nada comparado ao que aconteceu no início da tarde de ontem.

Depois do almoço, eu e Ralph voltamos à redação. E resolvi tomar um pouco d’água. Mas só depois do primeiro gole é que eu senti que algo estava errado. Porque na escola a gente aprende que a água é insípida, incolor e inodora. E aquela ali só estava incolor. Cheiro e sabor estavam muito mais próximos da aguardente. Sim, cachaça!

De imediato pensei em algum tipo de sabotagem. Alguém devia ter misturado cachaça à água mineral. Mas parecia não haver como. Colocar aquele filtro já é complicado, porque alguém se daria ao trabalho de fazer isso? E com que objetivo?

Depois pensei que algum produto na água poderia tê-la feito fermentar durante estes sete dias. Mas, que produto? Estamos falando de água... engarrafada.

Sendo assim, o mistério permanece, ao menos por enquanto. Como a água pôde virar cachaça? Milagre? O fato é que cheiro e sabor parecem ficar mais fortes a cada momento. Fica registrado apenas o comentário de Ralph: “Esperar mais alguns dias, daí a gente vai dar uma festinha...”

*****

...Depois de terminada esta crônica, estava me preparando para publicá-la, quando Seu Flávio entrou na sala, e aproveitei para falar a ele a respeito do fenômeno da transmutação da água em cachaça:

_Seu Flávio, já viu o que aconteceu com a água?
Ele olhou em direção ao filtro:
_Não vi nada. O que aconteceu?
_Tá com um gosto meio estranho... – falei
_Ah, é...? Ah, sim, claro... Deve ser porque eu lavei o filtro com álcool na semana passada, antes de trocar o garrafão.
_Lavou com álcool?
_Foi. A água deve ter pego o gosto e o cheiro.
_Mas, então porque o gosto demorou tanto pra chegar à água? Na semana passada a água ainda estava boa.
_Ah, bom... aí já é outro mistério...


2 comentários:

Anônimo disse...

Danilo...Imagino a sua situação ao tomar água com gosto de cachaça e pensar: será que estou bêbado ou essa água é "da boa"? depois vejo você dando aquela gostosa abertura de boca depois de dar um gole: "AHH!" e finalmente, você batendo o copo de água/cachaça na mesa...
só queria te dar um conselho: se a água demorou para pegar o gosto do álcool, então por favor, pede para ninguém fumar, ou ascender um fósforo perto do filtro, porque daqui algumas semanas, o mesmo pode acabar pegando fogo...é sério, não ria!
esta seria uma situação de gritar mais alto ainda: parem as prensas! o bombeiro sumiu!
pq daí, qdo você ligar no bombeiro e disser: "rápido, meu filtro de água que estava cheio de água com gosto de cachaça pegou fogo!" vc pode ouvir uma boa gargalhada e depois a frase: "cada trote que a gente tem que ouvir nessa profissão..."
então, por favor, peça para o pessoal evitar cigarro, fósforo ou sinal de fumaça perto do filtro. Coloque uma placa: "Favor não fumar enquanto estiver perto do filtro/alambique". Um MOI obviamente. Gigante com certeza.
rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
saudades de vc!
Beijos
Lídia

Anônimo disse...

...só um oi =)