É verdade que, por duas ou três vezes, já me senti atraído por bingos, especialmente quando o prêmio era um carro. Mas, ainda assim, os jogos nunca exerceram sobre mim aquele fascínio que consegue motivar as pessoas a fazerem volume nas filas de lotéricas em véspera de sorteio de mega-sena.
Mas, dessa vez, um fato específico me fez ficar ainda mais longe das filas: o sujeito que ganhou o segundo maior prêmio da mega-sena foi assassinado no domingo, dia 7 de janeiro. E até quem não costuma fazer jogos pode apostar que o motivo foi o dinheiro. Por coincidência, o prêmio que o cidadão havia conquistado (em 2005) era de cerca de R$ 52 milhões, um valor muito próximo daquele que foi o prêmio da semana passada.
Agora surgem várias reportagens na televisão a respeito do homem assassinado. Por acaso, ou não, o nome da vítima era René Sena. Teria ele mudado o sobrenome depois de receber o prêmio, ou era coisa do destino?
O fato é que os jornais passaram a semana inteira divulgando que a mega-sena estava acumulada. Os telejornais me faziam perder tempo com suas reportagens, nas quais os entrevistados falavam sobre suas esperanças de ganhar todo aquele dinheiro. Um dizia que sempre apostava no número do próprio sapato, outro falaria sobre a data do aniversário... Outro dizia que, com mais de cinqüenta milhões, compraria uma casa. Um ótimo exemplo de como a entrevista pode ser desprovida de informação útil.
O Jornal Nacional trouxe a reportagem sobre René Sena. Mas a história só foi exibida no dia 10 ou 11, não lembro bem. Por que será que o jornal demorou tanto para divulgar a notícia? O jornal mais assistido no país aguardou quatro dias para noticiar um assassinato!? Mais uma estranha coincidência: a matéria sobre René foi ao ar justamente depois que o prêmio da mega-sena foi conferido a um apostador de Goiás que, sozinho, ganhou a fortuna.
Teorias da Conspiração à parte, só sei de uma coisa: cinqüenta milhões é muito dinheiro. Ganhar um carro já é motivo para o surgimento de muita inveja, imagine uma quantia como essa. Eu queria ver um repórter perguntando a um apostador se ele não tinha medo de ser morto depois de ganhar na mega-sena. Se ele não tinha receio de ser perseguido pelos próprios familiares, por causa do dinheiro. Eu devia ter feito tal reportagem, mas às vezes idéias como essa só surgem num momento em que não podem mais ser colocadas em prática. Mas, outras mega-senas acumuladas virão, aguardem...
Na terça-feira meu pai veio me dizendo que queria um favor: “faça pra mim uma aposta na mega-sena”, disse. E completou: “...o problema é ter coragem de enfrentar a fila”.
“O problema é ter coragem de jogar”, respondi. Pode ser maluquice, mas eu realmente tinha receio de ganhar o maldito sorteio, e não fiz a aposta.
No dia seguinte fui ao supermercado e, como tinha recebido uns cupons para sorteio de prêmios, participei de um pequeno jogo. Consistia em enfiar a mão numa máquina, e retirar de lá um bilhete que traria uma inscrição qualquer. E não é que ganhei uma batedeira de bolo?!
Recebi o prêmio e fui pra casa. Só algum tempo depois é que pensei: puxa vida, sorte que não apostei na mega-sena...