27 de mar. de 2006

Mentira? Imagine só!

Dias atrás um amigo veio dizer que conheceu minha ex-namorada. Engraçado como eu sempre falava para ele a respeito dela, quando ainda havia o namoro. E ele só foi conhecê-la depois que o namoro tinha chegado ao fim. O comentário dele: “Você sempre falava sobre ela... Mas como eu nunca a tinha visto, pensei que ela não existia. Pensei que ela fosse como um amigo-imaginário...” Fiquei pasmo ao notar que ele falava sério.
Durante muito tempo eu tentei compreender por que, raios, algumas pessoas duvidam de coisas que eu falo. Odeio, por exemplo, quando faço um relato e meu interlocutor pergunta: “Verdade?” Dá vontade de esganar a pessoa. “Mas, você jura?” Eu não juro porcaria nenhuma. Ou você acredita em mim, ou então vá pro inferno! Uhn... é isso o que eu deveria responder...

O fato é que, pensando no comentário de meu amigo sobre minha “namorada imaginária” e olhando para algumas de minhas comunidades no orkut, acho que cheguei a uma explicação.
Uma das minhas comunidades diz: “Eu não sei mentir”. E, de fato, se eu tentar mentir, fatalmente vou me sair pior do que se tivesse dito a verdade. Então, procuro não me arriscar. Outra comunidade anuncia: “Eu já vi Óvnis”. Já notei que essa é a comunidade que mais chama a atenção das pessoas, não sei por que motivo. Mas, pensei, interessante como a comunidade número 1 parece entrar em conflito com a número 2. E, finalmente, reparei em outra comunidade logo abaixo: “Minha imaginação me assusta”.
Certo... Refleti sobre essas três frases e cheguei à conclusão: Apesar de eu não mentir, as pessoas sabem que minha imaginação é fértil. Assim, mesmo sendo completamente sincero, como vão acreditar se eu disser algo como: “Ontem vi outro Óvni.”?

Quando eu era criança, acordava cedo e continuava deitado em minha cama. Ficava olhando para a cortina presa sobre a porta. Havia desenhos de flores na cortina. Mas, naquele estado de semiconsciência, eu via que uma das rosas tinha, em seu desenho, traços que lembravam um dinossauro, e que outras pétalas lembravam um soldado. Quando eu menos esperava, o soldado estava tentando matar o dinossauro e uma espécie de desenho animado surgia, sem que houvesse outro movimento que não fosse o da minha imaginação. Sim, eu vivia praticamente no “Mundo de Bobby”.
De lá pra cá, algumas coisas mudaram... A cortina não é mais a mesma. Agora é sem estampa. Mas existem histórias interessantes nos azulejos do banheiro.
Só sei que imaginar não é o mesmo que mentir. E que, na maioria das vezes, as coisas que imagino revelam mais verdade do que mentira. O engraçado é que, recuperando alguns dados de minha memória, percebo que nunca tive amigo-imaginário. Acho que, apesar do elevado grau imaginativo, sou incapaz de inventar pessoas. A menos, é claro, que eu tenha inventado todo mundo, e ainda esteja olhando para a velha cortina estampada.

20 de mar. de 2006

Pelo bem dos manequins

Há poucos dias escutei num anúncio de rádio uma expressão que há tempos não ouvia: “vitrine-viva”.
Na última (e primeira) vez em que escutei a palavra, eu devia ter uns sete anos de idade. Lembro bem, era noite de vésperas de Natal. Eu caminhava pelo Calçadão da Rua Coronel Cláudio – que talvez ainda nem fosse oficialmente um calçadão – junto com meu pai. De repente vi uma multidão de homens reunidos, todos em frente à vitrine de uma loja.
Fiquei curioso. Com tantas vitrines, por que todos resolveram ficar se empurrando diante da mesma? Perguntei ao meu pai sobre o que acontecia ali. Ele esboçou um sorriso e disse apenas “vamos lá também.” Brigando por espaço, pudemos chegar a ver as duas mulheres que, vestindo apenas peças de lingerie, realizavam movimentos robóticos e, em seguida, permaneciam algum tempo paradas, o rosto muito sério, evitando demonstrar reação às cantadas e assobios dos homens ali reunidos. Na ocasião, lembro bem, meu pai explicou que aquilo era uma vitrine-viva.

Mas as pessoas mudam. Umas crescem, outras envelhecem. As mais sortudas conseguem fazer as duas coisas. E agora, conversando com meu pai a respeito, chegamos à conclusão de que a vitrine não é viva. As manequins é que são. Faz sentido.
De lá pra cá eu nunca mais soube que tivesse existido outra vitrine como aquela. Mas eis que na semana passada uma das lojas da cidade anunciou a sua “reinauguração”. Reinauguração é um termo engraçado, também, nesse caso. Afinal, a loja existe há anos e nunca fechou. Já mudou de endereço, mas isso faz tempo. Então, não entendi por que disseram estar reinaugurando.
O fato é que a loja disse que durante a reinauguração haveria uma porção de atrações. Entre elas, uma vitrine-viva! Lembrei de minha experiência quando era criança e pensei: “Hora de rever a vitrine-viva.”
Mas, pra encurtar a história... foi uma grande decepção. As manequins eram bonitas, mas não usavam lingerie. E eu achava que vitrine-viva obrigatoriamente tinha que ter lingerie. Uhn... quem sabe no Natal?

Vitrines são coisas engraçadas. Eu raramente paro a fim de olhar uma delas. Mas, há algumas semanas, um anúncio em uma vitrine me obrigou a parar. Dizia assim: “Vende-se essa vitrine.” Também já vi uma vitrine que anunciava: “Vendem-se manequins.” Parece bem insólito. Como as livrarias que vendem placas de “Aluga-se”.

Coisa estranha são esses manequins. Não há padronização nos modelos. Existem manequins sem pernas, existem os sem-braços, sem pernas e sem braços, e até sem cabeça. Outros têm o corpo bem feito e uma cabeça bem pequena, como se o corpo tivesse sido feito por uma empresa e a cabeça por outra.
Li em algum lugar a respeito de maníacos sexuais que atacam manequins. Fico pensando que talvez esse seja o motivo de muitos desses manequins saírem da fábrica propositalmente mutilados. Talvez haja poucos maníacos dispostos a transar com um manequim sem cabeça. Ou talvez por isso alguns manequins tenham uma cara tão feia. Quem sabe por isso a maioria não tem cabelo? Pelo bem dos manequins. Sei lá, é uma teoria.

13 de mar. de 2006

Gripes e computadores que desafiam a lógica

Finalmente meu computador está trabalhando bem. A assistência técnica teve uma pequena participação, é verdade. Mas o problema principal fui eu mesmo que resolvi. Eles eliminaram o vírus e formataram o CPU. No entanto, o aparelho continuava não conectando à internet. Reclamei com a empresa e enviaram um técnico que é praticamente o clone de meu amigo Glaydson. Só muda o nariz. Vestuário, gestos e voz... tudo igual.
Glaydson Cover conseguiu conectar à internet. Mas, apesar de o sistema indicar a velocidade máxima de conexão (estava lá pelos 50.000bps), a realidade era outra. Nem a página inicial aparecia. Lembrando de como o computador funcionava antes de ser formatado, eu disse a ele que meu CPU funcionava mais rápido se conectasse a uma velocidade menor... Lá pelos 30.000bps. Mas ele disse, com muito cuidado para não me ofender, que isso não tinha lógica nenhuma, pois faria a velocidade de conexão diminuir, não aumentar. E foi embora, me deixando diante de um monitor que avisava: “a página não pode ser exibida.”

Consultei outro técnico e o diálogo foi engraçado:

Eu: Como faço para alterar a velocidade da conexão?
Técnico: Depende... é conexão discada?
Eu: É sim.
Téc.: Ah, então nem vai dar pra alterar muito. Normalmente a velocidade não pode ser aumentada.
Eu: Mas, não quero aumentar a velocidade. Quero diminuir.
Téc.: Você quer diminuir??? – cai na gargalhada, olha para os lados demonstrando incredulidade, depois nota minha expressão e fica sério – Por que você quer diminuir?

Resumindo, ele me disse que reduzir de 50 para 30kbps não tinha lógica nenhuma, corroborando a opinião de Glaydson Cover. Eu já estava cogitando a hipótese de comprar um novo computador. Mas ainda duvidava que isso melhoraria a situação com a internet. Sentei novamente diante do aparelho e fiquei fuçando. Até que encontrei um botão que dizia “conectar somente a...” Selecionei a opção 38400bps. Depois reinstalei o discador. E pronto! A internet está funcionando bem, como antigamente.
Gostaria de mostrar isso para os vários técnicos de informática que me disseram que isso era impossível. Mas tenho receio de que eles queiram dissecar meu CPU para descobrir o que ele tem de sobrenatural. Então, vamos manter isso em segredo... ou quase.
Resolvido o problema do vírus em meu computador, outro acaba de invadir minha casa... Peguei uma gripe das brabas! E desconfio que seja um vírus maluco que se propaga pela linha telefônica, mas não danifica computadores, e sim pessoas. Algo ao estilo de algum episódio do seriado de TV Smallville. Imagino que alterações naturais causadas pela exposição à criptonita, fizeram com que um vírus comum de gripe pudesse se converter em eletricidade, e mover-se a longas distâncias graças à invenção de Graham Bell. Só sei que os sintomas da virose começaram depois que conversei ao telefone com um amigo que teve o sistema imunológico atingido. De lá pra cá, até as pessoas com quem converso por e-mail estão ficando gripadas. Se você também adquirir o vírus da gripe enquanto estiver lendo essas palavras, irá confirmar minha teoria.

6 de mar. de 2006

Pausa para pensar na relação

Estive num café e pedi fricassê (deve ser assim que se escreve...) de frango. Veio um pedaço 25% maior do que o pedaço que comi na última vez em que estive no mesmo estabelecimento. Só posso supor que isso aconteceu porque eu estava ali na noite de quinta-feira, quando o movimento de clientes era pequeno. Talvez os funcionários fossem jogar no lixo o restante daquela comida, que já estava pronta, caso ninguém comprasse. Sei lá! Mas acho que vou começar a ir até lá mais vezes quando o movimento estiver baixo, só pra testar essa minha teoria. “A quantidade de fricassê servida é inversamente proporcional à quantidade de pessoas a freqüentar o estabelecimento no final do dia.”
Naquele mesmo café os guardanapos ficam empilhados no interior de um recipiente quadrado de acrílico, com uma espécie de alça que impede que um possível vento sobrenatural (é um ambiente fechado) desloque as folhas de papel. Olhando aquela peça de acrílico eu pensei, pela primeira vez, na existência de um guarda-guardanapo. Algo que não está no dicionário ainda, mas já está há um bom tempo nas mesas das lanchonetes, também na forma metálica mais tradicional. Uhn... talvez seja um “guardanapeiro”... Vai saber!

O fato é que eu estava comendo aquele belo pedaço de fricassê e tomando uma xícara de café, logo depois de ter saído de uma sessão no cinema do shopping. E isso foi dias antes, parece, de meu computador ter travado... Ou terá sido um dia depois? Bem, o fato é que meu computador travou o Internet Explorer. Aparentemente, depois que recebi algum vírus desconhecido via e-mail.
Eu não sei por que alguém se dá ao trabalho de disseminar um vírus que danifica o meu computador. Tudo bem... os computadores do Pentágono até merecem esse tipo de coisa – promovem guerras. Sabotar os equipamentos da NASA, por que não? Estão tentando importunar os coitados dos extraterrestres. Mas o meu computador... que mal ele faz ao mundo? É meu instrumento de trabalho, pôxa! E agora, aqui estou eu, numa lan house, publicando um texto no blog que, em virtude de uma série de problemas, não é atualizado há um bom tempo.

Minha maior distração é ficar atualizando o Universo e Afins e trocando e-mails! Depois do misterioso vírus que fez com que o Internet Explorer travasse, fui obrigado a levar o aparelho até a assistência técnica que, por razões obscuras, só devolveu o computador uma semana depois.
Eis que liguei o aparelho à internet, e ele não tem nem dez por cento da velocidade de conexão que tinha antes! Raios! Está simplesmente impossível ver sequer a correspondência. A conexão cai a toda hora. Impossível, apenas isso.
Sem computador, durante vários dias eu me senti totalmente perdido, como um náufrago. Aliás, é a melhor metáfora para quem costuma navegar na internet. Depois da fase náufrago, passei a sentir os efeitos da crise de abstinência. De repente me surpreendia caminhando de um lado para o outro, no meio da garagem aqui de casa, com as mãos tremendo.
Agora que o computador retornou, sinto como se estivesse hospedando um parente doente em minha casa. Fica aquela sensação de afeto e desejo de melhoras. Por outro lado, a gente não sossega um instante sequer, imaginando que a qualquer momento ele pode ter um colapso e bater as botas.

Para pessoas como eu, que não curtem o Carnaval, a internet acaba se tornando uma ferramenta indispensável. Aliás, no outro dia ouvi no rádio o comentário de um colega jornalista que dizia: “Às vezes penso que não sou brasileiro... Porque eu não gosto de futebol, não gosto de Carnaval, não gosto de Samba!” E acho que me identifico com esse pensamento. De vez em quando me sinto um estrangeiro em minha terra. Embora seja cada vez mais comum encontrar pessoas que não são fanáticas por esses três elementos, componentes daquilo que se convencionou chamar de cultura nacional.

Então, sem computador, acabei passando uma noite de Carnaval assistindo à partida de pôquer pela TV a cabo. Não significa que eu tenha o recurso em minha casa... Apenas dei seqüência a um hábito criado em 2001, e que há tempos não punha em prática: fui à casa de um amigo que possui TV a cabo, e lá fiquei até altas horas da noite, curtindo a programação. Porque assistir TV a cabo é uma arte que consiste em apertar rápidas vezes seguidas o botão do controle remoto, vendo pequenos trechos de tudo e não acompanhando, realmente, nada. E essa regra raras vezes sofre alteração.

Mas, voltando ao tema “internet”... Na ocasião, estive no cinema para assistir ao filme “A pantera cor-de-rosa”. Uma comédia em que Steve Martin interpreta um detetive atrapalhado. E eu estou precisando muito de comédia ultimamente. Mas não ri tanto quanto gostaria. Na verdade, ri quase nada. Não achei o filme tão bom assim. Mas, eu sou da opinião que todo filme, por pior que seja, apresenta coisas interessantes. Porque o sentido de um filme – assim como o sentido de várias outras coisas, talvez de tudo – depende muito de nossas próprias experiências e formas particulares de ver o mundo.
E nesse filme há um diálogo bastante pertinente. A moça olha para o personagem de Steve Martin e pergunta: “Detetive... você mora sozinho?”
E ele responde: “Não. Eu tenho internet.”
Pois é... Algo para se pensar.