Ele, trabalhando no jornal, saía sempre mais cedo, quando ela ainda não havia acordado. Ela, trabalhando numa loja de vendas de celular, só precisava levantar uma hora depois. E assim, o momento do reencontro era quase sempre a hora do almoço, em algum restaurante do centro da cidade. Mas, naquele dia, o silêncio da mulher fez com que ficasse preocupado. Finalmente ela falou.
_Hoje tive tempo de ler o seu jornal.
_“Meu jornal”... essa é boa! – ele sorriu.
_Você me entendeu. – ela disse, de cara fechada.
_Ahn... e achou algo interessante?
_Não gostei de seu texto.
_Qual deles?
_Aquele artigo que fala sobre Plutão ter deixado de ser planeta.
_Ora, o que tem de errado?
_Você escreveu que se sente enganado porque no colégio te ensinaram os nomes de nove planetas. E agora só há oito.
_É... foi o que escrevi. Já tentou dizer os nomes dos planetas do Sistema Solar, agora que retiraram Plutão? “Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Urano, Netuno e...” Fica sempre um “e” no final. Uma espécie de vácuo na memória. Como se Plutão tivesse explodido como aconteceu com Krypton.
_Você está desviando do assunto.
_Não tô não... Tô falando de Plutão. – ele disse, colocando mais salada no prato. Olhou pra mulher e viu que continuava aborrecida – Ahn... por que não gostou do texto?
_Você disse que a culpa dessa desinformação é dos professores, que ensinaram que o Sistema Solar tem nove planetas, sem deixar qualquer chance de questionamento.
_Não. Eu escrevi que eles têm uma parcela da culpa. Mas, é claro... Com essa mania de considerar a ciência uma coisa exata, sempre me disseram que existem nove planetas. Uma vez até me disseram que, com o tempo, poderiam descobrir outros planetas. Mas nunca disseram que um deles poderia desaparecer. Não falaram que isso podia mudar, de acordo com a vontade dos astrônomos. Os professores deviam deixar claro para os alunos, como uma informação pode mudar com o tempo. E mostrar que devemos desconfiar e duvidar das coisas. Mas não fazem isso.
_Acontece que, se os professores fizessem isso, seria o caos. Os professores colocam a ciência como verdade, para que os alunos consigam se apoiar em alguma coisa. Do contrário, as crianças cresceriam sem acreditar em nada. Desconfiando de tudo, seriam tão chatas quanto você. – ela disse, aumentando o tom de voz na última frase
_Mas... o quê...
_Eu sei disso, porque minha mãe foi professora.
_Ah... agora caiu a ficha! Eu tinha esquecido desse detalhe.
_Esquecido, uma ova! Você escreveu aquele texto de propósito, só porque odeia minha mãe.
_Mas, eu não odeio sua mãe! Eu apenas não vou muito com a cara de minha sogra. – brincou.
_Você fez aquele texto pra me provocar!
_Não... espera aí, eu nem lembrei que sua mãe foi professora... Eu não...
_Pois fique aí comendo sua salada, que eu vou almoçar em outro lugar! – gritou a mulher, enquanto arrastava a cadeira, acompanhada pelo ruído do talher que caía sobre a borda do prato.
O ruído de sapatos femininos foi se distanciando, até que a porta da frente se fechasse. As pessoas, que tinham parado de comer a fim de prestar atenção à cena, voltaram ao almoço tranqüilo.
Ele ficou sem entender muita coisa. Imaginou que a mulher tinha enfrentado um dia ruim no trabalho. “Como eu podia saber?”, pensou.
Um garçom, velho conhecido, saiu da cozinha sem saber o que tinha acontecido. Passou pela mesa do jornalista e parou ali por um instante:
_Ei, como vai?
_Tudo certo... (suspiro)
_Eu li seu texto hoje.
_Qual deles?
_Aquele que fala sobre Plutão.
_Ahn...
_Achei muito bom.
_É mesmo?
_Claro. Gostei mesmo do final... como era mesmo?
_“...afinal, se Plutão é ou deixa de ser um planeta, isso jamais vai afetar nossas vidas aqui na Terra.” – lembrou o jornalista
_Isso! Muito bom. Uma grande verdade.
_Uhn... Pois eu nunca desejei tanto escrever uma errata.
E voltou ao almoço.
_Hoje tive tempo de ler o seu jornal.
_“Meu jornal”... essa é boa! – ele sorriu.
_Você me entendeu. – ela disse, de cara fechada.
_Ahn... e achou algo interessante?
_Não gostei de seu texto.
_Qual deles?
_Aquele artigo que fala sobre Plutão ter deixado de ser planeta.
_Ora, o que tem de errado?
_Você escreveu que se sente enganado porque no colégio te ensinaram os nomes de nove planetas. E agora só há oito.
_É... foi o que escrevi. Já tentou dizer os nomes dos planetas do Sistema Solar, agora que retiraram Plutão? “Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Urano, Netuno e...” Fica sempre um “e” no final. Uma espécie de vácuo na memória. Como se Plutão tivesse explodido como aconteceu com Krypton.
_Você está desviando do assunto.
_Não tô não... Tô falando de Plutão. – ele disse, colocando mais salada no prato. Olhou pra mulher e viu que continuava aborrecida – Ahn... por que não gostou do texto?
_Você disse que a culpa dessa desinformação é dos professores, que ensinaram que o Sistema Solar tem nove planetas, sem deixar qualquer chance de questionamento.
_Não. Eu escrevi que eles têm uma parcela da culpa. Mas, é claro... Com essa mania de considerar a ciência uma coisa exata, sempre me disseram que existem nove planetas. Uma vez até me disseram que, com o tempo, poderiam descobrir outros planetas. Mas nunca disseram que um deles poderia desaparecer. Não falaram que isso podia mudar, de acordo com a vontade dos astrônomos. Os professores deviam deixar claro para os alunos, como uma informação pode mudar com o tempo. E mostrar que devemos desconfiar e duvidar das coisas. Mas não fazem isso.
_Acontece que, se os professores fizessem isso, seria o caos. Os professores colocam a ciência como verdade, para que os alunos consigam se apoiar em alguma coisa. Do contrário, as crianças cresceriam sem acreditar em nada. Desconfiando de tudo, seriam tão chatas quanto você. – ela disse, aumentando o tom de voz na última frase
_Mas... o quê...
_Eu sei disso, porque minha mãe foi professora.
_Ah... agora caiu a ficha! Eu tinha esquecido desse detalhe.
_Esquecido, uma ova! Você escreveu aquele texto de propósito, só porque odeia minha mãe.
_Mas, eu não odeio sua mãe! Eu apenas não vou muito com a cara de minha sogra. – brincou.
_Você fez aquele texto pra me provocar!
_Não... espera aí, eu nem lembrei que sua mãe foi professora... Eu não...
_Pois fique aí comendo sua salada, que eu vou almoçar em outro lugar! – gritou a mulher, enquanto arrastava a cadeira, acompanhada pelo ruído do talher que caía sobre a borda do prato.
O ruído de sapatos femininos foi se distanciando, até que a porta da frente se fechasse. As pessoas, que tinham parado de comer a fim de prestar atenção à cena, voltaram ao almoço tranqüilo.
Ele ficou sem entender muita coisa. Imaginou que a mulher tinha enfrentado um dia ruim no trabalho. “Como eu podia saber?”, pensou.
Um garçom, velho conhecido, saiu da cozinha sem saber o que tinha acontecido. Passou pela mesa do jornalista e parou ali por um instante:
_Ei, como vai?
_Tudo certo... (suspiro)
_Eu li seu texto hoje.
_Qual deles?
_Aquele que fala sobre Plutão.
_Ahn...
_Achei muito bom.
_É mesmo?
_Claro. Gostei mesmo do final... como era mesmo?
_“...afinal, se Plutão é ou deixa de ser um planeta, isso jamais vai afetar nossas vidas aqui na Terra.” – lembrou o jornalista
_Isso! Muito bom. Uma grande verdade.
_Uhn... Pois eu nunca desejei tanto escrever uma errata.
E voltou ao almoço.
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