De repente eu estava com o carro estacionado diante do cemitério. Aquela manhã era fria para quem estivesse na sombra e quente para quem ficasse no sol. Eu estava na sombra, minha prima estava sentada no banco do carona, ao sol. E nenhum de nós estava satisfeito, principalmente lembrando que estávamos diante do cemitério.
E foi de repente, como costuma ser com qualquer pessoa que se aproxima de um cemitério, sejam quais forem as circunstâncias. Minha prima tinha passado a noite lá em casa e, pela manhã, logo depois de eu ter acordado, o telefone tocou. Enquanto eu ainda tomava minha caneca de café, ela entrou na cozinha e veio trazer a notícia. Algo mais ou menos assim: a madrinha da mãe dela tinha falecido, e eu devia levar minha prima até o cemitério onde, às dez horas, ocorreria o sepultamento.
Assim, chegamos ao local com cerca de dez minutos de antecedência. E minha prima, falante e agitada como sempre foi, começou a contar histórias a respeito do sobrenatural, e me convidou a fazer o mesmo. Felizmente já não sou tão impressionável quanto fui no passado. Depois que a gente vê luzes estranhas no céu, ruídos macabros no teto, fantasmas atravessando a rua, descargas de banheiro funcionando sozinhas... Enfim, a gente se acostuma.
Enquanto conversávamos, apenas uma coisa me deixou realmente intrigado: um homem que estava parado diante do cemitério, ao lado de um automóvel. Ele parecia impaciente. Olhava para o relógio, contemplava o grande eucalipto que já se tornou um símbolo daquela parte da cidade. Depois esticava o pescoço, a fim de olhar ao longe se o cortejo fúnebre já estava chegando. Mas não estava.
E, de fato, havia uma certa demora. Depois de quinze minutos de atraso minha prima já estava se tornando insuportável. Queria que eu a levasse para casa. Parecia querer dizer algo como: “eles não vêm.” Para mim, só havia três explicações possíveis: ou o cortejo tinha se atrasado, ou ela tinha se enganado a respeito do horário, ou estávamos no cemitério errado. E, conhecendo minha prima, eu estava começando a dar excessivo crédito às duas últimas alternativas.
Para solucionar a questão, e mostrar pra ela que eu fazia algo a respeito, telefonei para sua mãe. Bastou que o telefone fosse atendido do outro lado, para que eu visse no espelho retrovisor o cortejo fúnebre que se aproximava. Uma porção de carros foi estacionando nos dois lados da rua.
Minha prima ficou brava comigo. Parece que não estava muito animada para assistir à cerimônia, e esperava que eu já a tivesse levado para casa. Mas essa sua indignação sem motivo não chegou a me preocupar, porque enquanto os vários automóveis estacionavam, eu via o misterioso senhor correr de um lado para outro, denunciando a razão de sua presença no lugar.
Para cada um dos motoristas ele falava alguma coisa, e fazia uma confirmação com a cabeça. E não estava dando seus pêsames. Ele era um guardador de carros. Ou flanelinha, como prefiram chamar.
Jamais gostei de guardadores. Para mim, no quesito chateação, eles estão empatando com distribuidores de panfletos e operadoras de telemarketing. Não tenho nada contra eles, mas sim contra o serviço deles, que várias vezes (senão todas) me pareceu inútil.
Por um pequeno espaço de tempo me concentrei na figura daquele senhor que atravessava de um lado para outro, tentando falar com o maior número de motoristas. Aposto que só conseguiu falar com cinco ou seis daquelas pessoas. Imaginei de que modo ele organizava seu trabalho. Provavelmente ouvia no rádio o horário de sepultamento e corria até o local no horário indicado, a fim de cuidar dos automóveis estacionados. Isso explicava sua impaciência, aguardando pelo cortejo. Devia ter uma agenda com os horários em cada cemitério.
Quando percebi, minha prima já tinha saído do carro e caminhava em direção à pequena multidão que entrava no cemitério. Reclamou sobre não conhecer ninguém. Seria o enterro certo? Não sei quem de nós perguntou, nem lembro se ela respondeu. Enquanto se afastava do veículo, minha prima se virou mais uma vez, fez uma careta pra mim. Talvez tenha mostrado a língua. Me concentrei na direção. Saí com o carro antes de ser detectado pelo flanelinha. Mas, pela primeira vez, desejei que ele ganhasse algumas moedas com o serviço. Sair numa manhã de domingo, para esperar cortejo fúnebre... não é pra qualquer um.
E foi de repente, como costuma ser com qualquer pessoa que se aproxima de um cemitério, sejam quais forem as circunstâncias. Minha prima tinha passado a noite lá em casa e, pela manhã, logo depois de eu ter acordado, o telefone tocou. Enquanto eu ainda tomava minha caneca de café, ela entrou na cozinha e veio trazer a notícia. Algo mais ou menos assim: a madrinha da mãe dela tinha falecido, e eu devia levar minha prima até o cemitério onde, às dez horas, ocorreria o sepultamento.
Assim, chegamos ao local com cerca de dez minutos de antecedência. E minha prima, falante e agitada como sempre foi, começou a contar histórias a respeito do sobrenatural, e me convidou a fazer o mesmo. Felizmente já não sou tão impressionável quanto fui no passado. Depois que a gente vê luzes estranhas no céu, ruídos macabros no teto, fantasmas atravessando a rua, descargas de banheiro funcionando sozinhas... Enfim, a gente se acostuma.
Enquanto conversávamos, apenas uma coisa me deixou realmente intrigado: um homem que estava parado diante do cemitério, ao lado de um automóvel. Ele parecia impaciente. Olhava para o relógio, contemplava o grande eucalipto que já se tornou um símbolo daquela parte da cidade. Depois esticava o pescoço, a fim de olhar ao longe se o cortejo fúnebre já estava chegando. Mas não estava.
E, de fato, havia uma certa demora. Depois de quinze minutos de atraso minha prima já estava se tornando insuportável. Queria que eu a levasse para casa. Parecia querer dizer algo como: “eles não vêm.” Para mim, só havia três explicações possíveis: ou o cortejo tinha se atrasado, ou ela tinha se enganado a respeito do horário, ou estávamos no cemitério errado. E, conhecendo minha prima, eu estava começando a dar excessivo crédito às duas últimas alternativas.
Para solucionar a questão, e mostrar pra ela que eu fazia algo a respeito, telefonei para sua mãe. Bastou que o telefone fosse atendido do outro lado, para que eu visse no espelho retrovisor o cortejo fúnebre que se aproximava. Uma porção de carros foi estacionando nos dois lados da rua.
Minha prima ficou brava comigo. Parece que não estava muito animada para assistir à cerimônia, e esperava que eu já a tivesse levado para casa. Mas essa sua indignação sem motivo não chegou a me preocupar, porque enquanto os vários automóveis estacionavam, eu via o misterioso senhor correr de um lado para outro, denunciando a razão de sua presença no lugar.
Para cada um dos motoristas ele falava alguma coisa, e fazia uma confirmação com a cabeça. E não estava dando seus pêsames. Ele era um guardador de carros. Ou flanelinha, como prefiram chamar.
Jamais gostei de guardadores. Para mim, no quesito chateação, eles estão empatando com distribuidores de panfletos e operadoras de telemarketing. Não tenho nada contra eles, mas sim contra o serviço deles, que várias vezes (senão todas) me pareceu inútil.
Por um pequeno espaço de tempo me concentrei na figura daquele senhor que atravessava de um lado para outro, tentando falar com o maior número de motoristas. Aposto que só conseguiu falar com cinco ou seis daquelas pessoas. Imaginei de que modo ele organizava seu trabalho. Provavelmente ouvia no rádio o horário de sepultamento e corria até o local no horário indicado, a fim de cuidar dos automóveis estacionados. Isso explicava sua impaciência, aguardando pelo cortejo. Devia ter uma agenda com os horários em cada cemitério.
Quando percebi, minha prima já tinha saído do carro e caminhava em direção à pequena multidão que entrava no cemitério. Reclamou sobre não conhecer ninguém. Seria o enterro certo? Não sei quem de nós perguntou, nem lembro se ela respondeu. Enquanto se afastava do veículo, minha prima se virou mais uma vez, fez uma careta pra mim. Talvez tenha mostrado a língua. Me concentrei na direção. Saí com o carro antes de ser detectado pelo flanelinha. Mas, pela primeira vez, desejei que ele ganhasse algumas moedas com o serviço. Sair numa manhã de domingo, para esperar cortejo fúnebre... não é pra qualquer um.
2 comentários:
hehehe cada uma...
Pois á Danilo, "cada um se arranja como pode"... Do jeito que a situação está, daqui a pouco vou fazer concorrência a ele... Se bem que vai ser difícil eu ir morar em PG. Acho que vou apenas copiar a idéia, hehehe...
Beijos
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