8 de jun. de 2006

Introdução à estupidez

Houve uma época em que podiam me considerar bonzinho. Eu, inclusive, concordava. Depois, veio um período em que me chamavam de bonzinho e eu detestava, porque era como ser chamado de idiota. Agora, há tempos ninguém diz que sou bonzinho. E, quer saber, não sinto nenhuma falta disso.
O fato é que estou aprendendo a ser ruim. Ruim, palavra monossilábica com acento agudo na vogal “u”. Esse tipo de aprendizado demanda mais tempo para uns do que para outros. Assim como aprender outro idioma é mais fácil para uns do que para outros. E, nesse caso, o idioma chama-se estupidez. A única forma de linguagem que algumas pessoas entendem.

O problema é que nunca sabemos o momento exato para utilizar esse idioma e, na maioria das vezes, usamos na hora errada, ou com a pessoa errada. Por via das dúvidas, boa parte das pessoas usa o tempo todo. E, assim, o efeito que a estupidez devia ter, acaba se perdendo.
Hoje, pela enésima vez, recebi um telefonema indesejado. Na verdade não era pra mim. Era pra minha mãe. Mas, considerando que eu atendi, não faz muita diferença. É sempre a mesma ladainha: Um rapaz de fala mansa (nada a ver com cantor de forró) diz que deseja falar com minha mãe para fazer um agradecimento. E essa palavra, “agradecimento”, me faz ter certeza de que, na realidade, o cara está telefonando da sede de uma entidade beneficente, com a finalidade de arrecadar (aparentemente, sem fins lucrativos) dinheiro.

Eu conheço a peça porque a história é sempre a mesma. Por isso, não me surpreendi quando minha mãe disse que não ia atender. E procurei transmitir o recado para o cara do outro lado da linha:
_Ela não pode atender.
_A que horas eu posso telefonar, então?
_Ahn... Ok, eu me expressei mal... Ela NÃO QUER atender.
_Não quer atender? Mas, por quê? Ela sabe de onde estou ligando?
_Bem... Se vocês já ligaram pra esse número mais de dez vezes nesse ano, então acho que sim.
_De onde você acha que estou falando?
_Deve ser uma dessas entidades beneficentes que dizem ajudar os doentes com câncer de pulmão, problemas de coração e criancinhas sem pai.

Até eu me surpreendi com minha resposta. Porque, dizendo assim, parece que não ligo a mínima para os doentes com câncer de pulmão, problemas no coração e criancinhas órfãs. Mas, realmente, não menti sobre a dezena de telefonemas que já atendi, provenientes da mesma instituição, à qual já ajudamos algumas vezes.
Certa vez perguntei porque ligavam tanto na minha casa. Me disseram que era uma espécie de escolha aleatória feita a partir da lista telefônica. Fiquei pensando por que não faziam sorteios de prêmios em dinheiro nesse mesmo estilo. Mas nããão... o dinheiro só sai, e não entra nenhum.

Então, é isso. Talvez o mesmo rapaz telefone novamente pra cá, esquecendo de minha última resposta. Ou, mais provavelmente, será outro funcionário fazendo o mesmo serviço. Logo, poderia dizer que não fez nenhuma diferença tratá-lo com grosseria. Pra mim fez... me senti momentaneamente ótimo.
Sei o que você (que já é rúim há tempos) está pensando... “Ele nem foi tão grosseiro assim. Eu teria dito alguns palavrões, pelo menos.”
Pessoas... eu ainda tô aprendendo. Tem gente que até me acha legal!

4 comentários:

Anônimo disse...

hahaha realmente eu pensei q vc não foi tão grosso assim(isso quer dizer q EU sou?!rs)...bom,tem gente que merece mesmo esse tipo de atitude,nem precisa xingar de nada pra ser grossa,basta dar uma resposta inteligente =)

Anônimo disse...

ai, danilo, que malvado! vc não tem dó das criancinhas sem pai... hahaha
Gostei do texto, mas vc não contou da reação do rapaz, se ele disse algo do tipo: "Ok, a entidade bláblá agradece sua atenção", hahaha

bjo

Anônimo disse...

oiiiiiii !!

a mãe fez uma dessas essa semana, era de um banco oferecendo os inúmeros cartões de crédito, débito, internacional, nacional, salário, ............

haha, Danilo, estou c/ vc !!

bjuu

Anônimo disse...

vc agiu certo, mas controle esse impulso, menino! ainda acho q vc é bonzinho (e isso não quer dizer q te acho idiota)
bjos