Eu estava sentado em um banco circular, diante do balcão da lanchonete Lagalu, quando ela entrou. Uma menina loira, que devia ter entre 17 e 21 anos. Carregava uma bolsa com logomarca de cursinho pré-vestibular. Era bonita, usava roupas discretas, e tinha aquele olhar de mulheres que conhecem a própria beleza, reconhecido pelo fato de não olharem diretamente nos olhos de quase ninguém.
Eu estava na metade de meu salgado, e a xícara de café também estava cheia, ou vazia, pela metade. Pensava em puxar conversa, quando ela abriu a bolsa e tirou dali um par de fones de ouvido. Ligou ao celular, e começou a ouvir as músicas preferidas. Terminei meu lanche, paguei a conta, e fui embora enquanto ela investia em um X-salada, perdida em sons que não eram os que a cercavam.
Há muito tempo se comenta que a tecnologia da internet ou do telefone, que foram criadas para aproximar as pessoas, terminam por distanciá-las. Sou um fã da tecnologia, mas é preciso admitir... com o surgimento dos celulares com rádio ou mp3, isso se tornou mais evidente. Ponta Grossa mantém a fama de ter habitantes “fechados”, que evitam conversar ou cumprimentar. Mas antes bastava que uma das duas pessoas no ponto de ônibus iniciasse a conversa. Só se esperava uma iniciativa.
Agora as coisas mudaram de figura. Os fones de ouvido são um convite à solidão e, se por um lado é ótimo percorrer a cidade com trilha sonora própria, por outro se esquece e ignora o som ambiente, que, de certo modo, é um dos itens que diferencia a vida real de uma produção cinematográfica qualquer.
Muitas vezes é bom fugir do ruído de carros na Avenida Vicente Machado, da campanha política igualmente barulhenta, do som da máquina de café expresso. Mas a fuga não deve ser regra sempre. De óculos escuros e fones de ouvido, seguimos formando uma sociedade de quase autistas, imersos no próprio mundo, sem necessidade de relacionarem-se uns com os outros. Razão pela qual é cada vez mais comum dizer “bom dia”, e receber como resposta um “o que é que tem de bom?”. Ou ver um par de fones de ouvido surgirem de dentro da bolsa, erguendo uma barreira invisível muito maior do que a distância real entre duas pessoas.
13 de out. de 2008
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4 comentários:
oi Danilo!!
tive esta experiência dos fones de ouvido......... nas eleições fui mesária, e a outra pessoa q tb desempenhou tal função, estava c/ um MP20 - káká - mas os fones estavam na mesa!! p/ q todos pudessem ouvir a ma-ra-vi-lho-sa trilha sonora escolhida!!
surtei total....
essa história de fones de ouvido, acompanhada pela intensidade do som, será bom para o bolso dos médicos e empresas de aparelhos de surdez, pois não muito longe teremos inúmeras pessoas c/ a audição comprometidas.
bjuu e ótima semana!! Tônia.
Também tenho essa mesma percepção. Mas confesso que já tentei usar fones de ouvido enquanto estava na rua: não deu certo. Uma parte de mim sempre acha que um carro vai vir e eu não vou ouvi-lo chegar, que vai ter alguém gritando "ladrão, ladrão!", ou que mais um prédio vai desabar e tudo mais. Um exagero, mas é real. Sem contar que nunca pára nos meus ouvidos mesmo...
Comigo acontece o msmo q com a 2a comentarista. Quando eu coloco os fones de ouvido e ligo a musica, sempre a impressão q alguém vai me chamar a qualquer momento. Às vezes eu ate ouço pronunciarem meu nome, olho em volta e... Nada! A Paranoia (eo susto qdo alguem me chama de verdade) ocorre porque eu ouço música em volume alto. A propósito, sabia que o nome do aparelho q se usa para medir a intensidade do som é decibelímetro?
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