O Estádio Germano Krüger não estava lotado. Na verdade, a presença dos torcedores era bem menor que a esperada. Os jornais diziam que a expectativa era de que 8 mil pessoas comparecessem ao jogo entre o Operário e o visitante São José. Mas parece que o São José teve uma crise de identidade, ou de santidade, pois resolveu fazer o trabalho de outro santo: trouxe chuva.
Começou com garoa fina, depois o vento ficou mais forte e, finalmente, a temperatura caiu. Quem não estava com dor de garganta ou com um princípio de gripe preferiu ficar enrolado nos cobertores no sofá da sala, comendo pipoca quentinha e esperando o horário em que começaria mais um jogo da Copa do Mundo (Portugal X Holanda), confortavelmente transmitido pela TV.
No intervalo do jogo do Operário haveria o sorteio de camisetas, rádios, uma bicicleta e dois fuscas (!). Mas esse não foi estratagema suficiente para atrair o público. Uma parcela dos torcedores resolveu ir até a parte mais alta das arquibancadas, onde havia cobertura. Ali, em meio a algumas dezenas de pessoas, estava um sujeito que causaria surpresa, caso fosse reconhecido. Usava um boné marrom, blusa cinza e calça jeans. Dois fones de ouvido conectados a um pequeno rádio de pilha completavam a insólita aparição desse personagem. Não era nenhum ator da TV Globo, nem cantor de funk, nem político. Não era celebridade. Na verdade, estava longe de ser conhecido e, justamente por isso, não era reconhecido. Era, simplesmente, eu, oras bolas. (Decepção?)
Na verdade, minha presença ali explicava a presença da garoa que ameaçava virar chuva de verdade. Quem conhece meus hábitos sabe que não costumo assistir a futebol. Menos ainda num estádio. Menos ainda em tarde gelada como foi nesse domingo. Mas o espírito da Copa tomou conta desse corpo que tremia de frio no cimento das arquibancadas. E, é claro, eu podia ganhar um fusca...
Começou o primeiro tempo. O que não faltou foi falta. Nessa frase, o que não faltou foi “f”. Mas nenhum dos dois times conseguiu mostrar um belo jogo. Destaque para o gandula que, em determinado momento, se atrapalhou com as bolas, e ganhou uma vaia da torcida. E para o menino, de cerca de seis anos, que estava sentado na minha frente. Quando um jogador errou feio o passe, o garoto levantou, apontou para o atleta e soltou uma baita gargalhada. O pai, constrangido, fez sinal para o menino fazer silêncio. “Por que, pai?”, cochichou o moleque. “É que esse jogador é do nosso time...”, explicou o pai, enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro.
Veio o intervalo. Óbvio que não ganhei um fusca. Nem bicicleta, camiseta ou rádio. Mas ainda tinha a esperança de que o Operário ganhasse a partida. Começou o segundo tempo. A chuva aumentou. As pessoas se espremeram na arquibancada coberta. O São José não tinha muito fôlego para o jogo e dava espaço para o Operário.
O Operário se aproveitava disso. Um dos jogadores conseguiu fazer um drible fantástico, daqueles que merecia replay. Mas deu pra perceber que foi totalmente involuntário. Um cidadão que estava do meu lado resolveu bancar o corvo de Edgar Allan Poe, supondo saber o que se passava na mente do jogador sortudo. “Nunca mais...”, disse o tal rapaz.
A sorte, entretanto, estava longe do time da casa. O comentário era de que haviam enterrado um sapo embaixo do gol onde o Operário devia marcar. Mas, se havia feitiço entre aquelas traves, esse atendia pelo nome de Adir – o goleiro – , que não deixava passar nenhuma bola. Ou seja, fazia seu trabalho.
Apenas por duas vezes a pelota escapou de suas mãos. Numa delas, a bola ainda bateu na trave. O goleiro virou para um repórter que estava ao lado do gol, e disse, em tom filosófico e didático: “Se não tiver sorte, não pode ser goleiro.”
Cartões amarelos. Impedimentos. Machucados. Esse foi o resultado da partida. Porque o placar continuou, como no início, zero a zero. O Operário deixou o campo sob os protestos indignados da torcida, que gritava: “Timinho, timinho, timinho...”
Enquanto voltava para casa pensei que concluiria esse texto assim: “E, pra completar, além de não ganhar o fusca e ver um jogo que terminou sem gols, ainda peguei uma baita gripe.” Mas, que surpresa, não peguei gripe. E ainda cheguei em casa a tempo de ver o Felipão comemorando a vitória de Portugal sobre a Holanda. Que espírito de Copa, que nada. A Copa é um vírus. E, assim como gripe, passa.
Se não virar pneumonia...
Começou com garoa fina, depois o vento ficou mais forte e, finalmente, a temperatura caiu. Quem não estava com dor de garganta ou com um princípio de gripe preferiu ficar enrolado nos cobertores no sofá da sala, comendo pipoca quentinha e esperando o horário em que começaria mais um jogo da Copa do Mundo (Portugal X Holanda), confortavelmente transmitido pela TV.
No intervalo do jogo do Operário haveria o sorteio de camisetas, rádios, uma bicicleta e dois fuscas (!). Mas esse não foi estratagema suficiente para atrair o público. Uma parcela dos torcedores resolveu ir até a parte mais alta das arquibancadas, onde havia cobertura. Ali, em meio a algumas dezenas de pessoas, estava um sujeito que causaria surpresa, caso fosse reconhecido. Usava um boné marrom, blusa cinza e calça jeans. Dois fones de ouvido conectados a um pequeno rádio de pilha completavam a insólita aparição desse personagem. Não era nenhum ator da TV Globo, nem cantor de funk, nem político. Não era celebridade. Na verdade, estava longe de ser conhecido e, justamente por isso, não era reconhecido. Era, simplesmente, eu, oras bolas. (Decepção?)
Na verdade, minha presença ali explicava a presença da garoa que ameaçava virar chuva de verdade. Quem conhece meus hábitos sabe que não costumo assistir a futebol. Menos ainda num estádio. Menos ainda em tarde gelada como foi nesse domingo. Mas o espírito da Copa tomou conta desse corpo que tremia de frio no cimento das arquibancadas. E, é claro, eu podia ganhar um fusca...
Começou o primeiro tempo. O que não faltou foi falta. Nessa frase, o que não faltou foi “f”. Mas nenhum dos dois times conseguiu mostrar um belo jogo. Destaque para o gandula que, em determinado momento, se atrapalhou com as bolas, e ganhou uma vaia da torcida. E para o menino, de cerca de seis anos, que estava sentado na minha frente. Quando um jogador errou feio o passe, o garoto levantou, apontou para o atleta e soltou uma baita gargalhada. O pai, constrangido, fez sinal para o menino fazer silêncio. “Por que, pai?”, cochichou o moleque. “É que esse jogador é do nosso time...”, explicou o pai, enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro.
Veio o intervalo. Óbvio que não ganhei um fusca. Nem bicicleta, camiseta ou rádio. Mas ainda tinha a esperança de que o Operário ganhasse a partida. Começou o segundo tempo. A chuva aumentou. As pessoas se espremeram na arquibancada coberta. O São José não tinha muito fôlego para o jogo e dava espaço para o Operário.
O Operário se aproveitava disso. Um dos jogadores conseguiu fazer um drible fantástico, daqueles que merecia replay. Mas deu pra perceber que foi totalmente involuntário. Um cidadão que estava do meu lado resolveu bancar o corvo de Edgar Allan Poe, supondo saber o que se passava na mente do jogador sortudo. “Nunca mais...”, disse o tal rapaz.
A sorte, entretanto, estava longe do time da casa. O comentário era de que haviam enterrado um sapo embaixo do gol onde o Operário devia marcar. Mas, se havia feitiço entre aquelas traves, esse atendia pelo nome de Adir – o goleiro – , que não deixava passar nenhuma bola. Ou seja, fazia seu trabalho.
Apenas por duas vezes a pelota escapou de suas mãos. Numa delas, a bola ainda bateu na trave. O goleiro virou para um repórter que estava ao lado do gol, e disse, em tom filosófico e didático: “Se não tiver sorte, não pode ser goleiro.”
Cartões amarelos. Impedimentos. Machucados. Esse foi o resultado da partida. Porque o placar continuou, como no início, zero a zero. O Operário deixou o campo sob os protestos indignados da torcida, que gritava: “Timinho, timinho, timinho...”
Enquanto voltava para casa pensei que concluiria esse texto assim: “E, pra completar, além de não ganhar o fusca e ver um jogo que terminou sem gols, ainda peguei uma baita gripe.” Mas, que surpresa, não peguei gripe. E ainda cheguei em casa a tempo de ver o Felipão comemorando a vitória de Portugal sobre a Holanda. Que espírito de Copa, que nada. A Copa é um vírus. E, assim como gripe, passa.
Se não virar pneumonia...