Partimos. A rodovia é de boa qualidade, embora sem acostamento. Depois que passamos a área conhecida como Passo do Pupo, um vilarejo delimitado por uma igreja e algumas mercearias, seguimos adiante em busca de uma placa que nos orientasse. Como não encontramos, continuamos indo em frente.
Descobrimos estradas bastante sinuosas adiante. Lembrou um pouco a Estrada da Graciosa, que leva a Morretes. Muito bonito o trajeto, e não dá pra correr muito, porque são muitas curvas em uma rodovia estreita. Sem nenhuma placa, passamos por um local que nos pareceu oficina ou ferro velho. A Pri sugeriu que eu parasse para pedir informação.
Como estávamos com tempo, optei por ir um pouco mais longe antes de admitir que tínhamos nos perdido. Poucos quilômetros à frente, no entanto, parei numa entrada para estrada de terra, que levava a uma cachoeira ou algo assim. Mas não eram as Furnas Gêmeas. O site da prefeitura não dizia que devíamos ir tão longe.
Um automóvel passava por nós e fiz sinal para que parasse. O motorista reduziu e freou. Perguntei a ele sobre as Furnas Gêmeas. Ele disse nunca ter ouvido falar. Agradeci, e retornamos.
Um misterioso Armazém, datado de 1925, estava no trajeto... |
Sentado no assoalho, à porta de entrada, estava um homem magro, de cabelos curtos escuros, fumando um cigarro, e aparentando a calma típica de quem vive praticamente isola (as casas ali ficam muito distantes umas das outras). Quando estacionei e fui em sua direção, ele se levantou.
"Boa tarde!", falei
"Boa tarde", respondeu.
"Estou procurando as Furnas Gêmeas. Sabe onde fica?"
Mas ele não ouviu minha pergunta, pois um cachorro preso ao lado da casa latiu ferozmente. O homem berrou para que o cão ficasse quieto. E pediu para eu repetir a pergunta, enquanto se aproximava.
"Sabe onde ficam as Furnas Gêmeas?"
"Furnas Gêmeas?", repetiu ele, olhando para o chão, como se consultasse na mente uma lista de lugares que conhecia. "Olha... eu moro aqui há vários anos, e nunca ouvi falar. Mas quem te disse que tem esse lugar por aqui?"
"Eu vi no site da prefeitura de Ponta Grossa" - e por um instante, sem desdenhar a inteligência do cidadão, mas apenas considerando a aparência simples na qual vivia, achei que ele não sabia o que era um site.
"Mas fica perto de onde?", perguntou.
"Depois do Passo do Pupo".
"Ah, Passo do Pupo eu conheço... deve ser ali perto, então. Mas volte, e pergunte ali na igrejinha", sugeriu.
"Tá bom, obrigado."
Eu já voltava para o carro quando me detive um instante, reparando mais uma vez em algo que tinha percebido já quando chegara. No alto do casarão, em sua fachada, letras graúdas diziam "ARMAZÉM", e o número "1925" anunciava a data de construção, como acontece em muitas construções antigas.
"Aqui é residência ou é um armazém?", perguntei.
"Ah, é residência... foi armazém há muito tempo..."
"E o senhor era o dono?"
"Não..." - ele riu um pouco, talvez pela pergunta um pouco idiota, já que o homem não tinha idade para ter estado ali em 1925. Depois completou: "O dono tá ali..."
Dizendo isso, apontou com a cabeça para a caminhonete velha, e continuou sorrindo.
Sorri também, mesmo sem ter entendido. Ali não havia ninguém... Estaria ele vendo alguém que eu não via?
Quando a conversa com um estranho fica insólita demais, é hora de ir embora.
Entrei no carro, onde um cachorro parecia querer impedir a Pri de sair. Acabamos encontrando a estrada para as Furnas Gêmeas, bem perto do Passo do Pupo. Não chegamos até lá porque a estrada era muito ruim. Mas, fiquei pensando no Armazém de 1925, e me perguntando onde estaria o dono.