O dia de meu aniversário, 20 de fevereiro, é normalmente um dia em que pouca coisa acontece. Ou, pelo menos, a gente fica sabendo de pouca coisa. Quis o destino que eu nascesse justamente na época de carnaval, quando todos os telejornais dedicam 90% de suas notícias à tradicional festa que, supostamente, todos os brasileiros apreciam.
Sendo assim, estou acostumado a passar esses dias sem que nenhum acontecimento novo marque o noticiário. Se fosse exibido o telejornal de quatro anos atrás, eu não iria perceber nenhuma diferença, salvo, quem sabe, a mudança no cabelo da Fátima Bernardes.
É claro, digo isso de uma perspectiva jornalística nacional. Mas o último dia 20 foi diferente do ponto de vista local. Pois foi o dia em que iniciaram a retirada do “cocozão” de Uvaranas. Para aqueles que não estão a par do assunto, aqui vai uma breve explicação a respeito do que me lembro...
Durante a gestão do então prefeito de Ponta Grossa, Péricles de Holleben Mello (2001-2004), foi decidido erguer um monumento em uma das rotas de entrada da cidade, mais especificamente em meio a uma rotatória, em frente ao campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no bairro de Uvaranas.
Durante a gestão do então prefeito de Ponta Grossa, Péricles de Holleben Mello (2001-2004), foi decidido erguer um monumento em uma das rotas de entrada da cidade, mais especificamente em meio a uma rotatória, em frente ao campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa, no bairro de Uvaranas.
Foi então que surgiu aquele que, muito provavelmente, tenha se tornado o monumento mais polêmico que a cidade já teve. Talvez se a figura tivesse sido erguida em outro bairro qualquer, o resultado não teria sido esse. Mas foi erguido diante de um campus universitário, espaço de debates e... muito humor.
Não demorou nada para que todos vissem no monumento a representação perfeita de fezes gigantescas espetadas em uma haste metálica. E em poucos dias o apelido tinha se estabelecido. O “cocozão” já era um termo reconhecido pela população. E se alguém viesse falar em “Monumento Campos Gerais”, a pergunta seguinte poderia ser... “Ahn?”
Não demorou nada para que todos vissem no monumento a representação perfeita de fezes gigantescas espetadas em uma haste metálica. E em poucos dias o apelido tinha se estabelecido. O “cocozão” já era um termo reconhecido pela população. E se alguém viesse falar em “Monumento Campos Gerais”, a pergunta seguinte poderia ser... “Ahn?”
Houve declarações que tentaram, em vão, explicar o significado original da obra que, oficialmente, teve o custo de R$ 80 mil. Tive contato com duas explicações um pouco divergentes. Uma delas dizia que a intenção era simbolizar uma araucária, árvore que representa essa região. Outra dizia ser uma referência aos arenitos do Parque Estadual de Vila Velha, onde as rochas assumem naturalmente diferentes formas.
Na seqüência, surgiu a desculpa de que o monumento não tinha sido terminado de acordo com o projeto inicial, que previa jatos de água que jorravam em direção ao... arenito. E este, por sua vez, ficaria se movimentando em diversas direções. Confesso que tentei imaginar isso, e achei que ficaria mais estranho ainda. Iria parecer um cocozão flutuando em um gêiser.
Mas as críticas não foram suficientes para abalar o cocozão. O prefeito concluiu seu mandato. O novo prefeito, Pedro Wosgrau Filho, assumiu a cadeira, e o monumento ficou. Diante disso, as piadas se proliferaram sem pressa, ganhando a internet e, conseqüentemente, o mundo. Sites exibiram a foto do monumento, sendo definido como “Statue of a giant piece of shit”.
E assim se passaram pelo menos cinco anos (não sei precisar a data). Tempo em que nada aconteceu ao monumento, além do surgimento de um vespeiro que, caprichosamente se instalou ali.
Até que, no meio da semana passada, ouvi o boato de que o governador do Paraná, Roberto Requião, havia determinado ao prefeito reeleito Pedro Wosgrau Filho a retirada do cocozão. Finalmente, na sexta-feira, 20, o boato se mostrou real, embora as declarações oficiais não tenham feito referência ao governador. O cocozão começava a ser removido a pedido do ex-prefeito Péricles de Holleben Mello.
A retirada do monumento foi algo tão insólito quanto seu surgimento. Primeiro foi preciso remover o vespeiro. A operação acabou resultando em um princípio de incêndio no cocozão, controlado com a ajuda do corpo de bombeiros. A retirada prosseguiu, segundo os jornais, no sábado.
A retirada do monumento foi algo tão insólito quanto seu surgimento. Primeiro foi preciso remover o vespeiro. A operação acabou resultando em um princípio de incêndio no cocozão, controlado com a ajuda do corpo de bombeiros. A retirada prosseguiu, segundo os jornais, no sábado.
Por que demorou tanto, ou, por que somente agora resolveram remover um monumento tão controverso? Essa é a pergunta da vez. O fato é que o jornal de sábado teve algo mais que carnaval em suas páginas. A retirada do cocozão, mais do que fato bizarro, é algo histórico, assim como foi histórica sua existência.
O monumento foi, e permanecerá sendo, um símbolo. Não de uma araucária ou de um arenito. Mas sim de um sistema municipal de governo que se arrasta há muitos anos até agora: de empregar dinheiro público de maneira inconseqüente, e sem consultar a opinião dos maiores interessados – a população.
O monumento foi, e permanecerá sendo, um símbolo. Não de uma araucária ou de um arenito. Mas sim de um sistema municipal de governo que se arrasta há muitos anos até agora: de empregar dinheiro público de maneira inconseqüente, e sem consultar a opinião dos maiores interessados – a população.
Vem sendo assim com qualquer obra nova ou decisão mais importante. E, infelizmente, não há nenhum indicativo de que vá mudar nos próximos quatro anos. O monumento foi, e mesmo tendo sido retirado, será motivo de piada e indignação.
Como fica patente nas tiras em quadrinhos que publiquei nos últimos anos sobre o assunto (veja www.ule.com.br/danilo - tiras nº15, nº72 e nº89), posso dizer, sem arrependimento, que colaborei um pouco para que o aspecto ridículo do “Monumento Campos Gerais” se disseminasse. E isso não foi para prejudicar a imagem da cidade (e não acredito que isso tenha ocorrido), mas sim para apontar a falta de bom senso dos governantes diante de decisões que envolvem toda a comunidade de Ponta Grossa.
As pessoas não têm culpa do apelido atribuído ao monumento. A interpretação foi, na verdade, óbvia. Querer jogar a responsabilidade nas costas daqueles que tiveram que, simplesmente, aceitar o surgimento da figura bizarra em Uvaranas, é algo inaceitável.
As pessoas não têm culpa do apelido atribuído ao monumento. A interpretação foi, na verdade, óbvia. Querer jogar a responsabilidade nas costas daqueles que tiveram que, simplesmente, aceitar o surgimento da figura bizarra em Uvaranas, é algo inaceitável.
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Deixo, portanto, uma sugestão sobre o aproveitamento daquele espaço, já que a prefeitura ainda não sabe bem o que fazer no lugar do cocozão...Se a intenção era simbolizar uma araucária, façamos o óbvio: plantemos lá uma araucária. Isso exige um pouco mais do que uma fotomontagem tosca no Photoshop. Mas, acredito que não daria margem a outras interpretações. Uma araucária é uma araucária.