23 de out. de 2008

Eu não sou um maldito spam!

De tempos em tempos surge no noticiário um daqueles casos de pessoas que não morreram, mas precisam provar isso para a previdência social. Embora a pessoa esteja ali, dando entrevista para o repórter, o sistema acusa que ela não existe mais.

O primeiro episódio do seriado “O Sistema” (que foi mais um seriado da Rede Globo que não teve o sucesso que poderia ter alcançado) trazia uma situação parecida. O personagem principal , interpretado por Selton Mello, tratava mal uma atendente de telemarketing (Graziella Moretto) e, em represália, ela fazia com que todo o sistema apagasse a existência do cidadão, que deixava de ter CPF, RG, conta no banco. Enfim, se não constava no sistema, era porque não existia.

A idéia do primeiro episódio foi muito boa, e o roteiro bem explorado. Os seguintes foram gradualmente piorando, até que a história não fizesse sentido algum, e as piadas não tivessem nenhuma graça.

Lembrei do episódio porque, assim como o personagem principal de O Sistema, costumo enfrentar situação semelhante em diversos sites da internet, incluindo o Orkut, e o próprio site no qual estou publicando este texto.

No outro dia, para enviar uma simples mensagem, surgiu aquela maldita tela com letras e números indecifráveis, que devem ser digitados para que você prove que é uma pessoa, e que sua mensagem não é um maldito spam.

Cara... o cidadão que inventou isso deve ser o mesmo desgraçado que inventou o sachê de catchup, que dizem ser mais higiênico, mas que me obriga a usar os dentes para rasgar a embalagem, além de gerar mais poluição (não sei se reciclam aquelas embalagens com restos de catchup).

Voltando ao sistema... Digitei as letras e números que me apareciam, e que eu tentava, com o máximo da concentração humana, decifrar. Mas o sistema informava que eu tinha digitado errado, e oferecia novo conjunto de algarismos. Assim aconteceu de novo, e de novo, e só na quarta tentativa consegui enviar minha mensagem.

Pra que serve isso mesmo? Pra que eu prove que não sou um “spam”, ou para que eu desconfie de minha capacidade mental? Eu sei que fiz logon no site. O sistema não é capaz de notar? Deve ter alguma conspiração por trás disso. No dia em que eu descobrir o que é, vai ter mais gente querendo me matar.

21 de out. de 2008

Alerta: engolir chiclete ficou mais fácil

Em meu tempo de escola tive uma professora de português que tinha verdadeiro ódio ao ver alguém mascando chiclete. Chegou a trazer aos alunos a informação de que o chiclete era feito a partir de osso de boi, julgando que os adolescentes realmente se importavam com os ingredientes daquilo que colocavam na boca.

Nunca soube se era verdade a história dos ossos. Pra mim importava menos ainda. Nunca fui muito fã de chiclete. Recordo ainda que, certa vez, essa professora trouxe um texto de Clarice Lispector, no qual a autora narrava o idêntico asco que sentiu ao experimentar o tal doce pela primeira vez. O conto descrevia o chiclete como uma bala que não se acabava nunca. Mais ou menos como os doces inventados pelo Willie Wonka, na Fantástica Fábrica de Chocolates. Mas o chiclete terminava por ficar sem sabor, e semelhante a uma borracha. Assim o descrevia o tal conto, se me lembro bem.

Se Clarice Lispector experimentasse os novos chicletes, talvez trouxesse algumas informações adicionais ainda mais desanimadoras. Pois olhe que acabo de provar um produto de nome bizarro: “Novo Chiclets Kiwi Super”. A embalagem acrescenta: “com mais tempo de sabor”.

Pois eu rogo aos meus 57 leitores e meio: não comprem essa bela porcaria! O sabor inicial até que não é ruim... mas o estranho é o que vem depois. Passado algum tempo (não sei precisar quanto, pois suponho que depende da velocidade de mastigação e temperatura bucal), eis que o chiclete, além de perder o sabor, se dissolve.

Veja bem, você fica mastigando e espera que ela vire uma borracha como todas as outras, mas isso não acontece. Em lugar disso, o chiclete se dissolve em sua boca, e você nem sequer encontra tempo ou lugar para cuspir o líquido pegajoso e sem gosto.

Quando o cidadão percebe, já engoliu o negócio. Fica o alerta. Já que não temos mais Ploc, nem Ping Pong, sugiro aos leitores que recomendem aqui as marcas de chiclete que julgam realmente boas. Vamos tornar este um blog de utilidade pública.

13 de out. de 2008

Isolamento mais que acústico

Eu estava sentado em um banco circular, diante do balcão da lanchonete Lagalu, quando ela entrou. Uma menina loira, que devia ter entre 17 e 21 anos. Carregava uma bolsa com logomarca de cursinho pré-vestibular. Era bonita, usava roupas discretas, e tinha aquele olhar de mulheres que conhecem a própria beleza, reconhecido pelo fato de não olharem diretamente nos olhos de quase ninguém.

Eu estava na metade de meu salgado, e a xícara de café também estava cheia, ou vazia, pela metade. Pensava em puxar conversa, quando ela abriu a bolsa e tirou dali um par de fones de ouvido. Ligou ao celular, e começou a ouvir as músicas preferidas. Terminei meu lanche, paguei a conta, e fui embora enquanto ela investia em um X-salada, perdida em sons que não eram os que a cercavam.

Há muito tempo se comenta que a tecnologia da internet ou do telefone, que foram criadas para aproximar as pessoas, terminam por distanciá-las. Sou um fã da tecnologia, mas é preciso admitir... com o surgimento dos celulares com rádio ou mp3, isso se tornou mais evidente. Ponta Grossa mantém a fama de ter habitantes “fechados”, que evitam conversar ou cumprimentar. Mas antes bastava que uma das duas pessoas no ponto de ônibus iniciasse a conversa. Só se esperava uma iniciativa.

Agora as coisas mudaram de figura. Os fones de ouvido são um convite à solidão e, se por um lado é ótimo percorrer a cidade com trilha sonora própria, por outro se esquece e ignora o som ambiente, que, de certo modo, é um dos itens que diferencia a vida real de uma produção cinematográfica qualquer.

Muitas vezes é bom fugir do ruído de carros na Avenida Vicente Machado, da campanha política igualmente barulhenta, do som da máquina de café expresso. Mas a fuga não deve ser regra sempre. De óculos escuros e fones de ouvido, seguimos formando uma sociedade de quase autistas, imersos no próprio mundo, sem necessidade de relacionarem-se uns com os outros. Razão pela qual é cada vez mais comum dizer “bom dia”, e receber como resposta um “o que é que tem de bom?”. Ou ver um par de fones de ouvido surgirem de dentro da bolsa, erguendo uma barreira invisível muito maior do que a distância real entre duas pessoas.