Nas últimas semanas estive trabalhando em Castro, num jornal chamado Jornal de Castro. Ironicamente, quando digo que estou trabalhando no Jornal de Castro, as pessoas perguntam “qual deles?” E eu tenho que repetir... “Jornal de Castro, ora”. Quando as coisas são simples demais, acabam se complicando.
Portanto, viajei com freqüência para a cidade vizinha a fim de realizar entrevistas, para depois escrever as matérias que iriam compor o 3º número jornal, que é quinzenal. Considerando que eu pegava o ônibus metropolitano (também conhecido como pinga-pinga, porque pára em diversas localidades até atingir seu destino final), o deslocamento foi um pouco cansativo, mas também foi interessante. Acredito que o ônibus é o maior símbolo da sociedade urbana, pois cada situação que se vê ali dentro serve como indicativo do momento que vivemos.
Exemplo:
Há duas ou três semanas, numa dessas viagens, o ônibus fazia sua habitual parada no terminal rodoviário de Carambeí, antes de seguir até Castro. No banco à frente, uma mulher viajava com seu filho. O garoto, com cerca de quatro anos, não parava quieto um instante. Comentava algo sempre que via um caminhão, um cavalo no pasto, ou rebanho de ovelhas. Mas, quando o ônibus entrou na área de estacionamento da rodoviária de Carambeí, o garoto ficou visivelmente transtornado. Depois de um instante de silêncio, com ares de choro, virou-se para a mãe e disse: “Ah, não... Aeroporto não, mãe... Aeroporto não!” A mulher levou algum tempo para entender o que o garoto dizia. Finalmente corrigiu: “Que aeroporto, moleque? Aqui é a rodoviária!”
Não sei se o menino tinha medo de que seu avião caísse, ou de ficar retido no aeroporto por horas inteiras. O fato é que as crianças vêem o telejornal. Antigamente as mães, para assustar seus filhos, diziam que o “homem do saco” ia levá-los embora. Aí as crianças se comportavam. Agora, aqui vai a dica: é só dizer que a criança vai pro aeroporto, que ela treme de medo.
Mas é impressionante como sempre tenho dificuldades na hora de fazer o pedido numa lanchonete! Às vezes é um baita interrogatório para servir um simples café! Em outras ocasiões, a dificuldade é o recheio do risoles. No outro dia havia dois pratos com risoles na vitrine. Perguntei do que era o recheio, e a funcionário disse que só tinha recheio de frango, porque as cozinheiras esqueceram de fazer risoles com carne moída. Comprei um, e era de carne moída.
E nessa semana fui fazer um lanche perto da universidade. Dessa vez, pedi uma coisa diferente, pra ver se não dava problema. Pedi um pão de batata. Aí a funcionária perguntou se eu ia querer molho. Eu disse que sim. Aí ela perguntou se eu ia querer mostarda. Não sei em que momento começou a confusão. De repente a moça teve um chilique, dizendo que o pessoal ia lá e recusava os sachês de mostarda, e que “jogavam” os sachês de volta no balcão... (dizendo isso, jogou o sache na minha frente) Peguei meu pão de batata e fugi para a mesa mais distante do estabelecimento. Cada uma que me acontece...
Então, neste momento, para fazer um lanche qualquer, o diálogo que preciso desenvolver é mais ou menos este:
_Oi! Me dá um risoles.
_De carne ou de frango?
(Frango não é carne?, penso)
_Frango.
_Vai querer molho?
_Sim.
_Mostarda?
_Pode passar pra cá.
_Mais alguma coisa?
_Um café.
_Pequeno ou médio?
(Não vai me oferecer grande?, me pergunto)
_Médio.
_Com leite?
_Ahn... sim. Com leite.
_Açúcar ou adoçante?
_Açúcar.
_Mais alguma coisa?
_Não. Obrigado.
Então, na próxima vez, direi:
_Oi! Eu quero um risolis de frango. Vou querer molho também: dois sachês de catchup, dois de mostarda e dois de maionese. Também quero um café tamanho médio com leite. Vou adoçar com açúcar. Obrigado.
O diacho vai ser se a funcionária olhar bem pra mim e disser: “Pode repetir?”
18 de ago. de 2007
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