_Então, na sexta-feira passada resolvi comer uma empadinha. Mas dentro da empadinha tinha uma azeitona, e dentro da azeitona tinha um caroço.
_Uhn... – disse o dentista. – Quebrou o dente?
_Bem, não. Mas trincou. E estou preocupado porque é o dente da frente... Não quero ficar sem ele. É como um cartão de visitas.
_Sim, sim... Vamos dar uma olhada. Qual deles?
_É o da direita. Ahn... você cobra o orçamento?
_Não! Que é isso... você é de casa!
_Ah, então, por que não me serve um cafezinho?
_Com bolachinha? – perguntou enquanto mexia o espelhinho.
_Uhum! E uma escova de dente pra eu não fazer feio, né?
_Hum... hum... Olha só... seu dente tá bem. Só afetou o esmalte.
_Ah! Que alívio. Agora olha o dente da esquerda... porque eu mordi um osso hoje...
_Mas, você, hein!? Tá precisando se benzer!
E talvez eu realmente esteja precisando de algo assim, pois não estou enfrentando apenas problemas com empadinhas. Até porque, me disseram, toda empadinha possui azeitona com caroço. E só eu não sabia disso. Se bem que está ficando bem complicado fazer qualquer lanche no centro da cidade.
Ontem fui comer um risolis e a funcionária me perguntou se eu queria de frango ou de carne. Como se frango, no caso, também não fosse carne. Ela deve pensar como aquelas pessoas que insistem em dizer que passarinho não é animal. Se não é animal, é o quê? Vegetal? Mineral?
E em outra ocasião resolvi pedir uma xícara de café médio, com chantilly por cima. Fiz questão de frisar o “médio”, para restringir o número de perguntas que a garçonete faria, mas não adiantou muito.
_Com leite?
_Ahn... sim. Com leite.
_Vai querer que eu adoce?
_Não... tudo bem, eu mesmo adoço.
_É que... por causa do chantilly, as pessoas costumam adoçar demais.
_Ah... certo. Então, pode adoçar.
_Com açúcar ou adoçante?
_Açúcar.
_Duas ou quatro colheres?
_Pôxa! Mas eu pensei que você soubesse! – falei, ficando vermelho de indignação. _É que uns preferem bem doce, outros nem tanto.
_Eu quero menos doce. Coloque duas colheres de açúcar. Ok?
(Resposta mais adequada: “Mudei de idéia... Me traz um chá de camomila.”)
Acho que preciso começar a carregar no bolso um caderninho com minhas preferências anotadas. Um interrogatório desses só pra tomar um café?! E no domingo fui comer uma pizza. Apesar de estar acompanhado, imaginei que não daria conta da pizza grande. Pedi pizza média. Descobri que a pizza média é enorme. Acho que só tem esse nome porque ninguém agüenta comer mais do que metade.
E na saída da pizzaria, quando fui pagar, o sujeito veio me perguntar se eu tinha tomado vinho no copo ou na taça. Fiquei imaginando qual seria a diferença, mas minha resposta o deixaria bem surpreso:
_Cara... – eu disse – Eu tomei limonada. Hoje é dia de eleição, vocês nem podem servir vinho!
_Ah, é... Onde é que estou com a cabeça?
Era a lei-seca fazendo mais uma vítima.
4 de out. de 2006
Assinar:
Postagens (Atom)