25 de mai. de 2011

Trinta minutos que viraram apenas três

No final da tarde de terça-feira, quando enfim encontrei tempo para tomar um café, meu chefe Mário veio dizer que havia no telefone uma mulher que queria falar comigo, e que parecia ser ligação de muito longe.

Atendi quase me sentindo importante. Mas a sensação desapareceu assim que a mulher do outro lado começou a falar com a voz robótica característica de uma atendente de telemarketing. De forma mecânica e sem pausas, ela explicou que fazia parte de uma empresa que estava fazendo pesquisa sobre os produtores culturais e a aplicação da Lei de Incentivo à Cultura no País.

Enquanto ela dizia isso, tentei anotar alguma informação a seu respeito, mas nem seu nome ou da empresa consegui escrever, tal era a rapidez de suas palavras. Concluída a explicação que não pude compreender, ela disse que precisaria fazer uma entrevista comigo para obter dados para a pesquisa. "Tudo bem", eu disse. "Vai levar cerca de 30 minutos", ela falou. Trinta minutos é uma vida para quem está numa redação de jornal diário. Concedi a ela 10 minutos, com a proposta levantada por ela de prosseguir com as perguntas na manhã do dia seguinte.

Primeira questão: "Há quanto tempo você é um produtor cultural?"

- Produtor cultural? Eu... Eu não me consideraria um produtor cultural.
- Me disseram que você era a pessoa que coordena os projetos culturais da empresa.
- Mas você ligou para um jornal. Eu sou repórter da editoria de cultura. Faço a divulgação de produtos culturais, mas não diria que produzo cultura.
- Eu gostaria de falar com o responsável pela produção cultural da empresa.
- Bom... nós temos uma responsável pelos projetos do jornal. Nesses projetos temos um que é voltado para a cultura. O Cinearte tem atividades de cinema e músi...
- Então vocês não têm um produtor cultural na empresa, somente responsável por projetos?
- Isso mesmo.
- Certo. Boa tarde.
- Boa tarde.

E assim 30 minutos se transformaram em três minutos. O que já foi muito.

16 de mai. de 2011

Anseios solitários

Boas notícias... meu novo site de tirinhas está quase pronto. Daqui a alguns dias, calculo, já poderei anunciar o novo endereço.

Preparei o layout há alguns meses, passei para que meu amigo Rodolfo colocasse no ar. Rodolfo é amigo de longa data, embora quase não conversemos mais. Ele é o sujeito que possibilitou o surgimento virtual do site Super OW!, quando eu me divertia trabalhando em um jornalismo rápido, ágil, útil, bem feito, mas pouco rentável.

Rodolfo Bandeira era o programador, e sempre que surgia um problema resolvia com relativa rapidez. Morava perto de minha casa até pouco tempo, a poucos metros da chamada "Curva do Diabo", não muito longe também do Estádio de Futebol Germano Krüger. Por último, foi para Curitiba... acho que é onde está agora. Trabalhando para a RPC, se não me engano.

O site ficou com ele, que esteve envolvido com um trabalho de conclusão de curso, e sabemos o que isso significa. Tensão e dedicação quase exclusiva ao projeto acadêmico. Concluiu essa etapa na semana passada, e neste sábado retomou a formatação do sistema do site.

Dei uma olhada hoje e notei que ainda faltavam algumas coisas. Envie um e-mail dizendo o que ainda faltava. Na resposta, ele me lembrou que ainda não havia terminado. Uhnf... eu devia esperar ele me dizer para ir lá olhar. Mancada... Mas, quem acha que sou apenas paciente, não se engane. Sou ansioso como todas as pessoas são.

Pelo menos eu acho que todas são ansiosas. Só que cada pessoa tem ansiedade em relação a coisas diferentes. Varia de acordo com o interesse de cada um. Como podemos criticar uma pessoa por ela ser ansiosa? Como podemos criticar alguém porque ela quer dividir esse ansiedade com os outros? Quem consegue admirar ou desejar algo, sem sentir necessidade de compartilhar descobertas ou esperanças? A ansiedade, a pressa, a precipitação não é um defeito. Só é difícil de ser compartilhada na mesma proporção por diferentes pessoas.

Certa vez conversei com uma bibliotecária, em minha escola, que todos julgavam ser chata. Inclusive eu. Nessa conversa descobri que ela, assim como eu, era fã de romances policiais. Ela recordou o nome de um detetive, Mike Shayne, cujas histórias ela costumava ler na juventudeem livros de bolso.

Aquele nome eu escrevi no verso de uma agenda ou caderno. E, universitário, quando adquiri o saudável hábito de frequentar sebos, decidi procurar por aquele personagem. Encontrei um livro surrado que trazia uma das aventuras do personagem. Li, e achei fantástica a narrativa.

Meu coração batia acelerado no dia em que entrei em meu antigo colégio, com o livro na mala. Iria entregar nas mãos da bibliotecária. Chamei por ela na recepção. Quando veio, entreguei a ela o livro de páginas amarelas que quase se soltavam. "Trouxe isso para você", disse, esperando ver olhos brilharem, enquanto as lembranças da leitura na juventude vinham à sua memória. Ao invés disso, o que ela viu foi um livro pouco cuidado, mas agradeceu pela doação à biblioteca. "Não, eu trouxe para você... é Mike Shayne", expliquei.

Sua surpresa foi mais por eu mencionar o nome, do que por ter o livro em mãos. Não havia emoção em sua voz. Não havia olhos brilhando. Sua mente parecia se deter na catalogação do acervo da biblioteca. A ansiedade que pensei compartilhar com alguém, na verdade era apenas minha.

Fui embora decepcionado. Nunca encontrei outra pessoa que tivesse lido histórias do personagem, enquanto eu busquei e li pelo menos outras duas. Os desejos, os prazeres, os anseios pertencem exclusivamente a cada pessoa. Mas, tolos, continuaremos a buscar quem compartilhe o que sentimos e precisamos na mesma intensidade. Dizem que a felicidade é estar bem consigo mesmo. Mas como é estar bem consigo, sem se importar com o que o outro pensa?

Que as divagações e perguntas lançadas no ar nos tragam, se não respostas, conforto.