25 de ago. de 2008

A ‘força mental’ nas Olimpíadas

Enfim, terminaram as Olimpíadas. Foi o assunto do momento, e confesso que vou sentir falta dos comentários que ouvia todos os dias, sobre essa ou aquela competição. Acabei não acompanhando os jogos como poderia. Optei por dormir durante a madrugada, para tentar manter os olhos bem abertos durante o dia. Mas teve gente que se empolgou e acompanhou os jogos pra valer.

Quase todas as informações que obtive sobre as competições chegaram até mim por meio de conversa com amigos, notícias rápidas na internet ou no jornal, e flashes na TV, no momento em que eu passava diante do aparelho.

Foi assim que descobri que existe um alienígena entre nós, que atende pelo nome de Michael Phelps. Também soube que desenvolveram um maiô para natação que melhora a velocidade dos atletas (mas que Michael Phelps – Chuck Norris da natação – não precisa). E foi desse modo que soube do sumiço da vara da brasileira que faria um grande salto (sabotagem?).

As únicas competições que acompanhei, pra valer, foram as partidas de futebol masculino entre Brasil e Argentina (parabéns para a Argentina) e futebol feminino entre Brasil e Estados Unidos (bem mais animador para nós, apesar do resultado não ser o esperado). E foi numa dessas partidas, assistindo pela TV Globo, que percebi qual seria, para mim, a principal marca das Olimpíadas 2008: o narrador Galvão Bueno repetindo, à exaustão, a expressão “força mental”.

Não sei de onde ele tirou o termo. Talvez seja alguma expressão usada em Pequim. Mas, se for assim, com certeza não é banalizada e desprovida de significado como aconteceu na TV brasileira, onde o Galvão disse a besteira incansavelmente, nas poucas vezes em que pude ouvir TV. Numa noite da semana passada, enquanto estava trabalhando, fiquei ouvindo a narração do sujeito. E devo ter ouvido ele dizer “força mental” pelo menos dez vezes, em dois minutos. Mais ou menos assim:

“Nossas atletas merecem essa vitória. Sabem por quê? Por que elas têm uma coisa que costumo chamar de ‘força mental’! É preciso ter força mental para vencer. Não é possível conquistar nenhuma medalha sem força mental...” e blá, blá, blá...

Aí ele vira para a comentarista e pergunta: “Você não concorda?” Ela gagueja um pouco, se esforçando para dar uma resposta tão vazia quanto a pergunta e os comentários de Galvão Bueno: “Ãhn... er... eu acho que todo atleta precisa de um preparo... muito preparo antes da competição...” e por aí vai.

Se tem uma coisa que não vou sentir falta, portanto, é ouvir o Galvão falando em FORÇA MENTAL... Olha só, já estou ficando repetitivo igual a ele. Isso pega!

Outro dia eu estava vendo um jogo de futebol na casa de um amigo, e assistíamos na Band. Alguém chegou e disse: “Ah, muda na Globo, pra gente dar risada do Galvão Bueno!”. E mudamos. Acho que o sujeito assumiu um lugar na TV que não é o de narrador esportivo, mas sim de atração humorística. Realmente, sob esse ponto de vista é correto afirmar: sem Galvão Bueno, o futebol não tem a mesma graça. O ridículo, muitas vezes, dá mais ibope que a qualidade. E sempre haverá alguém erguendo a plaquinha “Galvão, filma eu”, pra comprovar a teoria. Isso é força mental?