29 de set. de 2006

O melhor do debate

Bons tempos aqueles em que a gente passava horas assistindo a programas como Passa ou Repassa, TV Animal e Torta na Cara. Mas, para quem, como eu, sente falta desse tipo de programação, o debate entre candidatos a Presidente da República, exibido ontem à noite pela TV Globo, até que foi uma diversão e tanto.
Foi bom também para conhecer melhor o modo de pensar e falar de cada presidenciável. Mas, vamos observar o programa sob outro enfoque... Há tempos não se via uma discussão tão divertida, porque nenhum dos três candidatos que compareceram deixou de lançar frases merecedoras de registro. Então, que isso aqui fique para a posteridade.

Começou com Cristovam Buarque. O candidato usou uma frase tão bonita, por que não dizer poética, que eu até esqueci qual era o assunto político em questão no momento. Disse ele: “Quando duas solidões se encontram, elas se anulam.” Foi a frase que me fez saltar do sofá para apanhar o caderno de anotações e prestar maior atenção àquilo que os demais candidatos diziam.
Depois veio a Heloísa Helena que, ao falar sobre corrupção, fez referência a dólares escondidos “nas peças íntimas do vestuário masculino.” Mais tarde ela ainda iria falar a respeito da “estrutura anatomo-fisiológica” do ser-humano. Acho que homens usam cuecas... E alguns seres humanos, com suas estruturas anatomo-fisiológicas, usam peças íntimas do vestuário masculino. Minha nossa! Nunca uma cueca foi tão complicada.

Enquanto faziam perguntas um para o outro, Geraldo Alckmin e Cristovam Buarque perceberam que tinham, em seu discurso, alguns pontos em comum. Geraldo disse que, de certa maneira, eles estavam do mesmo lado. E Cristovam veio com uma ótima pérola filosófica: “Interessante que nós estamos do mesmo lado, e ao mesmo tempo não estamos. Tanto que estamos de lados opostos. Senão seríamos o mesmo candidato.”
Heloísa Helena parecia menos surpresa com a corrupção, do que com a quantidade de riqueza que ainda existe para ser sugada dos cofres públicos (credo! Já estou falando igualzinho a ela...). No meio do debate ela disse: “É inaceitável que no Brasil roubam, roubam, roubam... e o país ainda tenha dinheiro!”

Quando pensei que tinha acabado, veio o ato falho de Geraldo Alckmin. Ele não percebeu, mas quando falava a respeito dos elevados impostos que incidem sobre as mercadorias, declarou que “40% do açúcar é esgoto.” Isso mesmo, esgoto!
Depois que Heloísa começou a criticar, além do Governo Lula, também o Governo FHC, Geraldo veio com a confusa declaração: “É preciso dizer que não estamos discutindo o futuro, estamos discutindo o que vamos fazer nos próximos quatro anos.”

Cristovam e Heloísa estavam com a garganta irritada e na segunda metade do programa a situação se agravou. Quando Heloísa foi fazer uma pergunta a Cristovam, começou dizendo qual seria o tema da questão: “É sobre a saúde... COF! COF!”

Uma novidade interessante nesse debate... Diante da ausência do candidato Lula, os demais participantes poderiam dizer, em quarenta segundos, a pergunta que fariam para o candidato, caso ele estivesse ali. Foi assim que surgiu o seguinte diálogo entre William Bonner e Geraldo Alckmin:

WILLIAM: Candidato, o senhor pode escolher para quem fará a pergunta.
GERALDO: Escolho o candidato Lula.
(Aparece a cadeira vazia)
WILLIAM: O candidato Lula não veio, o senhor tem quarenta segundos.
GERALDO: Minha pergunta é... por que o candidato Lula não veio ao debate?

É de embolar o cérebro!

O debate foi, portanto, um festival de frases e situações curiosas. Só não foi mais engraçado porque Lula não apareceu. Mas vale a pena lembrar da frase que ele proferiu em sua última entrevista exclusiva à TV Globo, no início da campanha: “A única coisa que cai em nosso país é o salário. Ahn... a inflação!”
Fica a certeza: independente de quem seja a próxima pessoa a ocupar o cargo de presidente, não faltarão frases engraçadas a alimentar o riso, mesmo em situações de crise. Que Deus nos ajude!

Por último, é bom lembrar que o cenário do debate também colaborava bastante para que tudo ficasse mais cômico. Como se não bastasse a cadeira vazia de Lula, a produção fez questão de colocar o nome do candidato em uma espécie de palanque. A propósito... o dicionário Aurélio traz uma informação no mínimo curiosa. Sabe o que quer dizer a expressão “de palanque”? Significa “presente à discussão sem, contudo, nela se envolver”. Terá sido coincidência?

15 de set. de 2006

Bafômetros e quilômetros

Sabe aquela frase... “Se beber não dirija”? Pois, então... Eu acredito, de verdade, que seja pura retórica. E digo isso não apenas porque o negócio não funciona na prática. Digo isso, principalmente, porque ninguém toma medidas para que funcione.
Vou ainda mais longe... Deve existir alguma espécie de convênio secreto entre as empresas de bebidas alcoólicas e as fabricantes de automóveis. Sim, porque para que mais automóveis sejam vendidos é necessário que:
a) O consumidor melhore sua situação financeira;
b) O número de carros já existente diminua.

Sabemos que está bastante difícil uma melhora considerável na economia, especialmente a brasileira. Agora, pare pra pensar... Quantos automóveis viram sucata por dia? Dezenas? Centenas? Milhares? E a bebida colabora para isso.
Por que a polícia não fica com um bafômetro, à noite, em frente aos bares? Porque sabe que todo motorista sai de lá embriagado, óbvio. Aqui na cidade de Ponta Grossa nós temos, anualmente, um evento chamado Münchenfest. A “festa do shopp escuro”. Pode imaginar como as pessoas ficam na saída? Agora, pense na ironia... Tem um enorme estacionamento do lado. Nem tem tanto bafômetro assim no mundo, pra testar em todo bêbado que sai do evento.

Outra causa de acidentes, dessa vez nas estradas, é o excesso de velocidade. Sempre me perguntei por que não fabricam os carros com velocidade máxima de 100 Km/h. Seria a solução para esse problema. Alguém veio me dizer que era impossível, pois a rotação do motor não permite, blá, blá, blá...
Pois, sabe que meu carro, um Voyage ano 1990, acaba de provar que é possível, sim! Ultimamente eu tenho dirigido bastante no centro da cidade, de modo que a velocidade não ultrapassa os 60 Km/h. Mas no final de semana fui viajar e, na rodovia, descobri que o carro não passava dos cem por hora. Não importava o quanto eu pisasse no acelerador.
Uma consulta com o mecânico revelou que o motor possui dois estágios de rotação. O problema é que, de tanto dirigir no centro da cidade, o segundo estágio do motor de meu carro emperrou, e não estava funcionando.
Parem as prensas! Avisem as revendedoras de carros! Todas elas precisam fazer o maior recall da história. E para salvar uma porção de vidas basta fazer um pequeno ajuste – emperrar o funcionamento do segundo estágio de rotação do motor. Não deve ser muito difícil fazer algo parecido com os automóveis que possuem injeção eletrônica também.
Pra finalizar... já reparou que o número de motocicletas está aumentando de um modo impressionante? Estou aqui fazendo a contagem regressiva... Quanto tempo será que vai demorar, para que lancem a frase “Se beber, não pilote”? Que porre...

8 de set. de 2006

Pelos anéis de Saturno

O som de gargalhadas tomou conta do pequeno café. Três amigos estavam reunidos em torno de uma mesa, mas apenas dois riam. O terceiro permanecia sério, e encarava a garçonete para ter certeza de que pelo menos ela não riria. Finalmente, ele colocou a xícara de café outra vez sobre o pires:
_Não tem graça nenhuma... É verdade. Desde que publiquei aquele texto sobre Plutão, minha namorada não quis mais falar comigo e meu computador pifou, em seqüência, o mouse, a internet e o gravador de CD.
Gradualmente, os outros dois diminuem o riso. Élvio é o primeiro a falar:

_Desculpe aí, cara. Mas é muito engraçado... Acredita que Plutão trouxe para você uma maré de azar?
_Não. Plutão, não... O texto que escrevi sobre Plutão.
Nova seqüência de risadas, e é a vez de João:
_Cara, você não pode imaginar que maldições controlam sua vida. Coisas ruins acontecem. Olha só, eu sigo uma filosofia de vida, baseada em três simples sentenças: “Não mexer demais no celular, não mexer demais no carro, não mexer demais no computador.” Você vive instalando porcaria em seu CPU. Até que demorou pra dar problema...
_Com computadores pode ser, mas e quanto a minha namorada?
_Ora... – diz Élvio – com as mulheres também não dá pra mexer muito, não. Há! Há! Aliás, acho que dá pra traçar um link entre computadores e mulheres. Minha teoria é de que os computadores têm a mentalidade de mulheres. Veja, eles foram criados por homens. Mas foram homens nerds que não pegavam mulher. Que nem o Bill Gates! E fizeram com que a mentalidade das máquinas fosse parecida com o que mais desejavam. Assim chegamos à criação do Cpu que sempre dá problema e pelo qual a maioria dos homens é viciado e passa horas e horas em frente. Complicado e viciante, existe melhor definição para a mulher?

_Caracas... Eu acho que você pôs alguma substância ilegal nessa sua xícara de café. Tudo bem... acreditar na influência dos astros pode ser bobagem. Mas inventar uma teoria estúpida que nem essa, é ainda pior!
_Ah, olha aqui, eles têm aqui o jornal da semana passada. Sempre deixam em cima do balcão e demoram a limpar isso aqui. – João pega o jornal da sexta-feira anterior – Olha só... não tem nada demais aqui nesse seu texto. Aliás, você me diz que Plutão tá ferrando com a sua vida, mas você cita todos os planetas do Sistema Solar aqui! Qualquer um deles pode estar te azarando. Olha só: “Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Urano, Netuno...”
_Você pulou Saturno.
_Saturno? Aqui não fala de Saturno.
_O quê? Dá aqui esse jornal... – corre os olhos rapidamente pelo texto – Eu esqueci de citar Saturno... Putz!

Levanta da cadeira, sai correndo com o jornal na mão.
_Ei! – grita Élvio – Aonde você vai?
_Preciso dar um pulo no jornal. Escrever uma errata.
O café é tomado outra vez... por gargalhadas.

1 de set. de 2006

Os trailers, Click, e Os Jetsons

Na história dos amantes de cinema eu sou uma figura recente. E não sou o tipo do cara que assiste a qualquer filme; nem sou aquele que detesta quase todos eles – duas características comuns a quem realmente “aprecia” a sétima arte. Mesmo com meu pouco conhecimento, tenho a impressão que os trailers estão ficando cada vez melhores. Por conseqüência, os filmes estão se tornando decepcionantes.

Foi o que aconteceu em “O Todo-poderoso”, com Jim Carrey. O filme traz uma comédia legal, na qual o personagem tem os poderes de Deus, mas todas as melhores cenas eram mostradas no trailer, de modo que eu tinha desperdiçado a maioria das minhas risadas na sinopse, e não experimentava a agradável surpresa que é preciso ter no cinema. Afinal, ao longo dos anos, os diretores pararam de fazer pré-estréia dos lançamentos no cinema justamente para que, com a internet e o desenvolvimento dos outros meios de comunicação, o efeito surpresa continuasse a existir.
O mesmo não aconteceu em “Click” – a história de Michael Newman (Adam Sandler), um sujeito que vai comprar um controle remoto universal, e descobre que o aparelhinho “mágico” permite que ele controle a própria vida. Avançando, retrocedendo, colocando na pausa ou no slow motion. Quando vi o trailer, dei boas risadas, e achei que novamente o filme não superaria aquela sensação. Felizmente, me enganei. Ao contrário de Carrey, Adam Sandler usa e abusa dos poderes que tem nas mãos.

A história não é muito original. Na verdade, parece bastante com uma porção de outras histórias. Isso inclui “Uma canção de natal”, escrito por Charles Dickens; o próprio filme “O Todo-poderoso”, a respeito do qual escrevi no parágrafo acima; e um antigo episódio do desenho “Os Jetsons”, no qual George Jetson consegue um controle remoto muito parecido. Só que no desenho o aparelho se chama “repetiola”.
O filme abusa dos efeitos especiais, de um jeito que faz com que a gente esqueça que já tinha visto o trailer. Enquanto o personagem brinca com o controle remoto, o espectador ri se imaginando no lugar dele, podendo sacanear com o chefe sacana, solucionar o problema masculino da perda de memória, e resolver qualquer falta de tempo.

Mas, depois de tanto riso, o filme repentinamente se transforma num grande problema, que chega a assustar alguém como eu, que foi ao cinema para ver uma comédia. Ainda bem que o final clichê (no qual lembramos que a família vem em primeiro lugar) salva a comédia, do contrário a classificação do filme teria que ser alterada para drama.
Recomendo. Mas eu sou suspeito. Sou o cara que gosta de assistir Sessão da Tarde.
E que sabe que o filme Click se baseia num desenho dos Jetsons...