17 de fev. de 2006

Gritos no teto, superstições e trotes automáticos

Algo estranho acontece em minha casa. Há alguns anos era a descarga do banheiro que funcionava sozinha. Já estávamos nos preocupando com o fenômeno, mas com o passar do tempo as coisas voltaram ao normal. Mais recentemente, eu fui fechar uma torneira e ela acabou estourando com o cano PVC e tudo mais.
Na cozinha, a torneira da pia despeja água, sozinha, nos momentos mais estranhos. Normalmente quando a família está discutindo algo durante o almoço ou a janta. Mas agora o negócio extrapolou... A caixa d’água resolveu gritar!
Começou no último dia 13. Meu irmão saiu do banho e a casa foi tomada por aquele ruído medonho. Não fosse a inviabilidade lógica, eu diria que tinha alguém acionando uma buzina de caminhão no teto de nossa residência. Quando notei que a mesma coisa acontecia após o banho de minha mãe, e também depois que eu saía de baixo do chuveiro, deduzi que só podia ser o barulho da caixa d’água enchendo.
Só sei que o barulho era bem esquisito, como um grito de almas vindo diretamente do inferno. E o negócio foi pior à noite, quando o silêncio impera. A situação fez com que eu lembrasse do antigo programa da TV Cultura – o “Castelo Rá-Tim-Bum”. Os personagens ouviam um ruído estranho no teto e nas paredes e alguém perguntava: “Que barulho é esse?” E a resposta, apesar de assustadora, tranqüilizava: “É só o Mal, correndo pelos encanamentos do castelo.”
Subi até o teto e abri a caixa d’água. Tudo parecia comum. Havia apenas um pequeno arame da bóia em posição suspeita. Movimentei o arame alguns milímetros e, ao que parece, foi o suficiente para exorcizar os demônios. O barulho parou... até agora.

Minha avó costuma fazer nhoque – uma deliciosa receita da culinária italiana. Curioso observar que, há pouco tempo, ela resolveu seguir uma simpatia que, parece, ouviu no rádio. Segundo a superstição, é necessário colocar uma nota de dinheiro sob o prato, no qual se coloca sete peças de nhoque. A manobra precisa ser feita a cada primeiro dia de mês. Enquanto a pessoa come o nhoque (detalhe... o indivíduo deve ficar em pé enquanto faz isso), é preciso mentalizar um pedido, que tende a se realizar.
Achei que era para atrair dinheiro, mas minha avó disse que ela não deseja dinheiro. Então, não entendo a lógica da tal simpatia. Afinal, pra quê a nota sob o prato? O que sei é que eu não participei dos rituais, mas meu desejo até agora está se realizando. Desejei que tivesse nhoque pro almoço sempre que eu fosse visitar minha avó, e está dando certo. É só mentalizar!

Superstição é uma coisa engraçada. Gosto de tentar adivinhar o raciocínio que fez com que fossem criadas. Por exemplo, dizem que, se uma vassoura for deixada atrás da porta da casa, o morador não recebe visitas.
Talvez tenha surgido assim... Uma senhora foi visitar o sobrinho e, quando abriu a porta para entrar na casa, a vassoura escorregou e caiu em sua cabeça. A mulher ficou tão indignada, que nunca mais foi visitar o cidadão.
Tem outra boa... As crianças estão brincando de pega-pega, e começam a correr em volta da mesa de jantar. Lá vem alguém pra gritar: “Não presta correr em volta da mesa!” Essa tem lógica... Se você corre em torno da mesa, acaba ficando tonto, cai e bate a cabeça. É o que imagino.
Então, algumas parecem ter razão de existir. Eu, por exemplo, se fosse inventar uma superstição, seria assim: “Não presta jantar embaixo de lâmpada acesa.” Claro... As mariposas, mosquitos e pirilampos ficam voando em volta da luz e acabam caindo na comida.

Nessa semana saí pra comprar um celular para meu irmão. Queria um modelo que não fosse feio e que não fosse muito caro. Encontrei um tal de Nokia 1110 que era uma belezinha. Uma atualização do meu celular, que é um pouco mais antigo. Mas fiquei indignado ao perceber que o celular de meu irmão é mais moderno e bonito, e custa menos. Eu paguei duzentos reais pelo meu aparelho e o do meu irmão custou cinqüenta reais a menos! Tem até sons em mp3, conversor de medidas e viva-voz... Até sugeri que ele ficasse com o meu antigo. Argumentei que o meu aparelho era mais fácil de manusear, mas ele não quis. E isso não foi nenhuma surpresa...
Há uma promoção que permite que ligações entre celulares de mesma operadora sejam mais baratas. A promoção vale para até três números diferentes de celulares. Para isso, basta cadastrar o número do outro celular. Fui fazer o tal cadastro, mas é algo totalmente automático, feito a partir do próprio aparelho. Uma gravação controlada por computador pediu que eu digitasse o número a ser cadastrado. Eu ainda não tinha digitado o número de meu irmão, quando a gravação disse algo como: “Esse número não pôde ser cadastrado. Digite o segundo número.” Segundo número? Bem... Digitei, e lá veio a gravação outra vez: “O número não pôde ser cadastrado. Digite o terceiro número.” Digitei outra vez, e a gravação disse, pela terceira vez, que eu não tinha conseguido e, pior, que tinha feito minhas três tentativas. Em seguida, desligou na minha cara! Assim, meu direito à promoção foi cancelado. Pareceu até um trote. Mas é a primeira vez que uma gravação computadorizada me passa trote.
O pior é que eu acho que fiz tudo certinho. Às vezes eu fico impressionado com a burrice dos computadores. Uhn... Tomara que esse aqui não perceba que estou falando mal dos componentes de sua raça. Tenho medo de uma vingança no estilo Matrix...

5 de fev. de 2006

Os múltiplos lados da piada

Mas, que calor danado faz nesses dias! E olhe que não sou de ficar reclamando do tempo. Acontece que estou evitando enfrentar o sol vespertino, e não sou o único. Anteontem minha mãe pediu ajuda para lavar a calçada em frente de casa, mas estava tão quente que ela preferiu agendar o trabalho para depois das sete horas.
Foi naquele mesmo dia abafado, só que no período da manhã, que minha mãe resolveu que iria aproveitar a promoção em uma das lojas do centro da cidade. E lá fomos eu, minha mãe e meu irmão comprar alguns pares de tênis. Acontece que, além de a loja anunciar a promoção no rádio, ainda colocaram um arco feito de bexigas em frente ao local. Com isso, cada cidadão que passava em frente perguntava: “Ei, o que tá acontecendo aí dentro?” E alguém respondia: “É promoção.”
Foi assim que descobrimos o lugar já entupido de gente. Encontrei a Paula no meio de todas aquelas pessoas, e ela resumiu a situação: “Parece que a cidade inteira de Ponta Grossa está aqui dentro!”
Sei que voltamos com dois pares de tênis e, à tarde, depois das sete, nos determinamos a lavar a calçada. Mas me indignei facilmente com algo absurdamente banal. Todos os conhecidos passavam por mim e faziam a brincadeira mais velha do mundo. Ou uma das mais velhas... (Acho que foi inventada após o advento da calçada.)
“Quero ver tudo bem limpinho, hein?!” (risinhos)
“Depois também pode lavar a calçada lá de casa, tá bom?!” (mais risinhos)
“Vamos, rapaz, use essa vassoura direito!” (outros risinhos)

Até que não dava mais! Cheguei no meu limite e, em meu íntimo, jurei: “A próxima pessoa que fizer piada, vai levar na cabeça...”
O problema é que a próxima pessoa foi a coitada da minha vizinha, Dona Lúcia, que voltava do centro da cidade e não merecia minha resposta mal-educada: “Você é a quarta pessoa que faz essa piada!”, gritei.
Fui repreendido por minha mãe. Mas já estava feito. Acho que Dona Lúcia era uma dessas pessoas que estava no lugar errado e na hora errada. E, claro... que fez a piada errada. Primeiro pensei no lado bom. “Pelo menos essa vai pensar duas vezes antes de repetir a piada.” Depois começou um grande remorso. E, se eu acreditasse em castigo divino, diria que foi o que aconteceu minutos depois.

Faltava uma parte da calçada para terminar o serviço. Minha mãe não conseguia fechar a torneira e eu fui até lá para (em tese) ajudar. Percebi que a torneira parecia estar estragada. Achei que bastaria uma pancadinha sobre o registro, para resolver o problema. Você, provavelmente, já pode imaginar o que aconteceu após a “pancadinha”.
Pois é, quebrei o cano e foi água pra todo lado. Depois de olhares reprovadores de minha mãe e a descoberta de que eu não seria capaz de consertar o encanamento (o que ficaria para o dia seguinte), senti falta de alguém que dissesse: “Tudo bem, isso acontece...” Ou então alguém que fizesse a piada certa, na hora certa.

Pois é, todos cometem erros, e como diz uma amiga: “Você não precisa ser perfeito.” Uhn... esse texto tá ficando cheio de citações. Então, vou aproveitar para comentar as notícias do telejornal.

Vi rapidamente no Jornal Nacional... Durante um encontro entre Lula e o governador do Paraná, Roberto Requião, o presidente começou a falar bem da mamona. Mamona, você deve lembrar, é aquela planta que dá umas frutinhas verdes e que a gente brincava de jogar um no outro quando crianças.
Então o presidente Lula estende um pote de vidro cheio de sementes de mamona, e diz para o Requião: “Olha só, mamona... vocês têm muito disso no Paraná?”
Só que o governador não dá atenção nenhuma ao que o presidente diz. Parece que acabou de desligar o cérebro porque, ao invés de responder à pergunta, ele pega duas ou três sementes de mamona e coloca na boca para saborear.
Nisso, o presidente olha bem pra ele e diz, espantado: “É mamona, pô! Sabia que isso aí tem uma toxina... e que não pode comer?!” Agora, imagina que o governador do Paraná teve que cuspir de volta as sementes. E as câmeras filmando... Não tem como conter o riso numa situação dessas.

Enquanto isso, aumentam os protestos dos muçulmanos contra charges publicadas em vários jornais da Europa, retratando o profeta Maomé. Eu ainda não pude ver as tais charges, mas deve ter sido algo não muito engraçado. Ou, que agora perdeu a graça. Como chargista, fico tentando imaginar o que o autor das tais caricaturas está pensando agora. Acho que aí está o perigo de escrever – ou desenhar – algo, acreditando que não há ninguém prestando atenção. É sempre bom ter em mente que pode haver alguém do outro lado.

E ontem eu estava acompanhando na TV as cenas do momento em que libertaram um empresário seqüestrado no mês passado. Difícil acreditar que o Jornal Nacional conseguiu ir até o local do cativeiro com todo o equipamento e com um repórter, registrando o resgate. Foi sucesso total para a polícia e para a equipe de reportagem. Até o empresário deu entrevista ali, na hora! Parecia uma armação tão grande quanto as fotos da Missão Apollo XI.
Mas tive que dar risada. O empresário parecia relativamente tranqüilo. E o repórter conversou com ele, perguntando detalhes que o empresário tentou responder. Depois, o repórter ainda disse pra vítima: “Ei, amanhã é seu aniversário, não é?” E o cara respondeu: “É sim. Vou festejar com a família! E vocês estão todos convidados!” Nisso, o empresário deu uma paradinha, virou e apontou para os seqüestradores que estavam algemados num canto, e disse: “Menos aqueles ali.”
Depois disso todos riram. E eu ri também, porque me fez lembrar o final dos desenhos do Scooby-Doo, quando todos ficam rindo da situação, e os vilões dizem: “E nós teríamos conseguido se não fosse esse bando de crianças intrometidas e esse cachorro.”
E o cachorro responderia: “Scooby-Dooby-Doo…”

Nessa semana, por razões não muito agradáveis, compareci a um cemitério. Lá encontrei dois amigos (ambos vivos) e, como fazia bastante calor, resolvemos procurar por uma sombra.
_Será que a gente pode sentar no cemitério, ou isso é uma espécie de sacrilégio? – perguntou um deles, apontando para um murinho.
_Acho que não há problema. – respondi – Aqui inclusive tem bancos. – dizendo isso, mostrei um banco de concreto.
Daquele ponto ficamos observando durante algum tempo a vista além dos túmulos (e não além-túmulo). Dava pra ver a catedral da cidade e algumas outras igrejas. Mas acho que não dá pra ficar parado por muito tempo dentro de um cemitério. A gente se sente impelido ao movimento, pra não esquecer da nossa condição de vivos. Assim, algum de nós sugeriu uma caminhada entre os túmulos. E a idéia foi imediatamente aceita.
Paramos diante de uma das antigas sepulturas, onde espiamos a fotografia de uma mulher. E meu amigo soltou essa:
_Mas olha que cara de safada!

Caminhamos mais um pouco e meu amigo parou diante de outro túmulo. Começou a rir enquanto lia algumas palavras sobre a lápide e disse:
_Olha só! Essa é boa: “Família Mortary”...
_Ai meu Deus... Vamos voltar pra sombra, porque com você não tem jeito... – reclamei

Na hora fiz papel de sujeito sério. Mas depois, em casa, confesso que ri ao lembrar dos comentários de meu colega. Só não quis rir na frente dos defuntos. Afinal, é sempre bom ter em mente que pode haver alguém do outro lado.